segunda-feira, 10 de agosto de 2015

ECOBARCOS VOLTAM A OPERAR NA BAÍA DE GUANABARA: Baía recebe 90 toneladas de lixo/dia



Ecoboat recolhe lixo na Baía: lixo pode atrapalhar provas olímpicas - Daniel Marenco / Agência O Globo


Das 90 toneladas de lixo que a Baía de Guanabara recebe diariamente, apenas 7,5% são recolhidos

Números preocupam iatistas que vão competir nas Olímpiadas, daqui a um ano


por Emanuel Alencar

RIO - Ayrton Abreu, de 21 anos, avista um rastro de lixo no meio da água escura, nas proximidades da Ilha de Villegagnon, sede da Escola Naval, e conduz a embarcação na direção de potes de margarina, copinhos de guaraná natural, tampinhas de refrigerantes e sacos plásticos. A poucos metros dali, velejadores de vários países do mundo treinam para os Jogos Olímpicos. O jovem mexe numa alavanca que aciona uma espécie de peneira. Em movimentos circulares, o barco coleta o material. Essa rotina tem tomado os dias do morador de Jurujuba, em Niterói, há um ano e sete meses. Ayrton diz que se sente bem em ajudar a melhorar o aspecto da Baía de Guanabara, mas desconfia que a atividade tenha pouca eficácia em meio a um turbilhão de problemas. Ele tem razão.

Jovens formados pelo Projeto Grael atuam na operação dos ecobarcos que retiram lixo da Baía de Guanabara.

Segundo estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), diariamente são despejadas cerca de 90 toneladas de lixo na baía. As empresas Brissoneau e Ecoboat, que operam os barcos ecológicos (uma iniciativa do governo estadual), como o de Ayrton Abreu, coletaram no último ano uma média de 1,8 tonelada de resíduos por dia. Além disso, um outro projeto do estado, as ecobarreiras — atualmente estão em operação cinco dessas estruturas flutuantes, que retêm o lixo na foz dos rios —, consegue capturar cerca de cinco toneladas diariamente. Resumindo: a um ano dos Jogos Olímpicos, apenas 7,5% dos detritos que tanto preocupam iatistas são efetivamente recolhidos do mar.




GOVERNO PROMETE INCREMENTAR RECOLHIMENTO

Um cenário que, garante o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, vai mudar radicalmente até 2016. Reforçando que todos os números ainda carecem de auditoria e checagem, o secretário já tem um plano ambicioso para os próximos três anos: evitar que 95% dos resíduos cheguem à baía pelos mais de cem rios e canais que cortam 16 cidades. Na semana passada, a secretaria começou a receber relatórios da empresa ProOceano, que passou a monitorar, em tempo real, os ecobarcos e promete dar um salto de qualidade no programa, com um sistema de gestão amparado em modelagem matemática de marés. Interrompido em 23 de fevereiro, o programa dos ecobarcos, que tem custo mensal em torno de R$ 300 mil, oriundos do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam), foi retomado em 1º de julho.

— Daqui a seis meses, poderemos ter uma noção mais precisa da quantidade de lixo que os ecobarcos e as ecobarreiras recolhem em períodos chuvosos e secos. Qualquer um que fale em valores, estimativas, está dando um chute. O que eu posso garantir é que estamos implementando uma gestão totalmente inovadora. Colocaremos os relatórios à disposição dos cidadãos na internet — diz Corrêa, acrescentando que, até o fim do ano, serão instaladas mais 12 ecobarreiras.

Se a despoluição não é uma meta atingível em um ano, o governo concentra seus esforços para reduzir o lixo que boia na baía, retrato do flagelo ambiental do Rio e alvo de duras críticas de velejadores. O temor geral é o de que um pedaço de madeira ou uma embalagem de biscoito mude o resultado de uma competição olímpica. Na avaliação do vice-prefeito de Niterói, Axel Grael, é, sim, possível avançar na coleta do lixo flutuante, um desafio também para autoridades dos Estados Unidos e de países da Europa.
‘É preciso definir o que é um nível de lixo flutuante aceitável e ir atrás de um padrão de excelência’
- Axel Grael, Vice-Prefeito de Niterói

— É preciso definir o que é um nível de lixo flutuante aceitável e ir atrás de um padrão de excelência. Com modelagem matemática, há como aumentar a previsibilidade de onde o lixo se acumulará no dia seguinte e, com isso, aumentar a eficiência da coleta — avalia Axel, que cobra responsabilidade dos fabricantes das embalagens que chegam ao mercado. — A solução definitiva só virá com a melhoria dos serviços de coleta de lixo, da infraestrutura de destino dos resíduos e da educação ambiental. É fundamental ainda a implantação de uma política efetiva de logística reversa (na qual a embalagem do produto consumido deve seguir para a reciclagem), com a devida responsabilização da indústria e da cadeia de comercialização.

