segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Capitania dos Portos vai inspecionar barcos no Rio



No total, serão 93 embarcações chegando à cidade, com mais de 350 mil passageiros (Foto: Divulgação)


Por Isabelle Rangel

Ao todo, a orla do Rio terá 19 balsas com fogos de artifício. Serão 10 em Copacabana, três no Flamengo e seis em Icaraí, Niterói

A Capitania dos Portos vai inspecionar os barcos de turismo náutico, esporte e recreio que vão para a área de espetáculos no Rio de Janeiro. A verificação será realizada nesta segunda-feira (31).

As equipes estarão na Marina da Glória, no Iate Clube do Rio de Janeiro, no Clube Naval Charitas, no Clube de Regatas Guanabara e no Iate Clube Icaraí.

Um dos mecanismos de controle será a entrega de uma pulseira, atada ao pulso do comandante para comprovar que a embarcação foi inspecionada previamente. Durante a queima de fogos, os barcos de maior porte ficarão próximos à entrada da Baía de Guanabara e os menores permanecerão próximos ao Forte de Copacabana. Haverá ainda uma área próxima ao Forte destinada ao refúgio de embarcações pequenas em caso de mau tempo repentino.

A Capitania dos Portos vai empregar 27 embarcações e 200 militares durante a operação Ano Novo 2019. Ao todo, a orla do Rio terá 19 balsas com fogos de artifício. Serão 10 em Copacabana, três no Flamengo e seis em Icaraí, Niterói.

Fonte: BandNews FM Rio









'Tecnologia permite destruir Amazônia mais rápido do que fizemos com a Mata Atlântica'



Só 3% da madeira derrubada na Mata Atlântica para dar lugar a fazendas foi aproveitada; em geral, matas eram incendiadas e transformadas em pastos para prepará-las para a agricultura, assim como hoje ocorre na Amazônia


João Fellet

Em 2005, então recém-formado na faculdade de Biologia da USP, o botânico Ricardo Cardim teve a ideia de percorrer áreas desflorestadas da Mata Atlântica atrás de árvores gigantes que haviam sobrevivido isoladas no meio de plantações e pastagens.

A pesquisa ganhou corpo ao longo dos últimos 13 anos e se transformou numa das maiores investigações sobre a história da destruição de uma das regiões mais biodiversas do planeta.

Em "Remanescentes da Mata Atlântica: As Grandes Árvores da Floresta Original e Seus Vestígios" (ed. Olhares), livro lançado em novembro, Cardim documenta a vertiginosa expansão econômica sobre o bioma, que, em pouco mais de um século, o fez perder 90% de sua vegetação original e dividiu as áreas sobreviventes em 245 mil fragmentos.

Ao lado do fotógrafo Cássio Vasconcellos e do botânico Luciano Zandoná, Cardim também elaborou um inventário de tesouros que resistiram às derrubadas - entre os quais exemplares centenários de figueiras, perobas e paus-brasil, retratados em expedições por seis Estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste.

A árvore mais alta identificada, numa antiga fazenda de cacau em Camacã (BA), foi um jequitibá com 58 metros de altura e tronco com 13,6 metros de circunferência - dimensões extraordinárias, mas aquém das árvores gigantes do bioma no passado, como um jequitibá na região de Campinas (SP) cujo caule alcançava 19,5 metros de circunferência no início do século 20.

Em entrevista à BBC News Brasil, Cardim diz que as condições que permitiram o desenvolvimento das árvores gigantes da Mata Atlântica não existem mais. Compartimentadas e cercadas por lavouras, muitas áreas de floresta sobreviventes se despovoaram de animais - essenciais para a renovação das plantas - e sofrem com a invasão de espécies exóticas e alterações climáticas.

Ele diz acreditar, porém, que as próximas gerações conseguirão reconectar os fragmentos da floresta e trazer os bichos de volta, garantindo a sobrevivência do bioma, ainda que sem a mesma riqueza original.

Cardim não nutre o mesmo otimismo em relação à Amazônia - que, segundo ele, vive hoje, passo a passo, o mesmo roteiro da destruição da Mata Atlântica. Segundo o botânico, enquanto o desflorestamento da Mata Atlântica parece ter sido contido, a Amazônia sofre com a ação "de um arco de aventureiros que são incontroláveis" e fragmentarão o bioma antes que a sociedade se conscientize sobre sua importância. "Hoje a tecnologia permite que a gente faça a destruição da Amazônia com a mesma velocidade, ou até mais rápido, do que fizemos na Mata Atlântica. Com nossas estradas, caminhões, motosseras, o ganho de escala é absurdo".

Confira os principais trechos da entrevista.

Colar de bromélias em torno de árvore na Reserva Natural Vale, em Linhares, no Espírito Santo.


BBC News Brasil - O livro mostra que, ao contrário do que muitos pensam, a destruição da Mata Atlântica foi um processo bem recente. Como o bioma foi aniquilado tão rapidamente?

Ricardo Cardim - Até 1890, o que estava mexido no Brasil era um pedacinho de Pernambuco, por causa do ciclo do açúcar no século 17, e do Rio de Janeiro, por causa das fazendas de café. O resto era mata fechada, com índios dentro.

Parece incrível, mas a destruição da Mata Atlântica se deu mesmo no século 20. A grande cobiça era pelos húmus que fertilizaram o solo da Mata Atlântica ao longo de milênios. A madeira era muito mais um empecilho do que um benefício. Só no final do processo, quando já tínhamos muito caminhão e transporte facilitado pelas ferrovias, que a madeira começou a ser aproveitada. Mesmo assim, o índice de aproveitamento da madeira foi de cerca de 3% de tudo o que foi derrubado.

A ordem era "limpa logo para a gente começar a colher o ouro verde", que era o café. Fizemos como aquele cara que herda uma fortuna e na mesma noite vai gastar tudo em farra, e acorda pobre. Demoramos milhares de anos para formar aquele solo, criar aquelas condições perfeitas, e em cinco ou dez anos, aquilo não existia mais. Os solos que a gente cultiva hoje só são cultiváveis por causa da tecnologia, porque já foram exauridos.

BBC News Brasil - Você destaca no livro a destruição das matas de araucárias, na porção sul da Mata Atlântica. O que houve de peculiar nesse processo?

Cardim - A velocidade com que ocorreu. Essa é uma floresta que passa do século 19 ao 20 praticamente intacta. Brincava-se que era possível atravessar os Estados do Paraná e de Santa Catarina nos galhos das araucárias, de tão grudadinhas que elas estavam.

Até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil importava madeira - o que era surreal para um país que estava destruindo florestas adoidado para plantar café. Mas, quando a Primeira Guerra impede esse comércio, o mercado começa a lembrar a araucária - um pinheiro maravilhoso, muito fácil de cortar. Começa um saque da floresta voltado para a madeira como se nunca viu.

A araucária vira uma grande divisa. Todo mundo que quer ficar rico vai para a floresta de araucária montar sua serrraria. Isso chega no auge nos anos 1950 e 1960. Cortavam tanta madeira que boa parte dela apodrecia antes de ser escoada para o mercado. Nos anos 1970, a floresta acabou. Houve uma quebradeira geral nas serrarias. Famílias que eram riquíssimas ficaram pobres.

A araucária simplesmente acabou. O que temos hoje são araucárias rebrotando, pequenas. O que sobrou hoje é uma sombra.

BBC News Brasil - O quão virgem era a Mata Atlântica antes de 1500?

Cardim - (O antropólogo) Darcy Ribeiro falava que havia entre 4 e 6 milhões de índios vivendo aqui no território. Acho possível, mas não acho que o impacto deles na floresta foi tão grande quanto o historiador americano Warren Dean falou em "A ferro e fogo: a história da devastação da Mata Atlântica brasileira" (1996). Ele diz que não existia floresta intocada, porque os índios já tinham cortado aquilo pelo menos uma vez em um milênio.

Eu acredito que os índios tinham capacidade de alterar o meio, mas com ferramentas muito primitivas - machados de pedra, fogo -, e também tinham populações muito pulverizadas. As coivaras que eles faziam para queimar e plantar roças não eram suficientes para gerar uma extensa derrubada. Acho que os índios deixavam as árvores grandes no meio da coivara e plantavam embaixo delas. E não acho que tenham conseguido trabalhar todo o território a ponto de alterá-lo.


