terça-feira, 6 de março de 2012

Eucalipto ganha força como fonte de geração de energia

O novo plantio requer que o diâmetro e a altura das árvores sejam medidos. Foto Valor Econômico.


Por Janice Kiss, de São Paulo
 
Nada de plantar eucalipto para as tradicionais produções de madeira para serrarias, papel e celulose. O novo apelo para o cultivo desta árvore de origem australiana que chegou ao Brasil no início do século passado é a geração de energia, como alternativa renovável ao petróleo e ao carvão mineral. As experiências nesta área são poucas, mas algumas empresas encontraram na energia fornecida pela queima da madeira plantada uma forma de abastecer o mercado europeu. A meta da Europa até 2020 é ter pelo menos 20% de sua matriz vinda de fontes renováveis.

Por enquanto, a Suzano Energia Renovável é a única empresa que planeja investimentos nesta frente com foco em seus negócios. A subsidiária recém-criada da Suzano Papel e Celulose passará a produzir pellets (pequenos pedaços cilíndricos de serragem compactada para queimar e gerar energia) a partir do corte de eucaliptos. Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Holanda são clientes em potencial.

Segundo André Dorf, presidente da subsidiária, o continente precisará de 12 milhões de toneladas de madeira por ano para ajudar a suprir sua demanda energética. Motivo mais do que suficiente para levar a Suzano a planejar aportes de US$ 1,3 bilhão até 2019 na produção de pellets em uma fábrica no Maranhão que deverá entrar em operação em 2014. Até o fim da década, o objetivo é atingir uma produção de 5 milhões de toneladas por ano.

"A pretensão da companhia é tornar-se líder mundial no setor", declara Dorf. A mesma unidade maranhense deverá comportar também a produção de lignina, substância que confere rigidez à madeira usada na fabricação de insumos químicos e com potencial de cogeração de energia elétrica, como já informou o Valor.

O projeto da subsidiária da Suzano nasceu por meio de uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP). A Fibria, empresa de papel e celulose, e a Duratex, produtora de chapas de madeira para a indústria moveleira, também são parceiras do estudo. Por enquanto, a produção de ambas é direcionada para cogeração própria. As indústrias investem, ainda, em plantios próprios, sem contar com terras de agricultores independentes.

O vínculo do setor privado com a universidade está amparado no pioneirismo da pesquisa que encurtou o tradicional ciclo de sete anos do eucalipto, quando acontece o primeiro corte, para um período de 18 a 24 meses a partir de um plantio adensado. "Usamos diferentes espaçamentos entre mudas, com até cinco vezes mais árvores por hectare", explica Saulo Guerra, coordenador do programa.

O estudo testa três diferentes distâncias entre árvores: de 1,5 metro, 1 metro e 0,5 metro, em comparação aos costumeiros 2 metros. O "aperto" é para forçar o crescimento dos eucaliptos, que competirão por luminosidade. Ao espichar, eles se tornarão árvores mais altas e magras. "O diâmetro não é importante porque não buscamos lenha ou madeira para serraria", diz Saulo Guerra.


Segundo o professor, um hectare de plantio tradicional rende, por ano, cerca de 45 m3 de madeira. No espaçamento de 1 metro, por exemplo, é possível extrair em torno de 56,5 m3 do produto.

Bem antes da colheita, os pesquisadores asseguram-se que as mudas cultivadas em estufas climatizadas tiveram umidade controlada e adubação adequada para serem plantadas aos 60 dias. Quando crescidas, a equipe tem a função de medir o diâmetro e a altura das árvores a cada seis meses, e de contabilizar as perdas.

Antes mesmo que as plantações testadas pela universidade atinjam sua escala comercial, a New Holland, divisão da múlti americana CNH e também parceira na pesquisa, trabalha na adaptação de um equipamento que realiza o corte de seis a oito árvores de uma só vez e tritura a madeira formando cavacos (pequenos pedaços) em plena colheita. É a partir deles que são fabricados os pellets. "Estamos fazendo alterações porque o eucalipto plantado no Brasil é mais duro", diz Samir Fagundes, coordenador de marketing da New Holland. Ele estima que a máquina será vendida por R$ 900 mil.

Saulo Guerra ainda elabora as contas dos custos deste plantio. Dependerá desse resultado a valorização desse novo modelo de silvicultura que vira energia.

Fonte: Valor Econômico

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