“Brasileiros causam impacto econômico”.
Artigo do Miami Herald, de 14 de fevereiro de 2011. Traduzido por Ronald Hees.
De repente, tudo parece estar relacionado ao brasileiro. O Presidente Barack Obama visitará o Brasil durante sua primeira visita Sul-Americana em março e o Brasil é o maior parceiro comercial da Florida. Mas os brasileiros estão comprando mansões de luxo na beira das praias e condomínios no centro de Miami, investindo em tudo desde prédios ao Burger King, e comprando com grande apetite. A impressão é que uma avalanche de gafanhotos desceu sobre o Sul da Florida, devorando as pechinchas desde o Shopping de Dadeland ao de Sawgrass Mills, segundo um operador de turismo.
“A tendência agora é todo mundo vir para comprar, comprar, comprar” disse Claudia Menezes da Transportes Pegasus que opera uma frota de ônibus para tours convencionais bem como os passeios de shopping que são tão populares com os brasileiros. “Eles estão comprando tudo desde cremes de US$ 10 na Victoria´s Secret até Luis Vuitton e Prada”. Prova do consumerismo brasileiro: Quando os ônibus da Pegasus retornam com os brasileiros ao aeroporto para os seu vôos para casa, Claudia Menezes diz que os ônibus tem que levar trailers adicionais para transportar o espólio. Para manter o fluxo de visitantes brasileiros, a American Airlines agora oferece 52 vôos por semana entre o Brasil e o aeroporto internacional de Miami.
O Brasil está quebrando vários recordes, diz Rolando Aedo, Vice-Presidente Sênior para marketing da Greater Miami Convention and Visitors Bureau. “Esta é a estrela mais brilhante das estrelas de nosso mercado”. Quando todas as estatísticas estiverem contabilizadas para 2010, o Municipio de Miami-Dade conta ter desenrolado o tapete de boas vindas para mais de 500.000 visitantes brasileiros que gastaram mais de US$ 1 bilhão (Um bilhão de dólares). Isto coloca o Brasil no topo da lista de visitantes internacionais destronando o Canada, o líder permanente. Durante os anos da expansão petrolífera os venezuelanos eram conhecidos pelo seu legendário “me dá dois” e os Latino-Americanos há muito são apaixonados por shopping no Sul da Florida. Mas o que distingue os brasileiros é a quantidade deles e o fato de que realmente são grandes gastadores. Para agradar as multidões brasileiras o Departamento de Turismo tem publicado guias de compras, mapas e outros materiais, em português. Apesar do Aeroporto International Hollywood em Fort Lauderdale não ter voos diretos com o Brasil, a quantidade de visitantes brasileiros ao Condado de Broward aumentou 50% para 300.000 anuais no ano passado. O Brasil agora é o segundo mercado estrangeiro mais importante depois do Canadá.
“Eles podem entrar por Miami, mas vão para Sawgrass Mills” diz Francine Mason, porta-voz do Centro de Convenções e Visitantes da Grande Fort Lauderdale. E também chegam para visitar seus parentes. O Condado de Broward, especialmente os bairros de Pompano Beach e Lighthouse Point que abrigam o maior contingente de residentes brasileiros no estado. O Consulado brasileiro de Miami calcula que haja 250.000 a 300.000 brasileiros vivendo na Florida, a maior parte nos condados de Broward, Miami-Dade e Orlando.
O que motiva a invasão brasileira ? A economia brasileira está em expansão e deverá ser a quinta maior economia do mundo em 2016. O desemprego está em níveis recordes de baixa. E talvez mais importante, a moeda brasileira, o Real, está muito forte frente ao dólar tornando as viagens à Florida e o festival de compras acessíveis aos brasileiros.
