terça-feira, 31 de julho de 2018

Em reportagem do Instituto Socioambiental sobre o povo Wai-Wai, a lembrança de uma das melhores experiências da minha vida



Aprendendo com os Wai-Wai

O texto abaixo, escrito pelo jornalista Roberto Almeida, foi publicado no site do Instituto Socioambiental, tradicional organização que defende culturas e comunidades indígenas no país. O jornalista acompanhou a rotina dos homens e mulheres da etnia Wai-Wai, que habitam a bacia dos rios Trombetas, Mapuera e Nhamundá.

Li com muita satisfação as ricas informações do autor sobre o povo e o lugar onde eu tive uma das mais marcantes experiências da vida.

Há cerca de 30 anos, entre 1986 e 1990, trabalhei numa empresa chamada Enge-Rio, já extinta, com forte atuação em projetos na Região Amazônica. Participei de estudos e projetos ambientais em várias partes da Amazônia e outras regiões do país. 

Num destes projetos, tive a grande sorte de participar de uma equipe de profissionais - com Mirian Regini Nuti (antropóloga), Cláudio Delorenci (arqueólogo), um topógrafo e um representante da FUNAI cujos nomes, lamentavelmente, não me recordo mais - que desenvolveu estudos socioambientais na Aldeia Mapuera, com predominância da etnia Wai-Wai (havia contingentes também de outras etnias na aldeia) e seu entorno, na Área Indígena Nhamundá-Mapuera, Pará.

Permaneci na aldeia, à beira do Rio Mapuera, um afluente do Rio Trombetas, por cerca de um mês, experiência que considero uma das mais marcantes de toda a minha carreira profissional. Convivi e aprendi muito com os Wai-Wai, esses brasileiros que na ocasião não falavam português, não conheciam uma cidade, mas sabiam tudo sobre a floresta: um sonho para qualquer engenheiro florestal como eu.

As fotos abaixo foram registradas naquela ocasião:


Axel Grael, Mirian Nuti e Cláudio Delorenci, na Aldeia Mapuera. Foto acervo Mirian Nuti.

Crianças indígenas da Aldeia Wai-Wai, Rio Mapuera (PA), preparadas para exercício de pontaria com arcos e flechas. A brincadeira consistia em acertar um disco cortado do tronco de uma bananeira. Foto do acervo Axel Grael/ENGE-RIO.

Umaná, casa comunitária da Aldeia, onde eventos culturais aconteciam. Foto acervo Axel Grael.

Vista para o alto no interior da Umaná. Neste local, bonecos de palha, representando animais eram amarrados. Durante um ritual, no início da temporada de caça, homens ad tribo dançavam e atiravam suas flechas para acertar os animais de palha. Foto acervo Axel Grael.

" Búúúú...!!! "
Meu pequeno e simpático amigo na tribo praticando a sua brincadeira predileta: me dar sustos. Escondeu-se por baixo do tronco e tentou me assustar no momento em que eu passava.  Foto acervo Axel Grael.

Durante o período que estive na aldeia Mapuera, onde desenvolvi mapeamentos florestais, estudos etnobotânicos e apoiei o trabalho de outros membros da equipe, pude acompanhar o cotidiano local e fiquei fascinado com técnica de navegação nas longas e elegantes canoas, a destreza das crianças e dos adolescentes indígenas no uso do arco e flechas, o idioma e o gestual característico. Me recordo do modelo de governança da aldeia e da forma altiva e firme com que conduziam as reuniões conosco. Também me lembro bem das divertidas brincadeiras das crianças (sempre querendo me pregar sustos), a apurada capacidade auditiva (eram capazes de identificar que uma canoa se aproximava por ouvir vozes a uma distância de várias curvas do rio) e a habilidade com que caminhavam nas trilhas cruzavam igarapés. Também não posso me esquecer da beleza da arquitetura majestosa casa comunitária de cerimônias, a chamada Umaná. 

Aproveite o relato abaixo, o interessante registro fotográfico e assista ao vídeo da matéria do Instituto Socioambiental (ISA), embarque nas canoas do Wai-Wai e viaje pelos belos rios da região e se delicie com a culinária daquela comunidade amazônica. Aliás, a massa de castanha assada é inesquecível!

Obrigado aos Wai-Wai e parabéns ao trabalho e ao inestimável legado do ISA na proteção deste legado cultural dos povos tradicionais brasileiros.

Axel Grael
Engenheiro florestal



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Tîtko: a jornada épica da castanha do povo Wai Wai


Nataniel Wai Wai à frente da canoa de tatajuba carregada com mais de uma tonelada de castanhas. A descida pelo rio Anauá, na Terra Indígena Wai Wai, é o desafio no escoamento da produção. Foto: Rogério Assis/ISA


A castanha sempre foi a estrela da cultura alimentar dos Wai Wai. Com a estruturação da cadeia produtiva, ela vem se tornando o motor da transformação de vidas e reforço para a vigilância de um território acossado por invasores

Por Roberto Almeida, jornalista do ISA
Fotos: Rogério Assis/ISA


Braseiros vivos na maloca da aldeia Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas-Mapuera, Roraima. É manhã de um dia nublado de junho que começou muito antes do sol nascer. Entre folhas de bananeira, chapas e panelas brilhantes, mulheres Wai Wai trabalhavam orgulhosas para apresentar nove fartos preparos com tîtko (lê-se tãtko), a castanha do povo Wai Wai.

Mãos fortes e cuidadosas mostraram, em poucas horas, uma impressionante versatilidade. Bastou um giro rápido pela maloca, em estações montadas com esmero, para entender que ela é muito mais que uma semente que faz bem. A castanha do povo Wai Wai é, acima de tudo, a estrela de sua cultura e de sua soberania alimentar.

