Me dei conta que há exatos 45 anos, por este período de início de ano, eu começava a estudar engenharia florestal na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRuRJ, onde estive de 1977 a 1983. Na época, a Rural ainda era longe da área urbana, então localizada no KM 47 da Antiga Rio-São Paulo, no município de Itaguaí. Após a emancipação, passou a estar no município de Seropédica.
Cheio de saudades e de orgulho, quero fazer aqui um breve relato sobre como cheguei lá, sobre as lembranças daquele período e como a Rural e a engenharia florestal influenciaram a minha trajetória profissional, política e cidadã.
Origens...
Decidir uma profissão! Somos obrigados a escolher uma profissão muito cedo, ainda adolescentes, e essa decisão poderá impactar as nossas vidas para sempre. Naquele estágio da vida, ainda nos falta maturidade, informação sobre as opções e principalmente certezas sobre as nossas vocações. Portanto, a escolha da profissão é um momento de precipitada responsabilidade, o que naturalmente gera muita insegurança e ansiedade em quase todas as pessoas.
Comigo, parecia que seria diferente. Enquanto todos os meus amigos de adolescência viviam o dilema sobre a carreira profissional a seguir, eu desde muito cedo tinha certeza do que seria: advogado!
Quando aproximava-se o momento de fazer a inscrição no vestibular, provavelmente em algum momento de 1976, adquiri um catálogo de profissões da Fundação Cesgranrio, fundação que promovia o concurso no Rio de Janeiro, e abri justamente na página da engenharia florestal, até então uma profissão desconhecida para mim. Li com atenção, me identifiquei e decidi que aquela seria a minha profissão. Levei a decisão ao meu pai, o coronel Dickson Grael. A primeira reação dele foi: "E o que aconteceu com a advocacia?" Minha mãe, por sua vez, assustou-se, quase chorou e disse "Meu filho vai para o mato!" 😱
Coisa de avô?
Vô Romão: Passada a surpresa, meu pai dedicou-se a me ajudar a ter certeza da escolha e atribuiu o meu interesse a uma possível herança do meu avô paterno, Romão Grael, que infelizmente não conheci pois faleceu antes de eu nascer. Ele era farmacêutico na cidade natal do meu pai, Dois Córregos, no interior de São Paulo. Era dono da gloriosa farmácia "Drograel", que o tornou conhecido e influente na pequena cidade, a ponto de leva-lo a ser prefeito, entre 1930-1933.
Como o meu pai sempre dizia, os farmacêuticos naquela época precisavam ser bons conhecedores de botânica, uma vez que quase todos os medicamentos eram de manipulação, usando plantas e outros produtos naturais. Meu avô era muito interessado no assunto, tanto que o nome dos filhos foram homenagens a iminentes botânicos. Vô Romão chegou a cultivar o Eucalyptus citriodora para produzir a essência, que era oferecida aos seus clientes.
Herdei do meu avô Romão um secular exemplar de uma publicação do agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, pioneiro da silvicultura no Brasil, que plantava eucalipto no Horto Florestal de Rio Claro-SP e, em 1902, já publicava os resultados dos seus primeiros estudos. O livro chama-se "O Eucalipto no Brasil".
Vô Preben: Também encontro raízes do meu interesse pelo meio ambiente no meu avô materno, Preben Tage Axel Schmidt, um imigrante dinamarquês que escolheu Niterói para morar e trouxe para a nossa família a tradição da vela, esporte que desenvolve uma sensibilidade especial para interpretar sinais meteorológicos e a natureza como um todo, principalmente o ambiente marinho e das águas interiores.
Na Islândia, tive o momento mais marcante junto ao meu avô. A Islândia é uma ilha de origem vulcânica e geologicamente muito recente. É como se os eventos que formaram o relevo local tivessem acabado de acontecer. Ou seja, um lugar ideal para uma boa aula de geomorfologia! Num passeio para o interior do país, me sentei com o meu avô nas proximidades da cachoeira de Gullfoss, onde por cerca de duas horas ficamos observando a paisagem, ele me explicando a formação daquele relevo ao nosso redor e até o motivo daquela cachoeira existir. E ele tinha uma forma muito divertida e peculiar de explicar, com o seu gostoso sotaque dinamarquês, um expressivo gestual e uma divertida sonoplastia para designar as fraturas, soerguimentos e colapsos das rochas, bradados na forma de: Foam!, Bang!, Crack!, Poom!... Inesquecível.
