domingo, 24 de dezembro de 2017

Niterói: ciclistas ocupam cada vez mais seu espaço nas ruas




Número de ciclistas trafegando por hora subiu de 183 para 255 na Av. Amaral Peixoto, que serve de base para o estudo do Grupo Mobilidade Niterói. Foto: Marcelo Feitosa


Vinicius Rodrigues

Número de bicicletas cresceu 72% no último trimestre, como alternativa para fugir dos engarrafamentos

Os engarrafamentos em Niterói por causa do excesso de carros ainda estão longe de terminar. No entanto, a cultura de ciclomobilidade vem ganhando espaço no município, que pode se traduzir em números. Segundo o programa Niterói de Bicicleta, da Prefeitura de Niterói, não é possível precisar o número de ciclistas, no entanto, as duas principais ciclovias do município (Avenida Ernani do Amaral Peixoto no Centro e Avenida Roberto Silveira em Icaraí) tiveram aumento considerável. Em 2015 foram contados, respectivamente, 87 ciclos/hora e 86 ciclos/hora nestas vias. Em 2016, foram 129,6 ciclos/hora e 145 ciclos/hora. Assim, verificamos o aumento do volume de ciclistas em 49% na Avenida Amaral Peixoto e em 69% na Avenida Roberto Silveira.

No Centro de Niterói, a Avenida Amaral Peixoto, que serve para a base de estudos do grupo Mobilidade Niterói, os números foram um pouco maiores. De acordo com o coletivo, houve aumento de 72,6% no número de ciclistas no último trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2016. Foram 255 contra 127,5 por hora.

O maior fluxo de usuários é composto daqueles que estão em aparente deslocamento e usando o ciclo como meio de transporte e não para serviço tais como para entrega e/ou carga ou mesmo para a prática esportiva, observa o relatório, ressaltando que a observação foi feita nos horários de maior movimentação na via.

“Ressaltamos que este crescimento poderia ter sido maior. Niterói é uma cidade com curtas distâncias a serem percorridas e com relevo favorável. A melhoria na fluidez do trânsito para todos passa pela melhoria do transporte público ao incentivo dos meios ativos de locomoção como as bicicletas, diminuindo com isto a necessidade do uso do automóvel particular”, analisa o especialista e ciclista Sérgio Franco, responsável pelo relatório.

Os motivos que levaram o morador da cidade a optar pelo modal, segundo especialistas, costuma ter a fuga dos engarrafamentos como o um dos principais fatores.

“O cidadão vai querer sair de bicicleta para poder ganhar tempo. É claro que a sustentabilidade, o exercício físico ou a facilidade de locomoção são fatores importantes, mas o uso da bicicleta é basicamente para esse fim”, indica o engenheiro de trânsito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Patrick Garolla.

Para o também especialista em trânsito urbano, Ricardo Ventura, da Uerj, no entanto não adianta só ter ciclovias, mas a manutenção e fiscalização passa a ser até mais importante no processo de educação.

“Niterói tem um potencial grande para os ciclistas, mas é preciso planejamento. É preciso que haja ciclovias interligadas. O ciclista não vai sair da Zona Sul em uma ciclovia em direção à Zona Norte por vias sem sinalização e com riscos para sua integridade. O mesmo vale para a educação dos motoristas, que precisam entender que existe um código de trânsito a ser respeitado”, alerta o especialista.

Construção do bicicletário Arariboia, no Centro, tem contribuído para que as pessoas tirem a bicicleta de casa. Foto: Marcelo Feitosa


Bicicletário estimula o uso das bicicletas

Mesmo com o aumento de ciclistas pela cidade, muitos ainda temem com o risco de roubos e furtos das magrelas. O Instituto de Segurança Pública do Estado (ISP) informou que, em Niterói, houve queda no número de furtos das bicicletas em outubro deste ano – comparado com o mesmo período do ano anterior. Foram 25 contra 16 (-23%).

Mesmo assim, o site especializado Bicicletas Roubadas (bicicletasroubadas.com.br) informou que, no último trimestre, o município ocupa o 10º lugar entre todas as cidades do país com o maior índice de roubos e furtos (54) de bikes. O número totaliza 1,28% no país. Quem lidera o ranking é a cidade de São Paulo (908), seguida do Rio de Janeiro (578) e Curitiba (330).

