domingo, 20 de julho de 2014

Projeto Cão Guia Brasil oferece treinamento gratuito em Niterói



Jonas Santiago e sua amiga inseparável Zuca, hoje leva uma vida normal. Foto: Lucas Benevides

Vanessa Lima

Além do serviço de treinamento para animais capazes de auxiliar deficientes visuais o projeto oferece a doação de cães treinados

Considerados os melhores amigos do homem, os cães possuem entre muitas características, princípios de fidelidade e inteligência avançada. Esses atributos foram capazes de torná-los os melhores animais para ajudar deficientes visuais no convívio junto à sociedade. O Projeto Cão Guia Brasil desenvolve em Niterói um serviço gratuito de treinamento e doação de animais domesticados para cidadãos portadores de necessidades.

Fundado em 2009 pelo adestrador e psicólogo George Thomaz Harison, morador do Ingá, a iniciativa promove a reintegração da pessoa com deficiência visual fornecendo uma locomoção segura por meio do cão-guia. O projeto foi idealizado após o Conselho Brasileiro de Oftalmologia revelar a existência de aproximadamente 5 milhões de pessoas com baixa visão no Brasil. Dentro desse grupo, cerca de 20 mil estão na fila de espera para obter um animal e apenas 70 cachorros são doados por ano.

O trabalho consiste inicialmente na seleção de cães filhotes das raças Labrador e Golden Retriever que apresentem bom estado de saúde. O adestrador observa aqueles que possuem maior habilidade para atender comandos de obediência e socializa o animal. Após essa etapa, ele passa por avaliação de desenvolvimento que define seu poder de inteligência e em seguida são levados diretamente para a rua, onde recebem treinamento específico. O cão aprende a identificar o movimento de trânsito, atravessar uma via, desviar de buracos, bueiros abertos, localizar escadas rolantes, elevadores, banheiros e outras ações necessárias no dia a dia. Ao todo o adestramento leva dois anos para ser concluído.

“O processo de aprendizado requer paciência e determinação. O trabalho é realizado na base da troca e do carinho”, explica o diretor do projeto.

Após o treinamento, o cachorro é levado para um canil em Itaipu, onde recebe os cuidados necessários e permanece sendo avaliado. Para encerrar o processo de socialização é preciso que um voluntário adote um filhote. Ao se cadastrar no site, o interessado é direcionado para uma fila de espera até que um cão com seu perfil esteja disponível. Em cinco anos o projeto já beneficiou 28 pessoas e atualmente encontra-se com uma longa fila.

Antes de ser contemplado pelo programa, o ex-bancário Carlos Eduardo Alvim, de 50 anos, morador de Icaraí, estudou a possibilidade de comprar um cão-auxiliar nos Estados Unidos. O território americano é o país que mais exporta cães-guias no mundo, por isso muitos deficientes consideram a alternativa de adquirir um cão do exterior, já que o número de cachorros doados no Brasil não atende ao volume de deficientes interessados. Entretanto, os gastos para aquisição de um animal exportado são exorbitantes e desanimadores. Na época o niteroiense pagaria cerca de R$ 20 mil por um Labrador americano, mas por intermédio de uma amiga, conheceu o instituto e depois de dois anos na fila ganhou a cadela Brida, da raça Golden Retriever.

“Eu nunca me adaptei a bengala e senti que para ter uma vida normal seria preciso adquirir um cão-guia. Tentei de todas as formas comprar um animal e não consegui, porque no Brasil esse tipo de ação não é prioridade para o governo. Porém, tive a sorte de conhecer o trabalho do George Harison e recebi uma doação há três anos atrás. Hoje meu relacionamento com a Brida é quase de marido e mulher, porque ela me oferece a oportunidade de ter autonomia, liberdade e segurança para ir a qualquer lugar sozinho,” relata.

Segundo Jonas Santiago, 29 anos, o primeiro voluntário a receber uma doação do projeto, através do seu cão-guia as pessoas puderam perceber que apesar das limitações, ele tinha capacidade de levar uma vida comum em segurança. “Infelizmente ainda existe aquela ideia de que o deficiente visual é uma pessoa triste, introspectiva e dependente das outras, mas eu nunca fui assim. Estou com a Zuca há seis anos e levo uma vida normal, praticando hobbies como vela, trilhas e já fui até para as montanhas de Machu Picchu no Peru. Inclusive desde que estou com ela, nunca mais fui assaltado. A proteção que o animal me propõe vai além das simples barreiras da mobilidade”, conta.

Para manter os custos de manutenção de cada animal, que chegam a R$ 20 mil, desde sua compra até o período de treinamento e doação, a iniciativa recebe apoio financeiro de empresas privadas e trabalha em parceria com o projeto Íris.

Fonte: O Fluminense


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