Marta Suplicy se uniu ao governo de Geraldo Alckmin na tentativa de sediar uma Olimpíada. Foto: Marcelo Ferrelli/Gazeta Press |
Danilo Vital
Flávio C. D'Almeida
A São Paulo do início do século XXI se acostumou a se alardear como uma cidade dos grandes eventos. A metrópole cosmopolita brasileira recebe mais de 90 mil deles por ano, com média de seis por minuto - incluindo 75% das grandes feiras que vêm ao Brasil. A cartela de ofertas para empreendedores vai muito além da Fórmula 1, do São Paulo Fashion Week e do Carnaval, que apesar de ter em Salvador e Rio de Janeiro seus principais polos, também ganhou grandiosidade e muitos turistas. Há 10 anos, a cidade se candidatou a receber o maior evento de todos. E foi derrotada. Relembre o projeto olímpico São Paulo 2012.
Uma série de fatores contribuiu para que São Paulo entrasse na briga para receber os Jogos Olímpicos, mas o principal deles foi justamente a intenção de elevar o status internacional da cidade, uma bandeira da então prefeita Marta Suplicy (PT). Era um momento de transformações estruturais, com a definição de um novo Plano Diretor - documento que estabelece diretrizes para a ocupação e o desenvolvimento urbano. Seu idealizador foi o renomado arquiteto italiano Jorge Wilheim, que exortava o governo a abandonar o provincianismo para pensar grande. E São Paulo pensou.
Nesta conjuntura, ser cidade-sede de uma Olimpíada serviria para aprimorar, incentivar e acelerar o processo de melhoria urbana e estrutural. Foi assim que, em 2002, há 10 anos, Marta Suplicy se interessou pela candidatura e iniciou a preparação. Em março daquele ano, membros do governo acompanharam o "Seminário sobre candidaturas para Jogos Olímpicos" promovido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Em novembro, foram a Lausanne, na Suíça, para o simpósio "O legado dos Jogos Olímpicos, de 1984 a 2000". Consultorias internacionais foram contratadas para cumprir os parâmetros exigidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
O que se pode concluir disso é que a avaliação sobre a possibilidade e as vantagens de receber uma Olimpíada foram consideradas pela prefeita. Em 6 de dezembro, ela enviou carta ao COB confirmando a candidatura. No mês seguinte, criou o Escritório do Comitê de Postulação da Cidade. Uniram-se ao projeto o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e seu secretário de Estado da Juventude, Lars Grael. Membros de diversos setores da sociedade apoiaram e ajudaram a criação de um projeto.
"Foi a primeira vez que houve uma disputa relevante de Jogos Olímpicos para o País", relembrou, por telefone, a ex-secretária municipal de Esportes, Nádia Campeão. A capital fluminense seria o adversário paulistano frente ao COB, e contava com uma vantagem: sediaria os Jogos Pan-Americanos em 2007. Nos meses seguintes, São Paulo fez de tudo para superar essa e outras questões que poderiam dar a vitória ao Rio.
O ex-velejador Lars Grael exaltou a união entre petistas e tucanos pelo objetivo único. "A gente pode avaliar que o resultado disso foi muito saudável", disse. "Acho que essa candidatura foi boa para São Paulo, que através da união harmoniosa entre estado e município passou a conhecer melhor a sua potencialidade para sediar eventos relevantes", opinou.
Derrota controversa
Em 7 de julho de 2003, os comitês postulantes de São Paulo e Rio de Janeiro fizeram a apresentação final de seus projetos olímpicos ao COB, em evento na capital fluminense. A escolha seria feita por um colégio de 35 membros, sendo 29 deles presidentes de confederações olímpicas brasileiras. Carlos Arthur Nuzman, presidente do órgão, se absteve de votação. Os paulistas apostavam nas condições técnicas apresentadas para vencer a disputa. Os cariocas tinham a favor a alcunha da "Cidade Maravilhosa".
Então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia já havia enfatizado esse aspecto ao citar o poeta Vinícius de Moraes durante a apresentação final: "as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental". No lado paulistano, antigos rivais se uniram na torcida pela vitória: Marta Suplicy e Geraldo Alckmin acompanharam de mãos dadas o anúncio dado por Nuzman. Por 23 votos a 10, com uma abstenção, o Rio de Janeiro se tornou o candidato brasileiro. Em 2004, seria derrotado ainda na primeira fase da seleção do COI.
"O projeto de São Paulo era o melhor. Eu não tinha e continuo sem nenhuma dúvida disso. Foi uma decisão política. Uma decisão que não levou em conta os aspectos mais importantes a serem considerados", apontou Nádia Campeão, atualmente a presidente do PCdoB paulista. Lars Grael também se manifestou desta forma: "tenho certeza de que, pelo mérito técnico, São Paulo reunia melhores condições do que a candidatura do Rio de Janeiro". Ele, no entanto, estava mais cético.
Com vivência no meio olímpico desde 1984, quando disputou os Jogos de Los Angeles, Grael identificou a dificuldade que São Paulo teria no pleito devido à pressão política, a começar pelo fato de o COB e a maioria das confederações terem sede no Rio de Janeiro. "Na minha matemática de quem eram os dirigentes e para onde pendiam votar, eu sabia que São Paulo não tinha maioria, mas que poderia surpreender caso tivesse uma candidatura muito mais consistente", relembrou.
A candidatura paulista para sede dos Jogos Olímpicos de 2012 serviu como grande aprendizado à cidade dos grandes eventos, que aos poucos abandonou a pretensão olímpica mas seguiu atraindo interesse internacional - ainda que em campos distintos do esportivo. "Sendo realista, se São Paulo tivesse passado pelo crivo nacional, não teria vencido no âmbito internacional. São Paulo não era a bola da vez, como foi o Rio de Janeiro para 2016, depois de sediar o Pan e com o (então) presidente Lula como diferencial", complementou Lars Grael
Fonte: Portal Terra
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