Nunca mais perdi a mania de olhar para os morros, tentar interpretar a sua origem geológica, imaginando o meu avô me explicando, com aquele gostoso jeitinho dele, aquilo que estava na minha frente.
Definição...
Na época da definição pela minha profissão, morávamos em Brasília, onde meu pai exercia suas últimas funções na carreira militar, antes de ir para a reserva.
Ainda hoje, quando digo que sou engenheiro florestal, muitas pessoas olham com perplexidade, por desconhecimento da profissão. Imagine há 45 anos! Para que eu tivesse a certeza final sobre a minha decisão, meu pai me levou para conversar com um dos maiores nomes da história ambiental do país, o saudoso Dr. Paulo Nogueira Neto, que curiosamente tinha a sua primeira formação em direito e depois em história natural. Foi um dos representantes do Brasil na Conferência da ONU de Estocolmo, em 1972, ocasião em que o Brasil, sob governo militar, estava muito apegado a teses nacional-desenvolvimentistas e, com a tese que a poluição era bem-vinda, desde que trouxesse o crescimento econômico. Obviamente, nosso país saiu como um dos principais vilões da conferência. Para reverter a péssima imagem, Dr. Paulo convenceu o governo brasileiro a criar o primeiro órgão ambiental federal: a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, um histórico, emblemático, mas acanhado escritório no meio da burocracia de Brasília.Foi lá onde eu o encontrei. Meu pai me apresentou e disse:
"Meu filho quer ser engenheiro florestal!"
Lembro até hoje as palavras do Dr. Paulo, que em meio a uma longa explanação, disse algo como:"É uma profissão que ainda não tem presente, mas tem futuro. Se você acredita no futuro, vai em frente!"
Era o que eu queria ouvir. Fui em frente!
Universidade Rural
Fiz o vestibular no final de 1976 e fui aprovado na minha primeira escolha: engenharia florestal (a segunda era direito 😊). Nas primeiras semanas de 1977, lá estava eu na Universidade Rural, acompanhado do meu pai, fazendo matrícula e procurando uma vaga no alojamento.
Lembro até hoje do meu número de matrícula: 77030044 e do significado dos números no registro:
77 = o ano do início do meu curso
03 = indicava o curso de engenharia florestal
004 = Indicava que havia sido o quarto colocado no vestibular
4 = era apenas um dígito que finalizava a matrícula.
Além de ser uma boa universidade, a Rural é uma grande escola de vida. Fui morar no 2° Alojamento, quarto 234, onde dividia o espaço com outras sete pessoas, compartilhando uma grande mesa de estudos por quarto e um banheiro por andar. Passávamos a semana (de segunda a sexta) na universidade, convivendo com centenas de outros estudantes, fazendo as refeições juntos no bandejão, praticando esportes e nos encontrando pelos lindos prédios de uma das mais belas universidades que conheço.
Me beneficiei muito daquela imersão no ambiente ruralino, do convívio com uma comunidade de estudantes de diferentes origens, classes sociais e com ricas histórias pessoais. Do convívio no quarto 234, surgiu a amizade com pessoas queridas como Herbert Vianna, Bi Ribeiro e Barone, que naquela época criaram a banda Paralamas do Sucesso. Muitas das amizades daquela época tornaram-se relações duradouras, que persistem até hoje.
Uma forte lembrança do campus da Rural é a beleza da arquitetura, mas também a distância entre os prédios e as longas caminhadas sob o sol para ir de um local de aula para outro.
