domingo, 24 de janeiro de 2021

COVID-19 E AS CIDADES: mudanças de comportamento, novas centralidades urbanas e mobilidade


Há poucos dias, a montadora Ford, de presença histórica no Brasil, anunciou o encerramento das suas atividades no país. Isso é motivo de grande preocupação, pois é mais um episódio dramático do processo de desindustrialização do Brasil, mais um golpe contra a nossa combalida economia, mais uma demonstração que o nosso país vem perdendo competitividade e significa que mais alguns milhares de pessoas serão empurrados de uma hora para a outra para o desemprego. 

Mas, a desistência de uma das maiores montadoras de veículos, alojada num dos maiores mercados, pode ser também a evidência de outros processos econômicos e sociais: o mundo está se afastando do automóvel e do rodoviarismo, que dominou o cenário urbano e o ideário consumista de gerações. 

Na minha geração, ao chegar aos 18 anos, os jovens rapazes de classe média tinham três grandes preocupações: era a época de vestibular, do alistamento para o serviço militar e, acima de tudo, hora de tirar a carteira de motorista o mais rápido possível. Éramos bombardeados pelo apelo publicitário que ter um carro era uma afirmação social, um símbolo de status. As propagandas, veiculadas massivamente na TV e outras mídias, associavam o automóvel até mesmo à sexualidade. 

Na atual juventude, apesar das propagandas continuarem de forma insistente (talvez menos apelativas), noto que o automóvel perdeu o encanto que tinha antes. A garotada precisa ser empurrada pelos seus pais para tirar a carteira de motorista e, muitos, nem assim se motivam. Preferem o transporte coletivo, utilizam os serviços de taxi, aplicativos e o uso das bicicletas vem crescendo rapidamente como uma preferência. Os jovens de hoje consideram o carro uma opção cara, pouco atraente e até inconveniente. E eles têm razão. É de fato uma opção muito onerosa, há cada vez menos opções de estacionamento e as outras alternativas são cada vez mais competitivas em termos de conforto, conveniência e eficiência.

Os automóveis não desaparecerão, mas seremos cada vez menos dependentes deles e, gradativamente, essa indústria perderá a relevância que ainda tem hoje. Com menos carros, as cidades serão muito diferentes, e certamente o mundo será mais limpo e sustentável. 

Mudanças

O cotidiano das cidades está de fato mudando rapidamente e em muitas partes do mundo. Esta tendência já era evidente nos últimos anos devido à influência cada vez maior da mobilidade no planejamento urbano e o crescente movimento pelo engajamento das cidades na busca pela sustentabilidade e pela justiça social. Mas este processo de transformação ganhou ainda mais força e velocidade com a chegada da COVID-19. A pandemia está transformando rapidamente o mercado de trabalho, com a difusão das práticas do teletrabalho (home office), que tem se mostrado cada vez mais atraente, tanto para as empresas como para muitos dos seus colaboradores, embora mereça reflexões sobre os impactos nas relações de trabalho. 

Se, graças à internet e à tecnologia dos aplicativos que permitem reuniões remotas, muitas categorias profissionais não precisarão mais se deslocar grandes distâncias entre a sua residência e o seu local de trabalho, podendo exercer as suas tarefas diretamente da sua casa, de escritórios próprios ou compartilhados, localizados mais próximo de casa. A nova solução reduz muito as despesas das empresas, que ficam livres de ter que oferecer os dispendiosos locais de trabalho e, para o prestador de serviços, poderá ser uma opção mais confortável e também mais econômica em tempo e despesas. 

Segundo eu soube recentemente por profissionais do setor imobiliário (corretores de imóveis), em Niterói, por exemplo, já observa-se uma valorização dos imóveis maiores, que ofereçam mais conforto e espaço para abrigar o trabalho profissional em casa, para o indivíduo, para o casal e, eventualmente, até mesmo para os filhos. Ou seja, de forma oposta do que aconteceu nos anos anteriores, desde o ano passado, há uma demanda para permuta dos apartamentos por casas na Região Oceânica, São Francisco, Pendotiba etc.

