Por Elizabeth de Carvalhaes (*)
Solução passa pelo setor empresarial produtivo e pela valoração da biodiversidade no fornecimento de produtos e nos serviços ecossistêmicos
Estudos recentes indicam que, se o planeta mantiver os altos índices de desmatamento das florestas tropicais, 40% das espécies existentes na terra estarão extintas nos próximos 100 anos. Este duro prognóstico, amplamente discutido nas últimas décadas, fez com que a biodiversidade ganhasse espaço nas estratégias empresariais e governamentais, principalmente com a ampliação das políticas e legislações de combate ao desmatamento e a criação de unidades de conservação.
Um dos pontos marcantes desta transformação aconteceu na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica em 2010, quando foram aprovadas as Metas de Aichi - Plano Estratégico de Biodiversidade 2011–2020, que determinou cinco grandes objetivos estratégicos e vinte proposições aos governos com o objetivo de reduzir a perda da biodiversidade em âmbito mundial, com prazo de implementação até 2020.
Entretanto, hoje, a dois anos do prazo final, é de consenso de especialistas ambientais e economistas renomados que só as ações dos governos não serão suficientes para reverter este quadro. A solução para a conservação da biodiversidade deve estar alinhada a projetos de desenvolvimento econômico, em que é fundamental agregar o valor da biodiversidade nas estratégias de negócio, no fornecimento de matéria-prima, produtos e serviços ecossistêmicos. E neste cenário, o Brasil tem papel indiscutível, uma vez que é considerado líder em biodiversidade, rico em fauna e flora, abrigando 20% das espécies do planeta.
A relação entre biodiversidade e o mundo empresarial, inclusive, foi foco de uma pesquisa da Ethical Union for Biotrade que apontou um aumento de conhecimento e preocupação da sociedade em relação à biodiversidade e a expectativa da população frente as políticas empresariais para conservação dos recursos naturais. Mais da metade dos brasileiros (56%) conhece corretamente as definições de biodiversidade, sendo que 9 em cada 10 consideram que as empresas devem ter políticas de biodiversidade e têm interesse em comprar produtos daquelas que respeitem os recursos naturais. Pelo lado empresarial, a CNI verificou que 87% dos gestores reconhecem a importância da biodiversidade, principalmente pela reputação no mercado, redução de custos e aumento de competitividade. Porém, verificou-se que 84% dos empresários entendem que o País não tira proveito de todo o seu potencial.
Um bom exemplo brasileiro da relação entre a produção e a conservação da biodiversidade vem da indústria de árvores plantadas. Desde 1970, o setor trabalha em iniciativas para demonstrar e valorizar o papel da indústria na conservação deste bem fundamental, o que a transformou em referência global. O Brasil destaca-se, por exemplo, como o país que mais protege as áreas naturais, uma vez que para cada hectare plantado com árvores para fins industriais outro 0,7 hectare de mata nativa é destinado à conservação.
As florestas plantadas para fins produtivos já exercem uma importante função na restauração de áreas degradadas e na mitigação das mudanças climáticas. As indústrias de árvores plantadas são responsáveis por uma área de quase 6 milhões de hectares destinados à conservação, contribuindo também para a restauração de serviços ecossistêmicos, como a regulação do fluxo hídrico, e evitando impactos no solo. Apenas em 2015, cerca de 45 mil hectares de áreas degradadas foram restaurados pelas empresas da base florestal para fins de preservação.
O setor brasileiro de árvores plantadas adota técnicas de manejo de paisagem que contribuem para a conservação da biodiversidade e para restauração de florestas naturais. Um exemplo é o plantio em mosaicos, um modelo nacional de cultivo já replicado por outras nações. Nele, as florestas naturais se intercalam com florestas plantadas produtivas criando corredores ecológicos que favorecem a circulação de diferentes espécies, mantendo os hábitats naturais para animais, plantas e microrganismos, garantindo alimentação e abrigo, ao mesmo tempo em que fornecem produtos suficientes para o mercado consumidor.
Pesquisas inéditas realizadas pela Ibá junto às empresas do setor demonstraram que, apesar de ocupar menos de 1% do território brasileiro, as áreas da indústria de florestas plantadas possuem 41% das espécies de aves ameaçadas de extinção, importante bioindicador ambiental; além de 38% das espécies de mamíferos na mesma situação. Nesse levantamento foram encontrados, por exemplo, Lobos-Guará, Muriquis, Puma, Mico-Leão-Preto, Papagaio Chorão localizados nos mais diversos biomas, como Cerrado e a Mata Atlântica. Na Flora foram identificadas espécies de Palmeira Juçara, Peroba Rosa, Jatobá, Araucária, entre outras. E ao considerar todas as espécies registradas no Brasil, 985 do total de 1924 aves podem ser encontradas nos espaços conservados por empresas do setor (51%); e dos 720 mamíferos, 241 circulam por esse tipo de floresta (33%). Isso comprova que gestão de paisagem de forma adequada contribui para a sobrevivência das espécies, contrapondo o conceito de que as florestas plantadas são desertos verdes.
Protagonista natural em termos florestais, o Brasil precisa se valer mais e melhor de sua biodiversidade para se transformar numa potência. Para que as empresas apoiem cada vez mais o governo na busca das metas de biodiversidade, é essencial que haja reconhecimento e incentivo aos produtos sustentáveis, como os que têm origem em florestas plantadas, por meio de políticas de estímulo ao consumo e ações de conscientização do consumidor.
(*) Presidente Executiva da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) e a presidente da Comissão de Meio Ambiente e Energia da International Chamber of Commerce (ICC) do Brasil
Fonte: Painel Florestal
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