Das castanhas frescas nasce a base para caldos apimentados, beijus crocantes e saborosos, doces, mingaus com leite de castanha e banana-sapo, suco e óleo de castanha.

Tem mais: o Mawkîn (lê-se mô-kã), uma paçoca torradinha de farinha de castanha com tapioca; o Paapa (lê-se Fa-fá), uma mistura de goma de tapioca e farinha de castanha preparado na folha de bananeira; e o Kapayo R̂epu (lê-se Kafaio Refú), ou Perna de Tatu, uma massa de castanha e tapioca assada direto no fogo com o suporte do caule da palmeira buriti.

No comando, as parceiras Rebeca e Lenita Wai Wai mostraram como a goma e a massa de castanha — sem sal ou açúcar — devem ser moldadas com cuidado ao caule para se transformarem em um tubo denso que, após assado, ganha um leve adocicado natural.

“Aprendi o Kapayo R̂epu com minha mãe quando era pequena”, relembra Rebeca. “A gente assa devagar, sem pressa, até ficar queimadinho por fora para dar sabor.”

No Kapayo R̂epu, na paçoca e no beiju o toque da castanha é acentuado pelo calor. No Tîtko Xukmaran, o suco de castanha, ela é toda delicadeza e energia. “O suco de caixinha dos brancos não é saudável”, afirmou Ruciene Wai Wai. “O nosso é natural, tiramos aqui da mata, é bom. Sempre uso leite de castanha para fazer suco.”









Acima, à esquerda, Rebeca prepara o Kapayo R̂epu; ao centro, a farinha de castanha e tapioca torradas vão se transformar em paçoca, ou Mawkîn; abaixo, a preparação do Paapa, com goma de tapioca e massa de castanha na folha de bananeira. Fotos: Rogério Assis/ISA


A receita é simples, mas tirar da mata, como disse Ruciene, é trabalho duro que leva meses. A safra ocorre com mais força entre maio e agosto — curiosamente, por estar acima da linha do Equador, na entressafra das demais regiões das castanheiras do Brasil. Tempo em que famílias inteiras deixam suas aldeias para morar em acampamentos, alguns às margens dos cursos d’água nas bacias dos rios Anauá e Jatapuzinho, outros na terra firme dentro da floresta, nas terras indígenas Wai Wai e Trombetas-Mapuera.

Floresta adentro, elas juntam ouriços de castanha (o fruto que contém as sementes), abrem a golpes de facão, lavam no rio, separam as boas, ensacam cerca de 50 quilos por vez e transportam toneladas — em longas canoas — cachoeiras do rio Anauá abaixo, até chegar às aldeias para lavagem, secagem e comercialização. Uma jornada épica de trabalho com a cara, a força e a perseverança dos Wai Wai.

Assista à jornada de coleta de castanha do povo Wai Wai no vídeo abaixo.







‘A castanha é o banco dos Wai Wai’

O acampamento de Geraldo Pereira dos Santos, na beira do rio Anauá, chama-se Tetéu. Para viajar da aldeia até sua base, como os Wai Wai gostam de dizer, são ao menos cinco horas pelo rio. O tempo de percurso depende da dificuldade para transpor três cachoeiras — Conceição, Lilita e São Roque — que arranham as voadeiras arrastadas pelas pedras e acentuam os riscos de graves acidentes.



Wai Wai arrastam uma voadeira sobre a cachoeira Conceição, no rio Anauá. Foto: Rogério Assis/ISA


É apenas à noite, enquanto a família descansa para o trabalho do dia seguinte, todos ansiosos pela coleta da castanha, que Geraldo traz a fala mansa da experiência. Já foi tuxaua (cacique) da aldeia Anauá, é agente indígena de saúde, viajou por toda a Amazônia, conta histórias como ninguém.

“Comprei meu primeiro motor [de popa] com a castanha. Juntei mais de 150 sacas, carreguei a canoa e desci o rio a remo para vender”, disse, orgulhoso.

Para ele, o trabalho nos castanhais significa mobilidade, saúde e uma melhor qualidade de vida. Não por acaso, eles são os bens mais valiosos para os Wai Wai de Roraima. As áreas de coleta são divididas entre as famílias e parentes do Pará, Amazonas e Guiana viajam até as bases para ajudar. É renda e alimento para o ano inteiro.
Os Wai Wai são um povo indígena de língua karib composto por mais de 2,5 mil pessoas.

A safra prevista para 2018 é de 330 toneladas de castanha. O preço da lata de 10 quilos, em acordo com a empresa Wickbold de pães, é de cerca de R$ 44 –76% acima dos R$ 25 praticados por atravessadores na região. Um avanço importante em termos de planejamento, transparência e receita final nas mãos de cada família, parte da iniciativa Origens Brasil® (saiba mais)

Estímulo extra para que, no dia seguinte, duas canoas de tronco de tatajuba, cada uma resultado de trabalho de mais de mês, cada uma com cerca de 14 metros de comprimento, encostassem em frente à base Japim, do tuxaua Tarcizio Yakima Wai Wai, para serem carregadas rumo às cachoeiras do rio Anauá.

“Hoje, nós chamamos os castanhais de nossa poupança. Eles nos garantem dinheiro como a poupança para os brancos. Porque a castanha é a nossa fonte de renda”, disse Tarcizio, pronto para começar o trabalho.


Geraldo Pereira dos Santos vê a castanha como motor para melhora da qualidade de vida. Foto: Rogério Assis/ISA


Do castanhal à aldeia

Rio estreito e sinuoso, o Anauá é cheio de armadilhas. Somente quando o nível da água cresce com as fortes chuvas da época e atinge determinada altura, marcada pelos Wai Wai em pedrais, é que fica claro que é hora de descer com a produção. O rio sobe rápido, e rapidamente a sobriedade dos Wai Wai se transforma em excitação pela descida iminente.

