Selvagem. Do alto da Pedra do Elefante é possível ver parte da vegetação do parque - Fernando Frazão / Fernando Frazão |
por Renan Almeida / Leonardo Sodré
Em janeiro, principal trilha da unidade, em Itacoatiara, ganhará roleta para evitar entrada de mais de 200 visitantes por vez
NITERÓI - Primeira unidade de conservação do país criada através de mobilização popular, o Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset) completa 25 anos na próxima terça-feira. Em meio a novos desafios e antigos problemas, o parque já tem pelo menos uma mudança acertada: iniciará 2017 com controle no acesso de visitantes à trilha do Costão.
Em setembro, O GLOBO-Niterói antecipou que a gestão do Peset planejava limitar o número de pessoas na trilha para tentar minimizar os impactos da visitação excessiva — erosão, abertura de novos caminhos na mata, desordem. Agora, a administração bateu o martelo e definiu que a regra será aplicada a partir de janeiro. Em vez de determinar um limite diário, ficou estabelecido que no máximo 200 pessoas poderão permanecer no lugar simultaneamente. Atingida a lotação, os visitantes deverão aguardar outras pessoas deixarem o local antes de subir. Uma roleta será instalada no início da trilha, na Rua das Rosas, em Itacoatiara, para fazer o controle.
Este foi um ano de recordes no Peset. O número de visitantes na trilha do Costão extrapolou os limites anteriores em duas ocasiões: primeiro em 21 de abril, com 1.856 pessoas; e, depois, no feriado da Independência, quando 2.241 visitantes fizeram o percurso de 1.700 metros. O sucesso e a popularidade do Costão (e de Itacoatiara) são os principais responsáveis por consolidar o Peset como segundo parque estadual mais visitado do Rio, atrás apenas da Ilha Grande, em Angra. Para se ter uma ideia, até outubro 80 mil pessoas passaram pela trilha.
Fazer o manejo e garantir a preservação de áreas cada vez mais visitadas são a grande dificuldade num cenário de arrocho nos recursos do estado. O Instituto Estadual do Ambiente chegou a ter o abastecimento de combustível da frota suspenso em alguns períodos do ano. Atualmente, a saída é racionar o consumo.
— Apesar das dificuldades, avançamos no manejo de trilhas, no ordenamento, na delimitação do uso do Costão. São mudanças importantes para a unidade. Também tivemos recordes de apreensão de espécies em cativeiro. Devolvemos mais de 500 aves ao parque este ano — destaca o chefe do Peset, Jhonatan Ferrarez.
Atualmente, 12 guarda-parques e seis monitores são responsáveis pela fiscalização dos 3.493 hectares da reserva, que atravessa Niterói e Maricá. Se hoje ela tem área demarcada e fiscalização própria, isso é fruto da organização de movimentos comunitários e ambientalistas contra a crescente expansão urbana na Região Oceânica desde a década de 1970, na época já cobiçada pelo mercado imobiliário. Ao final daquela década, em 1979, a abertura permanente do canal de Itaipu por uma construtora reduziu imediatamente o volume da laguna de Itaipu. A magnitude dos impactos motivou a primeira ação civil pública do Brasil, subscrita por centenas de moradores, e o primeiro Estudo de Impacto Ambiental realizado no país. Nos anos seguintes, o movimento ambientalista ganhou força e organização na luta contra loteamentos na Serra da Tiririca. As razões para a proteção do local foram detalhadas no estudo “Exposição de motivos para criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca”. O documento evoluiu para um projeto de lei na Alerj de criação do parque estadual, aprovada em 29 de novembro de 1991.
“um catalisador de afetos”
O ambientalista Cássio Garcez, do grupo de caminhadas Ecoando, ainda vê a unidade como uma força responsável por unir diferentes grupos.
— O Parque da Tiririca é um catalisador de afetos, direitos, expectativas e de formas de ver a natureza. Ele reúne representações de vários grupos em torno de um objetivo comum, preservar a biodiversidade do lugar, essa fonte de vida, e também a cultura local — descreve Garcez.
Duas décadas e meia depois, a especulação imobiliária continua sendo a principal ameaça ao parque. A disputa da vez envolve o entorno da Lagoa de Itaipu, incluída na área do Peset, em 2008, por meio de decreto. O direito de erguer imóveis na área é hoje reivindicado judicialmente por construtoras que têm lotes ali.
O vice-prefeito de Niterói, Axel Grael, está entre os militantes que lutaram pela criação do parque. Ele diz que a prefeitura busca uma forma de proteger o entorno da lagoa.
— Nós estamos analisando uma solução jurídica que dê mais segurança à preservação no entorno da Lagoa de Itaipu, sobretudo depois que o decreto responsável por integrar essa área ao parque foi questionado (pelas construtoras) — diz Axel Grael, reafirmando compromisso da prefeitura de transferir recursos do ICMS Verde para o Peset. — É uma forma de ajudar na gestão do parque, que também sofre com a crise financeira do estado.
Fonte: O Globo Niterói
------------------------------------------------------
LEIA TAMBÉM:
PARNIT: Esportistas redescobrem o Parque da Cidade, que terá trilhas revitalizadas
PARQUES DE NITERÓI: Desafios para unidades de conservação no contexto metropolitano
EDUCAÇÃO ATÉ EMBAIXO D'ÁGUA: grupo da UERJ propõe trilha subaquática em Niterói
TURISMO E LAZER EM NITERÓI: Parque da Cidade aberto até 19h
MAIS PROTEÇÃO AMBIENTAL EM NITERÓI: Lei torna ilhas oceânicas de Niterói parte de Parque Estadual
PARQUE ESTADUAL DA SERRA DA TIRIRICA: Enseada do Bananal com novas regras
NITERÓI MAIS VERDE: Obra do Parque das Águas, em Niterói, segue avançando
NITERÓI MAIS VERDE - Visita ao Morro do Castro, no Barreto, para planejar a implantação de áreas protegidas na Zona Norte da cidade
CAPACIDADE DE SUPORTE: lidando com os efeitos do sucesso das unidades de conservação
PARNIT: Parque da Cidade de Niterói tem trilhas revitalizadas com tótens e sinalização
Definido calendário de trilhas guiadas e voluntariado para o PARNIT
PARNIT - Oficinas participativas para o Plano de Manejo do Parque Natural Municipal de Niterói (Parnit)
PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE NITERÓI (PARNIT): Oficinas de Planejamento Participativo
DIA HISTÓRICO EM NITERÓI: Foi publicado hoje o Decreto 11.744, que instituiu o PARNIT
NITERÓI MAIS VERDE: Trilhas revitalizadas são opções para o turismo ecológico em Niterói
Outras postagens
DEFESA CIVIL: Niterói investe em planejamento para se prevenir contra tragédias
Acre movimenta R$ 50 mil em menos de 3 meses com observação de aves
PLANEJANDO NITERÓI: Reunião de trabalho discute o Plano Diretor
CRISE DO RJ E PARQUES: Unidades de conservação sofrem com a falta de verba
PROGRAMA “VEM PASSARINHAR”: Parque Estadual da Ilha Grande realiza caminhada de observação de pássaros
PARQUES: Espanha lança Plano Diretor da sua rede de parques nacionais
NASCENTES DE NITERÓI: Projeto vai catalogar as águas escondidas de Niterói
NITERÓI CONTRA QUEIMADAS: Defesa Civil de Niterói forma mais uma turma de voluntários contra queimadas