A ilha é protegida por legislação federal e municipal mas, apesar disso, degradou-se ao longo de muitas décadas por falta de investimentos e indefinição quanto à sua gestão. Desde 2013, me dedico a desenvolver as soluções e o detalhamento do projeto de restauração, superar os entraves burocráticos e institucionais. Foi uma longa caminhada (nove anos!) mas, em fevereiro de 2022, finalmente demos o início da tão esperada obra de restauração.
A Ilha da Boa Viagem ficou décadas fechada à visitação pública, mantendo apenas a atividade escoteira e algumas celebrações religiosas. Com as obras de recuperação, niteroienses e turistas poderão aproveitar esse, que é um dos lugares mais bonitos de Niterói. Da ilha é possível admirar boa parte da Baía de Guanabara, a nossa cidade e o MAC, que localiza-se nas suas imediações, compondo um belo contraste entre distintos tempos da história da arquitetura. Com certeza, a Ilha será mais uma grande atração turística!
A vistoria foi realizada para verificação dos avanços das obras e fui acompanhado pelo presidente da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa), Paulo Cesar Carrera, o secretário de Obras de Niterói, Vicente Temperini, a secretária de Conservação e Serviços Públicos, Dayse Monassa, o secretário municipal das Culturas, Alexandre Santini, presidente da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), Paulo Novaes, e a secretária municipal de Ações Estratégicas e Economia Criativa, Mariana Zorzanelli.
História
A Ilha da Boa Viagem tem uma interessante história de lutas, júbilo e resiliência. Veja algumas efemérides relacionadas ao patrimônio arquitetônico e usos da ilha, de acordo com a obra "O Escotismo do Mar e a Ilha da Boa Viagem no Século XX", de Hélio Sodré, e com a :
1650: Construção da Ermida da Nossa Senhora da Boa Viagem.1711: A Ermida é destruída pela primeira vez. René Duguay-Troin, em investida contra o Rio de Janeiro, ataca com a sua artilharia a Ilha da Boa Viagem.
1718: a Capela é reconstruída.
1732: Primeiro grande incêndio na Capela.
2019: Prefeitura inicia obras emergenciais de contenção de encostas. Foi constatado risco de desabamento, que afetaria gravemente o Castelo. A área havia sido interditada pela Defesa Civil de Niterói.
- Capela: 2 bombardeios
- Capela: 3 incêndios
- Capela: 7 reconstruções/reformas
- Bateria/Fortim: 2 bombardeios
Obras
De acordo com o estudos e o projeto de restauro da SANER Engenharia e Consultoria EIRELI, o Fortim e o Castelo estavam "em ruínas" (vide abaixo). A situação mais grave era o Castelo, cujo telhado já havia colapsado, aumento a deterioração do restante do prédio. A Capela tinha graves problemas de infiltração e o sino já havia sido retirado. O acesso ao Fortim estava com o acesso dificultado e coberto por vegetação. Agora, já encontra-se também em recuperação.
No texto acima, extraído do projeto de restauro, a indicação do conceito dos trabalhos e a condição naquele momento das edificações na ilha.
Com relação às condições naturais da ilha, cabe fazer algumas considerações referentes ao embasamento e à biota:
O relevo de penhascos, que caracteriza a paisagem local, e as características da ilha e seu entorno mostram uma geologia frágil. Como pode ser visto no Mapa Geológico da Região de Niterói (CPRM, 2001), acima, a Ilha da Boa Viagem e o seu entorno próximo se difere em termos geológicos ao restante de Niterói, de predominantemente de característica granítica, sendo a sua composição mais friável, susceptível à erosão marinha e pluvial. É o que se pode ver nas escarpas da ilha, com indícios de escorregamentos e erosão. Por isso, o histórico de deslizamentos de terra e os problemas que já demandaram obras recentes da Prefeitura de contenção de encostas.
A vegetação da ilha encontra-se bastante alterada, com a presença de muitas espécies exóticas, mas ainda contanto com exemplares de espécimes representativas do que deve ter sido a cobertura vegetal anterior. Técnicos da Prefeitura preparam estudos para a caracterização do estado da flora e fauna.
O início das obras foi possível após a superação de muitos desafios técnicos e institucionais. Por determinação do então prefeito Rodrigo Neves e na condição de vice-prefeito, em 2013, iniciamos as tratativas com o IPHAN, com o SPU e com os Escoteiros para viabilizar a restauração. A medida, que avançávamos nas formalidades institucionais, fomos avançando também em ações emergenciais, como a recuperação da ponte, contenção de encostas, manutenção e melhorias nos acessos (vide cronologia acima).
As obras de restauração foram iniciadas no dia 10 de fevereiro de 2022, constituindo-se um investimento de R$ 5,5 milhões. A execução da obra é de responsabilidade da empresa LCD Construções e Serviços Ltda, vencedora do processo licitatório. A fiscalização da obra é de responsabilidade da EMUSA, órgão da Prefeitura de Niterói.
Tombamento
A ilha é um dos mais belos marcos naturais da paisagem da cidade e de toda Baía de Guanabara. Por este motivo e pela sua relevância histórica e cultural, foi tombada em 1938 pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje IPHAN), com despacho de Lúcio Costa, tendo sido um dos primeiros atos deste órgão histórico da cultura brasileira, que iniciou o funcionamento em 1937 (Lei 378/37). No mesmo ano, o Decreto-Lei nº. 25, de 30 de novembro de 1937 regulamentou o instrumento do tombamento de bens móveis e imóveis, designando o SPHAN como o órgão competente para gerir essa política.
O conjunto arquitetônico e paisagístico da Ilha da Boa Viagem foi tombado em maio de 1938 (Inscr. nº 3, de 20/05/1938. Livro do Tombo Belas Artes: Inscr. nº 80, de 30/05/1938). Trata-se, portanto, do primeiro tombamento em Niterói e um dos primeiros no Brasil, uma vez que o tombamento foi oficializado no mesmo dia do tombamento do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, logo, sendo o segundo bem tombado na categoria do Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
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