O jornal O Dia, desse domingo, publicou entrevista que concedi ao destacado jornalista Sidney Rezende, a quem agradeço muito a oportunidade de expressar algumas ideias e realizações.
Prefeito de Niterói, Axel Grael. Daniel Castelo Branco
"Uma eleição polarizada empobrece o debate político"Sidney Rezende
Com dois irmãos medalhistas olímpicos - Torben e Lars -, Axel Grael não seguiu a carreira esportiva dos velejadores. Engenheiro florestal, gestor público e ambientalista, Axel é prefeito de Niterói no período com uma das maiores dificuldades de qualquer político: encarar a covid-19. "Nesses nove meses de governo, enfrentamos o grande desafio de superar a pandemia, sem deixar de olhar para os demais anseios da população. Trabalhamos muito e continuaremos empenhando todos os esforços na construção de uma cidade mais inclusiva, saudável, dinâmica, moderna, sustentável, segura e alinhada com a ciência e a tecnologia. Certamente, nossos maiores desafios são retomar a economia, gerar cada vez mais empregos e garantir que ninguém fique para trás nesse processo de superação da pandemia", contou em entrevista ao jornal O DIA. O prefeito falou ainda sobre o que espera nas eleições do ano que vem. "Precisamos de um governador com liderança política, capacidade de diálogo e experiência de gestão para arrumar a casa e fazer os investimentos que precisamos para crescer", disse.
Niterói já vacinou mais da metade da população contra Covid-19. Quando o senhor acha que todos serão imunizados?
Niterói avançou bastante na vacinação contra a Covid-19. A cidade tornou-se uma das primeiras do Brasil a atingir a meta de disponibilizar vacinas para todas as faixas etárias a partir dos 12 anos e, no dia 1º de setembro, foi a primeira cidade do Estado do Rio a iniciar a aplicação da dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em idosos que receberam a segunda dose há mais de seis meses. Estamos trabalhando para chegar ao fim deste ano com a população vacinada e protegida. Neste momento, registramos em Niterói uma queda de transmissibilidade, de mortalidade e da taxa de ocupação hospitalar por conta da Covid-19, o que nos dá a segurança necessária para iniciar um processo de flexibilização como estamos fazendo agora. É fundamental que, ainda assim, a gente fique atento e siga usando máscara e seguindo os protocolos.
Como será esse Programa Novo Normal Niterói?
Na elaboração do Programa Novo Normal Niterói, a Prefeitura buscou informações sobre experiências internacionais no caminho de retorno à normalidade. E ouvimos o nosso comitê científico, assim como fizemos durante todo esse ano e meio de pandemia. A retomada na cidade acontecerá em fases. A expectativa é que na fase 1, já no começo de outubro, 70% dos moradores acima de 18 anos estarão com a vacinação completa. A fase 2 está marcada para novembro, quando a Prefeitura estima que 100% dos adultos tenham completado a vacinação. A fase 3 tem previsão de iniciar em janeiro de 2022 e a estimativa é que até lá 100% dos adolescentes estejam vacinados com as duas doses e 100% dos idosos com o reforço. Como não somos uma ilha, precisamos olhar para a Região Metropolitana como um todo e só em janeiro eles devem ter alcançado 100% de imunização. Então, se tudo correr conforme planejado, Niterói pode até acabar com a exigência de uso de máscaras em locais abertos.
Além de preparar a cidade para enfrentar a pandemia, quais são os principais desafios hoje?
Nesses nove meses de governo, enfrentamos o grande desafio de superar a pandemia, sem deixar de olhar para os demais anseios da população. Trabalhamos muito e continuaremos empenhando todos os esforços na construção de uma cidade mais inclusiva, saudável, dinâmica, moderna, sustentável, segura e alinhada com a ciência e a tecnologia. Certamente, nossos maiores desafios são retomar a economia, gerar cada vez mais empregos e garantir que ninguém fique para trás nesse processo de superação da pandemia. Desde o início da pandemia, Niterói implantou programas pioneiros de apoio às empresas e aos trabalhadores, que nos deram condições de sair na frente. Temos um plano de retomada econômica estruturado para continuar atraindo novos negócios e gerando oportunidades. Seguimos rumo ao desenvolvimento sustentável, com justiça social. Além disso, não podemos nos esquecer dos nossos jovens alunos. Mais do que nunca, é preciso investir na qualidade da educação, valorizando o uso de novas tecnologias a serviço de projetos pedagógicos que minimizem as perdas do último ano. Vamos continuar com os investimentos em saúde, mobilidade urbana, infraestrutura, tudo sempre pautado por meio de uma gestão transparente e responsável.
