sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Saneamento vira desafio olímpico por causa da Baía de Guanabara
Rio de Janeiro coleta 77% do esgoto, mas trata só a metade do que produz. A cidade de São Paulo já coleta 96%, mas trata apenas a metade.
A falta de saneamento básico que ameaça a saúde da população é também nociva para o meio ambiente. É o que a gente vê na reportagem desta sexta-feira (4) na série especial que o Jornal Nacional apresenta nesta semana.
Das praias de cartão postal de Porto de Galinhas não dá para ver, mas o paraíso está ameaçado.
“Todo dia a gente passa ali naquele esgoto ali na rua. Quando chove, a gente só passa dentro da água, dentro da lama, esgoto de fossa”, conta a dona de casa Severina Maciel.
Porto de Galinhas fica em Ipojuca. As águas cristalinas trouxeram turistas, pousadas, comércio. O saneamento não veio e, em 2000, a cidade sofreu um surto de esquistossomose.
“Quem teve o problema, foi um sobrinho, uma sobrinha, um irmão. Um cunhado teve forte”, disse o taxista José Ferreira.
A doença é transmitida por um caramujo depois que ele é contaminado com fezes humanas. Em Ipojuca, o caramujo ainda está por todo lado. E o esgoto também. Dez anos depois do primeiro surto, 15% dos moradores tinham a doença.
"Em 2010, quando nós fizemos o segundo grande inquérito aqui, todas essas crianças fizeram o exame com a gente, e todas elas estavam positivas. Elas foram todas tratadas. Provavelmente se você fizer o exame agora, as condições sanitárias continuam idênticas. Provavelmente elas tão parasitadas novamente", disse Constança Simões Barbosa, pesquisadora da Fiocruz.
Só agora, 13 anos depois de o problema ser descoberto, as obras de saneamento começaram.
“Uma das metas prioritárias da gestão na infraestrutura é exatamente o saneamento de 100% da área de Porto de Galinhas até abril de 2014”, afirma Zelma Pessoa, secretária de Saúde de Ipojuca.
Porto de Galinhas pode resolver seu problema sozinha. Mas na maior parte do país, o esgoto de um é problema de muitos.
A cidade de São Paulo já coleta 96% do esgoto, mas trata apenas a metade. E mesmo melhorando esse índice, o Rio Tietê continuaria poluído. Isso porque antes de chegar à capital paulista ele passa por cidades, como Mogi das Cruzes, que trata 16% do esgoto, Itaquaquecetuba, com menos de 4%, e Guarulhos, com 29%.
“Será que os prefeitos de dez municípios que estão dentro de uma bacia hidrográfica, eles tão mesmo com vontade de resolver, de sentar, de discutir tecnicamente. Me parece que não”, critica Dante Ragazzi Pauli, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental.
O saneamento como um problema de Regiões Metropolitanas inteiras virou um desafio olímpico no Brasil por causa da Baía de Guanabara.
“Linha de partida da regata dos Jogos Olímpicos em 2016. Esse é o cenário nosso, declara Lars Grael.
Quem nos guia por essas águas poluídas é Lars Grael. Velejador que ganhou duas medalhas olímpicas para o Brasil.
“Além de ser nojento e você expor atletas a uma contaminação, você pode destruir o desempenho de um barco, de uma equipe. E lá se foi o sonho olímpico”, destaca Grael.
O Rio de Janeiro com seus mais de 6 milhões de habitantes coleta 77% do esgoto, mas trata só a metade do que produz. E tem mais gente poluindo.
Para entender a complexidade da situação da Baía de Guanabara, só analisando alguns dos 16 municípios que ficam no entorno dela. Caxias, por exemplo, tem 800 mil habitantes e trata só 4% do esgoto que produz.
A vizinha Nova Iguaçu tem mais ou menos o mesmo tamanho e tratamento ainda menor: só 0,4%. E ainda fica pior: São João de Meriti não trata nada.
Do lado de lá da baía, a gente não tem alívio. São Gonçalo, uma cidade de aproximadamente de um milhão de habitantes, tem só 8% de tratamento.
Juntando todos esses números, de todas essas cidades, o que a gente tem todos os dias é o esgoto de aproximadamente 6 milhões de pessoas indo parar, sem tratamento nenhum, direto na Baía de Guanabara.
“Praticamente todos os rios aqui da Baía de Guanabara foram transformados em valões de esgoto e lixo. Aqui pra baixo água não existe mais, é só esgoto", avalia o ambientalista Mario Moscatelli.
O governo do Rio diz que nos últimos anos aumentou o saneamento no entorno da baía de 12% para 38%. Mas admite que não vai conseguir sanear casas e cidades a ponto de cumprir o compromisso olímpico de limpar 80% da baía. Por isso, o plano é fazer UTRs, unidades que vão tratar o rio todo antes de ele chegar à baia.
Carlos Minc (secretário Estadual de Meio Ambiente do Rio): a primeira delas, no rio Irajá, vai ser inaugurada agora em novembro e tira só ela 12% de toda a poluição da Baía de Guanabara.
JN: Mas não tira a poluição da casa das pessoas que estão morando ao longo do rio Irajá.
Carlos Minc: exatamente por isso que nós vamos continuar a fazer a ligação casa a casa, novas redes.
JN: se criou um plano B, um modo alternativo?
Carlos Minc: de forma alguma. O compromisso era limpar 80% da baía até 2016, e isso será feito.
O tempo, tão importante para todos os atletas, agora também é o desafio do legado olímpico.
“O tempo era o nosso maior aliado. Passou a ser o maior inimigo. Faltam apenas três anos, menos do que isso, e a Baía de Guanabara está neste estado”, afirma Lars Grael.
Fonte: Jornal Nacional
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Veja também: Lars Grael fala sobre a poluição da Baía de Guanabara no Jornal Nacional
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