Além da conscientização ambiental, Passarinhar Carioca quer atrair mais frequentadores para os 15 parques municipais da cidade
Felipe Grinberg
RIO — A imersão do homem na natureza em grandes metrópoles, como o Rio de Janeiro, costuma ter dia e hora para acontecer. É preciso encontrar espaço na agenda para tornar esses momentos de relaxamento e prazer possíveis. O projeto Passarinhar Carioca, lançado pela prefeitura no sábado passado, no Parque Natural Municipal de Marapendi, no Recreio, é uma forma de estimular esse contato. Ele tem dois objetivos: propiciar a observação de pássaros e atrair mais frequentadores para os 15 parques municipais da cidade, sendo sete deles na área de Barra da Tijuca, Recreio, Vargens e Jacarepaguá.
O Passarinhar é um desejo antigo da bióloga Denise Monsores, observadora de pássaros há mais de 40 anos.
— O mais importante é tentar chamar as pessoas a fazerem atividades dentro dos parques. Muitos não conhecem os parques da cidade. Queremos incentivar o laço entre a natureza e o carioca — diz.
No primeiro passeio guiado do Passarinhar, 30 observadores, entre novatos e veteranos, conseguiram identificar 41 espécies durante uma caminhada de duas horas pelo Parque Natural Municipal de Marapendi, mesmo sendo esta uma época menos propícia para a atividade. Entre setembro e dezembro, meses de reprodução, fica mais fácil flagrar aves. Mas no inverno também se podem ver espécies migratórias, que se reproduzem aqui.
Mariquita pode ser visto na região da Barra da Tijuca Foto: Foto: João Rafael Marins |
Jacupemba pode ser visto na região da Barra da Tijuca Foto: João Rafael Marins |
Cambacica pode ser visto na região da Barra da Tijuca Foto: João Rafael Marins |
Estar em meio à natureza pode aguçar sentidos. Mário Ferreira, gestor do Parque de Marapendi e morador de Bangu, diz que participar do Passarinhar fez com que ele passasse a prestar mais atenção ao canto das aves, inclusive em casa
— Agora, se estou sentado no sofá e escuto algum piado, tento prestar atenção e me esforço para tentar reconhecer a espécie. É um exercício que eu não fazia antes; parece que nossa audição fica mais apurada — conta.
Sabendo da estreia via redes sociais, Sidney Almeida e seu filho, Sidney Almeida Júnior, acordaram cedo e foram ao passeio, que começa às 7h. Mesmo sem equipamentos de observação de longo alcance, como binóculos e câmeras, eles garantem que a experiência foi boa.
— Acho que pela curiosidade de conhecer as espécies, o programa já vale. Próximo à lagoa conseguimos ver os pássaros bem, mesmo a olho nu. Os detalhes mais específicos, não reconhecemos, até porque somos leigos, mas dá para perceber as cores diferentes, as listras. Sem dúvida é uma ótima opção de lazer— afirma Júnior, que tem 24 anos e é estudante de Medicina
Morador do Anil, o pai explicou que aquela era a primeira visita dos dois ao local, embora ele passe diariamente próximo ao Parque de Marapendi:
— Gostamos de estar em contato com a natureza e aproveitamos a observação para vir e fazer também a trilha. Mesmo passando sempre aqui, não sabíamos que este era um lugar que poderíamos frequentar. Agora que sabemos, queremos voltar e visitar os outros parques da região.
Como apoio ao Passarinhar, a prefeitura está instalando uma torre de observação fixa no Parque de Marapendi. A estrutura deve ser aberta ao público daqui a dois meses e oferecerá uma visão privilegiada da área, que alcança até a Praia do Recreio.
Aplicativos ajudam iniciantes
Munido de seu smartphone e de uma caixa de som portátil, o biólogo e ornitólogo João Rafael Marins usava todo o seu conhecimento em canto de pássaros para tentar identificar alguma ave próxima no Parque de Marapendi. Assim que um assobio era reconhecido, procurava a gravação correspondente no celular e reproduzia o canto na caixa de som. A estratégia é chamada de playback e usada para tentar atrair as aves até um local onde elas fiquem mais visíveis, já que muitas vezes elas estão no meio de uma mata densa.
Marins é um dos responsáveis pelo projeto Vem Passarinhar, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), outro programa de observação de pássaros, mas em unidades de conservação do governo do estado. Ele foi o guia do Passarinhar Carioca no último sábado, e explicava que, apesar de o playback ser um método muito bom para observadores iniciantes conseguirem uma boa visão dos pássaro, é preciso ter cuidado:
— Tem que ter sensibilidade ao usar. Na cabeça do bicho, há uma outra ave da mesma espécie entrando no território dele para disputar espaço. Pode estressar o animal, já que vai alterar intencionalmente o comportamento dele. A estratégica é colocar cinco, dez vezes para atraí-lo. Mas, se a pessoa vir que a ave está com um ninho próximo ou se alimentando, não deve emitir o som.
Sem levar equipamentos Sidney Almeida e Sidney Almeida Júnior fizeram sua primeira observação de pássaros. Foto: Felipe Grinberg |
Num aplicativo americano chamado Merlin Bird, diz ele, é possível baixar o pacote das aves de todo o Sudeste do Brasil, o que é muito útil em áreas onde a internet não pega. No app também é possível ver a região em que as aves podem ser observadas, além de fotos dos pássaros, o que ajuda os iniciantes a diferenciarem machos e fêmeas, por exemplo, nos casos em que isso é possível a olho nu.
No passeio inaugural, estavam reunidos observadores de vários estilos. Havia os que buscavam as aves apenas com os olhos, o que usavam binóculos, os colecionadores de fotos que vibravam a cada conquista como se estivessem completando um álbum de figurinhas e os que compartilhavam numa plataforma criada para este fim os nomes das espécies que tinham encontrado.
Professor de História da rede municipal, Leonardo Araújo se destacava entre os fotógrafos. Ele se apaixonou pela observação de pássaros há sete anos, mas sempre gostou do contato com a natureza.
— Traz uma conscientização. É um exercício você apenas observar e não depredar a natureza — conta.
Com quase 250 aves já fotografadas no currículo, o professor acredita que a região de Barra, Recreio e Vargens ainda é pouco explorada, e está certo de que encontrará nos passeios pelos parques municipais da região aves que ainda não conheceu:
— É muito bom parar um pouco a sua rotina e fazer o avistamento. Infelizmente esta não é a melhor época, mas dá para se divertir bastante nas trilhas também.
Fonte: O Globo
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