A saída para os castanhais, pela manhã, é marcada por um banquete da caça abundante na terra indígena. Logo cedo, pacas, queixadas, catitus e macacos sustentam o trabalho duro dos castanheiros, assim como a farinha de mandioca e a pimenta. As caminhadas são longas, de mais de dois quilômetros, com subidas, baixadas e igarapés para cruzar.

Embaixo das castanheiras já limpas, uma montanha de ouriços começa a ser reunida pelos Wai Wai, que passam ao trabalho de facão para retirar as castanhas, limpá-las e ensacá-las. Com 50 kg de castanhas nas costas, o esforço da caminhada é monumental.







Trabalho pesado nos castanhais: os Wai Wai carregam sacos de 50kg por quilômetros dentro da floresta. Fotos: Rogério Assis/ISA


De volta à base, os sacos são reabertos para lavagem e nova separação das castanhas boas das chochas. Em seguida, elas são reensacadas para, enfim, começar o embarque nas canoas.

O procedimento é a consolidação das boas práticas no manejo da castanha, praticadas há uma década pelos Wai Wai. “Já aprendemos boas práticas para vender uma castanha de qualidade. Temos de ensinar nossos filhos a continuar a vender uma castanha limpa”, afirmou Fernandinho Oliveira Wai Wai, presidente da Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW).




Filhos e filhas, que recebem uma licença de 15 dias das escolas, de fato participam do trabalho e aprendem tudo sobre o manejo. “Quando eles voltam do trabalho da castanha para a escola, contam o quanto aprenderam com os pais sobre o território. Falam sobre as plantas que conheceram, os animais que viram e comeram, as tarefas no castanhal”, contou o professor indígena Renato Wai Wai, da aldeia Jatapuzinho. “Voltam orgulhosos.”

O dia escorre e, aos poucos, os sacos são empilhados um a um nas canoas de tatajuba. A carga completa tem nada menos que duas toneladas.

À frente da canoa principal, Nataniel Wai Wai é proeiro e guia as embarcações pelos caminhos traiçoeiros do rio Anauá. Nas corredeiras, o motor de 15hp dá lugar ao trabalho frenético com os remos para manter o prumo até a parada final: a cachoeira Conceição, barreira quase sempre intransponível para as canoas.






Embarque e trajeto das canoas de tatajuba pelo rio Anauá, na Terra Indígena Wai Wai. Fotos: Rogério Assis/ISA


Ali, as sacas são desembarcadas e estocadas para uma nova perna do escoamento até as aldeias, onde é feita outra lavagem, separação e secagem das castanhas. Último passo antes do ensacamento final e da comercialização.

Pressão no limite

Quando vistas do espaço, as Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas-Mapuera, que abrigam as aldeias Wai Wai em Roraima, são divididas por uma zona de alta pressão de desmatamento que margeia a BR-210, rodovia com 410 quilômetros que liga a Missão Catrimani, oeste de Roraima, ao rio Jatapu, no sudeste do Estado. O trecho de estrada é símbolo do projeto militar de ocupação da calha norte e recebeu projetos de assentamento e colonização do governo federal no final da década de 1970.

A trinca das jovens cidades de São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Caroebe formam um corredor na BR-210 e são a espinha dorsal do desenvolvimento predatório, com a abertura de estradas vicinais nos limites da Terra Indígena Wai Wai. O roubo de castanha e madeira são constantes. Resultado: os Wai Wai das aldeias Xaary e Anauá transferiram famílias para os limites da Terra Indígena para inibir os invasores.

Em trajeto pelas vicinais próximas à aldeia Xaary, por exemplo, a área desmatada tem dado lugar a fazendas, com a expansão de pastos e rebanhos. E as tensões têm aumentado significativamente nos últimos meses, dificultando até mesmo o escoamento da safra da castanha. “Se não cuidarmos, daqui a 10 anos não vai haver mais floresta”, prevê Valdeci Noro Wai Wai, liderança da aldeia Xaary.




Pasto e gado dominam a paisagem nas vicinais próximas à Terra Indígena Wai Wai. Abaixo, à esquerda, um carreiro de extração de madeira. À direita, uma castanheira solitária entre bananais. Fotos: Rogério Assis/ISA


Na passagem da reportagem do ISA pela região, um carro de som anunciava que a Primeira Festa do Trabalhador Rural em Caroebe teria sorteio de brindes, como motosserras. “Eles derrubam muito, acabam com castanhais, invadem nossas terras. Eu sou contra isso. E vocês, o que pensam?”, provoca o tuxaua Tarcizio Yakima Wai Wai.

O futuro é incerto. A continuidade de obras na BR-210 para além do rio Jatapu, em direção ao Amapá, está em pauta e pode acarretar uma nova frente de expansão agropecuária nos limites da Terra Indígena Trombetas-Mapuera.


Varanda na aldeia Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas-Mapuera, forrada de castanhas para secagem antes da comercialização. Foto: Rogério Assis/ISA


Por outro lado, há motivos para celebração. O reforço das boas práticas no manejo da castanha, e a parceria para comercialização justa e transparente com empresas, favorece o planejamento da safra e a vigilância dos territórios contra invasores. “Nós temos que continuar transmitindo este conhecimento [do manejo da castanha] para futuras gerações”, disse Vanilda Wai Wai da Costa, da aldeia Jatapuzinho. “E, assim, preservar a castanha e a floresta.”


Esta reportagem foi realizada com o apoio da União Europeia.


Fonte: Instituto Socioambiental



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CURSO GRATUITO DE ENERGIA SOLAR NO PROJETO GRAEL





Estão abertas as inscrições para o Projeto Vento Solar que acontece no segundo semestre de 2018. 