Vir ao Sul da Florida por uma semana muitas vezes sai mais barato, para um residente de São Paulo, do que férias no Nordeste do Brasil. “O custo de imóveis está extremamente alto no Brasil neste momento – fora do alcance de muitas pessoas”, diz Claudia Bacelar, uma brasileira que trabalha como corretora no escritório da Esslinger-Wooten em Coral Gables. Edgardo Defortuna, presidente e principal executivo da Fortune International diz, por exemplo que um apartamento equivalente a 3 quartos em Jade Ocean na praia de Sunny Isles, que vale US$ 1.6 milhão, poderia custar US$ 2.5 milhão em Belo Horizonte, uma capital de estado no sudeste do Brasil.
E há ainda outra razão para tantas visitas de brasileiros. Eles simplesmente gostam daqui. “A Florida sempre foi um destino favorito – a temperatura quente tropical e as praias com a vantagem das compras e agora, é claro, é muito mais econômico,” diz a Claudia Bacelar. “Quando os brasileiros chegam aqui e vejo como eles compram, fico chocada”. No shopping Dolphin Mall perto do Aeroporto Internacional de Miami, por exemplo, os brasileiros estão em primeiro lugar entre os turistas internacionais, tendo ultrapassado os venezuelanos pela primeira vez no ano passado afirmou Madleyn Bello Calvar, diretora de patrocínio e marketing. E tipicamente eles gastam o triplo do que gastam os clientes locais. No Shopping de Sawgrass Mills, Marcos Freire, gerente-geral assistente, observa com satisfação quando clientes falando português inundam o shopping e os ônibus cheios de brasileiros com suas tradicionais camisetas chegam para suas visitas. Uma pesquisa nos shoppings mostra que os brasileiros são os clientes internacionais mais numerosos seguidos dos colombianos e dos canadenses. Mas Freire diz “Os brasileiros estão muito na dianteira”. Como compradores, ele diz, eles são extremamente conscientes de marcas, enchendo seus carrinhos com Nike, Adidas e Tommy Hilfiger, além de alta moda, televisões, vídeo games, e artigos de tecnologia de ponta. Eles conhecem os caminhos do retalho norte-americano, diz Freire que originalmente é do Rio de Janeiro. “Eles fizeram seu trabalho de casa e sabem o que querem”.
Menezes, cuja empresa faz muitos passeios de compras que vão até Sawgrass, diz que anteriormente a tendência era que grupos brasileiros pediam para passar algum tempo na praia, visitar Orlando ou os pântanos de Everglades e talvez um dia no shopping. “Agora temos alguns grupos que vêm por quatro ou cinco dias apenas para compras", diz ela . “Este ano pela primeira vez tivemos excursão de compras no Black Friday”. Não somente hotéis e lojas estão se beneficiando dos brasileiros e suas bandeiras verde e amarelas no Sul da Florida.
Mercado Imobiliario – vendas de imóveis para brasileiros também estão florescendo. “No momento, eles são o mais importante segmento estrangeiro no mercado imobiliário do Sul da Florida” diz Defortuna. Durante os últimos 12 meses eles chegaram com muita força. Tão fortes que no ano passado Fortune International abriu um escritório em S.Paulo para oferecer os seus produtos de luxo tais como Jade Ocean bem como outros produtos que oferece tais como Icon Brickell e Trump Hollywood.
