domingo, 20 de maio de 2012

Emprego verde bate os demais






O advogado Marcos Rangel, especialista em direito ambiental e proprietário de empresa de compostagem: ele trabalha para transformar resíduos orgânicos em adubo ambientalmente correto Fábo Rossi / O Globo

Vagas no setor cresceram 26,7%, em 5 anos, contra os 25,3% da média do país, diz OIT

RIO - Os empregos verdes crescem e se espalham por diferentes setores e, principalmente, profissões. O mercado de trabalho não procura apenas gente ligada a áreas afins, como quem trabalha com reciclagem, engenheiros ambientais ou geólogos, mas também advogados, administradores, jornalistas e publicitários, por exemplo, especializados na questão da sustentabilidade.

Às vésperas da Rio+20, consultores apontam uma escassez de mão de obra qualificada com especialização em meio ambiente no Brasil. Enquanto isso, tanto a iniciativa privada quanto a esfera pública estão aumentando seu contingente de funcionários trabalhando especificamente no setor. Prova disso é a pesquisa recém-divulgada pela Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps), que revela que 26% das empresas do país pretendem ampliar o quadro de funcionários na área, este ano.

Mercado emprega hoje três milhões

Segundo Peter Poschen, diretor do Departamento de Criação de Empregos e Empresas Sustentáveis da Organização Internacional do Trabalho (OIT), hoje existem cerca de três milhões de empregos verdes no Brasil, que correspondem a apenas 6,6% do total de postos de trabalho formais. Embora o país ainda esteja iniciando sua caminhada na área, diz ele, os empregos verdes já crescem mais rapidamente que os demais. Estudo da instituição registrou alta de 26,73% na oferta de empregos verdes no país, entre 2006 e 2010, enquanto o total de vagas formais subiu 25,35%.
— As empresas que estão crescendo têm necessidade de inserir produtos e serviços verdes no mercado, ou, ao menos, de serem ambientalmente responsáveis — disse Poschen ao GLOBO, por telefone.

O diretor da OIT ressalta que houve avanço no Brasil em matéria de proteção ao meio ambiente, citando a política nacional de resíduos sólidos — que determina a destinação correta ao lixo produzido, bem como estipula prazos para o término de lixões (2014), além de diretrizes para futuras regulamentações. Mas afirma que é necessário que a iniciativa privada e o poder público façam avaliações do mercado, a fim de medir a demanda de profissionais verdes, e em que áreas são mais necessários.

— É necessário entender as demandas, para fornecer a formação adequada — destacou Poschen, lembrando que há alguns anos, por exemplo, não existia mão de obra qualificada para trabalhar com etanol. — A capacidade técnica crescia mais que os recursos humanos. Hoje essa defasagem foi reduzida, mas ocorre em outras áreas.

O setor de compostagem, por exemplo, ainda é pouco representativo na economia verde — considerando que apenas 5% dos resíduos orgânicos no Brasil são destinados ao processo —, mas tem papel fundamental. A transformação de matéria orgânica em adubo ecologicamente correto foi justamente o que atraiu o advogado Marcos Rangel, especialista em direito ambiental. Ele criou a VideVerde, empresa de compostagem, com fábricas em Magé e Resende.

— O adubo que resulta da compostagem dá destinação correta ao lixo orgânico e reduz seu impacto nos aterros sanitários e lixões — diz Rangel, que emprega 20 pessoas.

Segundo a professora Susana Feichas, coordenadora do MBA em gestão do ambiente e sustentabilidade da FGV, os profissionais devem investir num "diferencial" na carreira que, dentro de pouco tempo, diz, será uma competência essencial para estar bem colocado no mercado de trabalho:
— O mundo empresarial percebeu que gerir com foco em gestão do ambiente e responsabilidade social dá retorno, seja financeiro, de fidelização de clientes e de imagem.

Especialização na área é necessária

Susana ressalta que cresceu a demanda por maior conhecimento em gestão do ambiente e sustentabilidade no setor bancário e de seguros. E que a área de turismo começa a seguir o mesmo caminho.
O professor do Ibmec Dario Menezes diz que houve três momentos em termos do comportamento das corporações brasileiras quanto ao assunto. Primeiro, nas décadas de 1970 e meados de 80, quando as empresas ainda entendiam sustentabilidade como custo, e apenas cumpriam a legislação. Daí até o fim dos 90, elas começaram a compreender que a questão produzia diferenças competitivas. Até que veio a "terceira onda", a atual, explica Menezes, que começou no início dos anos 2000 e trouxe a consciência de que a preocupação ambiental transcende as barreiras de uma organização e é uma necessidade de toda a cadeia produtiva.

— Hoje todos devem ter uma boa formação em meio ambiente. Dos profissionais dos setores de compras, marketing e logística até os da área administrativa ou de operações. Sustentabilidade tem, na verdade, que fazer parte do planejamento estratégico de qualquer organização.

Fonte: O Globo

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