sábado, 10 de setembro de 2011

Lars Grael faz severas críticas aos dirigentes esportivos brasileiros

Leia, a seguir, entrevista concedida por Lars Grael ao jornalista Cosme Rímoli do site R7. Lars critica a estrutura esportiva do país, os seus dirigentes e a prioridade para obras faraônicas, em detrimento de uma política esportiva de base, de inclusão social, de promoção da educação e que ajude a construir o futuro do país.



Lars Grael. “Os tiranos das Federações e Confederações fazem o esporte do nosso país ser tão atrasado. O Brasil está perdendo uma oportunidade única com a Copa e Olimpíada…”


Lars Grael. Velejador, medalhista olímpico. Decacampeão brasileiro. Nome respeitado no mundo todo...

Com certeza conseguiria mais títulos se não tivesse se envolvido em um acidente absurdo. Exatamente há 13 anos, no dia 6 de setembro de 1998, ele perdeu a perna direita. Estava competindo quando seu barco foi atropelado por uma lancha em Camburi, Espírito Santo. O empresário Carlos Guilherme de Abreu Lima dirigia a lancha que invadiu a área de competição. Investigações apontaram que ele estava alcoolizado e em alta velocidade. Depois do terrível acidente, veio a depressão... E a superação... Voltou a competir...

Com personalidade forte e com formação acadêmica, foi chamado para trabalhar no governo. O convite veio do próprio presidente FHC. Foi secretário nacional de Esportes.

Depois ex-secretário estadual de Juventude, Esporte e Lazer de São Paulo.

Caso raro de um esportista com importantes cargos públicos. Alguém muito sério que conheceu os dois lados que poderiam se completar. Mas percebeu que não há interesse por parte dos políticos.

Aceitou falar de forma exclusiva ao blog. Mostrou sua preocupação com a Copa do Mundo de 2014. Com a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro... E principalmente com o legado... Com o que restará para o País depois das duas competições mais importantes do planeta...

Lars, o que chama a sua atenção em relação à Copa no Brasil?

Perdemos o nosso grande trunfo: o tempo para organizar a competição. As autoridades sabiam que a Copa aconteceria aqui há muitos anos (desde 2007). E nada foi feito. O atraso é incompreensível. Os gastos são absurdos. Sinto nos políticos que comandam o esporte no Brasil em relação à Copa uma velha característica... Estranhamente, todos estão preocupados com as obras... Construir enormes e caríssimos estádios... Não há a menor preocupação com o esporte em si. Com o esporte como educação. Com o legado. A Copa do Mundo só significa obras, gastos absurdos com estádios. Não há política esportiva no País. Eu fico abismado, triste e decepcionado. Estamos perdendo uma enorme oportunidade com a Copa do Mundo. Poderíamos desenvolver de verdade o esporte nas escolas. Fazer com que as crianças tenham acesso de verdade a todo tipo de esporte. Para a saúde, educação, integração social. Acabar com a embromação das aulas semanais de Educação Física nas escolas. Aproveitar a euforia que a Copa provoca nas pessoas. Mas só que não há esse interesse. Todos só se preocupam com obras, estádios de R$ 1 bilhão. Gastar dinheiro público. Eu não vou negar a minha decepção como as coisas estão caminhando.

Você sabe dos elefantes brancos que serão criados? Arenas em Manaus, Cuiabá, Natal e Brasília que não terão uso depois da Copa?

Vou além disso. Não terão uso no futebol e nem em outra atividade esportiva. Muito se fala sobre o uso dessas arenas e outros estádios por outros esportes. É sempre assim no Brasil. As pessoas falam, prometem e no fim não cumprem. Um bom exemplo é o Engenhão. Ele foi construído não só para o uso do futebol. Mas de várias outras modalidades esportivas. Só que elas não podem mais ser executadas no estádio para não estragar o gramado. Infelizmente não se pode acreditar no que é planejado no esporte brasileiro. Tudo é improvisado, conduzido de uma forma amadora. E absurda. O governo não criou anos atrás a CPMF, um imposto para cuidar da Saúde? E o dinheiro foi para todo lugar, menos na Saúde... Agora não quer criar outro imposto com a mesma desculpa? As coisas são assim, por aqui, infelizmente... No esporte pior ainda...

Por que esportistas não administram o esporte no País? No resto do mundo isso é muito comum?