O jequitibá de Camacã, na Bahia, é considerado atualmente a maior árvore da Mata Atlântica, com 58 metros de altura e 13,6 metros de circunferência do tronco, medida a 1,3 metro do solo.


BBC News Brasil - Qual o cenário hoje para as árvores gigantes remanescentes da Mata Atlântica?

Cardim - É terrivelmente ameaçado. A Mata Atlântica virou uma colcha de retalhos. Sobrou um décimo do que ela era, e ainda por cima esse décimo é formado por vegetação secundária - por florestas que já foram queimadas, exploradas, derrubadas - e dividido em 245 mil fragmentos de diferentes tamanhos. As árvores gigantes que sobraram nesses pedacinhos, especialmente nos menores, estão superameaçadas.

O clima local altera quando se derrubam florestas - basta lembrar que São Paulo era a terra da garoa, e hoje não temos mais garoa porque sumiu o verde dentro e no entorno da cidade. Os ventos, alterações ecológicas como a infestação de cipós, uma série de desequilíbrios ecológicos causados pela invasão do homem na floresta estão colocando em risco as poucas árvores gigantes que sobreviveram no bioma - tanto dentro da floresta quanto aquelas que estão isoladas em pastos, plantações, meios urbanos.

Nossa geração talvez seja uma das últimas a conseguir enxergar essas árvores gigantes, porque elas estão desaparecendo. E acho difícil que novas árvores desse porte surjam se a gente não reconectar os fragmentos de floresta.

BBC News Brasil - É viável reconectar esses fragmentos, considerando as forças econômicas e políticas atuais? As paisagens na região parecem estar muito consolidadas.

Cardim - Nasci em 1978 e cresci numa casa que tinha telefone de disco, uma TV com bombril espetado em cima e meu pai assinando jornal. O mundo mudou muito, e não só em tecnologia, em visão do planeta, sociedade. As crianças estão vindo com outro olhar sobre a natureza. Tenho muita fé de que elas vão causar uma revolução, e a tecnologia vai resolver muitos problemas, produzindo muito alimento sem precisar de grandes territórios. Vai chegar o momento em que vamos conseguir ter a harmonia entre o conforto moderno e o modo de produção econômico, e conseguiremos restabelecer parte do território natural.

Em 2100, teremos a Mata Atlântica reconectada, sobrevivendo, em harmonia com as cidades e as atividades agrícolas. Sou otimista.

BBC News Brasil - A Mata Atlântica será capaz de se regenerar sozinha?

Cardim - Se o ser humano desaparecesse da Terra neste instante, a Mata Atlântica iria recompor todo seu espaço. O que a atrapalharia são as plantas invasoras. Trouxemos muitas plantas estrangeiras. Quando você traz algo de fora, isso pode prejudicar enormemente quem já estava aqui antes. Vemos isso no parque Trianon (em São Paulo) e na Floresta da Tijuca (no Rio de Janeiro).

A floresta abandonada, sem ser manejada, iria virar um híbrido de Mata Atlântica com Pinus elliotti (pinheiro nativo da América do Norte), com palmeira seafortia (espécie australiana), com jaqueiras (oriundas da Ásia), e isso poderia comprometer grande parte da bidiversidade até chegar num ponto de equilibrio. Teríamos uma floresta mais pobre do que aquela que os portugueses encontraram em 1500.


Balsas usadas para escoar madeira no rio Uruguai, na região Sul; mesma técnica é usada atualmente para transportar madeira pelos rios amazônicos.


BBC News Brasil - O geógrafo Altair Sales costuma dizer que os trechos remanescentes de Cerrado são como fotografias do passado, porque muitas das interações entre insetos, plantas e animais que permitiram o desenvolvimento daquelas paisagens deixaram de existir à medida que o bioma foi sendo degradado - e que no futuro aquelas paisagens desaparecerão. Isso se aplica à Mata Atlântica?

Cardim - Sim. Temos hoje na Mata Atlântica florestas que são relíquias, restos de uma era quando tínhamos macacos muriquis andando de galho em galho do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, quando tínhamos antas, varas de queixadas e catetus, onças em todos os lugares.

Os bichos são fundamentais para plantar e polinizar a floresta. Nos anos 1930, o homem chegou à mata metralhando os bichos, caçava tudo o que via por ali. A vegetação tropical é intimamente ligada a seus bichos, uma evoluiu com o outro, com complexas interações que a gente nem imagina ainda.

Na Mata Atlântica, temos hoje a figura da floresta vazia, da floresta zumbi, como a do Parque Trianon, que não tem como se renovar. Para que a semente de um jatobá germine, ela tem de ter a dormência quebrada pelo intestino da anta. Sem anta, isso não acontece mais, a semente cai no chão e não germina. Os mecanismos estão profundamente comprometidos tanto no Cerrado quanto na Mata Atlântica.

Por isso, quando formos investir para reconectar os fragmentos, precisamos procriar os bichos para que eles possam voltar a transitar e reabilitar a floresta.

BBC News Brasil - Em vez de homogênea, a Mata Atlântica é descrita no livro como um bioma com múltiplas faces. O quão diversa é a formação?

Cardim - As pessoas tendem a pensar que a Mata Atlântica é aquele tapetão de floresta, como na Serra do Mar. Pensam que só ocorre no litoral, sem saber que ela vai até o Paraguai. Ela era realmente extensa. Outra coisa interessante é a diversidade de paisagens.

Na Mata Atlântica, podemos encontrar desde a restinga arenosa, um areial com ilhas de bromélias, cactos, pequenos arbustos, pitangueiras, verdadeiros jardins prontos - não é à toa que Burle Marx se inspirava nessas paisagens -, a campos de altitude, como em Itatiaia, ou na Serra dos Órgãos, que são campos com plantinhas no topo, até florestas monstruosas como as que existiram no norte do Paraná e no sul da Bahia.

Ela tem maior biodiverisade, comparativamente, do que a Amazônia, porque ela concentra diversas paisagens e espécies num território relativamente pequeno, graças à proximidade do oceano em alguns pontos e do relevo, que é bastante movimentado e cria diferentes condições para a vegetação.

BBC News Brasil - Já tivemos perdas irreparáveis de espécies de árvores gigantes na Mata Atlântica?

Cardim - Suspeito que sim. Por exemplo, a peroba-rosa encobria centenas de quilômetros de florestas. Ela foi tão cortada, sobrou tão pouco, que nos faz questionar o quanto sofreu de ersoão genética a ponto de se tornar viável. Uma doença talvez seja capaz de matar todas as restantes. São os últimos moicanos. Tenho a sensação de que muitas árvores da Mata Atlântica são os últimos moicanos.

Nas expedições que fiz durante a produção do livro, tinha o objetivo de ver a floresta original, mas acho que não consegui. A grande verdade é essa. Eu vi florestas que podem ter sido próximas daquilo, mas fiquei com a sensação de que não existe mais a floresta original, que meu tataravô possa ter visto quando estavam abrindo as fazendas.


Caçada de onças pintadas em Santa Catarina, no começo do século 20; quando despovoada de animais, Mata Atlântica se torna incapaz de renovar a vegetação original.

BBC News Brasil - Quando se critica o desmatamento no Brasil, alguns representantes do agronegócio costumam citar a destruição das florestas na Europa e reivindicar o direito de fazer o mesmo por aqui. Como seria nossa sociedade se a Mata Atlântica não tivesse sido destruída?

Cardim - Esse argumento é tão hediondo como falar que, já que houve o Holocausto na Alemanha, podemos fazer um aqui também. A Europa hoje está preocupadíssima em restabelecer suas florestas e nunca mais vai restabelecer do jeito que era, porque as matas lá vêm sendo derrubadas desde a época romana.

Se tivéssemos encontrado outros meios de produzir riqueza, através da educação, da tecnologia, teríamos agora um patrimônio maravilhoso. Não sou contra a exploração de madeira. Sem a madeira, não teríamos orquestras, por exemplo. Eu adoro móveis de madeira nobre. Mas, se tivéssemos explorado de forma sustentável, poderíamos ter móveis de jacarandá pelo resto da vida.

Teríamos um potencial gastronômico inacreditavelmente grande, como alguns já começaram a perceber, como (o chef) Alex Atala. Teríamos muito potencial no ramo da biotecnologia, de medicamentos. E também de turismo, pois é impossível ficar indiferente diante dessas árvores gigantes. É como alguém diante da pirâmide de Queóps.

