O movimento ambientalista, a sustentabilidade urbana, a luta contra as mudanças climáticas e a política brasileira perderam um de seus maiores nomes e um lutador aguerrido, Alfredo Sirkis, falecido tragicamente num acidente de automóvel na última sexta-feira, dia 10 de julho.
Sirkis tinha personalidade forte, era uma figura firme e imponente. Brizola o chamava de "general prussiano"! Tinha aquele jeito durão e aparência enérgica, mas ao falar de seus projetos e sonhos, mostrava-se um aguerrido perseguidor dos seus ideais. Muito culto, falava vários idiomas e se correspondia com personalidades mundiais da primeira linha. Eu sempre admirei a sua capacidade de leitura e interpretação do cenário político e a sua estreita conexão com o que havia de vanguarda nas políticas para a sustentabilidade no mundo.
Ajudou a fundar três partidos: foi um dos signatários da Carta de Lisboa, de 1979, que deu origem ao Partido Democrático Trabalhista - PDT, foi um dos fundadores de Partido Verde (1986) e da Rede Sustentabilidade (2013).
Sirkis e a minha carreira na gestão pública
Foi ele que, como presidente do PV, me indicou para o meu primeiro cargo público: presidente do Instituto Estadual de Florestas - IEF-RJ, no segundo governo Brizola. Era 1990/1991, eu tinha por volta de 32 anos, já militava como ambientalista em Niterói desde 1980, e fui pinçado por ele do movimento ambientalista para esse importante desafio. Naquela ocasião eu era um dos líderes do Movimento Cidadania Ecológica - MCE, e tínhamos como principal bandeira a criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca, para o qual produzimos os estudos técnicos para embasar a sua criação, redigimos a minuta de projeto de lei e fazíamos a mobilização para pressionar para a sua efetivação.
Agitávamos muito, tínhamos uma grande capacidade de mobilização e chegamos a ter uma grande repercussão na imprensa. Certa ocasião, num domingo, fomos foto de destaque da primeira página do Jornal do Brasil, caminhando pela trilha do Alto Mourão e reivindicando o parque. Dias depois, Sirkis me telefonou, perguntou se eu aceitaria presidir o IEF, justamente o órgão que teria a atribuição de implantar e gerir o nosso parque, além de todas as demais do estado. Apesar da total falta de experiência, aceitei o convite e aguardei a resposta dos entendimentos dele com o governador eleito, Leonel Brizola.
Eu trabalhava com consultoria ambiental, como responsável pela área ambiental do escritório do Rio de Janeiro da Jaakko Pöyry Engenharia, uma empresa de origem finlandesa e que era na ocasião uma das maiores do país. Quando eu voltava de uma visita a uma indústria no Sul do estado, Sirkis me ligou e disse, preciso que você me acompanhe em uma solenidade. Segui da estrada direto para o local, uma recepção de engravatados e eu me sentindo um mulambo. Lá, encontrei o jornalista Roberto D'Ávila, que já havia sido anunciado como o futuro secretário estadual de Meio Ambiente e este me apresentou aos presentes como o novo presidente do IEF-RJ.
Com Sirkis na cidade do Rio de Janeiro
Depois dos quatro anos no IEF-RJ, já encantado com a administração pública, fui ajudar o Sirkis a implantar a Secretaria de Meio Ambiente da Cidade (Prefeitura do Rio). Na época, ele estava no meio de uma grande polêmica, divergindo publicamente do prefeito Cesar Maia e com o então secretário de Urbanismo, Luiz Paulo Conde, sobre a supressão de umas árvores e a destruição de um bosque de umas árvores ameaçadas de extinção, as tabebuias, na Barra. Para reforçar a sua posição, fui nomeado por ele diretor executivo da Fundação Parques e Jardins do Rio, com a missão de implantar uma política para a arborização pública da cidade.
Com Sirkis na cidade do Rio de Janeiro
Depois dos quatro anos no IEF-RJ, já encantado com a administração pública, fui ajudar o Sirkis a implantar a Secretaria de Meio Ambiente da Cidade (Prefeitura do Rio). Na época, ele estava no meio de uma grande polêmica, divergindo publicamente do prefeito Cesar Maia e com o então secretário de Urbanismo, Luiz Paulo Conde, sobre a supressão de umas árvores e a destruição de um bosque de umas árvores ameaçadas de extinção, as tabebuias, na Barra. Para reforçar a sua posição, fui nomeado por ele diretor executivo da Fundação Parques e Jardins do Rio, com a missão de implantar uma política para a arborização pública da cidade.
