O drama recorrente das enchentes na Baixada Fluminense entristece pelas cenas das famílias desabrigadas e pela certeza que tudo isso podia ser evitado. O que vemos é fruto da nossa falta de planejamento, do descontrole urbano e da deficiência da política de habitação. Na verdade, as enchentes demonstram que essa região jamais deveria ter sido ocupada pela cidade. No início da colonização portuguesa, a Baixada era uma região pantanosa com uma floresta exuberante que se favorecia da grande oferta de água e de nutrientes. Ou seja, eram as enchentes, inimigas de hoje, que proporcionavam a riqueza dos ecossistemas.
Os primeiros colonos consideravam a região inóspita e, por séculos, evitavam cruzá-las por terra. Quando iam ao interior, usavam embarcações, como as chamadas faluas, para navegar do Rio de Janeiro ao Porto da Estrela (hoje, Magé), contornando assim essas terras. Esse tempo passou. A região foi drenada, desmatada e ocupada, tanto nas baixadas como nas encostas, para abrigar inicialmente as fazendas e depois dando lugar às moradias.
Mesmo com as dragagens periódicas dos rios, nas chuvas fortes os rios transbordam e as águas voltam aos seus domínios originais, se espalhando pela planície. Dragagens são medidas paliativas, com custos milionários. E cada nova enxurrada traz mais uma leva de detritos, obrigando a uma nova dragagem. Hoje, diante da tragédia, a população que se alojou ao longo dos rios e brejos e que serão vítimas novamente nas próximas chuvas, deveria ser definitivamente removida e alocada em lugares seguros.
Para os velejadores, as enchentes não se comparam ao drama dos moradores, mas também preocupam. Com as cheias e a destruição, uma enorme quantidade de lixo e detritos é carreada para o mar e prejudicam a navegação. É sempre importante alertar os velejadores e freqüentadores das praias, principalmente as crianças, que nessas ocasiões, aquelas “ilhas” de lixo e vegetação flutuante podem trazer cobras e outros animais. Certa vez, na Estrada Fróes (Niterói), encontramos um filhote de jacaré-de-papo-amarelo, espécie ameaçada de extinção, numa “ilha” de vegetação flutuante. Passado o susto, o pequeno náufrago foi encaminhado ao Rio Zoo.
Da Coluna Rumo Náutico, de Axel Grael. Jornal O Fluminense, 14/11/09
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