Hoje, 5 de junho, celebra-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, data dedicada a pensar a natureza, os caminhos da humanidade, o modelo de desenvolvimento, os danos causados ao planeta, os impactos do nosso comportamento cotidiano e o nosso futuro como espécie. Pensar na cidade, no estado, no bioma, no país e no planeta.
Apesar dos crescentes debates sobre o tema desde a década de 1970, até o final dos anos 1980 ainda era comum se colocar em polos opostos, como uma contradição, a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico e social. Tanto que a ONU organizou no Rio de Janeiro a Conferência Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92), quando os dois termos ainda apareciam como dois assuntos diversos no próprio nome oficial do evento. Durante os preparativos para a Rio-92, surgiu a necessidade de se construir uma nova utopia, uma concepção de mundo a ser alcançado, alternativo ao que temos hoje. Surgiu então o termo "desenvolvimento sustentável", depois substituído por muitos pensadores por "sustentabilidade", buscando conciliar desenvolvimento e harmonia ambiental. Existem vários conceitos técnicos-acadêmicos-políticos para definir o que seria sustentabilidade (não vamos entrar nessa discussão aqui), mas todos eles são difíceis de se traduzir na prática.
Talvez seja mais fácil se chegar a uma ideia do que seja a sustentabilidade se partirmos do que sabemos que não é sustentabilidade. Poluição, falta de saneamento, pobreza e injustiça social, mudanças climáticas, desertificação, queimadas na Amazônia e em outros biomas, extinção de espécies, exaustão de recursos naturais, descontrole urbano, ataques a culturas tradicionais e a povos indígenas. Também são oposto de sustentabilidade o negacionismo bolsonarista, o anti-ministro Salles e a sua desavergonhada confissão que pretende "passar a boiada" para desmontar a legislação e órgãos ambientais, além de proteger grileiros, madeireiros inescrupulosos e outros criminosos ambientais. O Brasil é um dos maiores emissores de gases do efeito estufa no planeta e, ao contrário de outros campeões mundiais da poluição, o Brasil polui principalmente por causa do desmatamento e das inaceitáveis queimadas. A atual política do governo federal para a Amazônia é a mais perfeita antítese do que seria a sustentabilidade. Estimula-se a destruição da Amazônia e dos biomas brasileiros sob a alegação anacrônica de promover o desenvolvimento. Bolsonaro e sua turma seriam discrepantes e atrasados até para os discursos desenvolvimentistas das décadas de 1960-1970.
Obviamente, muitos outros exemplos poderiam ser citados para se dizer que nada disso é caminhar para a sustentabilidade. Podemos prosseguir na reflexão sobre o que é a sustentabilidade provocados por algumas perguntas:
- É possível uma atividade ser sustentável isoladamente?
Por exemplo, existe mineração sustentável? Não! Pode, sim, existir mineração mas com a melhor técnica, com responsabilidade ambiental, com orientação para a sustentabilidade, mas uma atividade como esta, assim como muitas outras, jamais será sustentável de forma isolada. Minérios se exaurem, não são renováveis e a sua exploração é altamente impactante no ambiente, na paisagem etc. Sabemos que a mineração é uma atividade indispensável, mas não se enquadra isoladamente no conceito, assim como não se aplicaria a muitas outras atividades.
- Uma cidade poderá ser sustentável sozinha?
"(...) a questão das mudanças climáticas. Compreendê-la, pressupõe conhecimentos de física, química, meteorologia, geografia, política internacional, economia, diplomacia e tantos outros temas. Portanto, para que se construa uma governança participativa e mais democrática na escala global, é preciso se alcançar, além de uma cidadania mais ativa, uma "planetania". Portanto, precisamos construir isto através da educação".
O QUE SÃO OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, também conhecidos como Objetivos Globais, são um chamado universal para ação contra a pobreza, proteção do planeta e para garantir que todas as pessoas tenham paz e prosperidade. Esses 17 Objetivos foram construídos com o sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, incluindo novos temas, como a mudança global do clima, desigualdade econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça, entre outras prioridades. Os objetivos são interconectados – o sucesso de um ODS envolve o combate a temas que estão associados a outros objetivos.
