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Reportagem especial mostra que 37% da água no Brasil é desperdiçada
Série especial do Jornal Nacional mostra iniciativas da sociedade para diminuir desperdício de água, que se perde em vazamentos ou ligações clandestinas.
O Jornal Nacional está apresentando nesta semana uma série de reportagens especiais sobre a água. E quando se fala desse assunto, um tema que surge imediatamente é o desperdício, porque 37% da água tratada no Brasil se perdem no caminho - em vazamentos de tubulações antigas, em ligações clandestinas. Mas tem muita gente combatendo essa situação.
Arapuá é pequena. Não tem nem três mil habitantes. No maior negócio da cidade, um laticínio, há um belo exemplo de reaproveitamento de água. Imaginem a quantidade de leite para produzir todo o queijo. Só de parmesão, são câmaras e mais câmaras de maturação, com um total de 350 toneladas. A média, para fazer um quilo de queijo, é de dez litros de leite. E sobram nove litros de soro. Ele é filtrado, para retirar toda a parte sólida. No fim, restam entre seis e sete litros desta água do soro.
Mesmo depois desse processo, a água do soro continua muito salgada. E precisa de uma segunda filtragem, dentro de tubos, onde existem membranas com poros microscópicos. É a chamada osmose reversa. O mesmo processo que se usa para transformar água do mar em água potável. Só depois de passar por ali é que ela poderá ser reaproveitada. Com o sugestivo nome de água de vaca. A água de vaca serve apenas para a lavagem de caminhões, pátios e outras áreas externas. Com isso, se economiza água potável, captada do rio e de outras fontes.
O investimento em equipamentos não foi pequeno, mas segundo o gerente do laticínio significa:
Gilmar Machado, gerente industrial: Segurança hídrica. Na época da seca, período de inverno, quando a gente tem mais dificuldade hídrica, ela supre a minha necessidade. Com isso, eu também não esgoto toda a água da mina, da nascente. A água da nascente vai servir também para outros usarem.
Jornal Nacional: Deixa lá, quietinha lá.
Gilmar Machado: Tranquilo.
O setor industrial tem mesmo investido bastante em reuso de água, mas o setor público não, diz o maior especialista brasileiro no assunto.
"Nós somos mais ou menos cristalizados nessa mentalidade de transporte de água, sabe?", diz Ivanildo Hespanhol, professor de Hidrologia da USP.
Ou seja: captar mais e mais água, cada vez mais longe, e usar uma vez só.
“Gera mais esgoto que nós não tratamos. Se a gente tratasse esse esgoto, hoje nós temos tecnologia para tratar a nível potável, a custos já compatível com essas adutoras. E utilizar essa água para fins potáveis. Temos também tecnologia para certificar a qualidade da água. Falta, realmente, decisão: vamos partir para o reuso”, afirma Ivanildo Hespanhol.
Desperdício pior do que usar água tratada, potável, para dar descarga ou lavar o chão, é deixar essa água escapar antes de chegar às torneiras. A substituição das esburacadas tubulações antigas esbarra em altos custos e dificuldade para intervir em áreas muito urbanizadas. Mas não é que uma avenida em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, teve quatro quilômetros de tubos trocados sem parar o trânsito? No sistema não destrutivo, a tubulação velha nem é retirada. Uma broca abre um novo caminho, paralelo. Depois, puxa a nova tubulação por ele. Menos buracos, menos transtorno.
“Mais rápido também, com certeza. A gente consegue fazer uma média aí de 200 metros/dia nesse método. O antigo você consegue fazer 50, cem”, conta o supervisor de obras Reginaldo Barbosa.
Com sistemas de águas privatizados, Niterói com 500 mil habitantes, no Rio de Janeiro e Limeira, de 300 mil, no interior paulista, são bons exemplos de redução de desperdício. Niterói tem 16% e Limeira apenas 9%, contra 37% da média nacional. As receitas são parecidas na automação, que permite controles de pressão e operação de redes à distância.
Niterói descentralizou o atendimento às denúncias de vazamentos para ter mais agilidade. Limeira tem tecnologia e ouvidos treinados para detectar o que ninguém vê. Serviço de responsabilidade. Não dá para errar, por tudo o que vem a seguir. Nas duas cidades, caçar fraudes também é fundamental. Quem não paga pela água aumenta o preço dela para quem paga. E os hidrômetros sofrem. São arames fincados no mostrador, ou na tubulação, para deter o reloginho, ímãs que têm o mesmo efeito. E esses já são os truques antigos.
"Ainda tem o pessoal que desvia, pessoal que é um pouco mais engenhoso, que vai um pouco mais a fundo. Ele vai no ramal de ligação mesmo para desviar e nem passar pelo medidor", diz Rodrigo Leitão, gerente de operações.
Em Limeira, 10% dos hidrômetros são trocados a cada ano. O da Dona Felicíssima já ia para 11 anos de uso. Não media mais pequenas vazões de água. Já o novo...
Felicíssima Rocha Vieira, dona de casa: Mas a minha economia eu espero que continue a mesma coisa.
Jornal Nacional: Não aumentando a conta.
Felicíssima Rocha Vieira: A conta, está bom. Isso nós esperamos.
Os resultados em Niterói impressionam sobretudo na comparação com outras cidades. Usando o mesmo critério de avaliação de perdas, contra os 16% de lá, São Paulo tem quase o dobro: perto de 30%. E o Rio, logo em frente, do outro lado da Baía de Guanabara, chega a incríveis 52%. Como resolver perdas desse tamanho, em cidades com muitos milhões de habitantes? Será tão difícil?
“É fundamental você setorizar, você conseguir a setorização do teu sistema. Você conseguir enxergar o teu sistema como pequenos sistemas. Você atacando o pequeno sistema, você acaba, no somatório, reduzindo a tua perda como um todo”, diz Alexandre Boaretto, gerente operacional do Águas de Niterói.
Fonte: G1
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