BBC News Brasil - O processo de destruição da Mata Atlântica é comparável ao que hoje enfrenta a Amazônia?

Cardim - A grande sacada desse livro é mostrar que fizemos uma coisa na Mata Atlântica nos últimos 100 ou 150 anos que é exatamente igual ao que estamos fazendo hoje na Amazônia. O que muda é a proporção, por causa da extensão da Amazônia e a tecnologia. Hoje a tecnologia permite que a gente faça a destruição da Amazônia com a mesma velocidade, ou até mais rápido, do que fizemos na Mata Atlântica. Com nossas estradas, caminhões, motosseras, o ganho de escala é absurdo.

BBC News Brasil - Quais foram as etapas da destruição da Mata Atlântica que agora se repetem na Amazônia?

Cardim - Primeiro, criar uma motivação econômica para um acesso à floresta. Na época (dos presidentes) Costa e Silva e Médici, nos anos 1970, começa a surgir a ideia da terra sem homens da Amazônia para o homem sem terras do Nordeste. Esse caminho para o interior da Amazônia, que começa com a rodovia Transamazônica, tem como paralelo a entrada das ferrovias no seio da Mata Atlântica por causa do café. A ferrovia entrava e rasgava a Mata Atlântica - vem o eixo de penetração, saem estradas vicinais para saquear a floresta e aproveitar a terra.

É o que está ocorrendo hoje na Amazônia: primeiro vem o cara saquear madeira, depois se faz a queimada para aproveitar o solo, o fogo fertiliza aquela terra e planta-se capim para que o gado pisoteie os entulhos da floresta. Com dois ou três anos, aquela floresta desaparece e vira carbono, e aí entra a soja. No nosso caso, era o café que entrava. Temos registros em Campinas (SP), em 1840, da presença do gado entre ruínas de árvores colossais da Mata Atlântica. Era um modo de domar a terra para o café.


Ricardo Cardim visitou seis Estados para a produção do livro; na Bahia, encontrou alguns dos poucos trechos remanescentes com exemplares centenários de pau-brasil


BBC News Brasil - Seremos capazes de frear o desmatamento na Amazônia?

Cardim - Sou otimista quanto à Mata Atlântica, mas não quanto à Amazônia. Acho que não vai dar tempo. A Amazônia vai ser fragmentada antes que as gerações futuras consigam entender a importância dela.

Existe lá um arco de aventureiros -políticos, grileiros - que são incontroláveis. Eles vão fragmentar a floresta antes que a gente consiga mudar a sociedade.

BBC News Brasil - As tecnologias e a legislação para evitar o desmatamento também não avançaram?

Cardim - Com certeza, mas ainda acho que são fracas perante o que está acontecendo lá. O que houve em Rondônia é emblemático. A floresta do Estado sumiu em dez anos. E hoje a última fronteira é o Estado do Amazonas, porque o Pará já foi muito detonado.

Estão derrubando por mais que coloquemos multas. Tem muita gente lá que não tem nada a perder e vai fazer isso acontecer. Talvez, daqui a 40 anos, alguém faça um livro como este que eu fiz contando como a Amazônia foi destruída.


Fonte: BBC Brasil











domingo, 30 de dezembro de 2018

Réveillon de Niterói terá 16 minutos de fogos e show de Lulu Santos






A festa de Réveillon de Niterói terá shows de Lulu Santos, Melim, Bloody Mary e DKV. A previsão da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur) é receber um público de cerca de 500 mil pessoas, entre moradores, turistas e visitantes na Praia de Icaraí. Para acertar os últimos detalhes do evento, na manhã desta sexta-feira (28), representantes da Prefeitura de Niterói, Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar se reuniram e realizaram uma vistoria no palco.

De acordo com o presidente da Neltur, José Guilherme de Azevedo, a cidade deve atrair mais turistas durante o Réveillon este ano e, por isso, a importância da integração das secretarias do Município e do Estado.

“O segredo para essa festa dar certo é trabalhar em conjunto com todas as secretarias e órgãos municipais e estaduais. Nosso objetivo é que as pessoas venham, se divirtam e voltem para casa com tranquilidade. Niterói está cada vez mais preparada para atender as demandas do turismo, com obras de infraestrutura urbana e muitos atrativos naturais e históricos”, destaca, acrescentando que algumas as novidades da queima de fogos prometem surpreender o público.

Quem for a festa na Praia de Icaraí também poderá assistir aos shows, que começam a partir das 19h, através de cinco telões que serão espalhados pela orla, assim como interagir com a festa fazendo ‘selfies’ e usando a #Niteroi2019, que poderão ir direto para os telões.

Participaram da reunião o comandante do 12º BPM (Niterói), coronel Márcio Guimarães, o tenente coronel Fabio Dutra, do Corpo de Bombeiros, além do coronel Gilson Chagas (Seop), coronel Alexandre Cony e coronel Sayonara do Valle (NitTrans), Eric de Oliveira (Defesa Civil), Claúdio Lyrio Cunha (Clin) e Dora Coutinho (Samu).

Estrutura e serviço:

Cerca de dois mil funcionários vão trabalhar durante o Réveillon 2019 em Icaraí. Estarão mobilizadas equipes da Neltur, Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói (Clin), Secretaria de Ordem Pública (Seop), Fundação Municipal de Saúde (FMS), Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans), Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, entre outros.

Trânsito – A NitTrans preparou um esquema especial de trânsito que será implantado entre 31 de dezembro e 1º de janeiro em toda a cidade, em especial nos bairros de Icaraí, Itaipu e Piratininga, com um efetivo de 140 agentes e operadores.

A Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres, na orla de Icaraí, será interditada entre as ruas Álvares de Azevedo e Oswaldo Cruz, entre 18h do dia 31 e 10h do dia 1º. As ruas transversais à praia serão fechadas ao tráfego também entre 18h e 10h, nos seus trechos entre a orla e a Rua Coronel Moreira César. São elas: General Pereira da Silva, Lopes Trovão, Presidente Backer, Otávio Carneiro, Oswaldo Cruz e Belisário Augusto.

O trecho da Praia João Caetano entre a Rua Dr. Paulo Alves e a Rua Itapuca, e o trecho da Rua Miguel de Frias, entre a Gavião Peixoto e a Praça Getúlio Vargas, serão interditados entre 17h do dia 31 e 10h do dia 1º.

Na Avenida Roberto Silveira, duas faixas reversíveis serão montadas entre 17h do dia 31 e 10h do dia 1º, mas poderão ser reduzidas a uma faixa ou desfeitas por completo de acordo com a avaliação da coordenação da operação, a depender do fluxo de veículos.

Na volta da festa, os ônibus que vão para a Região Oceânica, Jurujuba e São Francisco estarão localizados na Rua Gavião Peixoto. Já os coletivos que seguem em direção ao Barreto, São Gonçalo, Itaboraí e Rio de Janeiro farão parada na Avenida Roberto Silveira.

Segurança – Cerca de 450 guardas municipais farão o patrulhamento no Réveillon em toda a cidade, com o apoio do Cisp Móvel e das câmeras da cidade monitoradas pelo Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). O Posto Central na praia de Icaraí será na cabine da Guarda Municipal e da Polícia Militar, próximo à reitoria da UFF, onde também haverá distribuição de pulseiras para identificação das crianças. O Conselho Tutelar e a Cruz Vermelha de Niterói vão atender crianças perdidas na praia.

De acordo com a Polícia Militar, o efetivo de cerca de 615 homens estará distribuído de forma estratégica na cidade. A PM terá 12 torres de observação na praia, além do monitoramento das câmeras da cidade. Duas forças de choque estarão posicionadas estrategicamente na orla de Icaraí.

O Corpo de Bombeiros também estará presente, com uma equipe de guarda vidas em prontidão na areia e outros agentes mobilizados na orla.

Postos Médicos – Serão montados três postos médicos de grande porte, um em cada extremidade e um no meio da praia, com 19 ambulâncias posicionadas para emergências. A estrutura vai contar com médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.

Bares e Foodtrucks – Serão dez bares, cinco posicionados na areia da praia e outros cinco espalhados no calçadão, no lado onde ficam os edifícios. Serão dez foodtrucks, também seguindo o mesmo posicionamento dos bares. As vans de cachorro quente – serão 10 vans da Cooperativa dos Vendedores de Produtos Alimentícios em Veículos Utilitários de Niterói – ficarão posicionadas nas ruas transversais ao longo da orla de Icaraí.