Vou dar um exemplo claro... Apoiei o projeto do deputado federal Deley. A proposta previa o incentivo fiscal ao esporte. (Parte do imposto de renda das pessoas físicas e jurídicas serviria para a implementação de projetos esportivos.) A idéia foi bem aceita pela sociedade. A intenção era incentivar todo tipo de esporte no País. Principalmente o lado educacional, a saúde das pessoas. Mas a Bancada da Bola (deputados apoiados e até mantidos por dirigentes esportivos) em Brasília o derrubou. Impediu que virasse lei. A preocupação foi com a independência das instituições esportivas... Por isso acabou barrado para não ferir interesses.

Como você vê as federações esportivas no Brasil?

São instituições atrasadas comandadas por tiranos há 20, 30, 40 anos... Esse atraso se deve a essas pessoas... Pessoas que agem como que sem elas, os esportes não sobreviveriam... Elas são responsáveis pelo atraso esportivo do nosso País. Estão tão amarradas ao poder de uma maneira absurda. E pior que o trabalho é ruim, esses tiranos são incompetentes. A única exceção é o trabalho feito no vôlei, que dá resultado. Mas também não acho certo a falta de renovação no comando. As federações no Brasil são capitanias hereditárias. E a raiz de o esporte por aqui estar tão atrasado.

Como é na sua Confederação, a de vela?

A situação é caótica. Por as receitas terem ficado atreladas ao bingo. Ela é inadimplente, com dívidas absurdas. Um exemplo de incompetência plena. Eu gostaria muito de colaborar, mas não há como. Não enquanto essa situação caótica não se resolver...

Mas não há projeto sério... Só uma estranha preocupação com as obras...

Como você vê o projeto para a Olimpíada de 2016?

Infelizmente seguindo o mesmo caminho da Copa. Tudo atrasado. As pessoas poderosas parecem não se importar. O trabalho já deveria estar acontecendo. Vou dar o exemplo claro que tem a ver com o meu esporte. As competições de vela vão acontecer na bahia da Guanabara. Outra vez as pessoas estão preocupadas com obras e não pensam em saneamento básico... A Baía da Guanabara está completamente poluída... É uma situação vergonhosa. As autoridades juraram que iriam torná-la limpa... Em 17 anos conseguiram limpar 30% dela... Apenas 30%... Agora temos cinco anos para limpar 70%... Eu não sei se dará tempo... Aliás, tenho quase certeza que não dará... A opção será maquiá-la... Eu sinto uma profunda vergonha com essa irresponsabilidade dos políticos com o esporte... Procuro fazer a minha parte... Ser uma gota no oceano... Dar palestras, falar, apontar os erros... Mas como velejador que sou, sinto uma enorme tristreza... Estamos jogando fora a chance de mudar a política de esporte no Brasil... Não dá para acreditar em legado da Copa do Mundo ou da Olimpíada... O Brasil está perdendo uma oportunidade única com a disputa das duas competições seguidas... Poderíamos também nos tornar a principal potência da Paraolimpíada... Mas não há projeto sério... Só uma estranha preocupação com as obras... Lamento muito a chance que estamos desperdiçando...

Fonte: Blog do Cosme Rímoli, R7.

2 comentários:

  1. Boa noite, admiro muito o velejador Lars, pelo grande desempenho na vela. Superação para ele foi pouco, eu o considero um grande herói. Mas preciso deixar registrada minha opinião sobre sua atuação como secretário da juventude, esporte e lazer do Estado de São Paulo. Confiei por muito tempo no projeto Navega São Paulo, mas vi o projeto afundar em algumas cidades por falta de gestão das pessoas que foram designadas a comanda-los. Não precisava ser assim, faltou acompanhamento. Fabricio Cobra - Santos.

    ResponderExcluir
  2. Prezado Fabrício Cobra,

    Seu desapontamento também foi o meu.

    Houve uma descontinuidade no Projeto Navega São Paulo por um período, que por sorte, obteve um resgate aonde a contra-partida das cidades sedes, foi efetiva.

    O Navega São Paulo é mantido pela atual Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo. Seu gerente, é o Carlos Cardozo, servidor da Casa Civil.

    O Navega SP é mantido sob patrocínio da SABESP e da Lei de Incentivo Federal do Esporte.

    Vários núcleos estão plenamente ativos, exceto alguns poucos na Baixada Santista e em Redenção da Serra e Paraibuna.

    Tento ajudar sempre que sou solicitado e acompanho cada passo da trajetória hercúlea do Carlão.

    Bons Ventos,
    Lars Grael

    ResponderExcluir

Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.