terça-feira, 8 de dezembro de 2009

COP 15-Copenhague: clima de confusão nos primeiros dias da Conferência


Bem, os primeiros dois dias da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Copenhague, Dinamarca, foram de boas e más surpresas. Aliás, no momento, está difícil mapear quem é quem e entender a "posição de cada um no tabuleiro". A cada momento, novos fatos mudam o cenário.


Vejamos algumas dessas notícias:


  1. A MÍDIA MUNDIAL ENFIM ENTROU NO CLIMA: Uma das primeiras notícias é que a imprensa é a notícia: o número de jornalistas de todo o mundo querendo estrar no Bella Center (o principal auditório onde se realiza o encontro em Copenhague) extrapolou todas as expectativas. Estão limitando a entrada, o que obriga aos interessados a esperar em longas filas pelas calçadas, em um frio cortante. O Twitter está cheio de recadinho de jornalista reclamando.

  2. EFEITO ESTUFA FAZ MAL À SAÚDE: Os EUA de Obama, que fizeram malcriação no início e depois anunciaram suas metas de redução de emissão de poluentes (decepcionante como índice, mas surpreendente por ter apresentado algum índico: os EUA da era Bush, que terminou há poucos meses atrás, passaram pelo ridículo de negar a existência das mudanças climáticas), surpreenderam de novo na demonstração de que pretendem agora ser protagonistas e deixar o papel de vilão. O EPA, órgão ambiental americano, deu a melhor notícia de ontem, ao anunciar que passa a reconhecer que os Gases do Efeito Estufa (GEE), são prejudiciais à saúde humana. Com isso, Obama tem respaldo legal para se esquivar de ter que aguardar a decisão do Congresso americano sobre as metas, para assumir seus compromissos em Copenhague. A medida encheu de expectativa todos os que acompanham as negociações.

  3. FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO O QUE EU FAÇO: A decisão da EPA é curiosa, pois, paradoxalmente, aconteceu poucos dias após a próprio agência ambiental se negar a aprovar a especificação para combustíveis mais limpos para abastecer os veículos e embarcações dos EUA. A coragem demonstrada para dar suporte ao posicionamento da política externa de Obama, faltou internamente para enfrentar o lobby petroleiro e adotar políticas de controle de emissões, logo da mais importante fonte doméstica de gases de efeito estufa: transporte.

  4. VILÕES SE REVELAM: as declarações de representantes dos países árabes e da Rússia deixam clar de que lado estão: do lado errado. Usando os mesmos argumentos retrógrados que o ex-presidente Bush usou à exaustão, levantavam dúvidas quanto à confiabilidade dos dados climáticos adotados pelo IPCC.

  5. CLIMA DE SUSPENSE E INTRIGAS: outra surpresa que veio dos bastidores repercutiu nos jornais de todo o mundo. Hackers, que segundo boatos seriam eram russos (a volta à paranóia da Guerra Fria?), divulgaram trocas de e-mails entre cientistas que aparentemente forjavam conclusões sobre a severidade das mudanças climáticas. A turma "do contra" - russos e árabes - aproveitaram para elevar o tom e "cair de pau" nos relatórios. Depois, foi tudo esclarecido. A confusão não foi mais do que uma grosseira manipulação de informações divulgadas fora de contexto. Quem manda acreditar em hackers!?!?

  6. O "SAMBA DO VIKING DOIDO" - OS ANFITRIÕES PIRARAM: um documento maluco divulgado pelos dinamarqueses ameaçou levar todo o entendimento à estaca zero. Propuseram que o nível de poluiçãos per capita dos países ricos poderia ser o dobro dos país em desenvolvimento. Os anfitriões conseguiram bagunçar mais a COP 15 do que russos e árabes.

  7. E A GRANA? segundo relatou Alfredo Sirkis, direto de Copenhague, a grande expectativa é que se chegue a um modelo de financiamento dos investimentos necessários para reverter o problema. Sirkis escreveu em seu Blog:

"Não existe nenhuma proposta concreta sobre a mesa, por parte dos países desenvolvidos, que sequer se aproxime remotamente dos US$ 470 milhões, por ano, que há alguns meses o Banco Mundial identificou como o necessário para o conjunto de projetos de mitigação e de adaptação que se fazem necessários em escala planetária. Concretamente o que há na mesa são pouco mais de US$ 10 bi. No que diz respeito às reduções de emissões elas somariam no máximo 15% em relação a 1990, no melhor dos casos, distante dos, no mínimo, 25% que se aproximariam de fechar a conta de manter o aumento da temperatura em 2 graus centígrados".


Ou seja, por enquanto o que vemos é uma grande confusão. Mas, estamos ainda no segundo dia. Vamos manter a esperança que até o fim da Conferência, no dia 18 de dezembro, haja uma convergência entre os líderes mundiais e que possamos dar uma chance ao futuro.


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