Limpeza – Além dos contêineres para lixo, cerca de 410 funcionários da Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) estarão atuando no controle de coleta e limpeza da orla e do entorno, com 60 equipamentos entre caminhões e máquinas. A previsão é de que a limpeza seja concluída até as 10h30 do dia 1º e que seja recolhida cerca de cem toneladas de resíduos. Serão 160 banheiros químicos espalhados pela área do evento. Na Região Oceânica, serão 300 funcionários.

Proibições – Estará proibida a venda de qualquer produto em garrafas de vidro e o uso de botijões de gás, churrasqueiras com carvão ou fogos de artifício na praia de Icaraí. Também estarão proibidos carros de som. A Guarda Municipal fará uma fiscalização ostensiva.

Horários dos shows:

19h20 - Banda Bloody Mary
20h50 - Banda DKV
22h30 - Banda Melim
0h - Queima de fogos
0h30 - Lulu Santos


 


FELIZ 2019 PARA TODOS!!!








Prefeitura de Niterói cadastra agricultores familiares





27/12/2018 – A Prefeitura de Niterói vai inscrever os agricultores familiares da cidade no Cadastro Municipal Multifinalitário da Agricultura Familiar. O objetivo é promover e fortalecer as políticas de segurança alimentar e nutricional do Município, criando subsídios para empoderamento dos agricultores, estimulando a geração de renda.

Os interessados devem comparecer na sede dos Conselhos Tutelares, localizada na Rua Coronel Gomes Machado, 259, Centro, dos dias 7 a 25 de janeiro, levando os documentos: 

  • Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) ativa (para os candidatos que não puderem acessá-la, apresentar declaração de atividade como trabalhador, assalariado rural ou outra justificativa), 
  • Declaração de elegibilidade assinada pelo potencial beneficiário e devidamente atestada, 
  • Cópia da identidade, cópia do CPF, 
  • Cópia de comprovante do estado civil, 
  • Cópia do comprovante de votação da última eleição. 
  • Documentação pessoal do cônjuge (se casado ou em união estável), 
  • Declaração de inscrição no CadÚnico, cópia de documento oficial de identificação do vendedor e do CPF. 

O atendimento será feito pela Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria Municipal de Assistência Social.

Fonte: Prefeitura de Niterói







Professor da USP avalia que há poucas áreas protegidas fora da Amazônia



Sparovek: especialista critica redução de exigência de restauração ambiental Foto: Divulgação


Coordenador de laboratório que investiga interface de agricultura e meio ambiente analisa impacto do Código Florestal no aumento do desmatamento

Ana Lucia Azevedo

RIO — O Brasil nunca discutiu tanto as áreas protegidas quanto agora. Elas são insuficientes para ambientalistas e excessivas para ruralistas. Autor de um estudo recém-publicado sobre o risco do aumento do desmatamento legal na Amazônia associado às mudanças no Código Florestal aprovado em 2012, o professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Fundação Florestal do Estado de São Paulo, Gerd Sparovek, diz que a proteção está aquém do necessário e do que prevê a lei.

Sparovek coordena há 17 anos o GeoLab, um laboratório de geoprocessamento da USP que investiga a interface entre a agricultura e o meio ambiente. Também monitora políticas governamentais e compromissos voluntários privados, prestando consultoria para organizações como a FAO e o Banco Mundial. No último dia 27, o governo federal adiou pela quinta vez a implantação plena do Código Florestal. Por meio da Medida Provisória 867, o presidente Michel Temer prorrogou por mais um ano o prazo de adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), um dos instrumentos mais importantes do Código.

Qual o tamanho das áreas protegidas no Brasil, incluídas unidades de conservação, terras indígenas, áreas de preservação permanente (APP) e reservas legais (RL)?

As unidades de conservação e terras indígenas somam 217 milhões de hectares. Mas a distribuição é desigual —197 milhões de hectares estão na Amazônia, o que representa 47% do bioma. Nos outros biomas, as áreas de UC e TI somadas não passam de 7% dos remanescentes. Fora da Amazônia temos poucas áreas protegidas como unidades de conservação. Nas propriedades rurais temos 14 milhões de hectares de APP com vegetação nativa e 140 milhões de hectares de reserva legal com vegetação nativa, somando 154 milhões de hectares.

O que a diz a lei?

O total exigido pelo Código Florestal de áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal somadas é 177 milhões de hectares. Quando todo o processo de restauração e compensação estiver concluído, a área de preservação nas propriedades rurais ocupará, na média, 35% das propriedades.

Como o Código Florestal acabou por implicar na redução da vegetação protegida?

Há diversos mecanismos de redução de exigências de manutenção de vegetação nativa nas propriedades que desmataram antes de 2008. Ao todo, a redução de exigência de restauração ocorreu em 41 milhões de hectares. No entanto, a redução real de exigência para conservação será ainda maior, porque não avaliamos ainda o efeito do Art. 68 (consolidação da reserva legal no tempo, em função da época de abertura das propriedades).

Essa redução varia por bioma?

A variação entre biomas é grande. No caso de reserva legal, o bioma mais afetado foi a Mata Atlântica (38%), seguida da Amazônia (20%). No caso de APP, os mais afetados foram Mata Atlântica (27%) seguido de Caatinga (15%).

Onde estão os maiores déficits ambientais no Brasil?

Em APPs ( margens de rios e topos de montanhas, por exemplo ), com certeza. A restauração das APPs irá trazer um ganho ambiental enorme, principalmente na questão hídrica, como a qualidade da água e a regulação da vazão dos rios, evitando enchentes e problemas na captação. Todos serão beneficiados com isto. 


Fonte: O Globo









sábado, 29 de dezembro de 2018

O FIM DA VISTORIA DO DETRAN E CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE E O MEIO AMBIENTE



COMENTÁRIO DE AXEL GRAEL:

RECUO DO RJ AMEAÇA A QUALIDADO DO AR, A SAÚDE DA POPULAÇÃO E A SEGURANÇA NO TRÂNSITO

As vistorias do DETRAN foram se transformando ao longo dos últimos anos num grande transtorno para os motoristas e proprietários de automóveis. Não foi surpresa a repercussão eleitoral favorável ao governador eleito do Rio de Janeiro Wilson Witzel, da sua promessa do extinguir as vistorias do DETRAN. Tanto que o governador em exercício, Francisco Dornelles, nos seus últimos dias de gestão, também surfou na onda anti-vistoria, antecipou-se ao novo governo e aprovou, ele mesmo, o fim da vistoria ao sancionar uma lei aprovada no legislativo estadual, de autoria dos deputados estaduais Luiz Paulo, Gilberto Palmares e Zaqueu Teixeira.

A população rejeita a rotina por considerar a vistoria um serviço mal executado e uma penitência aos usuários, por expor os condutores a uma longa e enervante espera, mesmo havendo a possibilidade de agendamento do atendimento. Para muitas pessoas, o serviço era visto como um mero procedimento "caça-níquel", destinado apenas a arrecadar recursos para o estado.

O que nem todos sabem, é que ao acabar com o serviço também, encerra-se um trabalho pioneiro no país, que com outras medidas estruturais permitiu reduzir em 90% a concentração de gases poluentes e prejudiciais à saúde.

Leia a postagem Quanto custa a poluição do ar?
Leia a postagem: Washington Novaes: "Automóveis, poluição, doenças. Como mudar?"

O RJ era o único estado a manter esta rotina. Quando fui presidente da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - FEEMA (já extinta e substituída pelo INEA), nos anos 1999-2000 e 2007-2008, recebi várias delegações de outros estados interessados na experiência fluminense. Apenas o município de São Paulo implantou algo parecido com o RJ. A iniciativa fluminense gerou uma série histórica de dados sobre emissões atmosféricas veiculares que subsidiou políticas públicas e uma legislação estadual e nacional que melhorou a performance ambiental dos veículos produzidos no país.

As exigências sobre a performance ambiental da frota de veículos nacional, assim como a exigência cada vez maior sobre combustíveis que menor teor de poluentes como chumbo e enxofre, foram fundamentais para a melhora da qualidade do ar nas cidades.