Outra lembrança eram as lutas estudantis que muitas vezes nos levavam a longas greves. A mais famosa no meu período foi a "Greve dos 100 dias", que travamos contra o chamado "crédito zero", instituído justamente no meu semestre inaugural. A direção da universidade considerava que os alunos lá chegavam com deficiências e decidiram que deveríamos aprender em um semestre tudo aquilo que supostamente não havíamos absorvido em todos os anos anteriores de educação. Me lembro bem que após todo o stress e o esforço para passar no vestibular, a minha primeira aula numa universidade foi de Cálculo Zero e para a nossa indignação a aula era sobre: conjunto unitário, conjunto vazio e coisas do tipo.
Com a greve conseguimos que a universidade abandonasse o famigerado Crédito Zero, mas já era tarde: perdemos um semestre do nosso valioso tempo.
Me formei em 1983, após trancar a matrícula por um ano, quando fiz uma viagem: fui velejando de Niterói até a Grécia.
Estágios
A minha determinação por aprender e acumular experiências era tão grande que praticamente aproveitei todas as chances que tive para fazer estágios, fazer trabalhos voluntários, participar de congressos, eventos científicos e profissionais. Não era fácil, pois morando na Universidade Rural, estávamos longe do mercado e das instituições que ofereciam estágios. Mas, aproveitava todas as férias, feriadões e definia os meus horários na universidade para que pudesse conciliar os estágios e até mesmo as competições esportivas.
Alguns dos meus principais estágios e trabalhos voluntários foram os seguintes:
- ETEPLAN: a época era o auge dos incentivos fiscais ao reflorestamento e a empresa dedicava-se a desenvolver projetos florestais. Foi uma importante oportunidade para aprender a trabalhar planilhas de custos e conhecer detalhes de um projeto de reflorestamento.
- FEEMA: inicialmente, fui estagiário do setor de Botânica, do Departamento de Conservação Ambiental – DECAM da FEEMA. A sede do DECAM era na Vista Chinesa, no Alto da Boa Vista e tive como orientadores os botânicos Pedro Carauta e Henrique Martins.
- Parque Nacional de Itatiaia: aproveitei um período de férias para desenvolver um levantamento das atividades nas propriedades no entorno do Parque Nacional de Itatiaia.
- Instituto Florestal de São Paulo: fui estagiário com orientação do engenheiro florestal Sebastião Fonseca Cesar e do engenheiro agrônomo Hideyo Aoki e o principal resultado do meu trabalho foi desenvolver o planejamento e a implantação da Trilha de Interpretação da Natureza no Setor da Pedra Grande, no Parque Estadual da Cantareira, em São Paulo. O parque estava fechado à visitação há muitos anos e as visitas guiadas permitiram que a população pudesse voltar a usufruir de uma das mais importantes áreas verdes da Região Metropolitana de São Paulo. Para a fazer o estágio, eu viajava para São Paulo todo final de semana, feriado e períodos de férias, durante dois anos.
- BANERJ: fui estagiário do setor de Crédito Rural do Banco do Estado do Rio de Janeiro - BANERJ, com a oportunidade de viajar o interior do estado do Rio de Janeiro e contribuir com a fiscalização das propriedades que utilizavam o sistema de crédito do banco.
Projeto Rondon
A Universidade Rural me proporcionou também a oportunidade de ter a minha primeira experiência na Amazônia, através do Projeto Rondon, uma política pública de grande relevância que levava estudantes das universidades federais a conhecer realidades do interior do país e desenvolver projetos de apoio às atividades locais.
Através do Projeto Rondon fui designado para um trabalho na cidade de Mazagão, uma pequena cidade e sede municipal no sul do Amapá, onde só se chegava de barco pelo Rio Amazonas e subindo o "Furo do Mazagão". Não havia estradas, embora na época estava se construindo uma ponte sobre o Furo do Mazagão, na esperança de que algum dia a estrada chegasse.
Formação profissional e reflexões políticas
Do meu aprendizado profissional, conquistei o privilégio de ter as florestas e o meio ambiente como uma das minhas principais lentes para enxergar a sociedade e o mundo que vivemos, adotando a sustentabilidade como sonho e projeto de vida. É bom lembrar que o termo sustentabilidade só surgiu mais de uma década depois, nos preparativos para a Rio 92.
