Aconteceu de novo. E mais uma vez envolvendo os brasileiros!!!!
Soube pela imprensa que no GP da Alemanha de hoje, o piloto Felipe Massa recebeu ordens de deixar o seu companheiro de equipe, Fernado Alonso, ultrapassá-lo e, vergonhosamente, assim o fez. Após receber a ordem pelo rádio, ouvida também na TV pelos expectadores, Felipe Massa, que liderava a prova, obedientemente reduziu a velocidade para que Alonso o ultrapassasse e vencesse a prova. Ora, isso é um ultraje para qualquer um que ama o esporte e ainda acredita em esportividade.
Eu já fui um fã da Fórmula 1, daqueles de assistir a todas as corridas. Me desencantei com a modalidade naquela ocasião, em 2002, em que Rubens Barrichello deixou-se humilhar, permitindo a ultrapassagem de Michael Schumacher, diante das ordens de seus superiores pelo rádio. Nunca mais assisti uma prova com a paixão de outrora.
Realmente, acho que ficamos mal acostumados por torcer por esportistas de verdade na Fórmula 1 - como Senna, Fittipaldi e Piquet - que entravam nas pistas com o talento e o ímpeto de campeão, com o sonho de fazer história e a responsabilidade de honrar a confiança de seus torcedores. Por isso ganharam títulos, além da admiração e o respeito de milhões de brasileiros e de torcedores de outros países.
Os pilotos de hoje já começaram em berço esplêndido, usufruindo de valiosa herança. Não precisaram se esforçar para desbravar caminhos, conquistar o público, como fizeram os seus antecessores. Se beneficiaram do inestimável capital de credibilidade e de paixão construído pelos verdadeiros ases do volante que lhes abriram as portas. Quando chegaram à Formula 1, já a encontraram alçada a uma das maiores preferências esportivas dos brasileiros. A esperançosa e cativa legião de fãs, de tão numerosa e apaixonada, já era suficiente para permitir uma audiência que magnetizava para as suas equipes os melhores patrocinadores, que consequentemente lhes garantiria os gordos salários, mesmo quando lhes faltaram vitórias.
E o que fizeram os atuais pilotos com todo esse ativo? De escândalo em escândalo, jogaram tudo no lixo. Barrichelo, Nelsinho Piquet (que decepção para o seu pai!!!) e agora Massa, se despiram da ética e da vergonha, revelando-se meros burocratas apegados aos seus salários e não esportistas da estatura que se esperava. E porque será que isso está se tornando recorrente justamente entre os brasileiros? Estaria aflorando no automobilismo a crise moral que eclode a cada dia em outros setores da nossa sociedade?
Sabemos que o esporte é muito mais do que títulos e medalhas. Muitos atletas e ex-atletas têm comprovado isto através de suas iniciativas sociais. Mostram que o esporte é também a oportunidade de se promover a inclusão social, de educar, de motivar e de transmitir valores de cidadania. E um dos principais motivos que o esporte tem esse potencial é o exemplo que seus campeões representam na sociedade.
Mas, estamos aqui falando do esporte profissional e do que deveria ser a sua elite. E a velha máxima olímpica de que "o importante é competir" não faz sentido se por trás da participação do atleta não houver também a vontade e o compromisso com a vitória. Vencer é a profissão do atleta, embora seja também do ideário do esporte saber perder e reconhecer a superioridade dos vencedores. Mas, isso não significa abdicar da vontade de vencer.
Deixar-se deliberadamente ser ultrapassado por outro competidor, ainda que da mesma escuderia, é abrir mão de toda a competitividade e macular o sentido da competição. Talvez, com algum esforço, pudéssemos até relativizar um pouco a situação se fosse em um momento decisivo do campeonato, se o ultrapassado estivesse fora da disputa, se o título da temporada estivesse em jogo, mas ainda estamos muito longe disso. Portanto, o que se viu foi trapaça mesmo.
É preciso considerar também que a Fórmula 1, apesar de ter uma numerosa e cara equipe por trás dos pilotos, não é um esporte coletivo. Tanto que, isso contraria as suas próprias regras, a ponto da escuderia de Massa já ter sido multada. É diferente de outros esportes como o ciclismo, de algumas provas do atletismo, quando surgem atletas que fazem o papel do "coelho", aumentando o ritmo da prova em favor de alguma estratégia pré-determinada. Nestes casos, está na regra do jogo e portanto é legítimo.
Para quem não tem compromisso com a disputa, existem esportes não competitivos. É o caso dos esportes de aventura, como a vela de cruzeiro (com o objetivo de cruzar os mares), do montanhismo (conquistar picos inalcançados, contemplar as mais belas paisagens), do trekking (caminhar por trilhas), enfim, atividades também atléticas, mas que têm em sua essência formas mais lúdicas de "vencer".
Obviamente, esse não é o caso do automobilismo, em particular da lucrativa Fórmula 1, e não foi por práticas contemplativas que os pilotos ganharam notoriedade e a atenção do público. As legiões de fãs que vão aos autódromos, que ficam em frente dos televisores e que acompanham tudo o que se refere aos seus ídolos nas pistas, não esperam por outra coisa que não seja vê-los vencer. O fã admira e reconhece as demonstração de técnica, de arrojo, de coragem e de destreza. Quer a excelência da tecnologia em sintonia com a maestria do homem que a comanda.
Portanto, admitir perder é a negação de tudo o que se espera desses pilotos. Por isso, a atitude desses brasileiros nos bate como uma traição. É duro cair na real e ver que na verdade eles admitem ser meros coadjuvantes, diminutos
sparrings daqueles escolhidos para vencer.
Por submissão? Por contrato? Por dinheiro?
Seja lá qual for o motivo, para mim é inaceitável. Vejo como falta de esportividade e falta de vergonha na cara. Como torcer para alguém que tem que perder e admite isso? Vou torcer por outros esportes onde atletas de verdade honram a camisa e permitem que torcer por eles faça sentido.
Axel Grael