Saiba mais sobre as emissões veiculares e as consequências para a saúde e para o meio ambiente do fim das vistorias em A nova resolução do Conama sobre poluição do ar e considerações sobre o fim das vistorias do DETRAN  

A nova legislação sancionada pelo governador em exercício Francisco Dornelles substitui a vistoria por um "sistema autodeclaratório sobre a situação do veículo. Quando for constatada alguma informação inverídica, o proprietário poderá ser responsabilizado civil e criminalmente. A medida entra em vigor nesta sexta".

Não encontramos qualquer esclarecimento sobre a parte ambiental da vistoria. Estará incluída no sistema autodeclaratório a ser procedido no site?

Considero a adoção de procedimentos autodeclaratórios uma opção válida para vários procedimentos hoje praticados com métodos mais burocratizados, mas estes somente serão eficazes caso venham seguidos de um sistema diferenciado e eficiente de fiscalização. No caso dos veículos, será necessária uma estrutura para atuação nas ruas que hoje não existe. Como será feita a fiscalização das emissões de gases? Para procede-lo nos postos de vistoria do DETRAN já era um problema e muitas vezes os automóveis eram liberados sem passar pela devida medição devido a dificuldades operacionais com os equipamentos.

Portanto, sem vistoria presencial do DETRAN, será necessário um reforçado sistema de fiscalização nas ruas. Caso não aconteça, teremos um retrocesso no que se refere à segurança da frota e a performance ambiental dos veículos, com consequência para o aumento de acidentes e de doenças causadas pela poluição do ar. E quem pagará é a própria população que hoje rejeita as vistorias.

Ah, é bom lembrar que as vistorias estão extintas, mas as taxas cobradas não!

Axel Grael





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Francisco Dornelles aprovou na íntegra o projeto de lei, que entra em vigor nesta sexta Foto: Divulgação


Governo aprova lei que acaba com vistoria presencial do Detran

Segundo a nova regra, motorista poderá fazer autodeclaração no site do departamento sobre situação do veículo

RIO - Motoristas do estado do Rio não serão mais obrigados a fazer a vistoria anual presencial no Detran. O governador em exercício, Francisco Dornelles, aprovou na íntegra, na tarde desta quinta-feira, o projeto de lei 4498/2018, de autoria dos deputados estaduais Luiz Paulo, Gilberto Palmares e Zaqueu Teixeira. Segundo a nova regra, o motorista poderá retirar o documento no site do departamento e fazer uma autodeclaração sobre a situação do veículo. Quando for constatada alguma informação inverídica, o proprietário poderá ser responsabilizado civil e criminalmente. A medida entra em vigor nesta sexta.

— O Rio era o único estado do país a exigir a vistoria presencial. A lei vai promover uma economia de R$ 200 milhões para o Detran, porque muitos postos de vistoria serão desativados, os contratos com organizações sociais serão rompidos, a corrupção vai diminuir, as indicações políticas vão acabar. O processo on-line também vai reduzir a burocracia — afirma o deputado Luiz Paulo.

A nova lei mantém a exigência de recolhimento do Documento Único do Detran de Arrecadação (Duda), do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) e do seguro obrigatório DPVAT. A entrega desses documentos será feita na unidade de registro do veículo. Os valores das taxas não foram alterados.

As vistorias continuam sendo obrigatórias para veículos de transporte escolar, de cargas, de transporte coletivo de passageiros e o veículo rodoviário de passageiros.

Vale lembrar que a vistoria anual poderá ser feita independentemente de o contribuinte estar adimplente com o IPVA. Uma lei em vigor desde 2017 retira a obrigatoriedade do pagamento para a realização da inspeção. 

Fonte: O Globo

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Fim da vistoria do Detran-RJ não vai reduzir taxas anuais

Para obter o licenciamento, proprietário continuará a arcar com as cobranças do órgão de trânsito

Nelson Lima Neto


Fim da vistoria do Detran-RJ não vai reduzir taxas anuais Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo


RIO - O projeto de lei que prevê o fim da vistoria anual presencial feita pelo Detran-RJ não irá reduzir o gasto dos proprietários de veículos com as taxas pagas para o licenciamento anual. Aprovada nesta quarta-feira pela Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), a nova legislação mantém a exigência de recolhimento do Documento Único do Detran de Arrecadação (Duda), referente ao licenciamento anual, da taxa para emissão do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) e do seguro obrigatório-DPVAT. As cobranças estão previstas no texto da lei, de autoria dos deputados Luiz Paulo (PSDB), Gilberto Palmares (PT) e Zaqueu Teixeira (PDT).

— Entendemos que o excesso de Dudas e seus valores podem ser revistos, mas optamos por avançar, primeiro, na redução da burocracia e da corrupção que ocorria nos postos de vistoria e, com esse passo dado, enfrentaremos as demais questões — explicou Luiz Paulo.

Autodeclaração em site

Segundo o deputado, o Rio de Janeiro é o único estado do país a exigir a vistoria presencial. Com a lei, a retirada do documento anual será possível por meio de uma autodeclaração entregue através do site do Detran. Quando for constatada alguma informação inverídica, o proprietário poderá ser responsabilizado civil e criminalmente.
A entrega do documento de licenciamento será feita na unidade do Detran de registro do veículo. A lei ainda precisa da sanção do governador em exercício Francisco Dornelles para entrar em vigor.

Vale lembrar que a vistoria anual poderá ser feita independentemente de o contribuinte estar adimplente com o IPVA. Uma lei em vigor desde 2017 retira a obrigatoriedade do pagamento para a realização da inspeção.

Fonte: O Globo




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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Metade da chuva anual do mundo cai em 12 dias






Em apenas 12 dias, o mundo recebe, em média, metade do volume de chuvas esperado para o ano todo. O achado consta de análises realizadas por uma dupla de pesquisadores do Instituto de Ciências Atmosféricas e Climáticas, em Zurique, Suíça, e do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, no Colorado, Estados Unidos (Geophysical Research Letters, 19 de outubro).

A partir de dados sobre a média diária de precipitações coletados por 185 estações meteorológicas espalhadas pela América do Norte, Eurásia e Austrália, eles conseguiram determinar as variações na média anual do volume de chuvas provocadas entre 1999 e 2014 pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico (El Niño) e outras oscilações climáticas de curto prazo. 

Em seguida, cruzaram essas informações com dados correspondentes ao mesmo período coletados pelo satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM), da Nasa, a agência espacial norte-americana. Verificaram que, em todas as regiões, aproximadamente 75% do volume anual de chuvas caem nos 30 dias mais chuvosos do ano, enquanto mais de 12,5% precipitam nos dois dias mais chuvosos e cerca de 8% no dia em que mais chove. 

Os pesquisadores também usaram modelos climáticos para projetar como a média de chuvas pode mudar no futuro, sobretudo entre os anos de 2085 e 2100. Em um cenário em que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atinge 936 partes por milhão (ppm) – os níveis atuais de CO2 são de aproximadamente 400 ppm –, essa distribuição desigual de pluviosidade deve se tornar um pouco mais distorcida. 

No estudo, eles estimam que em 2100 metade do volume anual de chuvas deverá cair em apenas 11 dias.


Fonte: Revista Pesquisa FAPESP




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Bruno de Pierro

Estudo avalia a produção científica sobre catástrofes naturais no mundo e destaca a brasileira na área de hidrologia

Um relatório divulgado em novembro pela editora holandesa Elsevier mostrou que, nos últimos cinco anos, foram publicados no mundo mais de 27 mil artigos em ciência do desastre, ramo que estuda o risco de catástrofes naturais e humanas. O número representa 0,22% do total de papers de todas as áreas do conhecimento, indexados na base de dados Scopus entre 2012 e 2016. A maioria dos artigos (9.571) trata de temas relacionados a desastres geológicos, como terremotos e deslizamentos de terra (ver gráfico). A análise dos trabalhos científicos indica que a frequência dos acidentes aumentou nos últimos 50 anos, em parte porque houve crescimento da população em áreas costeiras e de risco, além da intensificação de eventos associados aos extremos da variabilidade climática, como enchentes e secas.

Outro resultado foi a constatação de que a produção sobre desastres naturais é muito pequena em países emergentes fortemente atingidos por calamidades. Belize, na América Central, é um dos que mais sofreram perdas econômicas causadas por furacões, por exemplo; no entanto, apenas um artigo foi publicado sobre o tema por autores do país nos últimos anos. Outros casos são o Haiti, no Caribe, com apenas 42 papers publicados, e Madagascar, na África, que não registrou produção científica nesse campo. “É preciso estimular a pesquisa sobre desastres naturais, uma área nova em todo o mundo e que necessita da integração de várias disciplinas, das ciências naturais às sociais”, afirma Osvaldo de Moraes, diretor do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao governo federal, que participou do estudo da Elsevier.