Ao olhar político e social que já havia sido incutido pelos ensinamentos do meu pai, agreguei as intensas reflexões políticas que fazíamos no movimento estudantil. Vivíamos sob a ditadura militar. Lembro-me de episódios como a absurda invasão do campus da universidade pelas forças de repressão e das agressões contra os estudantes nas manifestação contra a destruição do prédio da UNE. Diante da luta pela redemocratização do país e a construção do sonho de um Brasil melhor, travávamos longos, intensos e acalorados debates ideológicos. Éramos todos de esquerda, mas de diferentes interpretações ideológicas do que era ser esquerda.
Eu achava que muitos colegas estavam mais avançados no conteúdo e levavam vantagem no debate político e me vi instado a mergulhar na leitura de alguns bons clássicos da ciência política e outras fontes importantes para a formação ideológica. Não era nada trivial enfrentar as disputas das diversas matizes políticas que buscavam a liderança do movimento estudantil. Eram muitas as tendências ideológicas e lembro que elas se alinhavam em torno de jornais. Com a derrota da ditadura e a reconstrução da vida democrática, muitas dessas tendências deram origem a partidos políticos. Eu lia vários jornais, mas não perdia um número do jornal "Movimento" e "Pasquim".
Ambientalista
Dos meus estudos ideológicos, ainda na universidade avancei para alguns clássicos da ecologia política e do ambientalismo, que me aproximaram do movimento que levou à fundação do Partido Verde - PV. Dentre muitos outros, li naquela época:
- "Silent Spring" e "The Sea Around Us", de Rachel Carson, uma pioneira do ambientalismo e que chamou a atenção dos impactos dos agrotóxicos.
- "Introdução à Crítica da Ecologia Política", do francês Jean-Pierre Dupuy, que ajudou a embasar a ecologia como caminho político,
- "Antes que a Natureza Morra", de Jean Dorst, que alertava sobre a extinção das espécies.
- Vários títulos do francês Rene Dubos, com conteúdo mais filosófico e quase teológico, antecipando o que seria chamado depois de "deep ecology".
- Warriors of the Rainbow, que conta a história da fundação do Greenpeace e me inspirou na formação do MORE 💪
- Vários títulos de Lester Brown, publicações com conteúdos mais basilares sobre temas estratégicos e globais e
- Me aprofundei nos relatórios do Clube de Roma ("Limites do Crescimento") e outros documentos prévios e posteriores à Conferência de Estocolmo, de 1972.
Me lembro de conversar sobre essas leituras com o meu avô Preben. Certa vez, ele me deu uns textos de autores críticos aos ambientalistas. Diante da minha perplexidade e contrariedade, me disse: "Quer defender esse ponto de vista, saiba o que pensam os contrários, para que possa se preparar para o debate". Aprendi!
Certa vez, peguei uma imagem de satélite emprestada do professor da cadeira de Sensoriamento Remoto e levei para que o meu avô, entusiasta da tecnologia, pudesse conhecer. Era uma imagem em "falsa cor" da Baía de Guanabara. Enquanto conversávamos "sobrevoando" aquela imagem, encantados com toda a tecnologia de filtros que permitiam destacar o relevo, florestas etc, ele mais uma vez me impressionou. Disse que estávamos ali saboreando aquela tecnologia, mas que nenhuma outra geração tinha visto tanta transformação que a dele. Ele havia nascido, em 1898, na pequena cidade dinamarquesa de Fredericksberg, que mantinha-se praticamente igual através de gerações, com poucas mudanças. Ele viu a chegada dos primeiros automóveis, viu surgir os primeiros voos comerciais, viu os telefones se popularizarem, a chegada dos computadores, teve como professor de física Nils Bohr, prêmio Nobel, na Escola Politécnica de Copenhague, e via agora imagens de satélites... Preben Schmidt faleceu em Niterói, em 1978, aos 80 anos.
