A POLUIÇÃO DA BAÍA É UMA AMEAÇA PARA O ECOSSISTEMA, PARA A SAÚDE E PARA A AGENDA ESPORTIVA DO RIO DE JANEIRO
No último fim de semana (2-3 de julho de 2011), mais uma extensa mancha de óleo surgiu na Baía de Guanabara, exatamente na raia que abrigará em poucos dias as provas de vela dos V Jogos Mundiais Militares e futuramente os Jogos Olímpicos de 2016.
O INEA - Instituto Estadual do Ambiente foi acionado, inspecionou a Baía e realizou sobrevoo de helicóptero para tentar identificar a origem do óleo.
Mais uma vez, parece tratar-se daquilo que os técnicos chamam de "mancha-órfã": o autor não é identificado e ninguém assume a paternidade. Neste caso, a punição do responsável pelo crime ambiental é praticamente impossível.
O problema é recorrente na Baía de Guanabara e a medida que cresce a atividade petroleira e a logística offshore nas suas águas e no seu entorno, os riscos aumentam.
Buscar a solução
Está na hora de se agregar tecnologia para que se avance na eficiência da ação, bem como no controle e punição a estes crimes. Quando fui presidente da FEEMA (primeira gestão: 1999-2000), tentamos implantar um sistema obrigatório de coleta de amostras do óleo e análise em laboratório para identificar a responsabilidade pela poluição causada pelas chamadas "lavagens de porão" dos navios. Através de análises laboratoriais é possível identificar o "DNA do óleo" e descobrir a sua origem, ou seja de onde veio. Com isso, seria possível identificar e provar de qual navio saiu, desde que se tenha sempre uma amostra a disposição do laboratório.
Na época, a iniciativa não foi adiante, dentre os motivos, por falta de apoio da Marinha. Está na hora de se retornar o debate em torno destas técnicas. Caso contrário, continuaremos a ver a Baía de Guanabara sendo maculada pelas "manchas-órfãs" e a punição pela poluição sendo aplicada apenas nos casos em que haja flagrante.
Como forma de aumentar a prevenção e o controle de situações como a deste final de semana, a SEA e o INEA precisam resgatar a importância e avançar na eficácia do Plano de Emergência da Baía de Guanabara, iniciativa do INEA e das empresas que atuam no setor do óleo na Baía de Guanabara. É também necessário verificar o cumprimento dos PEI's - os Planos de Emergência Individuais, que cada empresa que apresenta risco na sua atividade tem a obrigação legal de manter. Também é uma prioridade a modernização dos equipamentos e dos procedimentos ambientais nas instalações militares existentes na Baía de Guanabara e que são da responsabilidade da Marinha do Brasil. Os navios da Marinha tem sido causadores de algumas das manchas de óleo encontradas na Baía de Guanabara.
Outra iniciativa, que já deu melhor resultado no passado, foi a tolerância zero com as manchas de óleo. Impulsionados pelo vazamento de óleo da REDUC, em 2000, fizemos uma intensa vigilância e fiscalização intensiva em todos os terminais, portos, bases navais, estaleiros e navios e dávamos publicidade a cada mancha de óleo que encontrávamos. Os resultados podem ser vistos nos jornais da época.
Conseguimos reduzir muito o problema. Hoje, mesmo com os Jogos Olímpicos e toda a dimensão que o problema ganhou, infelizmente, a prioridade destas ações diminuiu muito. A mancha impune está ai para mostrar o prejuízo deste abandono.
Axel Grael
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LARS GRAEL LAMENTA E PREOCUPA-SE COM OS JOGOS DE 2016
Dirigindo-se aos participantes do Movimento Paquetá Sustentável, o velejador Lars Grael fez os seguintes comentários sobre a situação da Baía de Guanabara:
Amigos do Paquetá Sustentável,
O que diferencia Paquetá de um bairro qualquer, é sobretudo, o fato de ser uma Ilha cercada pelo mar. Vejam as fotos do Paulo, ao mostrar a beleza, o fotógrafo, assim como o turista, vai priorizar a praia e mar, e, com as montanhas de pano de fundo.
Tratar da sustentabilidade de Paquetá, passa obrigatoriamente pelas águas poluídas e não balneáveis e que ainda emporcalham as praias.