Os ODS trabalham com o espírito de parceria e pragmatismo para fazermos as escolhas certas para melhorar a qualidade de vida, de forma sustentável, para a atual e futuras gerações. Eles oferecem orientações claras e metas para todos os países adotarem em acordo com suas prioridades e desafios ambientais de todo o planeta. Os ODS são uma agenda inclusiva. Ele combatem as raízes das causas da pobreza e nos unem para fazermos uma mudança positiva para as pessoas e para o planeta. “Erradicação da pobreza está no centro da Agenda 2030, assim como o comprometimento de não deixarmos ninguém para trás”, diz o administrador do PNUD, Achim Steiner. “A Agenda oferece uma oportunidade única de colocar o mundo em um caminho mais próspero e sustentável. Em diversas formas, reflete o objetivo do PNUD”.
Niterói neste contexto
Com tradição ambientalista e massa crítica para a inovação, Niterói tem avançado na agenda da sustentabilidade urbana. Assim como verificamos nos países mais desenvolvidos, a cidade vislumbra na sua vocação para a sustentabilidade uma das mais promissoras oportunidades para a sua retomada econômica no pós-Covid. Mesmo com toda a dificuldade do momento, com a chegada de R$ 1 bilhão investidos no enfrentamento à pandemia até julho (18 meses de enfrentamento), a Prefeitura não deixou de investir em infraestrutura, incluindo a implantação de parques, trilhas, saneamento, despoluição das lagoas de Piratininga e Itaipu e outras obras com resultados ambientais positivos, como a drenagem e a pavimentação de vias na Região Oceânica e Pendotiba, reduzindo o assoreamento de rios, canais e lagoas, além de valorizar imóveis e melhorar a qualidade de vida.
De investimentos na Região Oceânica (saiba mais em PRO Sustetável), como o Parque Orla de Piratininga Alfredo Syrkis, com as suas inovadoras soluções de drenagem sustentável, dos investimentos de 60 km de ciclovias, do projeto de Renaturalização do Rio Jacaré, virão novas oportunidades para o ecoturismo, cicloturismo e o lazer e a recreação. Desde 2014, com o Programa Niterói Mais Verde, a cidade superou a marca de mais da metade do seu território protegido por unidades de conservação e promove agora a implantação destas áreas (saiba mais aqui). Das obras de infraestrutura da Região Norte da cidade, como a Nova Alameda São Boaventura, a urbanização de comunidades, a contenção de encostas, a implantação de projetos de melhorias habitacionais e a regularização das atividades do Parque Esportivo e Social do Caramujo, novas perspectivas surgirão para a população. No Centro da cidade, a flexibilização da legislação urbanística, permitindo o uso misto dos prédios, trará novos investimentos, que serão também estimulados com as obras de reurbanização da Avenida Rio Branco e a implantação do Parque Esportivo na concha acústica.
Com todo este esforço de investimentos e as medidas que foram tomadas para o enfrentamento à Covid-19, como os programas de transferência de renda (Renda Básica Temporária), que beneficiaram mais de 50 mil famílias, e os programas de apoio às empresas (Empresa Cidadã e Supera Mais), a cidade passará pela pandemia e desenvolverá um programa de retomada da economia em condições de vantagens sobre outras cidades, com mais possibilidades de atrair novos investimentos, gerar empregos e seguir avançando.
Também temos promovido ações de mobilização da sociedade, visando o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS, como a organização, em 2019, da ODS Week, em parceria da Prefeitura com a ONU Habitat. As ODS também estão incluídas na metodologia dos principais planejamentos realizados para Niterói.
Agenda climática em Niterói
No início da atual gestão, criamos a Secretaria Municipal do Clima - SECLIMA, com o objetivo de promover uma integração horizontal pela estrutura administrava municipal e fazer com que Niterói cumpra as suas responsabilidades nas ações preventivas e de respostas às mudanças climáticas. Importante lembrar que a agenda climática já está inserida no planejamento urbano da cidade, compondo um capítulo do novo Plano Diretor da cidade.
Desde 2016, Niterói já vem se organizando na agenda climática e realizou um Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa. Segundo a análise realizada das emissões de 2016 a 2018 verificou-se que, em três anos, o município teve queda de 18% na quantidade de emissões, calculadas em toneladas.
Seguir avançando
Um dos aprendizados do ambientalista é que precisa perseverar. As derrotas muitas vezes são definitivas e as vitorias parciais. É preciso avançar sempre passo a passo e o segredo está em se celebrar as vitórias e replicar casos de sucesso. Os tempos atuais parecem nos remeter a um passado longínquo, quando ainda tem gente achando que a terra é plana, mas temos que ter o olhar no futuro, na inovação e na busca de soluções. Não podemos abrir mão da esperança e nem do ímpeto de sermos agentes das mudanças.