Aprofundando no conhecimento florestal e na reflexão ambientalista, comecei a me informar sobre os problemas da Baía de Guanabara e as suas soluções e um problema de dava uma especial indignação: a poluição causada pelas chamadas "fábricas de sardinha", Niterói tinha mais de uma dúzia delas e todas eram absurdamente poluidoras. Segundo relatórios da FEEMA, a carga orgânica lançada pelas fábricas de sardinha de Niterói na Baía de Guanabara correspondia a toda carga gerada pelos esgotos da cidade, que na época praticamente não tinha tratamento. Comprei uma briga com as três fábricas localizadas em Jurujuba: Atlantic, Ribeiro e Santa Iria. As indústrias causavam uma poluição na Enseada de Jurujuba (Saco de São Francisco) que fazia todos os bairros, inclusive São Francisco, onde eu morava, feder a peixe podre. A cada velejada, precisava esfregar o meu barco para livra-lo do fétido "óleo de sardinha" que ficava grudado no barco.
Em 1979, resolvi agir e organizei no ano seguinte uma "Regata de Protesto", mobilizando os velejadores que eu conhecia. Reunimos cerca de 100 embarcações numa manifestação pioneira em defesa da Baía de Guanabara e conseguimos atrair alguns pescadores e outras pessoas interessadas. O evento alcançou uma grande repercussão, chegando à televisão e aos jornais.
Ainda em 1980, fundei o Movimento de Resistência Ecológica - MORE, organização com sede em Niterói e dedicada a denunciar e enfrentar o processo de poluição da Baía de Guanabara. Fui o seu primeiro presidente, da fundação até 1985, quando passei a exercer outros cargos na instituição. O MORE fez história, chegou a ter mais de 1.000 associados e formou uma geração de ambientalistas, muitos deles ainda ativos atualmente. Além de enfrentar as fábricas de sardinha e pressionar a FEEMA para que exigisse que instalassem as Estações de Tratamento de Despejos Industriais - ETDI, defendemos as Lagoas de Piratininga e Itaipu, lutamos pelo saneamento, ciclovias em Niterói e pela criação do Parque Estadual de Serra da Tiririca.
Desde cedo, ainda na década de 1980, eu já tinha a questão climática entre as minhas preocupações, a ponto de escrever artigos no "Informativo do MORE". Também, na década de 1990, desenvolvi uma proposta com o Dr. Patrick Kangas, da Universidade de Maryland, para desenvolver do RJ um grande projeto de restauração florestal com base no que viria a ser no futuro, após o Protocolo de Quioto, aprovado em 1997 como desdobramento da Rio 92, o sistema de compensações de crédito de Carbono.Carreira
Tornei-me engenheiro florestal e não me imagino como advogado!
Minha trajetória sempre oscilou ou contou com atuações concomitantes entre a ação governamental, na iniciativa privada e no terceiro setor, com uma passagem pela academia (dei aulas e em 2003/2004, iniciei um doutorado em Geografia, na UFRJ).
Quando me casei com a Christa, disse a ela que como engenheiro florestal, íamos morar no mato, como a minha mãe havia previsto, mas mesmo trabalhando na Amazônia e outras partes do país, sempre tive como base o RJ. Até hoje, a Christa me cobra o mato!
Comecei a minha carreira na iniciativa privada. Meu primeiro emprego foi no Estaleiro Verolme, em Angra dos Reis, onde fui responsável pela área ambiental, desenvolvi projetos de paisagismo urbano e industrial, acompanhamento e fiscalização de obras, recuperação de áreas degradadas e outras atividades. Já no primeiro emprego, era responsável por chefiar uma equipe de mais de 230 funcionários.
Em 1986, fui contratado pela ENGE-RIO Engenharia e Consultoria S/A. Rio de Janeiro- RJ, empresa com forte atuação em projetos de engenharia em hidrelétricas. Desenvolvi estudos e projetos ambientais na Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e região sul do Brasil. Posteriormente, assumi a coordenação de contratos para projetos ambientais em mineração (Projetos de Recuperação de Áreas Mineradas- PRAD). Dentre os principais trabalhos de campo realizados, desenvolvi estudo ambiental na Área Indígena Nhamundá-Mapuera (Rio Mapuera, PA); realizei mapeamentos e inventários florestais; estimativas de fitomassa e projetos de resgate de recursos genéticos em áreas de inundação de reservatórios de hidrelétricas.
