‘Alcantarea farneyi’: bromélia de flor amarela tem grande risco de extinção Divulgação/Jardim Botânico |
‘Livro Vermelho’ criado pelo Jardim Botânico será usado para orientar conservação da flora
Renato Grandelle
RIO - Pau-brasil, rabo-de-galo e palmito-jussara são plantas bem diferentes com um problema comum. Figuram entre as espécies da flora mais ameaçadas do país, segundo um levantamento que será divulgado na próxima terça-feira pelo Jardim Botânico. A instituição lançará o “Livro Vermelho da Flora do Brasil”, onde avalia 4.617 espécies da flora nacional, previamente consideradas vulneráveis. Quase metade (2.118, ou 45,9%) corre risco significativo de extinção.
Esta é a primeira etapa de um estudo que pretende analisar, até 2020, todas as 44.711 espécies da flora brasileira — 52% seriam exclusivas do Brasil. O país concentra de 11 a 14% da diversidade de plantas da Terra, campeão mundial de biodiversidade vegetal. Essa é uma estimativa conservadora, pois estima-se que o país tenha até 75 mil espécies.
— Nossa lista da flora é atualizada praticamente todos os dias. Encontramos novas espécies até em regiões muito estudadas, como o Rio — destaca Gustavo Martinelli, coordenador do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora) do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico.
As espécies descritas na primeira edição do “Livro Vermelho” foram selecionadas por terem figurado anteriormente em listas de plantas ameaçadas de extinção.
O ranking de biomas com a flora em risco tem à frente Mata Atlântica e Cerrado, duas das 34 áreas do mundo com maior diversidade de espécies com alto risco de extinção.
— Os riscos variam de acordo com a região — ressalta Martinelli. — Na região da Mata Atlântica, os hábitats foram destruídos com o crescimento urbano. Menos de 12% de sua cobertura original sobrevivem até hoje. O Cerrado, por sua vez, foi degradado com o plantio da soja.
A Caatinga, os Pampas e a Amazônia também foram analisados.
— A área desmatada da Amazônia é restrita à fronteira agrícola, ou seja, às bordas da floresta no Mato Grosso e no Pará — lembra Carlos Alberto Mattos Scaramuzza, diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. — Há uma grande área em que os pesquisadores ainda não chegaram e, por isso, não conhecemos diversas espécies.
As espécies de plantas amazônicas mais ameaçadas são as alvo da exploração madeireira, como o mogno e o pau-rosa. Mas a expansão da área desmatada pela soja e pela mineração pode aumentar o risco à flora.
De acordo com Martinelli, o “Livro Vermelho” vai pautar novas políticas de preservação das plantas.
— A criação de novas unidades de conservação pode ser uma boa medida. Foi, sem dúvida, responsável pela preservação da flora amazônica — lembra. — Também precisamos investir em corredores verdes, ou seja, na integração de ecossistemas separados. Desta forma, garantimos a variabilidade genética de espécies isoladas. Seria uma medida eficaz especialmente na Mata Atlântica.
Diante de tantas espécies ameaçadas de extinção, Scaramuzza aposta em planos de proteção regionais, em vez de criar um para cada espécie.
— Se fizermos um projeto para cada planta, precisaríamos de milhares de documentos — explica. — Vamos agrupar os municípios onde existe uma espécie ameaçada e instituir em todos eles um mesmo projeto.
A análise de outras espécies de plantas, porém, pode esbarrar na falta de pesquisadores. Apenas 24 pessoas no Jardim Botânico são responsáveis por analisar mais de 6 milhões de registros, entre amostras geográficas e mudanças na nomenclatura de espécies.
— É difícil analisar um país tão grande — admite Martinelli. — Agora, além de estudar outro grupo das 44 mil espécies de plantas, avaliaremos projetos para aquelas que já descrevemos, começando pelo Cerrado.
Fonte: O Globo