Por Redação TN / Glenda Almeida, Agência USP
Diversas empresas dizem-se “sustentáveis” porque utilizam ferramentas de gestão que à primeira vista parecem contribuir para a vida e para o meio ambiente. No entanto, uma pesquisa realizada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP revelou que nem sempre esses instrumentos colaboram de fato para a construção de uma estrutura de organização empresarial mais preocupada com os princípios ecológicos, ou com o desenvolvimento sustentável, como proposto.
O estudo de Lilian Anglieri questionou a possibilidade de uma empresa se dizer sustentável pelo simples fato de aplicar certos instrumentos em sua gerência, analisando se os fundamentos dessas normas eram cuidadosos com os aspectos de organização da vida. As conclusões da pesquisa alertam que a utilização de ferramentas de gestão que propõe ‘sustentabilidade’ não é suficiente para qualificar uma empresa como preocupada com o meio ambiente.
Segundo Lilian, alguns desses instrumentos podem vir até a potencializar aspectos negativos relacionados à organização da vida. “Mas o contrário também acontece”, afirma a pesquisadora. “Há ferramentas eficazes na contribuição para a melhora do desempenho ambiental de uma empresa”, completa.
Analisando ferramentas
Para analisar sete ferramentas de gestão, Lilian utilizou quatro princípios de organização da vida, chamados ‘Rede’, ‘Equilíbrio dinâmico’, ‘diversidade’ e ‘ciclo’. “A forma como esses princípios eram considerados em uma ferramenta de gestão dava algumas dicas sobre o quanto essas ferramentas estavam realmente preocupadas com a questão da sustentabilidade”, diz a autora. Os resultados foram obtidos a partir da análise das respostas das empresas aos Indicadores Ethos, num total de 331 organizações pesquisadas.
Ao contrário do que foi levantado como hipótese no estudo, aplicar mais ferramentas que propõem desenvolvimento sustentável, ou seja, um número maior, não significa que a gestão da empresa vai se tornar mais coerente com os princípios ecológicos. “Por conta disso, não podemos afirmar ‘quanto mais ferramentas uma empresa utiliza, mais sustentável ela é’. O interessante é que elas avaliem as normas que pretendem seguir, com o objetivo de checar se seus fundamentos perseguem os princípios ecológicos. Para que uma empresa seja sustentável, isso é necessário, junto a mudanças no processo de gestão”.
De acordo com o trabalho, ferramentas diferentes levam uma empresa à assimilação de diferentes princípios. Assim, a escolha certa a respeito das ferramenta mais adequadas pode colaborar para que a organização empresarial passe a se preocupar com princípios variados e importantes. Por exemplo, com a ‘Rede’ — observando se sua cadeia de negócios está envolvida com o assunto ‘sustentabilidade’ —, e com o ‘Ciclo’ de seus produtos, ou seja, prestando atenção no impacto ambiental.
Aspectos positivos
A norma internacional ISO 14000 é um exemplo de ferramenta de gestão que foi analisada no estudo. De acordo com a pesquisadora, ela não é tão utilizada no Brasil, mas assim como a AA1000, outro instrumento estudado, apresenta em seus fundamentos maior correlação com os princípios ecológicos.
“Ambas potencializam em uma empresa outros aspectos positivos, relacionados direta ou indiretamente ao meio ambiente e à vida. Por exemplo, estimulam um diálogo eficiente entre os clientes, o público interno e a comunidade impactada por seus produtos, o que está intimamente ligado ao princípio da Diversidade. Assim, consideram o Interesse Público e o engajamento da comunidade na discussão sobre o que é a sustentabilidade”, explica a autora. “Há outras correlações, além destas, que foram encontradas ao decorrer da pesquisa. No entanto, podemos dizer que estas são as ferramentas mais efetivas”, completa.
Outro princípio que Lilian julga indispensável e que deve estar presente em uma ferramenta de gestão, é o equilíbrio dinâmico. “Ele faz com que os negócios e a produção aconteçam a partir de um monitoramento do desempenho ambiental, o que proporciona a capacidade de a empresa se readequar considerando a melhor forma de perseguir a sustentabilidade”, conclui a pesquisadora.
A pesquisa de doutorado foi defendida no dia 6 de abril, orientada pelo professor Isak Kruglianskas, do Departamento de Administração da FEA.
Fonte: TN Projetos Sociais
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