Este comportamento, com as pessoas ficando mais tempo em casa, poderá levar também a uma descentralização de serviços para os bairros, fortalecendo o comércio local. As pessoas farão mais deslocamentos de curtas distâncias. As bicicletas e até o deslocamento pedonal serão muito mais frequentes. Mais uma vez, trazendo o exemplo de Niterói, lembramos que a opção cicloviária já se mostrava como uma tendência. Com os investimentos na infraestrutura cicloviária realizados pela Prefeitura, o número de bicicletas quintuplicou de 2015 até 2020. 

Conectada com esta tendência mundial e este novo cenário urbano emergente, Niterói vem implantando o programa Niterói de Bicicleta desde 2013. A mudança é indiscutível e a presença das magrelas nas ruas da cidades já é uma forte realidade. Agora, estamos concluindo a licitação para implantar mais 60 km de ciclovias na Região Oceânica e vamos ultrapassar a marca de 100 km de infraestrutura cicloviária ainda na atual gestão. 

O texto abaixo, aponta para uma rápida transformação na mobilidade das cidades europeias e indica que o mercado de bikes elétricas aumentou muito, como mostra o exemplo de uma startup holandesa que viu as suas vendas mais do que dobrarem de janeiro a outubro do ano passado.

Segundo as estimativas do setor, as vendas das e-bikes devem superar as dos automóveis até o final da presente década e as cidades terão que se adaptar para se tornar cada vez mais cicláveis. 

Axel Grael
Prefeito de Niterói


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As e-bikes se tornaram uma alternativa de transporte limpo nas cidades europeias.


Bicicletas elétricas venderão mais que carros em breve na Europa

Há anos em ascensão, as bicicletas elétricas lideram o maior crescimento no mercado de bicicletas em geral. Estatísticas recentes indicam que elas podem ir além e superar o número de vendas de carros na Europa.

Durante a pandemia de covid-19, diversas pessoas buscaram por alternativas econômicas e eficientes de transporte urbano. Assim como, as bikes elétricas se tornaram uma forma segura de se exercitar ao ar livre.

Conforme o portal Electrek, a Alemanha é um exemplo do crescimento do mercado de e-bikes. Quase 1 milhão de unidades foram vendidas no país apenas no primeiro semestre de 2019. Número próximo ao total de vendas durante o ano inteiro de 2018.

Após o início da pandemia em 2020, parte das companhias europeias que fabricam bikes elétricas tiveram um forte crescimento. Por exemplo, a startup holandesa VanMoof viu o número de vendas mais do que duplicar entre janeiro e outubro do último ano.

Assim, especialistas fazem projeções otimistas sobre o crescimento do mercado europeu nos próximos anos. A Confederação da Indústria Europeia de Bicicletas (CONEBI) espera que as vendas cresçam para 7 milhões de unidades por ano até 2025.


Analistas estão otimistas com o crescimento do mercado de bikes elétricas.


Superando a venda de carros

Outros especialistas preveem números ainda mais elevados para o setor de bicicletas elétricas. Dados do Bike Europe apontam que cerca de 10 milhões de modelos devem ser vendidos por ano até 2025.

Para uma breve comparação, a Europa emplacou cerca de 15,5 milhões de novos automóveis em 2019 e pouco mais do que 15,1 veículos foram registrados em 2018. Um reflexo do ritmo muito lento de vendas no continente.

Enquanto o setor automotivo cresceu apenas um dígito por ano nos últimos anos, o de bikes elétricas teve um crescimento anual de 30% a 40% na Europa. Se manter esse ritmo, as e-bikes vão superar facilmente as vendas de automóveis até o fim da década.

Fonte: Tecmundo 


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E-Bikes no Brasil
O mercado de bicicletas elétricas no Brasil cresceu 34% ao ano entre 2016 e 2019. Os números são de um estudo da associação Aliança Bike em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável da UFRJ(Labmob/UFRJ). E a tendência de crescimento se manteve em 2020, apesar da pandemia de Covid-19. O relatório aponta que, de janeiro a junho deste ano, a média mensal de importações ficou 28% acima dos números de 2019. (...)

Mas não são só os motociclistas os potenciais “convertidos” às e-bikes. Segundo o estudo, 56% dos entrevistados que usam as bicicletas elétricas para trabalhar ou estudar antes faziam o trajeto de carro.



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