sábado, 23 de novembro de 2013

ONGs apontam fracasso e deixam a cúpula do clima




O resultado da conferência do clima de Varsóvia, na Polônia, que está em sua reta final, deveria ser pavimentar o caminho para o acordo climático global de 2015, a ser assinado em Paris. Ninguém esperava mais do que isso. A horas do seu término, contudo, o evento só produzia frustração e impaciência, além de aprofundar as diferenças de sempre entre países industrializados e países em desenvolvimento.

Em uma decisão sem precedentes na história dessas conferências, as maiores ONGs que participam ativamente deste processo resolveram se retirar. Foram mais de 700 ativistas das 13 maiores ONGs do mundo – incluindo Greenpeace, WWF e Oxfam – saindo no começo da tarde do Estádio Nacional de Varsóvia, onde, desde a semana passada, acontece a COP-19. Eles usavam uma camiseta branca onde se lia “Polluters talk, we walk” (“poluidores conversam, nós vamos embora”).

“A conferência do clima de Varsóvia, que deveria ser um passo importante rumo à transição para um futuro sustentável, está a caminho de não produzir absolutamente nada”, disseram, em comunicado conjunto.

“Eles parecem não entender o que diz a ciência e estão fora da realidade”, disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace, referindo-se aos negociadores.

“Fomos forçados a tomar esta decisão em função do fracasso dos governos em levar estas discussões a sério. Não estamos saindo do processo, só desta conferência de Varsóvia, onde os interesses das indústrias mais poluidoras estão ficando acima das necessidades dos cidadãos globais”, disse Samantha Smith, do WWF.

Isso foi um péssimo sinal para as negociações, que começaram sob o impacto do tufão das Filipinas e, até ontem, continuavam no impasse da criação de um mecanismo de perdas e danos para os países que sofrem fortes impactos da mudança do clima.

A grande reunião no país do setor de carvão, que coincidiu com a conferência no início da semana, só produziu mais controvérsias. A demissão, na quarta-feira, de Marcin Korolec, ministro do Meio Ambiente da Polônia, enfraqueceu ainda mais o evento.

“De tempos em tempos, nessas negociações, pessoas ou delegações se retiram. Mas temos que respeitar a decisão das ONGs. É a expressão de sua frustração e impaciência com esse processo”, disse Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “Essas ONGs, que gastaram anos e dinheiro acompanhando estas conferências, têm o direito de estar aqui, têm o direito de sair e a oportunidade de poder voltar.”

No campo das negociações, as diferenças entre os países continuavam a aflorar. Os industrializados buscavam colocar as economias emergentes em seu mesmo patamar, para o acordo de 2015. Brasil, China, Índia e África do Sul resistiam, dizendo que negociavam sob a Convenção da Mudança do Clima e seus princípios.

Os recuos dos compromissos australianos e japoneses em suas metas de redução, anunciados na semana passada, repercutiram negativamente, assim como a falta de recursos e dúvidas se o encontro iria conseguir avançar no mecanismo de perdas e danos para os países mais afetados pelos impactos da mudança do clima.

“O novo acordo global, a ser assinado em Paris, em 2015, englobará todos os países e será legalmente vinculante para todos”, assegurou o ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo Machado, em entrevista coletiva ao chegar à COP-19.

“O que não está no texto, e é por isso que estamos negociando, é a diferença entre estas obrigações”, prosseguiu. “O que se pode ter são diferentes tipos de obrigações para países ou grupos de países”, disse. “Alguns, por exemplo, podem ter a obrigação de dar recursos financeiros, e outros, não. Ou seja, todos terão compromissos, mas eles podem ser diferentes.”

“Definitivamente, países em desenvolvimento como a China terão metas de emissão. Mas não conseguimos ter metas que limitem emissões, apenas compromissos relacionados à intensidade de energia. Isso é um assunto econômico”, disse Liu Zhenmin, primeiro vice-chefe da delegação chinesa e vice-ministro das Relações Exteriores da China em entrevista a alguns jornalistas em Varsóvia.

“Somos um país em desenvolvimento, queremos ser desenvolvidos, mas para isso vai levar tempo ainda.”

Liu concluiu: “Somos uma grande economia, mas ainda estamos no processo de desenvolvimento. Estamos tentando lidar com o aumento do consumo energético buscando aumentar nossa eficiência energética. Mas a China ainda está em processo de industrialização, e no processo de aumentar suas emissões.”

Por: Daniela Chiaretti

Fonte: Valor Econômico, em Portal Amazônia

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