segunda-feira, 21 de março de 2016

REVISTA O FLU: Boas iniciativas de educação ambiental e sustentabilidade em Niterói e São Gonçalo



No Estação do Aprender, em Santa Rosa, as crianças têm atividades lúdicas de conhecimento do meio ambiente
Marcelo Feitosa


Maria Clara Pestre

Niterói e São Gonçalo estão cheios de projetos de desenvolvimento sustentável e de educação ambiental. Conheça-os

Cabos de vassoura, latas vazias, latinhas de refrigerante. Itens normalmente jogados no lixo ganham um novo sentido com o projeto Niterói EcoCultural. Dividido em três iniciativas, o grupo de participantes transforma lixo em instrumentos musicais, itens de decoração e até peças de moda. Do outro lado do processo de reciclagem, o projeto Grael coleta até uma tonelada de resíduos sólidos da Baía de Guanabara todos os dias. Já no colégio Estação do Aprender, professores e pais se esforçam para impedir que esse lixo sequer chegue nas águas e ruas de Niterói. Com uma filosofia de educação ambiental, a escola garante que as crianças saibam desde cedo como preservar o ambiente em que vivem.

Organizado pela Secretaria do Meio Ambiente do Rio de Janeiro e pela prefeitura de Niterói, o EcoCultural é um projeto baseado em três pilares, explica seu gerente executivo (*), Paulo Cunha.

(*) CORREÇÃO: O projeto Niterói EcoCultural foi concebido pela Prefeitura de Niterói, é gerenciado pela Fundação de Artes de Niterói - FAN, com o apoio do INEA. O projeto foi apresentado pela Prefeitura ao Fundo Estadual de Controle Ambientel - FECAM, onde teve o seu financiamento aprovado. Paulo Cunha é o superintendente regional da Baía de Guanabara do INEA e um parceiro do EcoCultural.

"Sempre digo que o projeto tem como base um tripé que dá samba: o meio ambiente, a arte e a cultura”, afirma Cunha.

A iniciativa é dividida em três oficinas, a EcoMúsica, a EcoModa e a EcoDesign. Em comum todas têm como objetivo ensinar maneiras alternativas de utilizar itens que seriam jogados no lixo.


A Ecomúsica transforma lixo reaproveitável em instrumentos musicais
André Redlich
 

“Nosso principal foco é criar uma nova cultura de tratamento de resíduos sólidos”, explica o gerente.

Para isso, o EcoCultural terá, ao longo dos próximos dois meses, aulas para ensinar a transformar lixo em instrumentos musicais, peças de roupa e até móveis. As oficinas acontecerão todas as semanas e são abertas para o público. Ao falar sobre as atividades, Paulo se recusa a chamar os itens utilizados no projeto de “lixo”.

“Prefiro o termo ‘resíduos sólidos’, para mostrar que aquele material ainda tem utilidade”, argumenta.

Regina Café, coordenadora da EcoMúsica, explica que as oficinas são divididas em duas partes. Em uma os alunos aprendem a fazer os instrumentos e em outra a tocar.
“Afinal, se você não sabe tirar sonoridade, o instrumento que nós fazemos é só mais uma lata”, completa.

Na aula os principais materiais usados são tampinhas de refrigerante, latas de tinta, cabos de vassoura e até latas de filme usadas. Nas mãos de Regina e dos alunos, esses itens saem do lixo e viram chocalhos, surdo, bateria, berimbau e muito mais.

O gerente do Niterói EcoCultural explica porque a cidade foi escolhida para receber o projeto.

“Quando o lixo é transformado em outros itens ele não é jogado na Baía de Guanabara, que é nossa maior preocupação”, pondera Paulo.

A baía, aliás, também é o foco de outra iniciativa da cidade: o Projeto Grael. Focado em ensinar esportes náuticos, como a vela, para crianças da rede pública de ensino, o projeto se preocupa também com o lugar de treino de seus alunos: o mar. Para garantir a limpeza da Baía de Guanabara, o grupo organizou a iniciativa Águas Limpas, feita em parceria com a Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) (OBS: O projeto Águas Limpas é patrocinado por Águas de Niterói), que utiliza um barco especial para remover o lixo flutuante nas redondezas de Jurujuba, Charitas e São Francisco. O barco encarregado da missão conta com um sistema de sucção que puxa o lixo da superfície da água e tem capacidade de até 500 kg. Parece muito, mas Cristian Sodré, condutor do barco, revela que, na maioria das vezes, tem que fazer duas viagens por dia para coletar todo o lixo.

“Um barco não é suficiente, tem muito lixo”, afirma o jovem de 25 anos, que está há um ano nessa atividade. Ele lista alguns dos itens mais curiosos que retirou do mar: seringas, bonecas e até uma televisão.


Embarcação "Águas Limpas", dedicada a retirar o lixo flutuante da Baía de Guanabara, é operada por profissionais formados pelo Projeto Grael. Foto acervo Projeto Grael. 

Alunos do Projeto Grael participando de iniciativa de limpeza de praias. Acervo Projeto Grael.