O levantamento indica que a China é o país mais produtivo na área, com 6.301 artigos publicados, com ênfase em trabalhos sobre prevenção. Na sequência estão os Estados Unidos, com 6.287 trabalhos, boa parte tratando de respostas imediatas a acidentes e recuperação de áreas destruídas. Outros países de destaque são Reino Unido (1.351) e Japão (4.017). Este último se distingue pelo impacto dessa produção, avaliado por meio do número de citações – o Japão é o mais especializado em ciência do desastre, ao dedicar 0,66% de sua produção científica à área. O índice é 3 vezes maior do que a média global de 0,22%.


… alterações no regime de chuvas causadas pelo El Niño contribuíram para aumentar o período de seca na região em 2015. Adam Ronam


O continente asiático é propenso a catástrofes naturais, o que contribuiu para que cientistas chineses e japoneses criassem competência na área. De acordo com o relatório, nove das 10 instituições mais prolíficas em ciência do desastre estão nesses dois países: a primeira é a Academia de Ciências da China; a segunda, a Universidade de Tóquio. A Universidade Columbia, nos Estados Unidos, é a primeira não asiática na lista.

No relatório observou-se que as atividades de pesquisa dos países tendem naturalmente a refletir os tipos de desastres que mais ocorrem em cada região. Por exemplo, o Japão se especializou em terremotos e tsunamis; os Estados Unidos, em desastres meteorológicos e biológicos; e a Índia, nos ambientais. Já o Brasil se destaca na pesquisa em catástrofes hidrológicas, como secas, enchentes e inundações, e também em deslizamentos de terra. Embora publique poucos artigos em ciência do desastre, quando comparado a países que já têm tradição nessa área, o Brasil não fica atrás em relação ao impacto de suas publicações. “O número de citações de trabalhos na área de eventos hidrológicos chega a ser maior do que a média nacional”, afirma Osvaldo de Moraes.

Destaque brasileiro

Ele explica que o país tem tradição nesse tipo de pesquisa. “Cada vez que se faz um estudo do impacto ambiental para a construção de uma usina hidrelétrica é também necessário avaliar os impactos climáticos na região e quais são as áreas passíveis de alagamento. Essa dinâmica fez com que, inevitavelmente, a pesquisa em desastres hidrológicos tenha se desenvolvido em paralelo com a utilização dos recursos hídricos para gerar energia elétrica”, observa Moraes. Isso não ocorreu, por exemplo, na área de catástrofes geológicas. A geologia brasileira voltou-se mais para a exploração petrolífera e mineral do que para estudos sobre movimentos de massa e ciência do solo.






Eventos extremos ocorridos nos últimos anos no Brasil, como um tornado que atingiu o estado de Santa Catarina, em 2009, e os deslizamentos que abalaram sete cidades da região serrana do Rio de Janeiro, em 2011, mobilizaram cientistas e tomadores de decisão. O Atlas brasileiro de desastres naturais, elaborado pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2013, mostrou que, entre 2000 e 2009, foram registrados três vezes mais desastres no país do que na década anterior. Já projeções mais recentes apontam um aumento do risco de calamidades naturais, como enchentes, deslizamentos de terra e secas extremas, nas próximas décadas (ver Pesquisa FAPESP nº 249). “Aqui não há furacões e terremotos fortes, mas temos histórico de um número muito grande de desastres naturais de origem hidrometeorológica”, ressalta José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden. A instituição foi criada em 2011 com o objetivo de elaborar um plano de prevenção e enfrentamento de catástrofes em articulação com o governo federal.

Em linhas gerais, o Cemaden utiliza informações de meteorologia, geologia e hidrologia fornecidas, entre outros, pelo Instituto Nacional de Meteorologia, Agência Nacional de Águas e Serviço Geológico do Brasil para desenvolver modelos e detectar áreas de vulnerabilidade física no país. As informações são confrontadas com dados de vulnerabilidade social, como, por exemplo, os números de crianças e idosos na região, levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Cemaden conta com uma equipe de 30 pesquisadores e 60 técnicos responsáveis por criar os modelos e emitir alertas diários. “Por exemplo, toda política de carro-pipa e de bolsa-estiagem que o governo federal implementa no Nordeste é estruturada a partir de informações que o Cemaden repassa para a Casa Civil da presidência”, conta Moraes.





O papel de pesquisadores no processo de aconselhamento científico a governos foi um aspecto avaliado pela Elsevier. Segundo o levantamento feito pela editora, uma proporção substancial dos 27 mil artigos publicados em ciência do desastre nos últimos cinco anos tem um foco explícito nas políticas públicas: 7,5% dos papers tinham a palavra “política” no título, no resumo ou entre as palavras-chave. “A pesquisa em ciência do desastre está conseguindo cada vez mais influenciar os políticos”, disse à Pesquisa FAPESP o engenheiro Fumihiko Imamura, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Ciência de Desastre (IRIDeS), com sede na Universidade de Tohoku, no Japão. “No nosso caso, por exemplo, cientistas que atuam nessa área fazem parte do Conselho Central de Mitigação de Desastres, órgão do governo japonês responsável pela elaboração de políticas para a redução de riscos de desastres. É uma forma de garantir que a opinião dos pesquisadores seja ouvida antes que medidas sejam implementadas.”

Imamura explica que o IRIDeS atua em 38 campos do conhecimento. “Investigamos aspectos físicos que estão por trás de catástrofes naturais em escala global, como megaterremotos, tsunamis e condições climáticas extremas”, explicou. A instituição também atua na constituição de tecnologias de respostas a desastres e mitigação com base nas lições aprendidas em episódios como o ciclone Isewan, em 1959; o grande terremoto de Hanshin-Awaji, em 1995; e o terremoto seguido de tsunami, em 2011.

Colaborações

Para Imamura, o principal mérito do relatório da Elsevier é chamar a atenção para a necessidade de consolidar mais parcerias internacionais em ciência do desastre. Isso porque as nações com maiores taxas de mortes por desastres naturais, como o Haiti, tendem a ter baixo volume de produção acadêmica nessa área. “São países pobres que não têm orçamento suficiente para apoiar a capacidade científica. Essa é uma das razões pelas quais as pesquisas colaborativas internacionais devem ser altamente encorajadas e motivadas”, sugeriu Imamura. O engenheiro japonês ressaltou a contribuição que o Brasil pode dar. “Quase 50% dos desastres que ocorreram de 1995 a 2015 foram hidrológicos. O Brasil tem uma sólida capacidade de pesquisa nessa área e, por isso, pode desempenhar um importante papel em cooperações internacionais.”

Osvaldo de Moraes lembra que o Cemaden foi designado para coordenar um grupo de trabalho na área de prevenção e mitigação de desastres criado em 2015 pelo bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O Cemaden também tem parceria com o gabinete de Meteorologia do Reino Unido para desenvolver modelos de avaliação do impacto da seca no semiárido brasileiro. Outra colaboração é com o Joint Research Centre (JRC), da União Europeia, para aperfeiçoamento de sistemas de modelagem hidrológica.

Há desafios que tanto os pesquisadores brasileiros quanto os de outros países precisam enfrentar para consolidar a ciência do desastre, observa Gilberto Câmara, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais. “Realizar estudos sobre desastres naturais pressupõe uma disposição para trabalhar em ambientes interdisciplinares, o que nem sempre ocorre”, diz. “Avaliar possíveis riscos de desastres é algo complexo. Não basta saber que irá chover bastante em determinada região; é preciso saber também quem será atingido pela enxurrada. Isso exige que pesquisadores das ciências naturais trabalhem em conjunto com antropólogos e sociólogos”, explica Câmara, que foi eleito novo diretor do secretariado do Group on Earth Observations (GEO). Com sede na Suíça, o GEO é uma rede global de organizações governamentais, instituições de pesquisa e empresas, com a missão de criar soluções para a gestão de informações e dados relacionados à observação da Terra.