Para o especialista em ciclomobilidade, Marcelo Alvarenga, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a construção do bicicletário Arariboia, além da presença de guardas municipais e policiais militares nas ruas, são indicativos de que os roubos e furtos diminuíram. Isso porque, segundo ele, a maior preocupação dos ciclistas é sobre onde deixar as bicicletas.

“Aquela história de que era só prender em uma árvore ou usar uma corrente que não teria problema já não existe mais. O ciclista agora preza por um local onde ele possa ficar tranquilo”, avaliou.
A prefeitura informou que faz parte do escopo do programa Pró-Sustentável a construção de 6 bicicletários fechados (nos moldes do Bicicletário Arariboia) e a instalação de 1.000 vagas de bicicletas até o final de 2020.

Desrespeito preocupa 

O desrespeito aos ciclistas e a precariedade na fiscalização ainda são motivos de preocupação, sobretudo por causa de acidentes. Segundo o Mobilidade Niterói, apenas no ano passado foram mais de 50 acidentes em Niterói, sendo dois com mortes, mas grupos de ciclistas da cidade acreditam que os números são maiores.

“Desde 2014 nós defendemos a realização periódica de campanhas de educação e maior fiscalização no trânsito. Enquanto estas medidas não forem implementadas com seriedade pela Prefeitura de Niterói, pedestres e ciclistas seguirão sendo vítimas na cidade”, analisou Luís Araújo, do coletivo Pedal Sonoro, um dos mais importantes de Niterói.

Uma das vítimas de acidente na cidade contou como sofreu uma lesão. O caso aconteceu em 28 de agosto deste ano: “Quando fui passar pelo cruzamento, o motorista não olhou para a Rua Dr. Carlos Maximiano, no Fonseca, e acelerou, justamente no momento em que eu passei. Tive ferimentos leves, mas precisei ser levada ao Hospital Estadual Azevedo Lima para a realização de curativos e raio-x do meu pé, que estava luxado”, contou a vítima.

Em sua página oficial, a Niterói Transporte e Trânsito, NitTrans, informou que continua com a fiscalização sobre bicicletas. Quatro agentes de manhã e quatro agentes durante a tarde fiscalizam as ciclovias das avenidas Roberto Silveira e Amaral Peixoto. Sendo que os responsáveis pela Amaral Peixoto circulam até o MAC combatendo irregularidades nas vias para ciclistas na Cantareira e na orla.

Ciclovia no Fonseca e bikes compartilhadas

Motivo de reivindicação dos ciclistas ao longo dos últimos anos, o bairro do Fonseca, na Zona Norte de Niterói, vai ganhar uma ciclovia em 2018, segundo a Prefeitura de Niterói.
O Executivo informou que a faixa destinada aos ciclistas vai ser feita em toda a extensão da Avenida Professor João Brasil, passando pelos bairros da Engenhoca e Barreto.

“Já é mais do que necessário esse projeto para a Zona Norte. Além de mim, conheço muitas pessoas que trabalham na Zona Sul e evitam ir de bicicleta porque têm medo de passar na Alameda São Boaventura, principalmente na hora do rush, que tem mais carros”, contou o programador Victor Marinato.

A prefeitura informou ainda que já existe um projeto em andamento para a Avenida Marquês do Paraná, ligando Zona Sul-Centro. Haverá também a inauguração dos trechos 4/5/6/7 da Transoceânica com infraestrutura cicloviária no próprio corredor viário ou em ruas paralelas, e serão desenvolvidos projetos para outros 50km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas na Região Oceânica, no âmbito do Programa Pró-Sustentável.

Em 2018, o Niterói de Bicicleta vai trabalhar no projeto de bicicletas compartilhadas com previsão de implantação no segundo semestre de 2019, e em projetos de incentivo ao uso da bicicleta e de educação no trânsito.

O sistema de bikes compartilhadas já existe no Rio de Janeiro e em outros estados do Brasil. Em Fortaleza, por exemplo, o ciclista adquire um passe mensal por R$ 10 e durante 30 dias ele tem o direito a usar uma bicicleta que pode ser encontrada através de aplicativo de celular. O projeto é o ‘Bicicletar’.

“É uma forma de você continuar utilizando as bikes, bem como a manutenção das mesmas, ou seja, você paga e cuida para que o próximo tenha condições de usar. É bem comum na Europa, além de ser totalmente sustentável”, contou o ciclista cearense Vladimir Bueno, morador de Niterói há dois anos.

Fonte: O Fluminense








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