Vejam a matéria e fotos abaixo de vazamento ocorrido neste domingo aqui nas proximidades da Enseada de Botafogo (OBS: Lars refere-se às fotos acima e à matéria publicada no site do O Globo). É uma irresponsabilidade sem controle. Imaginem isto durante as regatas das Olimpíadas?
Sei que tratar do urbanismo e cidadania de Paquetá é um sonho de todos nós. Difícil é torná-la sustentável com as águas que a circundam, do jeito que está. Tudo bem, resolver Paquetá passa por este grupo, resolver a Baía de Guanabara, excede nossa capacidade.
O que eu quero dizer, é que a sociedade fluminense, classe intelectual e governo continuam a menosprezar a agenda da Baía de Guanabara. O Plano de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG existe há cerca de 17 anos. Dados desencontrados afirmam que cerca de 30% das obras teriam sido concluídas. Faltam 5 anos para os Jogos Olímpicos!!!
Só um ritmo frenético de obras, permitiria a Baía de Guanabara estar em estado aceitável em 2016. O pior é que as autoridades das 3 esferas de governo + COB fingem ignorar esta realidade.
Outro dia, visitou o Rio, o maior velejador do mundo, o neozelandês Russel Coutts para analisar fazer uma etapa da America’s Cup na cidade maravilhosa. Ele disse: “... é a baía mais bonita que vi no planeta, mas imunda. Como deixaram chegar a este ponto? Vocês não tem vergonha?”.
Na agenda prioritária, cabe gastar absurdo de 1 Bilhão no Maracanã e cifras fabulosas em intervenções urbanas. Quanto em saneamento? Menos de 5% das obras de saneamento do PAC foram concluídas.
Um desabafo de quem olha o Rio pela ótica do mar. Olho Paquetá pela ótica da Baía de Guanabara!
Na letra crítica e ácida dos Paralamas do Sucesso: “Alagados, Strange Town, Favela da Maré, a esperança não vem do mar, vem das antenas de TV, arte de viver da fé, só não se sabe da fé em que...”
Não é um voto de descrença em nosso projeto. Longe disto! Apenas uma reflexão quanto ao cenário das frentes de batalha que teremos que travar.
Bons Ventos,
Lars Grael
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DORA NEGREIROS, AMBIENTALISTA E PRESIDENTE DO IBG, CLAMA POR AÇÃO
Alertada pela mancha de óleo por Lars Grael, a ambientalista Dora Negreiros, presidente do Instituto Baía de Guanabara-IBG, escreveu-nos a seguinte mensagem:
Não dá mesmo para aceitar mais situações como esta!
A Baía de Guanabara continua sendo maltratada. Não só pelas autoridades que, neste caso, depois de muito trabalho para descobrir a origem do óleo, vão conseguir no máximo que os responsáveis pelo derramamento paguem uma multa.
Mas a Baía não ganha com a multa. Já perdeu com a mancha na água e na sua imagem. E não podemos deixar que ela perca mais nada!
Nós também não estamos conseguindo nos organizar para mudar este estado de coisas.
A nossa Baía de Guanabara é o ralo para onde escoam as águas das chuvas depois de lavarem o chão de 16 municípios. Somos cerca de 10 milhões de pessoas, dezenas de grandes empresas, muitos empresários e cidadãos conscientes vivendo nesta área. Se quisermos e soubermos nos entender, temos muito poder! Não podemos deixar que a Baía continue uma lixeira e um escoadouro de esgotos sem tratamento.
Ela precisa da ajuda de todos. E os marqueteiros são essenciais. Lembram-se de quando estávamos ameaçados pelo apagão? Atendendo à campanhas na mídia, todos colaboramos. Incentivados, trocamos lâmpadas nas nossas casas e a indústria fez o seu papel, produzindo equipamentos mais econômicos. Conseguimos economizar energia.
A Baía de Guanabara não pode esperar mais. Além de preciosa para nós, é a imagem mais utilizada do Brasil no exterior. Uma imagem manchada.
Queremos que seja limpa para a integridade dela e para nós. Se conseguirmos isto através das exigências do Comitê Olímpico Internacional, que seja. Vamos utilizar este argumento. Mas, vamos!
Ela continua viva, ainda dá tempo.
Dora Negreiros
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