Na época, eu também o ajudei a iniciar a implantação da malha cicloviária do Rio, uma iniciativa pioneira no país. Juntamente com a arquiteta Estela Neves, eu atuava na estruturação de um programa de educação cicloviária, com a finalidade de superar os muitos conflitos que surgiram com a chegada das ciclovias do Rio.
Ironicamente, Alfredo que era um amante da bicicleta e crítico do automóvel, nos deixou num acidente de carro e batendo num poste com energia solar. Certamente, isso há de nos ensinar algo, assim que formos capazes de compreender tristes momentos como este.
Sirkis fará muita falta, mas certamente o céu está mais verde e emanando ventos de sustentabilidade para nós. Ele deixou a sua marca por aqui e continuará sempre nos inspirando.
Axel Grael
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O acidente ocorreu por volta das 14h20 no km74, na altura de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no pista sentido Caxias-Dutra.
Alfredo Hélio Syrkis nasceu no dia 8 de dezembro de 1950 no Rio de Janeiro. Era jornalista, escritor e roteirista de TV e cinema, gestor ambiental e urbanístico e ex-parlamentar. Atualmente, era diretor executivo do think tank Centro Brasil no Clima (CBC). Entre outubro de 2016 e maio de 2019 foi o coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC), tendo organizado a campanha Ratifica Já! que propiciou a ratificação, pelo Brasil, em tempo recorde, do Acordo de Paris; do processo para a elaboração da Proposta Inicial para Implementação da NDC brasileira e da avaliação Brasil Carbono Neutro 2060. Quando deputado federal (2011-2015) presidiu a Comissão Mista de Mudança do Clima do Congresso Nacional (CMMC) e foi um dos vice-presidentes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Decidiu não se candidatar à reeleição, em 2014.
Foi vereador em quatro mandatos, secretário municipal de urbanismo e presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), entre 2001 e 2006 e secretário municipal de meio ambiente, entre 1993 e 1996, na cidade do Rio de Janeiro. Membro da delegação brasileira às conferências do Clima de Montreal, Bali, Copenhagen, Durban, Varsóvia, Lima, Paris, Marrakech e Bonn. Integrou as comissões executivas do ICLEI (International Council for Local Environmental Initiatives) e do Metrópolis. Foi um dos fundadores do Partido Verde brasileiro e um dos expoentes da ideologia verde no Brasil.
Autor de nove livros, dos quais o mais conhecido é Os Carbonários (1980), Prêmio Jabuti de 1981, ele iniciou seu trabalho como jornalista, em Paris, em 1973, no recém fundado jornal Liberation, dirigido por Jean Paul Sartre, foi seu correspondente freelancer em Santiago (1973, durante o golpe de estado) e Buenos Aires (1974). Em Portugal colaborou com os semanários Expresso e Gazeta da Semana e os diários República, Diário Popular, Diário de Lisboa, foi redator do Jornal Novo, editor internacional de Página Um e redator chefe da edição em português de Cadernos do Terceiro Mundo. Nessa época também colaborou com Le Monde Diplomatique. Nesse período utilizava o pseudônimo “Marcelo Dias”.
Nos anos 70 passou oito anos e meio no exílio na França, Chile, Argentina e Portugal. Foi líder estudantil secundarista, em 1967 e 1968. Entre 1969 e 1971 participou da resistência armada contra a ditadura militar brasileira (1964–1985) (os Anos de Chumbo), participando de operações armadas, inclusive dois sequestros de diplomatas que levaram à libertação de presos políticos.
Na imprensa brasileira trabalhou como repórter das revistas Veja (1982) e Istoé (1983) e colaborou com os semanários Pasquim, Playboy, Jornal de Domingo e Shalom. Elaborou diversos roteiros para a série Teletema da TV Globo (1986-7) como Maria Testemunha, Estrela do Mar, O russo desaparecido e a Mulata Esmeralda, O grande prêmio e A árvore mágica.
Foi colaborador dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Valor Econômico e Correio Brasiliense.
