A convite do Consulado-Geral dos Países Baixos no Rio de Janeiro, estive na Holanda ao longo dos últimos dias apresentando as experiências de Niterói em iniciativas que estão sendo desenvolvidas pela administração municipal. Ao lado do coordenador do Niterói de Bicicleta, Filipe Simões, e do secretário do Clima, Luciano Paez, tive a oportunidade não só de conhecer de perto soluções que vêm sendo implantadas no exterior, como também de levar a vivência de Niterói em projetos como os de infraestrutura cicloviária. A arquiteta e urbanista Isabela Ledo, que coordenou o Niterói de Bicicleta e voltou recentemente a residir em Amsterdam, está sendo nossa guia ao longo desta viagem.
Na quarta-feira (03), ao lado de Cecilia Jones, diretora da Fundação Bernard Van Leer, uma entidade privada holandesa que há 50 anos atua em todo o mundo investindo em ações voltadas à Primeira Infância, conheci o Speeldernis. É um parque em Rotterdam, dedicado às crianças e com atividades focadas especialmente aos estímulos para esta fase da infância. A proposta do Speeldernis é semelhante à do parque naturalizado que a Prefeitura de Niterói vai implantar na Praça Flávio Palmier, no Barreto.
No dia seguinte, quinta-feira (04), tive uma conversa muito produtiva com o presidente da Federação Europeia de Ciclistas, Henk Swarttouw, sobre o aumento do uso da bicicleta, principalmente após a pandemia da Covid-19. Henk me contou que está acompanhando o avanço das ciclovias na América Latina. Cidades na Argentina, Chile, Colômbia, além do Brasil, já entenderam a importância da mobilidade sustentável. Ele elogiou que, em Niterói, tenhamos esta visão estratégica. O cenário imposto pelo coronavírus mostrou que, em nossa cidade, já estávamos no caminho certo ao investir nas ciclovias, que ganham força como alternativa sustentável e saudável.
Mais tarde, pegamos o trem de Amsterdam até Utrecht, uma cidade com 330 mil moradores conhecida como uma das mais amigáveis à bicicleta no mundo. É lá que fica o maior bicicletário do mundo, com 12.500 vagas para as bikes. A cidade gastou 30 milhões de euros para construir, ao longo de cinco anos, esta garagem, que fica no subsolo da estação de trem. Cerca de 33% dos deslocamentos em Utrecht são feitos de bicicleta. Em Niterói, esse número já é de 6%.
Em toda a Holanda, o governo federal vem ampliando a infraestrutura cicloviária: em 2018, o país anunciou um investimento anual de aproximadamente 500 milhões de euros na agenda da bicicleta. Especialistas defendem que essa aposta dá retorno com redução nos gastos em saúde, programas sociais e outros. De acordo com um estudo da Universidade de Utrecht, publicado no American Journal of Public Health, os hábitos holandeses de ciclismo impediram 6,5 mil mortes prematuras. A economia anual é de 19 bilhões de euros!
A reputação das cidades holandesas não aconteceu de uma hora para outra, mas é o resultado do debate em torno do modelo de cidade que se pretendia adotar durante a reconstrução do país, após a destruição causada pela II Guerra Mundial. Em Niterói, a cultura da bicicleta como modal de transporte e opção de lazer vem se expandindo com os investimentos da Prefeitura em estrutura. Com segurança e malha cicloviária, os ciclistas se sentem à vontade para colocar as duas rodas na rua. Para termos uma ideia, desde 2015, o número diário de bicicletas circulando nas principais vias do município quintuplicou. Temos aqui a maior proporção de mulheres pedalando, o que é um indicativo de segurança. A experiência de Utrecht e da Holanda nos inspira e mostra caminhos possíveis para avançarmos na agenda da bicicleta em Niterói. Temos em nossa cidade o maior bicicletário público da América Latina, o bicicletário Arariboia, ao lado da Estação das Barcas, que oferece 446 vagas e tem 11 mil usuários cadastrados. Nos últimos anos, triplicamos a rede cicloviária, que atualmente é de 48 quilômetros. Já em andamento, o sistema cicloviário da Região Oceânica vai implantar 60 quilômetros. Até 2024, Niterói terá 120 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas ou ciclorrotas.
Niterói vai continuar avançando no rumo da sustentabilidade, com desenvolvimento econômico e justiça social, dando exemplo para o Brasil e o mundo.
Axel Grael
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