quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cetesb começa a adotar padrão da OMS para a qualidade do ar ainda este ano


Oded Grajew, representante do Movimento Nossa São Paulo entrega abaixo-assinado ao presidente da Cetesb, Fernando Rei.


Mobilização consciente é a chave para resolver demandas sociais, até aquelas mais complicadas. Não é exagero afirmar que, em São Paulo, respirar é morrer aos poucos. Como não é possível deixar de respirar, a sociedade civil, por meio do Movimento Nossa São Paulo, organizou um abaixo-assinado, pedindo a mudança já nos padrões de medição da qualidade do ar.


É que a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) usa padrões defasados para medir a poluição do ar na capital paulista. Quando o ar é considerado ruim pela Cetesb, ele está na verdade três vezes pior se fossem levados em conta os padrões internacionais estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na quarta-feira da semana passada, representantes do Nossa São Paulo entregaram o documento ao presidente da companhia, Fernando Rei. E saíram de lá com o compromisso de, ainda este ano, iniciar-se a adoção dos padrões da OMS (mais rígidos) para medir a qualidade do ar paulistano. Em três anos, essa nova medição deve estar totalmente instituída.

Para Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos e um dos representantes na entrega do abaixo-assinado, “os critérios da OMS são importantes porque indicam que, quando a qualidade do ar está abaixo de determinado patamar, a saúde das pessoas corre riscos.”

Também presente no encontro, Paulo Saldiva, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), destacou que a adoção dos padrões da OMS tornará mais claro que a poluição não é apenas um problema ambiental, mas uma questão de saúde pública. Para ele, “essa constatação dará respaldo para que o gestor público tome medidas mais corajosas”.

Muitas pessoas podem se perguntar por que o movimento insiste tanto em assuntos como este. É simples: porque poluição mata. O Laboratório de Poluição Atmosférica da USP calcula que seis pessoas morram por dia, na cidade de São Paulo, em decorrência de doenças causadas pela poluição, que vão desde problemas respiratórios até alergias, dermatites e câncer.

Outras centenas de milhares tornam-se incapacitadas de trabalhar e de ter vida ativa por esses mesmos males. Portanto, a poluição traz prejuízos às pessoas e às finanças públicas. O mesmo laboratório calcula em R$ 82 milhões por ano os gastos com internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na região metropolitana de São Paulo, por problemas respiratórios.

Portanto, poluição é uma questão de saúde pública que só se resolverá se forem adotadas medidas para diminuí-la e até zerá-la. A adoção de critérios mais rígidos de medição pode ajudar a salvar vidas.

Confira abaixo os limites máximos de concentração de poluentes no ar utilizados como padrão pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e os da Cetesb, estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

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Limites de concentração anual de poluentes no ar (em microgramas por m3)
Comparação entre os dados indicados pela OMS e os atuais padrões da Cetesb.

Material particulado (poeira mais fina que penetra nos pulmões) OMS: 20 / CETESB: 50
Ozônio: OMS: 100 / CETESB 160
Poeira: OMS: 50 / CETESB: 150
Fumaça: OMS: 50 / CETESB: 150
Poeira fina: OMS: 25 / CETESB: Não indica
Monóxido de carbono: OMS: 9 / CETESB: 9
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Conhecendo a situação real da qualidade do ar em São Paulo, os moradores vão entender que não é mais possível conviver com tantos milhões de carros particulares nas ruas, pois é a fumaça dos automóveis que torna o ato de respirar quase um suicídio em nossa cidade.

É preciso aceitar o fato de que somente com menos carros nas ruas – e, mesmo assim, carros menos poluentes – é que conseguiremos diminuir a poluição em São Paulo. Para isso, é urgente que a cidade adote transporte público de boa qualidade e acessível a todos, bem como a inspeção veicular.

Por Cristina Spera / Edição de Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)
Crédito: José Jorge/Assessoria de Imprensa da Cetesb

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