quinta-feira, 6 de março de 2014

"Tomara que chova", artigo de Dora Negreiros


Dora Negreiros, ambientalista, presidente do Instituto Baía de Guanabara.


Se não chover logo, vai faltar água! Chuva pra valer, não aquela recente chuvinha de nada que mal deu para molhar o chão. Precisamos da chuva mansa e duradoura, de encher o rio, não a de provocar deslizamentos. Passei o carnaval olhando esperançosa para o céu e cantando o sucesso de Emilinha Borba: Tomara que chova, três dias sem parar.

“A minha grande mágoa é lá em casa não ter água /Eu preciso me lavar/ De promessa eu ando cheio/Quando eu conto a minha vida, ninguém quer acreditar / Trabalho não me cansa, o que cansa é pensar/ Que lá em casa não tem água, nem pra cozinhar...”

A marchinha, de 1951, traduzia o enorme tormento dos cariocas que só foi resolvido quatro anos depois com água vinda de longe, do rio Paraíba do Sul. Espertamente usaram as obras de desvio do rio feitas pela Light, lá em Barra do Piraí, para gerar energia, aproveitando, para beber, a água que depois seguia pelo leito do Rio Guandu. Até hoje é assim. A estação de tratamento do Guandu, em Itaguaí, limpa a água que vai abastecer os municípios do Rio de Janeiro e da Baixada. No início, só os bairros nobres tinham água em casa. As áreas faveladas só tiveram direito a ela há menos de vinte anos, com dinheiro do PDBG – Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. Até então cabia a marchinha interpretada pela rival da Emilinha Borba, a cantora Marlene.

“Lata d’água na cabeça lá vai Maria, sobe o morro não se cansa, pela mão leva a criança...”

Do lado de cá da Guanabara, a água que bebemos vem do Rio Macacu, lá da serra por onde passa a estrada para Nova Friburgo. Já na Baixada, um canal artificial, o de Imunana, retira parte de sua água que depois é bombeada por 16 km até a estação de tratamento do Laranjal, em São Gonçalo. De lá, é distribuída para os moradores de Niterói, São Gonçalo e Ilha de Paquetá.

Hoje somos cerca de dois milhões de pessoas dependendo do mesmo Rio Macacu, que neste atípico e seco verão, está diminuindo dia a dia. Não tem chovido nem aqui, nem nas encostas bem florestadas da Mata Atlântica onde ele tem suas nascentes.

Interessante é que até há poucos dias, o Macacu não dava sinais, na Baixada, da falta de chuva na serra, o que poderia ser explicado pelo “efeito esponja” que a floresta exerce. Ela retém a água que recebe nos tempos de chuva e a devolve lentamente para os rios, nas épocas de seca.

Agora, dia a dia, a vazão do Rio Macacu tem diminuído, dando sinais de que a floresta também está secando, o que causa apreensão às empresas responsáveis pelo fornecimento de água para as cidades. E estamos no final do verão que deveria ser a época de chuvas intensas, as que enchem reservatórios. Ainda este mês começa o outono e logo depois entraremos no inverno, que é a época das secas.

Valha-nos São Pedro! Se não nos atender logo, nossas torneiras vão secar.

Dora Negreiros, Presidente do Instituto Baía de Guanabara / RJ


Fonte: O Fluminense

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