Uma das metas da instituição, conta Câmara, é promover o compartilhamento aberto de dados e modelos que ajudam a cumprir o Marco de Sendai para redução de riscos de desastres naturais, documento que busca incentivar a criação de estratégias para reduzir diminuir danos causados por catástrofes até 2020. “É necessário ampliar a troca de informações entre países e tornar os dados abertos sobre terremotos e enchentes, por exemplo. Só assim teremos condições de construir modelos melhores”, avalia Câmara.



MUDANÇAS CLIMÁTICAS: Metrópoles mais quentes e secas



A capital paulista pode ter ondas de calor de aproximadamente 60 dias até o final do século, segundo algumas projeções
Léo Ramos Chaves


Marília Carrera

Simulações indicam aumento na temperatura e redução pela metade da chuva em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Santos até o fim do século

No cenário mais pessimista simulado pelo último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as emissões de gases de efeito estufa não parariam de aumentar até o fim do século e a temperatura média da atmosfera do planeta seria, em 2100, cerca de 4 °C maior do que a atual. Se esse quadro climático global se materializar nas próximas décadas, as temperaturas máximas poderão aumentar até 9 ºC no verão e a chuva se reduzir pela metade nas duas maiores regiões metropolitanas do país, São Paulo e Rio de Janeiro, e no município paulista de Santos, onde funciona o mais importante porto brasileiro. O valor das temperaturas mínimas nessas áreas também deverá subir aproximadamente 4 ºC até o fim do século, sinalizando a vigência de invernos menos frios.

Essas projeções para setores do Sudeste constam de um trabalho publicado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) na edição de abril do periódico Theoretical and Applied Climatology. “Se o cenário atual de emissão de gases de efeito estufa se mantiver, a probabilidade de os dados do estudo se tornarem realidade será provavelmente alta”, comenta o meteorologista André Lyra, que faz estágio de pós-doutorado no Inpe, primeiro autor do estudo.

A equipe brasileira realizou simulações do que poderá ocorrer com as temperaturas e os índices de pluviosidade nessas três áreas metropolitanas em duas possíveis conjunturas climáticas globais formuladas pelo IPCC: o cenário mais pessimista, denominado tecnicamente RCP8.5, e o mais otimista, o RCP4.5. Nesse segundo caso, as emissões de gases de efeito estufa parariam de crescer a partir da década de 2040. No entanto, mesmo quando esse quadro futuro menos alarmante é usado como pano de fundo para rodar o modelo climático de escala regional Eta, desenvolvido em parte pelo Inpe, os resultados das projeções não se alteraram substancialmente. Ainda assim, a temperatura máxima em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Santos sobe até 7 ºC e as chuvas se reduzem pela metade, embora a diminuição de pluviosidade atinja uma fração menor da área das regiões metropolitanas. Esses cenários apresentam algum grau de incerteza, mas sinalizam que mudanças climáticas, mais ou menos intensas, são prováveis.

No trabalho, foi usada uma versão aprimorada do Eta com resolução espacial de 25 quilômetros quadrados (km2), equivalente a um quadrado com lados de 5 km de comprimento. A versão anterior do Eta tinha resolução de 400 km2 (quadrado com faces de 20 km). “O novo modelo é importante para entender melhor os impactos do clima sobre alguns aspectos da topografia da América do Sul”, afirma a meteorologista Chou Sin Chan, coautora do trabalho, também do Inpe. “Um estudo com resolução de 5 km possui maior nível de detalhamento que um de 20 km.” Nessa versão do Eta, há menos erros de cálculo para previsões climáticas feitas em áreas de topografia íngreme. Esse aprimoramento é importante quando se trabalha com áreas situadas perto de zonas montanhosas, como as serras do Mar e da Mantiqueira, que se encontram nos arredores da área do estudo.

As projeções do clima futuro nas três regiões metropolitanas foram confrontadas com dados do período histórico do próprio modelo, de 1961 a 1990, que serviu de base de comparação. As projeções foram divididas em três ciclos, 2011–2040, 2041–2070 e 2071–2100. Além da tendência geral de aumento de temperatura e de redução de chuvas, o trabalho aponta para a intensificação de eventos extremos, como secas prolongadas e tempestades mais intensas. Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, as ondas de calor podem se estender por mais de 60 dias e as de frio se prolongar por mais de três dias por volta de 2100. O trabalho também aponta a tendência de haver dias e noites mais desconfortáveis nas três áreas analisadas, com alta demanda por equipamentos de resfriamento e elevado consumo de energia, tornando mais frequente um cenário que pode causar riscos potenciais à saúde de populações idosas e pobres.

“Os extremos afetam mais as nossas vidas”, considera a meteorologista Claudine Dereczynski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coautora do estudo. “A ocorrência de mais situações desse tipo chama mais a atenção para as mudanças climáticas do que alterações na média da precipitação ou da temperatura.” Também é possível, segundo as simulações, que chuvas extremamente fortes se intensifiquem ao redor de áreas montanhosas e provoquem deslizes de terra frequentes até o final do século XXI. Para Claudine, as projeções futuras apresentam grau de confiabilidade maior no que diz respeito a variações de temperatura do que de pluviosidade.

O estudo enfatiza que a alta densidade populacional nas regiões metropolitanas do Rio e de São Paulo, onde vivem 33 milhões de pessoas, gera apropriação indevida e degradação intensa de recursos naturais. “Estudos sobre mudanças climáticas dependem muito da aceitação de diferentes setores econômicos e da conscientização da gestão pública sobre a importância de se desenvolver ações para mitigar os efeitos da emissão de gases de efeito estufa”, afirma o sociólogo Pedro Roberto Jacobi, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE- USP). “Observamos que os municípios até podem desenvolver ações de descarbonização em escala local, como o controle da erosão com alterações na legislação do uso do solo ou melhorias na política de resíduos sólidos. Porém, são necessárias medidas em âmbito global, que dependem de acordos entre países, para mitigar as mudanças climáticas.”

Projeto
Uma estrutura integrada para analisar tomada de decisão local e capacidade adaptativa para mudança ambiental de grande escala: Estudos de caso de comunidades no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos (nº 12/51876-0); Modalidade Projeto Temático; Acordo FAPESP-Belmont Forum; Pesquisador responsável José Marengo (Cemaden); Investimento R$ 711.506,53.

Artigo científico
LYRA, A. et al. Climate change projections over three metropolitan regions in Southeast Brazil using the non-hydrostatic Eta regional climate model at 5-km resolution. Theoretical and Applied Climatology. v. 132, n. 1-2, p. 663-82. abr. 2018.


Fonte: Revista Pesquisa Fapesp




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A chuva que uniu duas florestas



Uma das galerias da Toca da Boa Vista, na Bahia, onde espeleotemas se formam a partir da água rica em calcário que goteja do teto da caverna. Ataliba Coelho


Ricardo Zorzetto

Períodos de aumento de pluviosidade entre 120 mil e 12 mil anos atrás teriam conectado a Mata Atlântica à Amazônia

Entre 120 mil e 12 mil anos atrás, o clima foi bem mais frio no planeta. Tanto no inverno como no verão, as temperaturas médias eram cerca de 16 graus Celsius (°C) mais baixas do que as medidas hoje próximo ao polo no hemisfério Norte. Esses 108 mil anos, no entanto, não foram de frio contínuo e uniforme. Houve 26 períodos em que a temperatura caiu outros 10 °C e as geleiras cobriram boa parte das terras que atualmente formam a América do Norte e o norte da Europa e da Ásia. Seis desses períodos são especiais. Recebem o nome de eventos Heinrich – homenagem a Hartmut Heinrich, geólogo e climatologista alemão que os descreveu em 1988 – e foram marcados por um resfriamento ainda mais drástico e abrupto. Em questão de anos, as temperaturas teriam baixado ainda mais e as geleiras avançado em direção ao equador, com a zona de ocorrência de icebergs chegando à península Ibérica e ao norte da África.

Nos eventos Heinrich, que duraram de centenas a poucos milhares de anos, a precipitação mais intensa de neve teria feito os glaciares continentais e as plataformas de gelo que avançavam sobre o mar se partirem e lançarem uma verdadeira armada de icebergs nas regiões subtropicais do Atlântico Norte. O frio e a alteração da salinidade do oceano teriam modificado o transporte de calor ao norte do equador e alterado a circulação de ventos que carregam umidade, afetando o clima na América do Sul. Aqui, as transformações foram menos radicais. As temperaturas ficaram 5 °C mais baixas e não surgiram geleiras, mas choveu muito mais. Em certas ocasiões, a área que hoje corresponde ao centro-leste do Brasil teria ficado úmida por tanto tempo que setores da Mata Atlântica no Nordeste teriam se expandido a ponto de se juntar à floresta amazônica.