Depois da Enge-Rio, passei por outras empresas de projetos e consultoria, como a finlandesa Jaakko Pöyry Engenharia, Haztec e outras, até que em 2011 constituí a minha própria empresa: a Grael Ambiental.
Na área pública, tive a minha primeira experiência em 1991, quando assumi a presidência da Fundação Instituto Estadual de Florestas - IEF/RJ, no segundo Governo Brizola, permanecendo durante toda a gestão, até o fim de 1994. O IEF/RJ era o órgão responsável pela gestão de todos os parques estaduais do Rio de Janeiro, da biodiversidade, fiscalização do desmatamento, reflorestamento e restauração de áreas degradadas. Depois, assumi a diretoria executiva da Fundação Parques e Jardins (Prefeitura do Rio), onde fiquei de 1995-1997. A seguir, assumi a Coordenação de Planejamento e Educação Ambiental da SMAC- Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro, onde tive a minha primeira experiência de estruturação de grandes projetos e captação de recursos internacionais, ao assumir a coordenação geral do do PROJETO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA MACROBACIA DE JACAREPAGUÁ, (US$ 330 milhões, negociados com o JBIC- JAPAN BANK FOR INTERNATIONAL COOPERATION, Governo Japonês).
Assumi a presidência da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA em duas ocasiões (1999-2000 e 2007-2008). A FEEMA é um órgão ambiental pioneiro no país, o maior e mais importante da estrutura ambiental do RJ e era responsável pelo licenciamento ambiental das atividades potencialmente poluidoras, gestão e monitoramento da qualidade ambiental no estado. Na FEEMA, passei a assumir responsabilidades sobre o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara.
Em 2007, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, me designou gerente da reforma da estrutura ambiental do estado e coube a mim conceber e implementar o processo que extinguiu o IEF-RJ, FEEMA e SERLA e criou o INEA-RJ, o atual órgão ambiental do estado do Rio de Janeiro.
Niterói
Em 2013, a minha vida deu uma guinada, quando a convite de Rodrigo Neves concorri pela primeira vez a um cargo eletivo, participando como candidato a Vice-Prefeito na sua chapa. Fomos eleitos e demos início a uma grande transformação na cidade de Niterói. O primeiro passo foi estabelecer um projeto de cidade, o que aliás é um dos maiores problemas do Brasil: nos falta um projeto de nação!
O sonho de fazer de Niterói uma referência de sustentabilidade urbana e de justiça social teve as suas bases estabelecidas em 2013, quando começamos a desenvolver o planejamento estratégico "Niterói que Queremos", projetando o sonho coletivo a ser alcançado em 2033. Mais de 10 mil pessoas contribuíram para o plano, que tem sido a nossa carta de navegação.
Com o trabalho que desenvolvi de estruturação do Escritório de Gestão de Projetos - EGP, desenvolvemos um ambicioso projeto de captação de recursos. Trouxemos recursos do BID, CAF e do governo federal, além de trazer parcerias com a AFD. Niterói passou a ter uma das maiores carteiras de investimentos no país, ganhou o túnel Charitas-Cafubá, a TransOceânica e obras de infraestrutura na Região Oceânica que eram muito esperadas há décadas.
Também estruturei as políticas de Niterói Cidade Inteligente, as ações de resiliência e defesa civil e diversas outras ações. No tema da sustentabilidade, elevamos a cobertura de áreas protegidas em Niterói para mais de 53% do seu território. Qual outra cidade num contexto metropolitano tem essa oportunidade? Concebi e coordenei o Programa Niterói de Bicicleta e o Programa Niterói Mais Verde e o Programa Região Oceânica Sustentável - PRO Sustentável. Como parte deste último programa, iniciamos a implantação do Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis e obras emblemáticas como da Ilha da Boa Viagem.
Uma das conquistas que eu mais me orgulho foi colocar de pé o Programa Niterói Jovem EcoSocial. Assim como conseguimos associar esportes náuticos, capacitação profissionalizante e meio ambiente no Projeto Grael, com o EcoSocial, consegui unir floresta, capacitação profissionalizante, inclusão social e prevenção à violência.
