Caminhão descarrega chorume produzido em Seropédica no ETE Icaraí Renato Onofre |
Inea autoriza despejo de resíduo tóxico nas ETEs de Sarapuí e Alegria e reduz carretas em Icaraí
Percurso de 167 km é propício a acidentes
Carretas com material tóxico passam por estradas malconservadas e quatro áreas de preservação ambiental
Renato Onofre, O Globo
O transporte de chorume da Central de Tratamento de Resíduos (CTR) Seropédica para Niterói está com dias contados. A Secretaria estadual de Ambiente informou com exclusividade ao GLOBO-Niterói que, a partir de amanhã, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Sarapuí, em Belford Roxo, estará autorizada a tratar o líquido produzido a partir da decomposição do lixo orgânico. Com isso, o CTR passará a despejar metade dos 300 mil litros gerados no local diariamente na Baixada Fluminense. O restante será encaminhado à ETE Alegria, no Caju, cujo processo de adequação das instalações será finalizado em 30 dias. Até lá, a ETE de Icaraí continuará a fazer o tratamento.
Desde a sua inauguração, em abril de 2011, o aterro sanitário de Seropédica é alvo de críticas de ambientalistas por não ter destinação própria para o chorume e, por isso, já foi multado duas vezes. Outra crítica é o trajeto de 167 quilômetros percorrido pelo líquido altamente tóxico, em carretas, até chegar à estação em Niterói. O caminho é marcado por estradas precárias e alto fluxo de veículos — o que aumenta o risco de acidentes. Os veículos passam ainda por quatro Áreas de Preservação Ambiental (APAs) no entorno da Baía de Guanabara. Sem contar com a circulação por vias estreitas de Niterói até chegar à Rua Lemos Cunha, onde fica a ETE Icaraí. Os impactos aos moradores de Niterói vêm sendo denunciados por Gilson Monteiro em sua coluna no GLOBO-Niterói.
O Instituto Estadual de Ambiente (Inea) deu prazo até dezembro para que a Ciclus, empresa que opera o aterro de Seropédica, termine a construção de uma estação de tratamento própria, como prevê a concessão.
— A empresa (Ciclus) está errada e tem até o fim do ano para se adequar — afirmou o secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc.
Apesar de afirmar que não há risco no transporte de chorume, a presidente do Inea, Marilene Ramos, afirma que a autorização do tratamento na ETE de Sarapuí tem como objetivo diminuir o impacto do transporte do material pelo entorno da Baía de Guanabara e, principalmente, em Niterói, já que os caminhões ficam estacionados em via pública, aguardando a autorização para fazer o transbordo, numa zona densamente ocupada:
— Não há risco nessa operação, mas somos sensíveis ao impacto que isso causa à cidade.
Tratamento próprio
Até hoje, a única ETE licenciada, capaz de tratar chorume na Região Metropolitana é a de Icaraí, administrada pela Águas de Niterói. A cidade, porém, vai continuar recebendo o chorume proveniente de Itaboraí — para onde o município manda o lixo recolhido nas ruas — e de Alcântara. O Inea, entretanto, enfatiza que os dois aterros já estão se adequando para ter centros de tratamentos próprios.
Em nota, a Ciclus afirmou que está em fase final de contratação da estação de tratamento de efluentes. A empresa afirma ainda que realiza o pré-tratamento de 80% do chorume na própria unidade.
Diariamente, cerca de 20 caminhões percorrem 167 quilômetros do aterro sanitário de Seropédica até a Estação de Tratamento de Esgoto de Icaraí para que o chorume produzido na Zona Oeste do Rio seja tratado em Niterói. No caminho, o rejeito orgânico atravessa quatro Áreas de Preservação Ambiental (APAs), entre elas a de Guapimirim — considerada a mais resguardada do entorno da Baía de Guanabara —, e três das principais estradas federais do estado. Devido à carga tóxica, as carretas não podem trafegar pela Ponte Rio-Niterói.