O curso é realizado pelo Projeto Grael em parceria com a UFF por meio de um programa de extensão. 

As aulas começam no próximo dia 16 de agosto e as inscrições podem ser realizadas através do link:https://bit.ly/2n0zqsA











PARQUES EM NITERÓI: Atlas Ambiental revela retrato de unidades de conservação de Niterói







A foto do Forte do Pico feita por Gilson Freitas é uma das que integram a publicação - Gilson Freitas / Divulgação


Livro sobre áreas de conservação será lançado em agosto


por Leonardo Sodré

NITERÓI — Niterói será retratada de um ângulo diferente: será lançado dia 9 de agosto, no Parque da Cidade, o Atlas Ambiental de Niterói. Com cem páginas e elaborado pela Secretaria municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, o livro documentará características de unidades de conservação e áreas ambientalmente protegidas, por leis ou por zoneamento, que correspondem a 56% do território do município.

Nessa primeira edição, serão publicados mil exemplares. O atlas será distribuído nas 49 escolas de ensino fundamental, em bibliotecas e outras instituições, onde servirá como material didático. O livro, elaborado com o apoio de pesquisadores da UFF, engenheiros florestais, biólogos, geógrafos e fiscais da Secretaria do Meio Ambiente, possibilitará, segundo a subsecretária, Amanda Jevaux, estudos específicos para cada região.




— O objetivo principal é despertar nas pessoas a vontade de estudar espécies nativas e ampliar o conhecimento sobre áreas de preservação. Outra meta é catalogar lugares que muita gente desconhece e apresentar às pessoas áreas de ecossistemas únicos como o Bosque de Myrtaceas, na Ilha do Pontal — explica Amanda.

A produção do Atlas também envolveu moradores, que fotografaram unidades de conservação. Em concurso promovido na web, a secretaria recebeu mais de 700 fotos. Destas, 74 foram escolhidas. Complementaram o trabalho, três fotógrafos profissionais que se ofereceram como voluntários: Gabriela Gomes Simões, Gilson Freitas e Rodrigo Campanário.

As imagens de drone foram feitas pela equipe da Defesa Civil de Niterói.


Fonte: O Globo Niterói







RIOS AÉREOS: Como o desmatamento está afetando o Ciclo Hídrico Global



Moisture produced by the world's forests generates rainfall thousands of miles away. Richard Whitcombe / Shutterstock


Rivers in the Sky: How Deforestation Is Affecting Global Water Cycles

A growing body of evidence indicates that the continuing destruction of tropical forests is disrupting the movement of water in the atmosphere, causing major shifts in precipitation that could lead to drought in key agricultural areas in China, India, and the U.S. Midwest.

By Fred Pearce

Every tree in the forest is a fountain, sucking water out of the ground through its roots and releasing water vapor into the atmosphere through pores in its foliage. In their billions, they create giant rivers of water in the air – rivers that form clouds and create rainfall hundreds or even thousands of miles away.

But as we shave the planet of trees, we risk drying up these aerial rivers and the lands that depend on them for rain. A growing body of research suggests that this hitherto neglected impact of deforestation could in many continental interiors dwarf the impacts of global climate change. It could dry up the Nile, hobble the Asian monsoon, and desiccate fields from Argentina to the Midwestern United States.

Until recently, the nuggets of data delivering such warnings were fragmented and often relegated to minor scientific journals. But the growing concerns came to the fore in reports presented at two forest forums held by the United Nations and the Norwegian government in recent weeks.

In Norway, Michael Wolosin of the U.S. think tank Forest Climate Analytics and Nancy Harris of the World Resources Institute published a study that concluded that “tropical forest loss is having a larger impact on the climate than has been commonly understood.” They warned that large-scale deforestation in any of the three major tropical forest zones of the world – Africa’s Congo basin, southeast Asia, and especially the Amazon – could disrupt the water cycle sufficiently to “pose a substantial risk to agriculture in key breadbaskets halfway round the world in parts of the U.S., India, and China.”

"The water that a single tree transpires daily has a cooling effect equivalent to two domestic air conditioners for a day".

And in a background paper for the UN event, David Ellison of the Swedish University of Agricultural Sciences in Uppsala, reported on “increasingly sophisticated literature” assessing “the potential impact of forest cover on water availability across the broad expanse of continental, terrestrial surface.”

It is well known that carbon dioxide emissions from deforestation add 10 percent or so to global warming by reducing the quantity of CO2 that the world’s forests pull from the atmosphere. But the authors of both papers say this understanding about global impacts of deforestation has tended to eclipse findings about other “non-carbon” climatic impacts that may play out intensively at local and regional scales.

The impact of deforestation on rainfall is one of the most important non-carbon effects. But there are others. For instance, healthy forests release a range of volatile organic compounds that “have an overall cooling effect on our climate,” mostly by blocking incoming solar energy, says Dominick Spracklen of Leeds University in England. Removing forests eliminates this cooling effect and adds to warming, he and an international team concluded in a study published earlier this year.

Meanwhile, lost forests are usually replaced by agriculture, which produces its own emissions. Add in these impacts and the real contribution of deforestation to global climate warming since 1850 is as much as 40 percent, conclude Wolosin and Harris. At that rate, tropical deforestation could add 1.5 degrees Celsius (2.7°Fahrenheit) to global temperatures by 2100 – even if we shut down fossil fuel emissions tomorrow, calculates Natalie Mahowald of Cornell University.

On Indonesia's island of Sumatra, which has one of the worst deforestation rates in the world, temperatures in logged areas have increased an average 1.05 degrees Celsius since 2000. Aulia Erlangga / CIFOR


But there are local effects, too. Forests moderate local climate by keeping their local environments cool. They do this partly by shading the land, but also by releasing moisture from their leaves. This process, called transpiration, requires energy, which is extracted from the surrounding air, thus cooling it. A single tree can transpire hundreds of liters of water in a day. Each hundred liters has a cooling effect equivalent to two domestic air conditioners for a day, calculates Ellison.