O barco, que é pilotado apenas por ex-alunos do projeto Grael, é “decorado” com alguns materiais encontrados no mar. Dão charme à embarcação, por exemplo, uma bola de tênis, um ioiô e uma pequena baleia de brinquedo. O Águas Limpas, explica Thiago, funciona em conjunto com outro projeto ambiental do Grael: o Baía de Guanabara, já finalizado, responsável por desenvolver um sistema que consegue calcular os locais com maior probabilidade de acumular lixo nas águas. Assim, a busca por resíduos é mais eficiente e rápida.

Além de beneficiar os alunos que treinam todos os dias naquele mar, a iniciativa Águas Limpas é muito importante em tempos de Olimpíadas.

“O lixo flutuante pode acabar com a competição de um atleta. Ele causa atrito e reduz a velocidade do barco e ainda pode causar acidentes graves”, destaca Thiago Marques, coordenador de meio ambiente do projeto.

Apesar da preocupação com as condições atuais da Baía de Guanabara, o Projeto Grael não é o único que gira em torno do lugar. Sediado em São Gonçalo, o Projeto Uçá tem como símbolo o caranguejo de mesmo nome, muito presente nos manguezais que a iniciativa quer proteger. Pedro Belga, coordenador do projeto, explica que a Baía de Guanabara é muito mais que o “espelho d’água com o Pão de Açúcar ao fundo” e que muitas pessoas esquecem do manguezal que circunda a baía dos cartões-postais.

“Os manguezais são literalmente o berçário do mar e eles estão completamente destruídos”, afirma Pedro, ressaltando que a grande presença de lixo é fatal para os mangues, já que impede a vegetação de crescer, atrapalhando o ciclo de vida dos animais que ali se desenvolvem. Para amenizar a situação e evitar que mais pessoas joguem resíduos nessas áreas, o Projeto Uçá atua em duas principais frentes: a educação ambiental, e a limpeza e reflorestamento do manguezal. Desde o início do projeto, em 2012, o grupo já reflorestou mais de 18 hectares, o equivalente a 22 campos de futebol.

Para passar adiante as informações recolhidas no projeto, a equipe do Uçá visita escolas em diversas cidades dos municípios de Niterói e São Gonçalo. Pedro Belga acredita que a infância é o melhor momento para plantar a semente da conscientização ambiental, porque os adultos já estão “viciados” a maus hábitos.


Projeto Uçá, de São Gonçalo. Divulgação.


“A criança é um quadro em branco, onde você pode escrever o que quiser. Eles são os nossos principais replicadores” explica Pedro.

Essa também é a perspectiva do colégio Estação do Aprender, em Santa Rosa, que propõe uma educação permeada pela preocupação ambiental. Todas as disciplinas e projetos da escola incluem atividades lúdicas de conhecimento do meio ambiente. Os professores contam com um consultor ambiental que os ajuda a elaborar as aulas.

Para ensinar as crianças a preservar a natureza de forma sutil e não imposta, o colégio escolhe um tema relacionado a campanhas da ONU para trabalhar ao longo do ano. Em 2015 o tema foi “Ano luz” e os professores ensinaram aos alunos o que é a energia através da plantação de mudas de cana de açúcar na horta da escola. A ideia, explica Thaís Botelho, assessora de marketing da Estação do Aprender, é fazer com que a criança se preocupe com o meio ambiente sem perceber. O colégio também estimula a relação dos alunos com a natureza através de passeios e atividades lúdicas. Em volta da escola estão árvores de jabuticaba e acerola plantadas pelos pequenos. Os alunos da Estação também plantaram árvores no Campo de São Bento e fazem passeios para conhecer tipos diferentes de animais e plantas. Para Thaís Botelho, esse convívio com o ambiente desde cedo é fundamental para desenvolver a consciência ambiental nos alunos.

“Eles são nossas esponjinhas, absorvem tudo de bom que a gente passa”, afirma.

Com a ajuda de todos esses projetos, a expectativa é de que, no futuro, o homem já tenha descoberto melhores maneiras para usufruir do meio ambiente sem feri-lo. Em Niterói, teremos um exemplo disso antes do que esperávamos, com o projeto Nós Vivemos o Amanhã (NO.V.A), que construirá uma casa do futuro na Concha Acústica da cidade.

O projeto está sendo desenvolvido através de sugestões em uma plataforma digital de colaboração. Pelo site, todos podem enviar ideias do que gostariam de ver na casa. O coordenador do projeto, Felipe Conti, explica que o objetivo por trás dessa estratégia é entender quais são as necessidades e as prioridades da população para uma moradia do futuro.

“A estrutura da casa será formada por módulos pré-fabricados, que reduzem o tempo de construção e o uso de água e de materiais convencionais, como argamassas, mais agressivos ao meio ambiente”, explica o coordenador.

Como a casa é uma realização da Ampla, concessionária de energia elétrica de Niterói, a luz elétrica também é um foco do projeto.

“Com o NO.V.A pretendemos, principalmente, entender como será o consumo de energia no futuro, como será o comportamento de nossos clientes e a relação deles com os eletroeletrônicos em suas residências”, elenca Felipe.

A verdade é que ainda há muita estrada pela frente para corrigir os erros cometidos com o meio ambiente, mas, com iniciativas como o Niterói EcoCultural, o Projeto Grael, o Uçá e esforços como os do colégio Estação do Aprender, é certo dizer que Niterói está em um bom caminho para fazer as pazes com a natureza.

Fonte: Revista OFLU



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