O senhor é ambientalista. O que da agenda em defesa do meio ambiente o senhor gostaria de realizar até o final do ano que vem?
Desde 2013, a agenda ambiental é uma prioridade em Niterói. Nossa cidade vem avançando muito no tema da sustentabilidade. Nossas vitórias me dão ainda mais entusiasmo para seguir na defesa do Meio Ambiente. Fomos pioneiros ao criar a Secretaria Municipal do Clima. Com o Niterói de Bicicleta, avançamos com mais 40 km de ciclovias e vamos chegar a 100 km até o fim da gestão. Nosso saneamento está perto da universalização, saímos de 10% para 60% de balneabilidade nas enseadas de Charitas, Jurujuba e São Francisco, e seremos a primeira enseada da Baía de Guanabara a ser despoluída, através do Programa Enseada Limpa, em parceria com Águas de Niterói. Temos também uma obra inovadora em andamento, a única do Brasil deste tipo, e premiada na França. O Parque Orla Piratininga Alfredo Sirkis, que tem previsão de conclusão em 2022, é uma grande contribuição para a recuperação da Lagoa de Piratininga e uma área de mais de 150 mil metros quadrados será reflorestada. O plantio vai recuperar o ecossistema da região. É a principal obra deste tipo no país, inclusive premiada no exterior. A criação do Parque irá permitir restabelecer novo equilíbrio ecológico no entorno da Lagoa, manter e fomentar a atividade pesqueira na região, a abertura de espaços multifuncionais com equipamentos de lazer para a população, mirantes e píeres, além de intensificar questões voltadas para a educação ambiental, ecoturismo e gestão de resíduos sólidos.
A sua família liderou o Projeto Grael, desde 1998, em que o trabalho consiste em incluir jovens e crianças à atividade esportiva. Como está o projeto atualmente e o que a prefeitura de Niterói pode ajudar?
Quando eu e meus irmãos, Torben e Lars, fundamos o Projeto Grael, nosso maior desejo era promover o acesso ao esporte e democratizar a vela. Acredito muito no caminho transformador que o esporte, aliado à educação, proporciona na vida de uma criança. Nesses 23 anos de trajetória, mais de 17 mil jovens já passaram pela instituição. Mais do que formar atletas, o Projeto Grael promove a inclusão social, oferece novas perspectivas e oportunidades. Muitos alunos já saem de lá direto para o mercado de trabalho, através dos cursos profissionalizantes oferecidos. Devido aos cargos que tenho exercido nos últimos anos, a Prefeitura de Niterói fica legalmente impedida de ajudar o Projeto Grael. Por outro lado, reconhecendo a importância das ONGs no desenvolvimento da cidade e de seus munícipes, a Prefeitura está lançando agora o programa Niterói Cidadã, que vai promover a profissionalização das organizações e capacitá-las para que aprimorem a gestão, elaborem projetos e captem recursos de forma independente. O programa conta com a atuação voluntária da minha esposa, Christa, que durante 13 anos esteve à frente do Projeto Grael. Hoje, ela está desligada da instituição, mas vivenciou os desafios do Terceiro Setor e tem muito a contribuir com sua experiência. As ONGs desempenham um papel fundamental junto ao setor público. São duas forças que, juntas, buscam o avanço social e o pleno exercício da cidadania. Sem dúvidas, essa iniciativa vai fortalecer o Terceiro Setor e sua atuação em nossa cidade.
A prática esportiva aquática no litoral de Niterói será incentivada?
Niterói tem uma tradição fantástica nos esportes náuticos, seja na vela, no surf ou bodyboard. É uma vocação natural da nossa cidade que vem sendo incentivada por iniciativas municipais como o Programa Enseada Limpa, que alcança resultados expressivos na despoluição das nossas praias da Baía de Guanabara. Devido a isso, Niterói está se consolidando como um dos principais pontos do país para a prática de canoa havaiana. Com a implantação do Parque Orla Piratininga Alfredo Sirkis e as demais ações para a recuperação do ecossistema local, a expectativa é de que em aproximadamente cinco anos a gente consiga alcançar condições para a prática esportiva neste que é um dos mais belos cartões postais de nossa cidade. Manteremos o incentivo à prática das diferentes modalidades esportivas em Niterói, que também tem uma grande vocação para esportes diretamente ligados à natureza, como voos de asa delta e parapentes, trilhas e até mountain bike. Um dos nossos principais focos, no entanto, é utilizar o esporte como ferramenta de inclusão social, como vem acontecendo, por exemplo, no Parque Esportivo do Caramujo, implantado em uma das áreas de maior vulnerabilidade social da cidade. Com capacidade para 2 mil alunos, o parque conta com campo de futebol, pista de atletismo, quadra poliesportiva e área para a prática de skate.
