quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

COP 26 - CONFERÊNCIA DO CLIMA EM GLASGOW: o mundo diante da escolha entre a sustentabilidade ou o caos climático



A sustentabilidade não é uma opção, mas o caminho para a garantia de sobrevivência das futuras gerações. As mudanças climáticas são o maior desafio e a maior urgência na transição para o novo paradigma.

De todos os desafios para a transição para a sustentabilidade, reverter as mudanças climáticas é a maior delas e talvez a mais dramática e urgente. A consciência de que já estamos sofrendo as consequências de graves desequilíbrios no planeta e das mudanças climáticas e que, conforme alertam os cientistas, podemos estar próximos a um limite de criticidade, faz crescer a pressão sobre as instâncias diplomáticas para que se parta para a implementação de medidas efetivas para prevenir o pior. O sinais da gravidade da situação estão por todas as partes e nós, no Brasil, estamos presenciando evidências claras. O Pantanal secou diante de uma seca sem precedentes, as queimadas assolam a Amazônia e outras regiões do país e até cenas assustadoras de tempestades de poeira invadindo cidades do interior causando inclusive mortes.

Avançar para a sustentabilidade requer uma nova pactuação mundial, um grande esforço tecnológico, a construção de uma nova economia e o reconhecimento que daqui para frente teremos uma eterna responsabilidade gerencial com o planeta, já que o estamos demandando nos limites da sua capacidade de suporte. É o chamado antropoceno, ou seja, o planeta hoje é quase integralmente impactado pela presença humana e, portanto, cabe a nós gerenciar a nossa presença para garantir a viabilidade da nossa própria permanência. 
  • Quais as consequências do fim da Amazônia para o clima do Brasil e do mundo? 
  • O que acontecerá com o fim das geleiras e a elevação do nível do mar? 
  • A acidificação dos oceanos causados por uma atmosfera mais saturada de carbono vem causando sérios danos aos corais do mundo: como isso nos afeta? 
  • A extinção em massa e rápida de espécies não é um problema para nós? 
  • Poderemos viver com um planeta só para nós? 
  • Isso não trará impacto para a nossa alimentação e para o equilíbrio das condições de vida para nós mesmos?
Essas perguntas não são novas e desde a década de 1950 e 1960, cientistas e ambientalistas intensificaram o alerta que o caminho do desenvolvimento era perdulário em recursos naturais e predatório com relação aos ecossistemas e nos levaria a uma grave crise ambiental. Foi com este alerta que, sob os auspícios da ONU, os países do mundo reuniram-se pela primeira vez para debater os rumos do desenvolvimento na Conferência de Estocolmo (acesso aqui os documentos históricos que precederam a Conferência de Estocolmo), realizada em 1972. 

Vinte anos depois e com o agravamento dos problemas ambientais, 185 chefes de estado se reuniram no Rio de Janeiro na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a chamada Rio-92. Do processo de preparação para a Rio-92 surgiu o termo "desenvolvimento sustentável" (leia também: Reflexão sobre o que é sustentabilidade) e da conferência saíram muitos desdobramentos importantes como a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (também chamada de "Conferência do Clima"), a Convenção para a Diversidade Biológica, a Declaração de Princípios Sobre Florestas, além do embrião da Convenção de Combate à Desertificação e a Carta da Terra, produzida pela sociedade civil. Também surgiu na ocasião a Agenda 21, um importante movimento de mobilização da sociedade mundial para promover estas transformações. Hoje, o instrumento mais adotado mundialmente é a Agenda 2030, que instituiu os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, as ODS´s.

O mais expressivo desdobramento foi a Conferência do Clima, que teve como próximo passo importante o Protocolo de Kyoto, aprovado na 3ª Conferência das Partes, realizado no Japão em 1997. As conferências das Partes passaram a acontecer para dar sequência às determinação da Conferência do Clima e promover a sua implementação.

Passos lentos

Estamos às vésperas do início da 26ª Conferência das Partes da Convenção Quadro da ONU (COP-26), a ser realizada em Glasgow, Escócia, em novembro de 2021. Portanto, é a 26ª vez que líderes mundiais se encontrarão para definir estratégias mundiais para o clima, desde que a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (também chamada de "Conferência do Clima") foi aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a chamada Rio-92

No próximo ano, terão se passado 30 anos da Rio-92. Após tantos anos, a percepção geral é de frustração com os avanços da agenda climática, os problemas vão se agravando e os alertas são de que o tempo está se esgotando. A ênfase até agora foi na produção de conhecimento científico sobre as mudanças climáticas, representada principalmente pelos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) além da busca de entendimentos diplomáticos quanto às responsabilidade e formas de implementação. Foram propostos diversos mecanismos, como a criação de um mercado de carbono e outras formas para viabilizar a redução das emissões. No entanto, diante da força dos lobbies e da falta de compromisso da grande maioria dos países, avançou-se muito pouco na prática e estamos longe das metas indicadas pelos cientistas.

Recentemente, o processo sofreu ainda sérios retrocessos, quando o presidente americano Donald Trump retirou os EUA da Conferência do Clima praticamente paralisando as negociações. Outras lideranças populistas e negacionistas quanto ao clima, como o presidente brasileiro Bolsonaro, também passaram a jogar contra os avanços.

COP-26

Temos agora um outro cenário, bem mais favorável. Trump, com as suas ideias ecocidas, e seus aliados lobistas da velha indústria poluente foram derrotados nas urnas. Seu sucessor, Joe Biden, trouxe os EUA de volta ao debate climático, dando inclusive sinais de que quer assumir uma postura protagonista. Com o objetivo de acelerar os compromissos climáticos, a estratégia da COP-26 é trazer para a cena política as chamadas instâncias subnacionais, como governos regionais (estados, no caso brasileiro) e cidades, além de organizações da sociedade civil, novas lideranças empresariais e outros atores. A estratégia é correta e podemos estar às vésperas de um salto histórico rumo à sustentabilidade.

COVID e retomada econômica: Nova conjuntura

O mundo foi assolado de surpresa pela pandemia do novo coronavírus, a Covid-19. Com o sofrimento das perdas de muitas vidas, a economia do mundo parou. Andou para trás por quase dois anos. Com a vacinação da população está permitindo que se supere a pandemia e o foco já se desloca para o pós-Covid, o "novo normal", a retomada da economia e do cotidiano das pessoas. Após toda a dor causada pela crise sanitária, precisamos trabalhar para que o que virá pela frente seja muito melhor do que havia antes da pandemia, ou perderemos uma oportunidade histórica. E a sinalização que estamos tendo em várias partes do mundo são muito promissoras.


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