Por Axel Grael
O século 21 será, sem dúvida, dominado pelas cidades, disse Sadiq Khan, prefeito de Londres, durante reunião de que participei com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres, e outros oito prefeitos de diferentes países. Khan constatou, no encontro da COP 26, em Glasgow, Escócia, em novembro do ano passado, que após os séculos 19, dos Impérios, e 20, das grandes potências, chegou a hora e a vez das cidades.
As cidades têm um desafio planetário que vem sendo tratado pelas nações de forma, no mínimo, complacente. Recentemente, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgou relatório no qual faz forte alerta quanto à possibilidade de não cumprimento do Acordo de Paris, de 2015, quando se concordou que o nível de aquecimento global não poderia passar do limite de 1,5 C° até 2100. Se tudo continuar como está, deve chegar a 3,2 C°. O século das cidades está em xeque.
Países desenvolvidos são os maiores emissores, com destaque para os Estados Unidos e China. O Brasil está entre os que mais emitem carbono na atmosfera, devido às queimadas e ao desmatamento. A posição brasileira hoje, infelizmente, é totalmente retrógrada a respeito das mudanças climáticas.
No nível municipal, sofremos os efeitos catastróficos do uso de fontes de energia sujas, do desmatamento e do negacionismo. Tivemos dilúvios sem registro na História, como em Petrópolis e Angra dos Reis. Grandes secas ameaçaram a segurança alimentar, o abastecimento urbano, a produção industrial e a geração de energia hidrelétrica. A estiagem provocou incêndios, como o que destruiu o Pantanal.
Não há futuro sem sustentabilidade. Ainda temos tempo e espaço para a corrigir o rumo. Será preciso virar a chave, da postura reativa para a agenda propositiva, e superar o ceticismo e os lobbies contrários à mudança. Mesmo vilões, EUA e China têm mostrado avanço, vide o caso da Califórnia. A China fabrica a maioria das placas fotovoltaicas do mundo e promove o maior esforço de reflorestamento do planeta.
Alemanha, França e Grã-Bretanha baseiam planos de retomada econômica pós-pandemia de Covid-19 em ações de sustentabilidade e uso de energia limpa. Economia e responsabilidade ambiental e climática precisam caminhar juntas.
Nos municípios, Niterói criou a primeira Secretaria Municipal do Clima há um ano. Lançamos, por ocasião dos 450 anos da cidade, ano que vem, pacote de R$ 700 milhões até 2024 em medidas que levarão à neutralização das emissões de gases, como a instalação de painéis solares e a eletrificação da frota de veículos. Desde 2013, privilegiamos programas de replantio e conservação da área verde. Niterói tem mais da metade do território protegido. Fazemos a nossa parte.
O maior custo é o da inércia. Ao assumir senso de urgência, a compreensão do tamanho e da severidade do risco, temos capacidade de encontrar a solução que nos garanta um futuro sustentável e próspero.
*Engenheiro florestal e ambientalista, é prefeito de Niterói e vice-presidente de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Frente Nacional de Prefeitos (FNP)
Publicado em O Globo, 10/04/2022.
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