Monitoring of rapidly deforesting regions of the tropics has recently shown the effect of losing this arboreal air conditioning. Take the Indonesian island of Sumatra, which has been losing forests to palm oil cultivation faster than almost anywhere else on the planet. A study last year found that since 2000, surface temperatures there have on average increased by 1.05 degrees Celsius (1.8°F), compared with 0.45 degrees in forested parts. Clifton Sabajo at the University of Gottingen, Germany, found temperature differences between forest and clear-cut land of up to 10 degrees Celsius (18°F) in parts of Sumatra.

Meanwhile in the Amazon, Michael Coe of the Woods Hole Research Center recently reported a difference of 3 degrees Celsius (5.4°F) between the cool of the forested Xingu indigenous park and surrounding croplands and pastures.

“The forests cause the rainfall, and if they weren’t there the interior of these continental areas would be deserts,” says one expert.

But heat is only the start. There is drought, too — not just in and around former forest lands, but far away. And a host of new studies are forcing a reassessment of exactly why it rains where it does.

We are used to thinking of rainfall as the end result of water evaporating from the oceans. In coastal regions that is overwhelmingly the case. But it turns out that the interiors of continents often get most of their precipitation from water that has been rained out and recycled back into the air several times in a precipitation cascade following the winds. The further inland, the more dominant this recycling becomes.

Some of the recycling is straightforward evaporation from lakes, rivers, or wet soil. But much of it is fast-tracked by plants, and especially trees. Tree roots tap moisture from deep in the soil. This circulation system is driven by releases of moisture into the air through their leaves via transpiration.

By one estimate, the planet’s land vegetation recycles 48 cubic miles of water each day. A tenth of that is released by the Amazon rainforest alone – rather more than the daily discharge of the Amazon River.

Trees pull water from the ground and release water vapor through their leaves, generating atmospheric rivers of moisture. World Resources Institute


Transpiration is essential to generating new rainfall downwind. And the heart of this process is in the surviving tropical rainforests, where transpiration is most intense.

“Traditionally, people have said areas like the Congo and the Amazon have high rainfall because they are located in parts of the world that experience high precipitation,” says Doug Sheil of the Norwegian University of Life Sciences, near Oslo. “But the forests cause the rainfall, and if they weren’t there the interior of these continental areas would be deserts.”

In a study of tropical areas downwind of deforestation, Spracklen found that “air that has passed over extensive vegetation in the preceding few days produces at least twice as much rain as air that has passed over little vegetation.” He predicts that forest loss is set to reduce dry-season rainfall across the Amazon basin by 21 percent by 2050.

Arie Staal of Wageningen University in the Netherlands reported earlier this year that one-third of the rain falling in the Amazon basin comes from moisture generated within the basin, mostly by transpiring trees. The dependence was greatest downwind in the west of the basin, farther from the Atlantic Ocean. With a fifth of the Amazon forests gone, the risks of drought grow for such regions. Coe reported less rainfall and a longer dry season in Rondônia, an Amazon province on Brazil’s western border with Bolivia.
"The Amazon provides moisture as far as the Midwestern U.S., which gets 50 percent of its rainfall from water evaporating from land".

Daniel Ruiz of Columbia University says rainfall in the Colombian Andes is becoming more seasonal, with reduced humidity and fewer clouds. Some researchers believe the desiccation could stretch south to Argentina and north across the Caribbean to North America. The Amazon is thought to provide moisture as far as the Midwest, which gets 50 percent of its rainfall from water evaporating from the land.

Attributing changes in rainfall to altered land use is difficult. But a growing body of research asserts that the fingerprints of deforestation are increasingly visible. In Borneo, an analysis of nine watersheds found that those with the greatest forest loss have seen a reduction in rainfall of around 15 percent. In India, Supantha Paul of the Indian Institute of Technology in Mumbai found that patterns of declining rainfall during the Indian monsoon matched changing forest cover.

Patrick Keys of the Stockholm Resilience Center in Sweden says the downwind effect of deforestation is not limited to the tropics. “China receives a very large fraction of its rainfall from water that is recycled from evaporation on land,” he told Yale Environment 360. It “has very high potential for changes to its precipitation driven by upwind land-use change” as far away as Eastern Europe and the jungles of Southeast Asia.

This matters for farmers, but also for city dwellers. In a study of 29 megacities around the world, Keys found that 19 relied on evaporation and transpiration from land He singled out as the most vulnerable Karachi in Pakistan and China’s Shanghai, Wuhan, and Chongqing. Other cities such as Delhi and Kolkata in India, Istanbul, and Moscow were not far behind. 


Forest mist in Pico da Neblina National Park, in the northern Brazilian state of Amazonas.  Peter van der Sleen / University of Leeds


In the Americas, he warned that the Brazilian megacities of Rio de Janeiro and Sao Paulo and Argentina’s Buenos Aires could also be vulnerable because much of their rainfall originates in the Mato Grosso region, where forests and grassland are rapidly being replaced by corn and soy fields. And what of Africa, the region of the world whose people are most dependent on rain-fed agriculture? In Africa, drought can mean death. But Keys estimates that up to 40 percent of sub-Saharan rainfall is created by moisture that has been recycled by vegetation. In the arid Sahel region, the figure may rise to 90 percent, says Louis Verchot of the Center for International Forestry Research (CIFOR).