O futuro será sustentável ou não haverá futuro. E Niterói está mostrando o caminho.
Vamos em frente!
Axel GraelPrefeito de Niterói
Breve trajetória pessoal
Sinto-me privilegiado por ter tido a oportunidade de unir ao longo da trajetória pessoal: militância, profissão, carreira e "fazimentos" (como dizia Darcy Ribeiro, com quem tive a honra de trabalhar durante o Segundo Governo de Leonel Brizola no RJ). A sustentabilidade sempre foi o meu sonho, minha utopia, minha ideologia e minha profissão. Persigo essa ideia desde a juventude, no final da década de 1970, quando o termo sustentabilidade nem existia ainda. Consolidou-se durante os preparativos para a Rio-92, conferência da ONU realizada no Rio de Janeiro em 1992. No final dos anos 1970, comecei a atuar como ambientalista ao defender a Baía de Guanabara, enfrentando a poluição causada pelas "fábricas de sardinha" localizadas em Jurujuba, na Ilha da Conceição e no Barreto. Fundei o Movimento de Resistência Ecológica - MORE, em 1980, organização pioneira do ambientalismo em Niterói e no RJ. Fundei, atuei e presidi outras organizações também, como o Movimento Cidadania Ecológica, o Instituto Baía de Guanabara - IBG e o Projeto Grael. Passei praticamente a vida toda no Partido Verde e estou no Partido Democrático Trabalhista - PDT, desde 2020. O meio ambiente tornou-se também a minha profissão: comecei a cursar engenharia florestal na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em 1977, e me formei em 1983. Trabalhei em todos os biomas brasileiros, com destaque aos projetos desenvolvidos na Amazônia, quando tive a oportunidade de trabalhar, dentre outros projetos, na Área Indígena Nhamundá-Mapuera e desenvolver estudos na Bacia do Rio Trombetas, ambos no Pará. Minha trajetória de vida e a minha busca, como servidor público de carreira (sou engenheiro florestal concursado da Prefeitura do Rio) também sempre foi muito relacionada a esta bandeira: fui presidente da Fundação Instituto Estadual de Florestas - IEF (1991-1994) e presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA (1999-2000 e 2007-2008), subsecretário de Meio Ambiente do RJ (2008). Na Prefeitura de Niterói, liderei a agenda ambiental desde 2013, quando fui eleito vice-prefeito. Em 2020, fui eleito prefeito e assumi o mandato 2021-2024 em janeiro de 2021.
-----------------------------
COVID-19 E AS CIDADES: mudanças de comportamento, novas centralidades urbanas e mobilidade
NOVO NORMAL: Como será e como influenciar para que esse novo futuro seja melhor?
Pesquisa mostra o impacto ambiental dos nossos hábitos online
SUPERAÇÃO DA COVID E A CONSTRUÇÃO DO NOVO NORMAL
CORONAVÍRUS: isolamento social reduz muito a poluição do ar no RJ e SP
'Devemos mudar a forma como medimos o que fazemos e dar menos importância ao que dizem os economistas', diz Joan Martínez Alier, economista ecológico
NITERÓI GEROU MAIS DE 3.000 EMPREGOS: Políticas de enfrentamento à COVID-19 e à crise econômica mostram resultados
Parques e a Economia
Parques em infraestrutura urbana: uma tendência nos EUA
CAPACIDADE DE SUPORTE: Multidão de visitantes nos parques americanos desafia gestores
CAPACIDADE DE SUPORTE: lidando com os efeitos do sucesso das unidades de conservação
How Do You Create A Successful Urban Park?
HIGH LINE: parque em Nova York criado sobre viaduto de linha férrea desativada, torna-se atração e atrai investimentos
Solução para uma cidade mais verde: o "High Line" de Nova York.
Visitando projetos de restauração de rios em Maryland, EUA
CAPACIDADE DE SUPORTE: Parques Nacionais americanos batem mais um recorde de visitação em 2016
Pesquisa: Percepção da população americana sobre os seus parques e sobre o que é natureza
IMPACTO ECONÔMICO DOS PARQUES: Parques estaduais da Virgínia (EUA) geraram entre US$ 220 e 259 milhões em 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.