“Os eventos Heinrich certamente intensificaram a pluviosidade na região centro-leste do Brasil”, afirma o geólogo Nicolás Stríkis, da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro. Stríkis e colaboradores do Brasil e do exterior apresentaram essa conclusão no início de abril em um artigo publicado na revista científica PNAS. Eles constataram que os eventos Heinrich fizeram chover mais no centro-leste brasileiro depois de analisar rochas formadas nos últimos 100 mil anos em cavernas de Minas Gerais e da Bahia. A água dos rios e das chuvas que se infiltra pelo teto das cavernas calcárias dissolve a rocha e, ao gotejar no chão, volta a se solidificar, formando os espeleotemas. Essas rochas crescem acompanhando o volume das chuvas e armazenam informações químicas da água e do calcário do período em que se formaram, permitindo reconstituir o clima do passado.





Durante o doutorado, concluído em 2015 no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), Stríkis e seu orientador, Francisco William da Cruz Junior, recolheram cerca de 50 espeleotemas nas cavernas Lapa Grande e Lapa Sem Fim, respectivamente, nos municípios de Montalvânia e Luislândia, região de Cerrado no norte de Minas, e nas cavernas Paixão e Marota, em Andaraí, no Cerrado baiano. Eles mediram a proporção entre duas variedades (isótopos) de oxigênio encontradas na água e no calcário de 6 mil amostras extraídas de 13 espeleotemas e, com base nesses dados, recriaram o perfil de umidade para a região nos últimos 85 mil anos.

Filipa Naughton, especialista em paleoclima do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, ajudou os brasileiros a confrontar as datas dos períodos de mais chuva no centro-leste do país com as dos eventos Heinrich no Atlântico Norte. Com o derretimento dos icebergs formados nas épocas de frio extremo, sedimentos mais espessos (variando de areia fina a grossa) cobriram a lama fina do fundo do oceano. Um testemunho de sedimentos marinhos coletado em 1995 no norte de Portugal guarda vestígios dos icebergs de seis eventos Heinrich (HS, do inglês Heinrich stadials), que coincidem com as fases de temperatura mais baixa da última glaciação.

“Na América do Sul, os eventos Heinrich produziram mudanças de grande magnitude no clima, que, em poucas décadas, pode ter passado de seco a úmido”, explica Cruz. Os espeleotemas de Minas e da Bahia indicam que choveu muito nessa região do Brasil em cinco dos seis eventos Heinrich, que ocorreram, em média, em intervalos de 10 mil anos. Choveu mais e por mais tempo por volta de 48 mil anos atrás, no evento Heinrich número 5 (HS-5), e há 39 mil anos, no HS-4 – cada um deles durou de 1,5 mil a 3 mil anos. O aumento das chuvas observado agora por Stríkis e Cruz no Cerrado já tinha sido identificado pelo geólogo Augusto Auler em uma área de Caatinga. No início dos anos 2000, durante estágio de pós-doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Auler trabalhou no mapeamento da Toca da Boa Vista – a mais extensa caverna brasileira, com 120 quilômetros de galerias – e coletou espeleotemas ali e em duas outras cavernas de Campo Formoso, município que fica em uma região semiárida no norte da Bahia.

A datação e a análise dos espeleotemas, realizada em parceria com pesquisadores estrangeiros, permitiram reconstituir o padrão de chuvas regional nos últimos 210 mil anos. Segundo os dados, nem sempre foi tão seco ali. Houve longos períodos de baixa umidade, mas a cada 20 mil anos o clima se tornava mais chuvoso, relataram os pesquisadores em um artigo de 2004 na revista Nature. As épocas de maior pluviosidade coincidiram com quatro eventos Heinrich da última glaciação (HS-1, HS-4, HS-5 e HS-6). Um deles, o HS-4, durou na região cerca de 3 mil anos, segundo os pesquisadores, tempo suficiente para alterar o perfil da flora local e permitir o surgimento de corredores de uma vegetação mais densa que pode ter conectado a Mata Atlântica, hoje distante 500 quilômetros em linha reta de Campo Formoso, à floresta amazônica, que fica a mais de 1,5 mil quilômetros dali.

Já naquela época os pesquisadores encontraram indícios de que vegetações mais verdes e altivas, típicas de clima úmido, teriam existido onde hoje é a Caatinga. Não muito distante das cavernas, a paleobotânica Patrícia Cristalli, então aluna de doutorado no IGc-USP, encontrou nos vales dos rios Salitre e Jacaré, na Bahia, rochas calcárias com idade variando de 11 mil a mais de 600 mil anos que continham folhas fossilizadas de plantas típica da Mata Atlântica e da floresta amazônica. Conhecidas pelo nome de tufa, essas rochas se formam no fundo de rios ricos em carbonato de cálcio que existiram no passado e depois secaram. “As tufas são um indício de que houve água corrente naquela região”, conta Cruz, que participou da expedição de coleta.

Um pouco antes, em 1999, o palinólogo Paulo Eduardo de Oliveira já havia encontrado em Pilão Arcado, uma área de dunas cercada por Caatinga no noroeste da Bahia, sedimentos com 11 mil anos de idade contendo pólen fossilizado de árvores amazônicas de grande porte, como as do gênero Simarouba, que podem alcançar 35 metros. “Em algumas áreas de Caatinga, onde hoje tem muito cacto, já houve florestas típicas de clima mais úmido, com espécies hoje comuns na floresta amazônica”, conta Oliveira, atualmente professor no IGc-USP. “As tufas mostravam no nível macroscópico as evidências que eu havia observado no microscópico”, explica o pesquisador, que também encontrou em sedimentos da última glaciação grãos de pólen de árvores da mata de araucária no atual Cerrado mineiro.

Esses e outros registros de pólen fossilizado, somados às informações de pluviosidade obtidas em cavernas do Brasil, do Peru e da Bolívia, resultado de projetos que investigam a origem da biodiversidade na Mata Atlântica e na floresta amazônica, reforçam a hipótese de que a vegetação da Amazônia e da Mata Atlântica teriam se unido em mais de um momento num passado não tão distante. “Esses períodos mais úmidos com alguns milhares de anos de duração podem ter permitido a formação intermitente de corredores de vegetação entre essas florestas”, supõe Stríkis.

Projetos

1. Paleoclimatologia e estudo da dinâmica atual em sistemas cársticos do Brasil Central: implicações para interpretações paleoclimáticas com base em registros de espeleotemas (nº 15/14327-7); Modalidade Bolsa no Brasil – Pós-doutorado; Pesquisador responsável Francisco William da Cruz Junior (USP); BeneficiárioNicolás Misailidis Stríkis; Investimento R$ 43.283,70
2. Dimensions US-BIOTA São Paulo: integrando disciplinas para a predição da biodiversidade da Floresta Atlântica no Brasil (nº 13/50297-0); Modalidade Projeto Temático; Programa Biota-FAPESP; Convênio NSF-Dimensions of Biodiversity e BIOTA; Pesquisadoras responsáveis Cristina Yumi Miyaki (USP) e Ana Carolina Carnaval (CUNY); Investimento R$ 4.951.227,16
3. Estruturação e evolução da biota amazônica e seu ambiente: uma abordagem integrativa (nº 12/50260-6); Modalidade Projeto Temático; Programa Biota-FAPESP; Convênio NSF-Dimensions of Biodiversity e BIOTA; Pesquisadores responsáveis Lúcia Garcez Lohmann (USP) e Joel Cracraft (AMNH); InvestimentoR$ 5.232.775,66

Artigos científicos

STRÍKIS, N. M. et al. South American monsoon response to iceberg discharge in the North Atlantic. PNAS. v. 115, n. 15, p. 3788-93. 10 abr. 2018.
WANG, X. et al. Wet periods in northeastern Brazil over the past 210 kyr linked to distant climate anomalies. Nature. v. 432, p. 740-3. 9 dez. 2004.
OLIVEIRA, P. E. et al. Late Pleistocene/Holocene climatic and vegetational history of the Brazilian caatinga: the fossil dunes of the middle São Francisco River. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. v. 152, n. 3, p. 319-37. Set. 1999.


Fonte: Revista Pesquisa FAPESP