Torben Grael em lhabela. Foto Fernando Borges/Terra. |
Dassler Marques
Direto de Ilhabela
Quatro das cinco medalhas olímpicas de Torben Grael foram conquistadas em veleiros da classe Star. O que dá a ele conhecimento de causa para falar a respeito da polêmica decisão que pode excluir a categoria dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. No último mês, o conselho da Federação Internacional (Isaf) definiu que a Star não deve fazer parte da competição, o que é condenado por Torben.
Segundo o herói olímpico brasileiro, aspectos políticos e lobby fazem com que a Star, uma das mais tradicionais classes da vela e íntima dos brasileiros, possa ficar de fora. Embora tenha interesse direto na decisão, Torben embasa sua visão de forma coerente e deixa uma porta aberta para que a categoria faça parte dos Jogos no Rio.
Assegurada em Londres-2012, a classe Star só será disputada no Rio de Janeiro caso o Comitê Organizador solicite - exatamente como ocorreu em Sidney, na Austrália. "O Nuzman (Carlos, presidente do Comitê) está envolvido nessa questão", acredita. Em conversa com jornalistas por conta da Mitsubishi Sailing Cup, Torben ainda falou a respeito da competição de vela oceânica disputada no Litoral de São Paulo, onde tem a chance de velejar ao lado do filho Marco Grael, três décadas mais jovem.
Confira a entrevista completa:
Terra - Como você tem visto todo o imbróglio envolvendo a exclusão da classe Star dos Jogos de 2016?
Torben Grael - É uma situação complicada pela maneira como são decididas as classes. No passado, as escolhas eram feitas com base técnica. Tinha tipos de barcos: com quilha, de casco, de uma pessoa só, de vários tipos, e eles representavam o universo da vela no mundo todo. De Sidney para cá, isso foi deixado de lado.
Terra - Quais foram as mudanças?
Torben - Passou a ser por votos, uma política danada. Várias classes são monopólios: laser, 49er e snipe fazem lobby grande, porque quando entram para Olimpíada é um negócio bom. É interessante, os países fazem lobby.
Terra - E o Brasil se interessa muito pela Star...
Torben - Lógico que (o Brasil) tem interesse, é onde temos mais resultados. Os asiáticos todos querem barcos pequenos, porque têm biotipo pequeno. Como virou voto, o lobby é muito grande e na última votação (em maio) acabou ficando de fora por um voto. Não foi a primeira vez, mas em Sidney voltou pelo Comitê Organizador. A única possibilidade de a Star voltar é pela influência do Comitê Organizador.
Terra - E qual a possibilidade de o Comitê incluir a Star?
Torben - Me parece que o Nuzman está bastante envolvido nessa questão. Temos o Robert (Scheidt) em uma forma excepcional pelo Star hoje em dia. Seria importante para nós, mas também para a vela em geral. É importante a presença de um barco de quilha, boa parte dos barcos mundiais é assim. Se não houver nenhum barco desses, é um erro.
Como a coisa virou virou lobby, há uma alternância de decisões e não tem continuidade. Para Londres, entrou a categoria match racing feminino. Nem foi feita a Olimpíada e essa classe já saiu do quadro de 2016. O Brasil comprou seis barcos, que chegaram mês passado, e daqui um ano não servem mais. Essas coisas são ruins para a vela.
Terra - Qual você define ser o ponto mais alto de sua carreira?
Torben - Participar de uma Olimpíada. Todo esporte tem na Olimpíada o topo da pirâmide. É fantástico, um evento maravilhoso. Já levei a bandeira brasileira na abertura de Atenas (Jogos de 2004) e foi marcante e bacana.
Terra - Atenas foi uma Olimpíada muito especial para você, não?
Torben - Foi especial, porque foi meu segundo ouro olímpico. Pude igualar nosso querido Ademar Ferreira da Silva, que durante muitos anos foi nossa luz, nosso objetivo, o único bicampeão olímpico. Várias pessoas alcançaram a marca do Ademar em Atenas. Eu, Marcelo Ferreira, Robert Scheidt, Giovane e Maurício. É muito bacana ter a oportunidade de ir e de subir no pódio. Dá uma satisfação enorme.
Terra - E como definir a experiência de participar de uma regata de volta ao mundo?
Torben - É completamente diferente. É uma competição que você disputa com seus adversários, mas também medindo muito os seus limites. Em uma regata de monotipo, de barcos pequenos, sempre damos o máximo. Na de volta ao mundo nem sempre se dá o máximo (risos). Se você der tudo fica pelo caminho.
Terra - O que tem de diferente em participar da Sailing Cup em Ilhabela?
Torben - No ano passado já foi um espetáculo e agora temos um recorde. Talvez nunca tivemos tantos barcos competitivos assim e tanta gente de primeira linha. É fantástico e claro que será difícil, porque muita gente faz torneios internacionais e estão muito bem preparados. Temos um nível altíssimo. Os barcos são parecidos em performances, qualquer erro pequeno você paga na hora.
Terra - Você e o Marco, seu filho, estão no mesmo barco. Como definir a experiência de velejar em família dessa forma?
Torben - Tem o lado bom e o lado ruim, como tudo na vida. Tem que lidar com a coisa para não ter problema, mas já corro em barco de oceano com minha mulher há muito tempo. Agora posso velejar com meu filho, que vai no leme do barco. É mais uma experiência nova e muito enriquecedora principalmente para ele.
Fonte: Terra
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