A secretária estadual de Educação, Tereza Porto, considerada um dos melhores quadros da administração estadual fluminense, traz um dado alarmante em entrevista ao Jornal do Brasil ("Sobram vagas nas escolas estaduais", JB Cidade, Pág A13, 2 de maio de 2010). Segundo ela: "Hoje, cerca de 50% dos alunos que ingressam no primeiro ano do ensino médio não o concluem". Considero isso um escândalo!!!!
A afirmação é um choque de realidade e deve acender um sinal de alerta para toda a sociedade. Nos últimos meses, talvez inflados pelo cenário eleitoral, temos sido adulados com notícias de que o Brasil, enfim, é Primeiro Mundo. Somos badalados no cenário internacional e internamente vende-se a ideia que em breve deixaremos de ser um rico país pobre. As pessoas estariam deixando a miséria graças aos programas sociais do governo. O próprio presidente da República afirmou recentemente em mais um de seus arroubos ufanistas: "estamos fazendo uma revolução na educação".
Todos nós queremos acreditar nisso, torcemos para que aconteça, e nos decepcionamos quando uma verdade, como nos traz a secretária, nos derruba do alto da nossa ilusão.
O que Tereza Porto exprime em sua declaração demonstra a realidade de quase todos os estados, portanto é a cara da educação pública do Brasil. O que ela nos diz demonstra que temos questões fundamentais, estruturantes de uma nova sociedade (como é a educação), ainda nos amarra fortemente ao Terceiro Mundo. Na verdade, os nossos indicadores de qualidade da educação não nos dá destaque sequer na Amarica Latina e nos deixa a uma distância abissal dos países desenvolvidos. E sem educação, num mundo cada vez mais sofisticado, tecnológico e competitivo, não iremos a lugar nenhum. Qualquer projeção ufanista para o futuro do país se mostrará falsa se não formos capazes de preparar os brasileiros do amanhã.
Sou presidente do Instituto Rumo Náutico, organização que promove o Projeto Grael (http://www.projetograel.org.br/). Trabalhamos exclusivamente com estudantes da rede pública, exatamente com o público que a secretária tem dificuldade de manter na escola. A nossa taxa de evasão, da ordem de 20 a 30% (muito mais baixa do que a das escolas públicas), também nos tira o sono. Um aluno que se evade deixa um rastro de derrota, de desperdício de oportunidade e de investimentos e a provocação para que façamos uma permanente reflexão sobre os motivos.
A evasão é grave, mas a qualidade do aprendizado dos que permanecem na escola também é muito preocupante. O que verificamos entre nossos alunos no Projeto Grael, é que a formação básica nas escolas públicas está realmente muito falha. Os alunos mostram carência graves de redação, de matemática, ciências e de conhecimentos gerais. E pior, nota-se uma forte desmotivação do jovem, justamente nessa faixa etária em que as ambições e os sonhos deveriam estar aflorando e se transformando em energia, trabalho e preparação profissional. Ao contrário, o que vemos é que, com boas e frequentes excessões, temos um ambiente de apatia, de um desconcertante conformismo. Com barcos e programas profissionalizante voltados para o mercado náutico, procuramos injetar ânimo e sonhos de volta nas cabecinhas desses jovens, mas apesar de todo o nosso esforço, de receber cerca de 700 jovens por ano no Projeto Grael, ainda somos uma pequena gota no oceano.
E então o que fazer? Apesar de ser uma das mais importantes obrigações do governo, não podemos deixar que o problema se resolva só na esfera governamental, só dentro dos muros das escolas públicas. Isso seria inócuo. A educação tem que ser uma bandeira de toda a sociedade.
Precisamos de mais iniciativas que motivem os jovens para o aprendizado. Que se repense o papel das iniciativas independentes da sociedade civil como o Projeto Grael, a Fundação Gol de Letra, o Projeto Vencer e tantos outros na estratégia da educação formal. Podemos ser muito mais úteis do que temos conseguido ser. Cabe às lideranças governamentais e também da sociedade acharem os caminhos para aproximar escola e sociedade, para benefício do aluno e de todo o Brasil.
Enfim, que a gente se pergunte sempre: será que estamos dando a nossa cota pessoal ou coletiva de contribuição para que essa realidade mude?
Axel Grael
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