Em poucas semanas o Rio de Janeiro poderá ser escolhido a sede das Olimpíadas de 2016. Caso aconteça, será um privilégio almejado por centenas de cidades no mundo e alcançado apenas por um número seleto de candidatas.
Mas, a responsabilidade também é enorme. Seremos anfitriões de atletas do mundo todo, que aqui estarão para alcançar o grande sonho de suas vidas: a consagração olímpica. Portanto, atletas de outros países estarão aqui com o mesmo objetivo que os heróis esportivos do nosso país. E os Jogos Olímpicos terão que ser organizados para todos, não só para os atletas brasileiros.
Diante disso, preocupa-nos o comportamento da torcida brasileira nos estádios e ginásios brasileiros. A torcida sistematicamente vaia (quando não insulta) os adversários do Brasil, como aconteceu nos Jogos Pan Americanos de 2007 e repetiu-se na semana passada no Gran Prix de Vôlei Feminino, no Maracanãzinho.
Neste último evento, diante de uma constrangedora vaia, ainda ouvimos o locutor na televisão dizer que “a torcida faz a sua parte, pressionando o adversário”.
Incentivar os nossos atletas não significa desrespeitar e menosprezar os adversários, pois a vaia aqui tem o mesmo significado que em outros países: a reprovação. A torcida “fazer a sua parte” deveria significar estimular os seus atletas, reconhecer a qualidade e a beleza do lance, a destreza, a força, a perfeição, a conquista. E nossos atletas tem talento suficiente para vencer nas regras do esporte e nos princípios da esportividade. Diminuir o adversário é se render à mediocridade. É desmerecer a própria vitória.
É preciso entender o esporte como um ritual simbólico de superação, mas sob bases civilizadas e pacíficas. O adversário não é inimigo. Há que se reconhecer e respeitar a trajetória pessoal de cada atleta, o esforço que há por trás da preparação, tanto de vencedores como de vencidos.
Além disso, há muito mais por trás do esporte do que consagrar campeões. Para cada campeão, existe todo um contingente de atletas que dão sentido e grandeza ao esporte. Estes também são desrespeitados no ato da vaia.
Onde há esporte, tem que haver também educação, cultura e cidadania. E se almejamos ser uma cidade olímpica, essa cidadania precisa ter também uma dimensão olímpica, ou seja, com o olhar solidário para o mundo, para os outros povos e para os demais atletas.
Publicado na Coluna Rumo Náutico, de Axel Grael. Jornal O Fluminense, 08/08/09