O que o senhor pensa fazer para melhorar o trânsito de Niterói?
Niterói vem avançando bastante nos últimos anos em ações voltadas para a mobilidade urbana. Tiramos do papel projetos importantes como a TransOceânica e a construção do túnel Charitas-Cafubá, que mudaram a realidade dos moradores da Região Oceânica, proporcionando menor tempo de deslocamento até o Centro da cidade. Lançamos o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável, que inclui uma série de intervenções urbanas e viárias, algumas já concluídas, como o alargamento da Rua Doutor Paulo Alves, no Ingá, e a requalificação da Avenida Marquês do Paraná, Centro, e outras previstas para serem implantadas nos próximos 10 anos, visando à melhoria da mobilidade em toda a cidade de Niterói. Entre as intervenções previstas no Plano de Mobilidade Sustentável está a construção de um terminal de ônibus no bairro do Caramujo, que vai reduzir o número de coletivos que trafegam pela Alameda São Boaventura, no Fonseca, além de desafogar o Terminal Rodoviário João Goulart, no Centro. Outra intervenção será na Região Oceânica, com a construção de rotatória, em formato de praça, na entrada de Camboinhas, facilitando o acesso ao bairro e melhorando a mobilidade para quem segue para Piratininga. A rotatória terá uma estação de ônibus nos mesmos moldes das estações da TransOceânica. Com o objetivo de tornar cada vez melhor a mobilidade em toda a cidade, estamos planejando e desenvolvendo ações incluindo a integração de modais de transporte público. Estamos também investindo na ampliação e requalificação da malha cicloviária, que é uma das maiores do país. A cidade tem hoje corredores viários que contam com sinais de trânsito inteligentes e monitoramento por câmeras 24h. O Centro de Controle Operacional (CCO Mobilidade) conta com tecnologia de ponta, atende nossa cidade de forma integrada, auxilia no trabalho das equipes de planejamento e operação de trânsito, contribuindo de forma decisiva para a gestão da mobilidade urbana.
Qual é a sua posição política em relação às disputas estadual e federal?
O Estado do Rio passa por uma crise sem precedentes em nossa geração. Precisamos de um governador com liderança política, capacidade de diálogo e experiência de gestão para arrumar a casa e fazer os investimentos que precisamos para crescer. Tenho certeza de que meu antecessor, o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, reúne todas estas características que o fazem o mais qualificado para nos levar ao Estado do Rio que queremos. Ele transformou Niterói e tem um sério planejamento a ser colocado em prática no Palácio Guanabara. O cenário nacional é igualmente difícil, com complicadores políticos típicos de um país dividido. Aqui, como em Brasília, não há espaço para mais retrocesso ou aventuras. Diante de um país imerso em uma crise política, econômica e social, que radicaliza posições e polariza a sociedade, o Ciro Gomes, do meu partido, o PDT, se apresenta como uma opção viável. Uma eleição polarizada, plebiscitária, empobrece o debate político e enfraquece o processo democrático.
Qual avaliação o senhor faz dos acertos e erros do governo Bolsonaro?
Infelizmente, o Governo Bolsonaro ficará marcado por uma sucessão de equívocos que levam o Brasil a um histórico retrocesso em diferentes setores, como Saúde, Meio Ambiente e Educação. A agenda negacionista e antiambiental do Governo Bolsonaro isolou o país internacionalmente. Tudo isto em meio a uma crise política que fragiliza a democracia e, consequentemente, nos enfraquece como nação. Essas crises diárias levam a população a uma grave desconfiança com relação ao Congresso Nacional, à Justiça, aos ministérios e até ao sistema eleitoral, alicerces da democracia. Será preciso muito tempo para que esta relação entre a sociedade e as instituições seja restabelecida. Temos pela frente, sem dúvida, um período de muitas dificuldades. O pós-pandemia se traduz num imenso desafio até para as grandes potências mundiais. Para nós, será necessário um esforço hercúleo para fechar tantas feridas, unificar o país e retomar o caminho do crescimento. Não será possível sem um projeto de nação com foco no desenvolvimento sustentável, com combate a desigualdades, geração de empregos e investimentos em educação.
Fonte:
O Dia