Axel é um dos colaboradores do Projeto Grael, presidido por seu irmão, Torben, ONG que não aceitou o convite feito pela Secretaria estadual do Ambiente para assumir o gerenciamento do programa de controle do lixo flutuante há quatro meses. Ele afirma, porém, que continua à disposição para contribuir como voluntário.

— Tenho atuado como um consultor voluntário sempre que o secretário me aciona. Mais importante que o ecobarco é segurar (os resíduos) na ecobarreira. Uma vez que o lixo está num rio ou numa baía, sua retirada custa até nove vezes mais — acrescenta. — Mesmo cidades mais avançadas e com melhor qualidade de rios e estuários urbanos contam com sistemas de recolhimento de lixo flutuante. É o caso dos canais de Amsterdã, da orla de Baltimore (EUA) e até mesmo dos lagos suíços.

A pedido do GLOBO, o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, fez o cálculo do lixo flutuante na baía, considerando que 296 toneladas de detritos não são coletadas diariamente em sete cidades no seu entorno (Rio, Caxias, Magé, Guapimirim, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói). A soma representa 2,2% do montante gerado nesses municípios, segundo pesquisa da entidade. Estima-se que 30% das 296 toneladas vão parar nas águas da Guanabara.

— Sistemas de coleta de lixo flutuante são importantes para minimizar os impactos negativos, mas têm uma alcance muito pequeno — analisa.

EDUCAÇAO AMBIENTAL: RECURSOS EM QUEDA

Os recursos destinados a projetos de educação ambiental no estado são limitados. De acordo com ex-secretário do Ambiente e deputado estadual Carlos Minc (PT), de janeiro a junho deste ano foram aplicados R$ 800 mil do Fecam, 87% menos que o liquidado no primeiro semestre de 2014.
‘Desde o início, a minha tese é: ecobarco e ecobarreira são paliativos’
- Carlos Minc. Deputado Estadual

— Desde o início, a minha tese é: ecobarco e ecobarreira são paliativos. Se as prefeituras não fazem coleta diária nas comunidades, se não se investir em educação ambiental, de nada vai adiantar. Se boa parte dos nove milhões de pessoas que vivem na bacia hidrográfica da Baía de Guanabara continuar a jogar indiscriminadamente lixo nos rios, haja ecobarco e haja ecobarreira para dar conta do recardo — diz Minc.

A Comlurb estima que cerca de dez mil toneladas sejam geradas na capital diariamente. A companhia garante que não deixa de fazer coleta em favelas. “Caso haja algum problema de falta de segurança, ocorre apenas atraso na prestação do serviço”, informou por nota. Sobre a limpeza das praias da baía, a Comlurb informou que realiza nelas ações constantes de retirada de lixo.

A prefeitura de Niterói disse que “todo o município é atendido pela coleta” e que, em casos em que “o caminhão não entra nas comunidades, por conta do difícil acesso, a Clin (companhia de limpeza) disponibiliza caçambas, que são recolhidas diariamente”.

O prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, destacou que o município, onde vivem 880 mil pessoas, sofre com a falta de fiscalização do despejo de lixo e entulho nos rios Meriti, Sarapuí e Saracuruna, que desembocam na baía:

— Caxias só tem dois fiscais de obra para atuar na cidade toda. Mudaremos essa realidade com um concurso em outubro. Vamos dragar o Rio Meriti, num programa de R$ 45 milhões. Uma pesquisa recente que fizemos mostrou que 50% dos valões do primeiro distrito (Centro) têm construções irregulares. É um trabalho que vai exigir tempo e muitos recursos.

Fonte: O Globo


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