O esporte é algo maravilhoso. A vela, então, é um privilégio! Os amigos que fazemos valem mais do que qualquer prêmio. Ganhar é bom, mas não é essencial. Temos, todos, que aprender a perder: seja na vida ou na vela. Em um campeonato normal, EM nível brasileiro, que tem em média 130 barcos, apenas 1 ganha, para 129 perderem! Imagina, se todos esses 129 atletas desanimassem, parassem de velejar e ficassem se queixando? O esporte literalmente acabaria...
A vela é um dos poucos esportes em que se tem contato integral com a natureza. Você, para velejar, precisa dos ventos, algo bem abstrato para muitos, mas nossa fonte de alegrias. Nós, velejadores, sabemos usar esse vento, usá-lo a nosso favor. Diferentemente dos outros esportes, a vela tem como quadra, o mar. E esse mar, não é pequeno. Uma sensação única de liberdade, de satisfação.
O Optimist, como muitos dizem, é apenas uma fase na vida de um velejador. Com 15 anos, esse velejador terá que realmente tomar uma decisão: qual caminho seguir? Alguns, infelizmente param, outros continuam. Laser, 420, 470, 49er, 29er, Snipe, Star e etc. são opções de barcos futuros. No optimist, aprende-se o básico da vela, o básico do que um velejador usará em sua vida. Claro, que se bem aproveitada, essa “vida optimista” poderá sim, ser um período de vitórias e conquistas. Mas, lembrando: o importante não é vencer, é aprender a competir. A maioria dos grandes velejadores da atualidade passou pelo optimist e, nenhum deles foram grandes fenômenos mirins, mas ao mudarem de classe, realmente brilharam.
O que eu tenho a dizer a vocês, futuros velejadores, é que não desistam nunca desse esporte maravilhoso que é o iatismo. Um esporte que você aprende a respeitar seus adversários e seus próprios limites. Um esporte, que diferentemente de outros esportes, nada é planejado. No basquete, por exemplo, se você treinar repetidamente um arremesso, você irá usar pra sempre aquela medida de força, aquele posicionamento e tudo o mais, pois a distância da cesta até você não muda. Na vela, tudo é improvável. Os ventos mudam, as rondadas mudam. A cada dia de velejada, você regula sua vela de um modo diferente, você se posiciona no barco de um modo diferente. Isso que é o especial da vela, nada é premeditado.
Como todos, eu entrei na vela com muitos medos. Tinha medo de ventos fortes, medo do contato com os barcos na largada, medo do meu próprio medo, no final das contas. Porque, com o tempo, eu aprendi a aproveitar. Se o vento está forte demais, curta a velejada! Na largada, se supere, arrisque!
Lembro do meu primeiro Campeonato Brasileiro, em Fortaleza. Lá, o vento era forte, e eu era pequena e inexperiente. Todo dia ia para as regatas chorando. Meus técnicos e minha mãe conversavam comigo e eu descia para a raia. Com olhos vermelhos do sal, pernas doendo de escorar, eu voltava para o clube. Alguns dias eu não corria todas as regatas, mas mesmo assim, foi muito gratificante. Era ótimo voltar para o clube e ver todos te parabenizando, por ter sido forte. Sentia-me campeã, mesmo chegando mal nas regatas. Superação, isso sim é melhor do que qualquer vitória.
Alguns meses depois, posso dizer o que realmente foi superação. No Campeonato Estadual, o qual eu nem ao menos pensava em colocação nas regatas, não via as súmulas, apenas velejava cada regata, como se fosse uma regatinha qualquer de final de semana, acabei saindo como Campeã Estadual. Não posso me esquecer do último dia de regatas, quando cheguei no bote e estava meu técnico me dando parabéns e virando meu barco, como tradição.
Como eu iria imaginar, que há 2 anos atrás eu estaria onde estava? Como iria imaginar que aquela parte do clube, que é cheia de barcos e que poucos reparam, seria hoje, a minha 2ª casa? Como iria imaginar que 3 anos na frente, eu estaria aqui, falando do que é velejar, compartilhando minhas experiências e aflições com os futuros iatistas?
Na vida, tudo que você consegue é pelo seu esforço. No esporte não é diferente, muito menos na vela. Com empenho nos treinamentos, com força de vontade, tudo o que você quer você consegue. Eu, por exemplo, sempre tentei me dedicar à vela. Nunca fui grande velejadora, mas o que eu realmente quis, eu consegui, com muito esforço: um título (estadual), a classificação para o Norte-Americano, que foi em Curaçau, no Caribe e a classificação para o Sul-Americano em Salinas, no Equador. Querer é poder!
Aproveitem todos os seus momentos na vela, pois “Velejar é Preciso”!
Elisa Carvalho de Andrade, velejadora desde os 08 anos de idade do Clube Naval Charitas, hoje velejadora da Classe Laser com 16 anos.
Vice- campeã estadual de Laser 2010
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O presente texto me foi enviado, por e-mail, por Fernanda Hoffmann, do Projeto Grael.
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