O trajeto sinuoso, que passa por áreas de trânsito intenso e rodovias esburacadas, é apontado por especialistas como uma alternativa perigosa e ameaça o ecossistema da Baía de Guanabara. Na terça-feira, O GLOBO-Niterói seguiu um dos caminhões que faz o transporte do chorume e constatou os riscos do trajeto. Já na saída do aterro de Seropédica, os caminhoneiros enfrentam o primeiro desafio: o excesso de carros. Por mais de cem quilômetros, eles disputam espaço com veículos pesados no trecho que cruzam a Rio-Santos, Avenida Brasil e Rio-Petrópolis.
— Não podemos fazer ultrapassagens porque, devido à carga que carregamos, nosso limite de velocidade é de 80km/h. Às vezes, parece que somos quase engolidos pelos outros — explicou um caminhoneiro que pediu para não ser identificado.
O grande risco, porém, está no trajeto de Magé a Itaboraí, onde fica a APA de Guapimirim. Em fevereiro, O GLOBO mostrou que os 25 quilômetros da BR-493 são marcados por grandes desníveis, falta de iluminação e sinalização precária. A reportagem constatou que havia 665 buracos ao longo da via — uma média de um a cada 38 metros. Segundo Júlio César Wasserman, professor da Universidade Federal Fluminense e coordenador da Rede UFF de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, um acidente prejudicaria o ambiente e, inevitavelmente, a população:
— Esse chorume, muito contaminado com uma série de produtos, ao ser derramando numa área de manguezal, prejudica o solo, contamina os animais e, por último, pode chegar ao homem que estiver utilizando os recursos daquela área, como um pescador.
Excesso de carretas
A bióloga Simone Paez aponta a fragilidade do sistema e afirma que o manguezal é fundamental para a vida na Baía de Guanabara. Além de funcionar como uma estação de tratamento de esgoto natural, dá o suporte à cadeia biológica de vários peixes:
— Hoje, há poucas áreas onde o mangue ainda consegue sobreviver. Guapimirim é um criadouro natural da vida marinha da baía e um desastre poderia botar em xeque a sua frágil sobrevivência.
Em Niterói, um dos principais transtornos é o excesso de caminhões no trânsito das estreitas ruas. Na terça-feira, O GLOBO-Niterói flagrou 23 veículos esperando para descarregar o chorume ao lado do viaduto que dá acesso à Ponte Rio-Niterói, próximo à Favela do Sabão. O vice-prefeito Axel Grael afirmou que já a partir de hoje haverá restrição ao tráfego de caminhões em Niterói, fiscalizada pela Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans).
— Só poderão circular dois caminhões por vez dentro da cidade. Enquanto um estiver descarregando o material (na ETE Icaraí), outro espera do lado de fora — explicou Grael, que ainda vai definir em que lugar o restante da frota vai aguardar.
O tratamento do esgoto na cidade também deve sofrer mudanças nos próximos anos. No final de 2014, termina a licença de operação da ETE de Icaraí e, para renová-la, o Inea e a prefeitura analisam mudanças no sistema de tratamento. Para Grael, é necessário reconhecer os avanços que a cidade teve nas últimas décadas em relação ao tratamento do esgoto, mas é preciso melhorar os investimentos em saneamento básico:
— Apesar dos avanços, o saneamento básico ainda não representa uma grande melhora na qualidade de vida do niteroiense. Temos que ter como meta a despoluição de rios e canais. Além de melhorarmos, e muito, o atendimento em áreas carentes
Fonte: O Globo Niterói
Não faço crítica.Para fazê-la eu tinha que dispor de uma idéia ou proposta que fosse de cunho diferente ao proposto e com consequências mais positivas.Diante disto, aproveito o gancho para sugerir uma vistoria nas ruas Jornalista Moacir Padilha e Eduardo gomes.Alí o CAOS existe.Um choque de ordem, surtiria um efeito bem salutar aos transeuntes.A temática é diferente à mensagem do blog mas, julguei oportuno e deixei esta minha observação.Bom dia.
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