POLÍTICA
Ao voltar do exílio, dedicou-se à carreira de escritor. Lançou, em 1980, o livro de memórias Os carbonários, que se tornou um best-seller. e ganhou o Prêmio Jabuti de 1981. No ano seguinte, lançou mais um livro de memórias, desta vez abordando seus dois primeiros anos no exílio: Roleta chilena. Em 1983, lançou Corredor polonês, romance baseado na trajetória de seus pais poloneses. Em 1985, fez uma incursão no gênero da ficção científica com Silicone XXI, onde descreve uma Rio de Janeiro futurista.
Abandonando a ideologia marxista de seus tempos de guerrilheiro, Sirkis não entrou para os tradicionais partidos de esquerda e tornou-se um dos expoentes da ideologia verde no Brasil. Em 1986, foi um dos fundadores do Partido Verde brasileiro, seu primeiro secretário-geral e presidente nacional entre 1991 e 1999.
Elegeu-se vereador do município do Rio de Janeiro em 1988, sendo o mais votado, com 43 000 votos.
Em 1989, obteve a aprovação do tombamento do Bosque da Freguesia, em Jacarepaguá e a Lei de Sinalização Ecológica.
Em 1990, obteve a aprovação para a criação da Área de Proteção Ambiental da Prainha, impedindo a construção de doze edifícios no local. Elaborou o capítulo de meio ambiente da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro.
Em 1991, liderou a luta em defesa da Lagoa de Marapendi, ameaçada por um projetos imobiliários; elaborou o capítulo de meio ambiente do Plano Diretor Decenal e obteve o compromisso do prefeito Marcello Alencar para a construção das ciclovias da orla marítima.
Em 1992, obteve a aprovação da Lei de Incentivos Fiscais para projetos eco-culturais (desde então, chamada Lei Sirkis), que viabilizou o Fórum Global 92 durante a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento; criou a Área de Proteção Ambiental das Brisas, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro e presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito de atividades irregulares de segurança. Foi reeleito vereador, embora tenha se afastado para ser o primeiro secretário municipal de meio ambiente do Rio de Janeiro de 1993 a abril de 1996.
Em 1993, foi convidado pelo prefeito César Maia para criar a secretaria de meio ambiente da cidade, assumindo o cargo de secretário extraordinário. A lei de criação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente encontrou forte resistência na Câmara de Vereadores, sendo rejeitada duas vezes antes de ser aprovada em 1994.
Em 1994, desenvolveu mutirões de reflorestamento, iniciou o projeto das Ciclovias Cariocas e criou o Conselho das Águas da Baixada de Jacarepaguá.
Em 1995, começou a construção das ciclovias; realizou obras de recuperação da rede da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas; iniciou o saneamento do Recreio dos Bandeirantes; implantou o Parque do Bosque da Freguesia e o Parque Marcelo de Ipanema; iniciou a dragagem da Lagoa do Camorim e ampliou o mutirão de reflorestamento em 47 favelas.
Deixou o cargo de secretário municipal em abril de 1996 com uma aprovação de 87%, segundo pesquisa do IBOPE. Lançou a coletânea Verde Carioca. Concorreu novamente à Câmara de Vereadores. Perdeu as eleições por insuficiência de votos da coligação, mas obteve uma votação pessoal maior do que a grande maioria dos vereadores eleitos e ficou como primeiro-suplente do Partido Verde.
Em 1997, assumiu a secretaria executiva da Fundação Ondazul e seu processo de reorganização. Elaborou o projeto do Parque Ecoturístico do Cânion do São Francisco, na Bahia.
Foi candidato à presidência da república pelo Partido Verde em 1998, com o objetivo de divulgar as propostas do partido.
Ao deixar a presidência nacional do partido em 1999, assumiu a vice-presidência executiva da Fundação Ondazul. Tendo sido votado o primeiro-suplente de vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Verde nas eleições municipais de 1996, Alfredo Sirkis conseguiu assumir o mandato em 1999. Cuidou da aprovação das áreas de proteção ambiental da Capoeira Grande e do Morro do Silvério, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Lançou Ecologia urbana e poder local, um ensaio sobre gestão ecológica.
Em 2000, conseguiu a criação dos projetos Reciclagem e Cultura e Manguezais da Baía da Guanabara.