Recent research has highlighted the threat posed by deforestation to the Nile River, the world’s longest river, and the 300 million people who depend on it. Most of the Nile’s flow begins in the Ethiopian highlands, a small rain-drenched part of the river’s catchment. But recent research suggests that much of the rainfall in the Ethiopian highlands comes courtesy of moisture recycled by the forests of West Africa and, especially, the jungles of the Congo basin in the continent’s heart. These rainforests “may provide as much as 30 to 40 percent of the total annual rainfall in the Ethiopian highlands,” says Ellison.

Two questions arise. Has deforestation in West Africa been responsible for the reduced Nile flows out of Ethiopia seen in the final quarter of the 20th century, as suggested by Ellison’s colleague, Solomon Gebrehiwot, a researcher at Justus-Liebig University, Giessen in Germany. And could future loss of the Congo jungle empty the river further? Sheil says Gebrehiwot’s data suggest a further 25 percent decline in Nile flow is a realistic estimate.

Both Keys and Ellison see an urgent need for climate scientists and diplomats alike to begin addressing these issues, so that pressure points can be identified and policies adopted to protect rainfall in critical places. We have treaties governing river flows in most rivers that cross international borders, they point out. But the rivers of moisture in the atmosphere are rarely measured and never governed.

Egypt and Ethiopia have spent years working toward an agreement on managing water flows in the Nile. But a deal on sharing the water will be pointless if rains falter in the Ethiopian highlands because of deforestation in the distant Congo basin.

In the current human-dominated era of the Anthropocene, says Keys, “processes such as moisture recycling… can, and ought, to be governed.”

Fonte: e360 Yale










segunda-feira, 30 de julho de 2018

Documentário do Globo Ecologia, de 1992, mostra experiência de reflorestamento do IEF-RJ





Um grande amigo, o Paulo Sérgio Paiva, jornalista e educador ambiental, morador de Ilhéus - BA, me encaminhou um grande achado. O vídeo de uma matéria do Globo Ecologia, de 1992, quando eu presidia (1991-1994) a Fundação Instituto Estadual de Florestas - IEF-RJ. Paulo Sérgio trabalhava lá comigo.

O IEF-RJ era o órgão do governo estadual responsável pela gestão dos parques e outras unidades de conservação estaduais, pela administração de hirtos florestais, pela fiscalização do desmatamento e proteção da biodiversidade, além de promover o reflorestamento. O IEF-RJ foi extinto e suas atividades foram incorporadas ao INEA.

Nesta última atribuição, o IEF-RJ promoveu várias frentes de reflorestamento com recursos próprios do IEF-RJ, ou com recursos do Programa Reconstrução-Rio, negociados junto ao Banco Mundial e Caixa Econômica Federal.

Reflorestamentos comunitários: o vídeo do Programa Globo Ecologia, aqui apresentado, abrange as iniciativas que eram desenvolvidas pelo IEF-RJ, nos idos de 1992, na época da realização da Conferência Rio-92. O reflorestamento tinha ênfase mais comunitária e educacional, contava com forte participação dos moradores das áreas beneficiadas e tinha bons resultados. Os plantios eram realizados com a ajuda dos moradores e utilizava mudas produzidas pelo próprio IEF-RJ e equipamentos e insumos fornecidos pelo órgãos.

Reconstrução-Rio: O Reconstrução-Rio foi uma iniciativa do Governo do Estado para responder às trágicas chuvas que janeiro de 1988. A região metropolitana do Rio de Janeiro e outras regiões do estado foram atingidas pelas chuvas, consideradas uma das mais fortes já registradas do Rio. Tradicionais no verão, aquelas chuvas apresentaram elevada precipitação pluviométrica, chovendo em algumas áreas, em 24 horas, o equivalente a três meses de chuvas normais. Tal fato, aliado às características físicas e socioeconômicas da região e a falta de planejamento e investimentos de porte em infraestrutura básica, deixou um terrível balanço com cerca de 280 mortos, 800 feridos e 18.000 desabrigados.

Nesse contexto emergencial foi concebido e aprovado, em um tempo recorde, o Projeto Reconstrução Rio, com um custo aproximado de US$ 300 milhões. Para gerir o Reconstrução-Rio, foi criado o Grupo Executivo de Reconstrução e Obras de Emergência - GEROE.

O Reflorestamento de Encostas era um componente sob a responsabilidade do IEF-RJ. Inicialmente, foi previsto o reflorestamento de 1.200 hectares em 30 encostas, mas em 1993, este componente foi reduzido para 900 hectares no Rio de Janeiro e Petrópolis. 

O modelo de implantação do reflorestamento era por meio de empreitada, através da contratação de empresas especializadas. Infelizmente, devido à falta de previsão de manutenção dos plantios no Reconstrução-Rio e também a inexistência de recursos orçamentários próprios fez com que a maior parte do plantio se perdesse nos anos seguintes para o fogo e para a estiagem.

Ficaram as experiências dos acertos e fracassos para inspirar as futuras iniciativas.

Axel Grael









DESASTRE REDUC 2000: Onda Azul recupera manguezais afetados por um dos maiores desastres ambientais da história do país



COMENTÁRIO:

Na ocasião do desastre ambiental na Baía de Guanabara, ocorrido após o vazamento de 1,3 milhões de litros de óleo da REDUC, em janeiro de 2000, eu presidia pela primeira vez (a segunda foi entre 2007 e 2008) a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), órgão ambiental do estado do Rio de Janeiro, hoje substituído pelo INEA.

O desastre ambiental foi um dos maiores da história do país e o óleo se espalhou por quase toda a superfície da Baía de Guanabara, causando mais danos à região norte da Baía, onde localizam-se as principais áreas de manguezais. Também foram severamente danificadas as ilhas da Baía, como Paquetá, Ilha do Governador e outras ilhas e pedras. O litoral de São Gonçalo também foi muito afetado.

Foram dias sem dormir, acompanhando os trabalhos das equipes de limpeza e de resgate de animais. Foram longas horas de sobrevoo de helicóptero para avaliar os danos e estabelecer estratégias de resposta ao desastre.

