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Cachoeira em São José do Barreiro (SP), município aos pés da Serra da Bocaina (Fotos: Divulgação) |
Paraíso ecológico na Serra do Mar em alerta hídrico
Paraíso ecológico localizado em trecho da Serra do Mar, na divisa do estado do Rio de Janeiro com São Paulo, e que corta os municípios de Angra dos Reis (RJ), Paraty (RJ) e Ubatuba (SP), a Serra da Bocaina está no radar de pesquisadores e autoridades públicas. Região que abriga o parque nacional de mesmo nome, com 104 mil hectares de Mata Atlântica protegida e berço de belíssimas cachoeiras, como as de Santo Isidro, das Posses e do Veado, a Serra da Bocaina entrou em alerta hídrico.
O sinal foi dado por comunidades tradicionais da região, em 2014 e 2015, anos de crise hídrica em todo o Sudeste. Segundo as populações quilombolas e caiçaras, nunca antes a microbacia do rio Carapitanga havia apresentado essa situação de desabastecimento. Diante do alerta, a pesquisadora Ana Luiza Coelho Netto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ, decidiu investigar por completo a gestão das águas na região.
Docente no Departamento de Geografia do Instituto de Geociências do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN/UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Geo-Hidroecologia (Geoheco) da universidade, Ana Luiza tem desenvolvido os estudos em parceria com o Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, da Fundação Oswaldo Cruz (OTSSB/Fiocruz). O intercâmbio entre os pesquisadores tem possibilitado o avanço nas investigações e o levantamento de algumas hipóteses para o problema, nunca antes visto na região.
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Ana Luiza Coelho Netto é coordenadora do Laboratório de Geo-Hidroecologia da UFRJ |
Entre as principais suspeitas estão o aumento no fluxo sazonal de pessoas para os municípios de Angra, Paraty e Ubatuba, que atraem muitos turistas nos verões e feriados. Além da atividade turística, a agricultura, o funcionamento de oficinas náuticas e até a retirada de água em poços artesianos de uma única região do aquífero fissural do rio Carapitanga podem estar por trás do desabastecimento.
"Por dois anos seguidos, observamos que a oferta de água na região da microbacia do rio Carapitanga, que corta o perímetro urbano de Paraty, não estava sendo suficiente para abastecer a população. Apesar dos anos de 2014 e 2015 terem sido atípicos, queremos investigar de forma completa que outros elementos podem estar levando a essa falta de água na Serra da Bocaina", diz Ana Luiza.
Coordenador geral do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, Edmundo Gallo explica que a intenção dos pesquisadores é fazer uma análise completa da gestão ambiental local. Serão avaliados, assim, os impactos e efeitos de uma série de mudanças, sejam elas climáticas, de vazão da água dos rios, de assoreamento e até de contaminação por esgotamento sanitário, por agrotóxicos utilizados em plantações locais e por combustíveis, via descarte incorreto de oficinais náuticas.
"O rio Carapitanga nasce numa aldeia na Serra da Bocaina e passa por sete comunidades rurais, um quilombo e uma comunidade caiçara. Muito além de ser uma importante fonte para o abastecimento dessas populações, o rio está ligado diretamente à cultura das comunidades locais", explica Gallo.
Ana Luiza conta que já foi montado um mapa falado, construído com informações obtidas junto à população local e mostrando os locais de retirada de água e seus usos. O próximo passo será adicionar ao mapa dados de localização da região, obtidos por sistema de GPS (global positioning system), além de informações oficiais das redes de captação de água.
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Edmundo Gallo: Coordenador Geral do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina |
Uma estação de monitoramento pluviométrico, que medirá a descarga do rio Carapitanga – que corta o município de Paraty – e o volume de chuvas na localidade, já está em funcionamento. Está prevista a construção de uma segunda estação, que será instalada em área florestal mais bem conservada.
"Com os dados dessas duas estações e mais os da estação localizada em Angra dos Reis, que funciona há 30 anos, analisaremos a série histórica da descarga líquida dos rios, isto é, vazão e volume de água que carregam por unidade de tempo. Além disso, estudaremos como se dá a distribuição de chuvas na Serra da Bocaina”, detalha Ana Luiza.
“Assim, poderemos identificar as transformações ambientais das comunidades tradicionais e dimensionar o impacto do fluxo sazonal de pessoas para a região, sem falar nas outras atividades que podem estar provocando distúrbios no abastecimento", acrescenta a pesquisadora.
A professora da UFRJ acredita que o estudo possibilitará que pesquisadores, governos municipais e estaduais e comunidades locais identifiquem o quanto a natureza ainda dispõe de recursos hídricos no aquífero e, principalmente, que ações precisarão ser feitas para preservar a região. O projeto de pesquisa foi contemplada no edital Apoio a Projetos Temáticos, da FAPERJ.
Do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina, Edmundo Gallo diz que alguns órgãos de gestão já estão envolvidos no projeto de proteção à microbacia do rio Carapitanga. Entre eles, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Prefeitura de Paraty, o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Reserva Ecológica da Joatinga e o Comitê de Bacias local. A Fiocruz, a UFRJ e a Universidade Federal Fluminense (UFF) são alguns dos centros de pesquisa que também participam da iniciativa.
Fonte: Agência FAPERJ
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