Em 2000, foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro. Não conseguiu ser eleito, mas sua votação expressiva fez com que o prefeito eleito César Maia o escolhesse para ser secretário municipal de urbanismo e presidente do Instituto Pereira Passos.[13]
Em 2001, lançou o Programa de Revitalização da Área Portuária e os concursos para o novo Circo Voador e o novo Centro de Convenções; apresentou o Congresso da unificação IULA-FMCU no RioCentro e foi eleito secretário do Metrópolis para América do Sul e Caribe.
Em 2002, iniciou a elaboração de treze projetos para a área portuária; obteve a aquisição do Pátio da Estação Marítima para a construção da Vila Olímpica da Gamboa e da Cidade do Samba; iniciou a elaboração do projeto de ciclovia Bangu-Campo Grande e das novas ciclo-faixas da Zona Sul; negociou as Áreas de Proteção ao Ambiente Cultural do Jardim Botânico, Botafogo e a ampliação da Área de Proteção Ambiental da Lagoa.
Em 2003, criou, na Secretaria Municipal de Urbanismo, a Gerência de Operações Especiais e a Coordenadoria de Regularização Urbanística que dinamizaram, em 61 favelas, o trabalho dos Postos de Orientação Urbanística e Social e coordenou a operação Recreio em Ordem que derrubou quatro prédios erguidos sem licença.
Em 2004, concluiu com sucesso as negociações para a desapropriação do Cassino da Urca para abrigar o Museu do Rio, com um projeto de restauração do prédio original e lançou a rede Autonomia Carioca, que defende a desfusão e a recuperação, pela cidade do Rio de Janeiro, de sua condição de estado brasileiro. Apoiou a reeleição de César Maia em 2004 e continuou como secretário municipal no exercício de governo seguinte.
Em 2005, reassumiu a presidência do Partido Verde no estado do Rio de Janeiro.
Em 2006, por divergências políticas com o prefeito César Maia, exonerou-se do cargo de secretário municipal de urbanismo e passou para a oposição. Concorreu ao Senado Federal do Brasil pelo Partido Verde, obtendo o terceiro lugar, com 500 000 votos, correspondentes a sete por cento dos votos no estado.
Em 2007, coordenou nacionalmente a campanha Brasil no Clima.
Em 2008, candidatou-se novamente a vereador da cidade do Rio de Janeiro, sendo eleito como o quarto mais votado.
Nas eleições de 2010, coordenou a pré-candidatura de Marina Silva à presidência da república e foi eleito deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro com 73.185 votos (0,91% dos votos válidos), o 26º mais votado.
Em 2011, lançou o livro O efeito Marina, sobre a campanha presidencial de Marina no ano anterior. Entrou em conflito com o grupo dominante do PV que provocou a saída de Marina Silva do partido ao negar-se a promover um processo democrático de convenção. Sirkis permaneceu no partido em situação de isolamento.
Em 2012, participa da mobilização de resistência na Câmara e nas ruas contra o enfraquecimento do Código Florestal brasileiro e organiza como evento paralelo à Conferência Rio + 20 o Rio/Clima – The Rio Climate Challenge com a participação de lideranças ambientais e climáticas de 14 países.
Em 2013, foi um dos articuladores da Rede Sustentabilidade, porém quando o TSE negou o registro do partido Sirkis acompanha Marina Silva e filia-se ao PSB
Em 2014, assume a presidência da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional. Ao se aproximar o processo eleitoral, em protesto pela coligação do PSB com o PT, no Rio de Janeiro, abre mão de sua candidatura à reeleição para deputado federal e afirma: “depois de ter feito oposição, ainda que moderada, ao governo durante quatro anos, no Congresso, não posso agora aparecer como candidato em uma coligação com o PT”. Também se afasta discretamente da Rede Sustentabilidade.
Em 2015, volta ao terceiro setor, dedica-se a cursos de formação de gestores de governança local e a criação do “think tank” Centro Brasil no Clima (CBC). No momento não exerce atividade político partidária.
Em 2016 assume o encargo não-remunerado de secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas que é presidido pelos presidentes da República e constituído de Ministros outros membros do poder público e representantes da sociedade civil no setor acadêmico, empresarial e terceiro setor.
Fonte: A Tribuna
Sem dúvida, perdemos um guerreiro de valor no movimento ambientalista. Meus sentimentos!
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