Muitos foram os aprendizados daquela ocasião. Verificou-se que o Plano de Emergência da Baía de Guanabara existente na época era insuficiente para atender a um acidente daquele porte e era omisso em vários aspectos do problema. Apesar dos anos já decorridos, listo aqui algumas lições aprendidas no episódio:

  • PLANO DE EMERGÊNCIA: o Plano de Emergência então vigente não estava dimensionado para um acidente daquela proporção e previa o atendimento a pescadores e outras comunidades afetadas, não mencionava a necessidade de socorro à fauna e como aproveitar a ajuda de voluntários, que se ofereceram às centenas para ajudar. O acidente foi um "divisor de águas" e muitas coisas mudaram após o desastre. Poucos dias depois do desastre, em meio à repercussão internacional que o caso alcançou, foi promulgada a Lei 9.966, de 28 de abril de 2000, "Que dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências". O Governo Estadual, por iniciativa da FEEMA, encaminhou mensagem para a Assembleia Legislativa que resultou na Lei Nº 3467, de 14 de setembro de 2000, que "Dispõe sobre as sanções administrativas derivadas de condutas lesivas ao meio ambiente no Estado do Rio de Janeiro" e que regulamentou a Lei Federal de Crimes Ambientais para o território fluminense. As normas e protocolos internos da Petrobrás mudaram e a Baía de Guanabara passou a contar com planejamento mais adequado para situações de contingências ambientais.
  • OPERAÇÃO DE RECOLHIMENTO DO ÓLEO: houve muito improviso na ocasião. As barreiras existentes não eram as ideais e perdiam muito do óleo recolhido, principalmente, quando os operadores das embarcações operavam com a velocidade acima do recomendado ou quando as condições de vento eram adversas. Por determinação da FEEMA, a Petrobras importou emergencialmente uma grande quantidade de barreiras e equipamentos absorventes de óleo.
  • GERENCIAMENTO DAS OPERAÇÕES: outro aprendizado foi a forma de gerenciamento. As equipes de superfície, atuando nas embarcações, tinham dificuldades de hierarquizar as manchas de óleo para atuar. Sem o auxílio dos observadores em helicópteros, era impossível definir as manchas mais densas e maiores para atuar. Hoje, a tecnologia permite o uso de drones e vants, além de helicópteros, mas na época a opção não estava disponível.
  • OBRIGAÇÕES PÓS ACIDENTE: na época, houve a necessidade de entendimentos institucionais entre os órgãos ambientais federal (Ibama), estadual (Feema) e mesmo dos municípios, quanto a aplicação de multas e demais penalidades. Foi definido que o órgão federal deveria aplicar a multa pois a Lei de Crimes Ambientais, aprovada pelo Congresso Nacional cerca de dois antes, oferecia as melhores ferramentas punitivas para os danos ambientais. A multa máxima, conforme prevista na Lei, foi aplicada pela primeira vez. O valor da multa foi repassada pelo Ibama para as demais esferas governamentais para que os recursos fossem aplicados no fortalecimento dos órgãos ambientais.   
  • RECUPERAÇÃO DOS DANOS: A obrigação de recuperação dos danos é uma responsabilidade do responsável pela poluição, independente de outras obrigações como multas, compensações ambientais e indenizações. Uma deficiência que verificou-se foi na gestão das medidas reparadoras de médio e longo prazo por parte da Petrobras. Como a legislação e as práticas tradicionais dos órgãos ambientais não estão voltadas para estas atividades verificou-se a ausência de um gerenciamento mais próximo, o que levou que muitas destas ações acabassem judicializadas.
  • COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS E INDENIZAÇÕES: as compensações ambientais foram cobradas principalmente pelo governo estadual, mas também por municípios. Mas, como a matéria abaixo aborda, as indenizações de pescadores ainda é um conflito que persiste até hoje.
  • SEGURO AMBIENTAL: na época do desastre, uma reflexão que fizemos era o mecanismo financeiro para permitir as ações de resposta ao desastre. No caso, o poluidor foi a Petrobras, mas o acidente poderia ter ocorrido com outras empresas, também com elevado potencial de risco ambiental mas menos capacidade financeira de resposta. Como teriam sido, neste caso, as medidas mitigatórias e reparadoras se o agente poluidor fosse outra empresa que não a maior do país?

Momentos de crise como aquele são também oportunidades. Mas, há que se manter "a pegada" e garantir que as políticas públicas preventivas e de resposta se aperfeiçoe permanentemente e, que no futuro, as medidas reparatórias como a restauração e proteção dos manguezais que só agora mostra resultados, como a que a Onda Azul nos apresenta, ocorra com mais celeridade no futuro. Esta responsabilidade precisa ser melhor regulamentada para o futuro. Nossos mecanismos ainda são frágeis, como o recente episódio da destruição do Rio Doce deixa claro.

Axel Grael
Presidente da FEEMA (1999-2000 e 2007-2008)



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Manguezal atingido por tragédia ambiental é recuperado e vira parque


Projeto Onda Azul recupera manguezal no fundo da baia de Guanabara - Custódio Coimbra / Agência O Globo


O local está repleto de caranguejos e 107 espécies de aves

por Rafael Galdo e Elis Bartonelli

RIO - Às margens da Baía de Guanabara, numa área onde havia total devastação — a ponto de ambientalistas ficarem céticos em relação a uma possível recuperação —, hoje cresce um manguezal repleto de caranguejos e 107 espécies de aves. O exemplo de regeneração fica no distrito de Praia de Mauá, em Magé, uma das regiões mais afetadas pelo vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo de um duto da Petrobras, em 2000. Desde então, o lugar vem sendo cuidado pelo Projeto Mangue Vivo, do Instituto Ondazul. Com a criação do Parque Natural Municipal Barão de Mauá, o objetivo agora é inseri-lo na rota do turismo socioambiental do estado. Significaria um passo para uma longa espera pela redenção do lugar, um dos mais pobres do entorno da Baía.