“Eu nunca vi nada igual, uma demanda tão grande. Eu recebo chamadas e e-mails todos os dias com algum novo contato ou dica brasileira” diz Fabiana Pimenta, uma corretora brasileira de ponta na Fortune. Agora, cerca de um quarto de todas as vendas da Fortune são para brasileiros, informa Defortuna. Eles basicamente se enquadram em duas categorias diz ele: compradores de grande poder aquisitivo que estão comprando imóveis para si mesmos, mesmo que seja a sua segunda, terceira ou quarta residência – e investidores que gravitam em torno de propriedades nas áreas de Brickell e DownTown Miami. Se estão comprando para si mesmos, eles gostam de propriedades na praia em Miami Beach ou na Sunny Isles Beach, dizem os corretores. A onda de compras de apartamentos também tem impacto positivo para outros negócios. Há cinco anos atrás, Ornare, uma sofisticada empresa brasileira na área de cozinhas, banheiros e armários embutidos, abriu sua primeira filial nos Estados Unidos no Distrito das lojas de decoração de Miami. E enquanto o mercado local de habitações despencou, os negócios da Ornare se mantiveram. Os seus armários embutidos com portas de couro, suas torneiras esculpidas em metal e as cozinhas muito funcionais, encontraram um mercado a disposição. Mais e mais são os brasileiros que estão comprando. As vendas cresceram quase 40% desde o ano passado e agora a Ornare planeja salas de mostruário em outras cinco cidades dos Estados Unidos informa Claudio Faria, diretor da Ornare/Miami, que importa praticamente tudo em seu “showroom” de São Paulo. Em 2009 os brasileiros representavam apenas 5 % das vendas locais da Ornare. Agora, segundo Faria, chega a 25%. A decoradora brasileira Mirtha Arriaran, que desenvolveu um negócio de decoração de interiores em Miami desde 1995, diz que um de seus clientes da alta sociedade recentemente adquiriu um apartamento em Miami como sua 12ª residência. “Esses brasileiros são muito, muito, ricos diz ela. Eles não estão pechinchando. É o tipo de gente que escolhe um apartamento de que gostam e depois perguntam pelo preço”. Cerca de 85% dos clientes da Arriaran são brasileiros, e no momento, com as novas compras de condomínios, ela está tão ocupada que a sua empresa de decoração não está aceitando novos serviços. Mas nem todos os compradores de imóveis são da categoria de ultra ricos. “No momento, a área de Brickell está ao alcance da classe média” diz a Claudia Bacelar. Ela recentemente vendeu vários apartamentos menores ali por menos de US$ 200,000 (cerca de R$ 340.000 ao cambio de 1/3/2011) com taxas de condôminio baixas também.
Linhas aéreas - Há dois anos atrás, a American Airlines ligava Miami a apenas duas cidades no Brasil – Rio de São Paulo. Agora são mais quatro: Brasilia, Belo Horizonte e Salvador com extensão para Recife. “Isto é grande para nós – estar em seis cidades num mesmo país” disse Martha Pantin, uma porta-voz da American Airlines. “A American está obstinada com o Brasil”. A TAM, uma linha aérea brasileira também recentemente adicionou vôos diretos diversas vezes por semana para Brasília e Belo Horizonte afim de complementar seus vôos diários para São Paulo, Rio e Manaus. Mas o melhor ainda pode estar por vir. Com a Copa do Mundo de 1014 no Brasil e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, a American Airlines já está negociando acrescentar vôos extras para o Brasil antes e depois da Copa do Mundo. A American acredita que Miami será uma parada de transito para muitas pessoas de todo o mundo a medida que se dirijam para os eventos esportivos, segundo Pantin. “A Copa do Mundo! diz ela, vai apresentar aos americanos novos destinos no Brasil”.
A conexão Florida/Brasil nos negócios e no comércio – o Brasil é o maior parceiro comercial do Sul da Florida bem como o maior parceiro comercial do “Estado Ensolarado” (Florida). As trocas comerciais da Florida com o Brasil durante os primeiros 11 meses de 2010 segundo as estatísticas disponíveis ultrapassaram 14.4 bilhões de dólares, um aumento de 27 % sobre 2009. Enterprise Florida recentemente reabriu um escritório no Brasil, não só para promover produtos e serviços da Florida mas também para atrair investidores brasileiros para a Florida. As empresas brasileiras Embraer, fabricante de aviões, e a Odebrecht, uma construtora, já possuem extensos serviços no Sul da Florida e, no outono passado, a 3G Capital, uma empresa privada de investimentos com apoio brasileiro, adquiriu a Burger King numa transação de 4 bilhões de dólares. “Nós acreditamos que com a emergência do Brasil como força econômica mundial será muito proveitoso recrutar empresas para vir para a Florida” diz Manny Mencia, vice-presidente para desenvolvimento internacional da Enterprise Florida. “Não há mercado em andamento que ofereça à Florida as oportunidades que o Brasil oferece”.
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