Com o advento da COVID-19, assumi a coordenação dos programas sociais do governo, estruturando o Renda Básica Temporária - RBT, que beneficiou quase a metade da população de Niterói. Mais uma vez Niterói foi referência, sendo reconhecida pela imprensa nacional e internacional e conquistado prêmios.
O engenheiro florestal e ambientalista virou prefeito
Ser prefeito da cidade que a gente ama é um grande privilégio e um orgulho sem fim.
Após oito anos de gestão, o prefeito Rodrigo Neves concluiu o seu ciclo com mais de 70% de aprovação. Com o apoio dele, fui candidato a prefeito para dar continuidade ao projeto de cidade, à gestão e ao projeto político, tendo sido eleito no primeiro turno, com 62,5% dos votos e contando com Paulo Bagueira como vice-prefeito. O segundo colocado teve 9%.
No primeiro ano de gestão (2021) demos continuidade aos esforços de Rodrigo Neves para combater a COVID-19 e estruturamos a prioridade para os anos seguintes: a retomada da economia e a retomada do emprego. Anunciamos um plano de investimentos histórico que gerará empregos e trará melhorias de infraestrutura, que permitirá atrair mais empresas e oportunidades para a cidade. Serão obras e serviços para melhorar a vida das pessoas e que injetará R$ 2 bilhões na economia. Concluiremos as obras do Parque Orla de Piratininga, avançaremos na despoluição do sistema lagunar de Piratininga e Itaipu, a malha cicloviária ultrapassará a marca de 120 km e faremos a revitalização do Centro da cidade com obras estruturantes como a nova Avenida Visconde do Rio Branco, o Parque Esportivo (onde hoje é a Concha Acústica) e vários outros investimentos. Na Região Norte, os investimentos terão como principal alavanca as obras de revitalização da Alameda São Boaventura. Saúde, Educação, Cultura terão investimentos como nunca terão na cidade. Várias dessas obras estão em licitação ou já estão iniciando.
Criei a primeira Secretaria Municipal do Clima do país. Com a experiência de Niterói e na condição de vice-presidente de ODS da Frente Nacional de Prefeitos - FNP, participei em novembro de 2021 da COP-26, em Glasgow, Escócia.
Niterói honrou a sua tradição progressista e vocação para a sustentabilidade. Escolheu para prefeito um engenheiro florestal, ambientalista, esportista, empreendedor social e gestor público e continuará avançando para ser aquilo que sempre sonhamos: a melhor cidade para se viver e ser feliz e um modelo para outras cidades.
Axel GraelEngenheiro florestal (com muito orgulho!)
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LEIA TAMBÉM:
Engenharia Florestal: minha profissão e um pouco da minha trajetória
Muito bom, Axel! Assim como você, escolhi a Engenharia Florestal a partir do livro do Cesgranrio! Quando li, pensei, achei o que me fará feliz! Percorremos esse período de Rural praticamente juntos, e tenho muitas das lembranças que você tem. A política estudantil, os trabalhos nas férias, a descoberta de um Brasil do interior, os amigos latinos da universidade, a engenharia florestal ampla, ligada a natureza e ao desenvolvimento econômico. Muito bacana!
ResponderExcluirOi Valéria. Além da Universidade Rural, já estamos juntos há um bom tempo, compartilhando sonhos no Projeto Grael e na Prefeitura de Niterói. Um beijo.
ExcluirBom relato de uma bela história, alicerçada em bons ensinados e exemplos de pais e avós. Narrativa interessante das escolhas e conquistas que dizem muito do trabalho que desenvolveu e desenvolve. Escolhas que o levaram desde cedo a trilhar dois caminhos paralelos e bem próximos, o da causa ambiental e o da dedicação à gestão pública. Certamente a UFRRJ tem um papel importante nessa sua jornada - feita e se fazendo - meritória.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, amigo José Maria. Vc que também é ex-aluno da Rural sabe avaliar a importância dessa universidade. Um abraço.
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