Em 18 anos de várias dificuldades, 180 mil mudas foram plantadas em 80 hectares recuperados, de um total de 116 hectares (o equivalente ao mesmo número de campos de futebol). Além de terminar de cobrir de verde esse espaço, a atual etapa prevê a construção de uma sede para o parque e a implantação de uma torre de observação, assim como um quilômetro de passarelas para a visitação, diz André Esteves, secretário-executivo do Ondazul:

— Precisamos desconstituir a ideia de que o mangue é apenas lodo.

‘Precisamos desconstituir a ideia de que o mangue é apenas lodo’ - André Esteves. Secretário-executivo do Ondazul.


Esteves explica que os recursos que financiam o parque vêm de uma compensação ambiental de outro derramamento de petróleo, da Chevron, liberado por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta gerenciado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), com apoio da prefeitura local:

— Mas já enfrentamos enormes dificuldades. No início, conseguimos recursos da Petrobras por meio do Ibama. Mas, quando adquirimos a técnica para o reflorestamento, as verbas acabaram.


Ave coberta de óleo após o desastre ambiental de janeiro de 2000: área recuperada - Domingos Peixoto - 19-01-2000


Antes mesmo do desastre, no entanto, a área já era degradada. O ambientalista Alfredo Sirkis, idealizador do projeto, conta que as correntes marítimas empurram o lixo flutuante para esse fundo da Baía. E uma praga conhecida como broca quase dizimou o restante de vida que existia. O vazamento parecia decretar a morte definitiva do manguezal. Em 2000, imagens da mancha no mar e de aves agonizando correram o mundo. Naquele cenário, pescadores e catadores de caranguejo que tinham perdido sua fonte de renda foram arregimentados para trabalhar na recuperação.

Não havia mais uma única árvore, num descampado de terra rachada quando a maré baixava. Durante um ano, o trabalho foi basicamente a retirada de camadas de dejetos acumulados. Aos poucos, o lugar se tornou uma espécie de laboratório ao ar livre para os ambientalistas e a mão de obra local, que aprenderam a devolver o fôlego a uma área tão arrasada.

— Essa experiência mostrou o potencial de projetos socioambientais para, de fato, injetar um astral diferente numa comunidade como esta, pobre e afetada pela criminalidade — comenta Sirkis. — As ameaças, no entanto, continuam. Temos uma cerca para segurar parte do lixo flutuante. Mas, na maré alta, muitos resíduos são levados para o mangue.

Nos trechos mais próximos da Baía, aparecem tubos de TV, embalagens e centenas de sandálias de plástico. Mas, por todo lado, também há mudas de mangue brotando naturalmente. É cerca de 1,5 quilômetro verde à beira da Guanabara. Motivo de orgulho para pessoas como Adeimantus Carlos da Silva, pescador na época da tragédia que, hoje, é coordenador de campo do parque. Ele se transformou num expert na recuperação de manguezais.

‘Essa experiência mostrou o potencial de projetos socioambientais para, de fato, injetar um astral diferente na comunidade’. - Alfredo Sirkis, ambientalista, idealizador do projeto


DEZOITO ANOS APÓS DESASTRE, MAIORIA DAS INDENIZAÇÕES PARA PESCADORES NÃO FOI PAGA

O manguezal conseguiu progredir sobre a área destruída pelo vazamento de óleo, mas centenas de pescadores que tiveram suas atividades comprometidas pelo acidente em 2000 ainda aguardam para receber indenização da Petrobras.

Diretor financeiro da Federação de Pescadores do Estado do Rio (Feperj), Gilberto Alves explica que 18 mil deles entraram com um processo contra a empresa. Desse total, diz ele, 12.180 tinham o registro de atividade pesqueira, e os demais exerciam a atividade, mas não possuíam o documento. Dezoito anos depois, apenas 128 trabalhadores foram ressarcidos.

— Nós, pescadores, tínhamos ganhado o processo. Receberíamos R$ 754 por mês, durante dez anos. Mas a Petrobras entrou com recursos e, até hoje, não pagou a ninguém. Só quem recebeu foram 128 pescadores que formaram dois grupos por fora da ação coletiva. É uma covardia da Justiça isso — afirma Gilberto.

A Petrobras diz que, no total, as indenizações somam aproximadamente R$ 90 milhões. Mas a empresa dá outra versão para justificar o fato de a maioria dos trabalhadores ainda não ter recebido a compensação: diz que a demora é culpa da Feperj.


Projeto Onda Azul recupera manguezal no fundo da Baía de Guanabara - Custódio Coimbra / Agência O Globo


RECURSO EM ANDAMENTO

Em nota, a Petrobras informou que “a federação não aceitou os critérios para pagamento fixados pelo Tribunal de Justiça do Rio e recorreu da decisão”. “O processo continua pendente por recursos apresentados exclusivamente pela Feperj”, diz o texto. Segundo a Petrobras, pescadores podem cobrar os valores individualmente. E, caso se esgote o prazo legal sem que essa cobrança seja feita pelos pescadores, a Feperj poderá executar a decisão coletivamente.

Já as multas pelo acidente, de aproximadamente R$ 35 milhões, foram quitadas pela Petrobras junto ao Ibama e, segundo o ambientalista e ex-deputado Alfredo Sirkis, ajudaram a financiar projetos relacionados à coleta e à destinação do lixo na região. Além disso, a empresa investiu R$ 250 milhões em 37 projetos, seguindo o Termo de Compromisso para Ajuste Ambiental.


Fonte: O Globo