| Ouriços de castanha vazios, após a seca recorde de 2024. RF1. Lúcia Muzell |
Com secas severas em 2023 e 2024, 40% da floresta amazônica está em algum estágio de degradação.Enquanto autoridades, negociadores e sociedade civil se preparam para a COP30, estudos mostram que a Amazônia é uma floresta que tenta se recuperar de secas e calor extremos. A temperatura tem aumentado de 0,3°C a 0,4°C por década e 40% do bioma já está em algum estágio de degradação.
A RFI acompanhou como as mudanças climáticas são sentidas pelos Povos Tradicionais, que se alimentam e comercializam a castanha, planta sensível ao aumento das temperaturas. “O verão [de 2024] castigou o nosso castanhal e não teve frutos”, relembra o cacique Kwain Asurini, da Terra Indígena (TI) Koatinemo (PA). “A gente também está sentindo essa mudança climática aqui, mesmo sendo a floresta. A floresta sente que o aquecimento está, cada vez mais, prejudicando a própria floresta.”
Iuri Parakanã, um dos caciques da TI Apyterewa (PA), descreve a situação como “um desespero” para Terra do Meio, região amazônica preservada entre os rios Xingu e Iriri, com cerca de 8 milhões de hectares. Ele conta que, em 2024, a mandioca também não cresceu como deveria.
O ano de 2023 e 2024 foi marcado pela influência do El Niño, que alterou os padrões de precipitação na região, o que gerou a seca histórica dos principais rios da Amazônia. Em 2024, a região também teve uma das temporadas mais avassaladoras de incêndios florestais em mais de duas décadas na América do Sul, lembra o Mongabay Brasil.
A degradação florestal gerada pelos incêndios emitiu 791 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), número sete vezes maior que a média nos dois anos anteriores. O cientista do Painel de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), Carlos Nobre, adverte para o período de regeneração da floresta depois de episódios tão extremos: “Quando tem uma seca muito forte, são quatro ou cinco anos para começar a recompor. Mas aí vem uma outra seca, então, o que está acontecendo é que com essas quatro secas muito fortes, aumentou demais a área degradada na Amazônia.”
Algumas organizações levarão à COP30 a demanda da população que já sente as mudanças da floresta. É o caso do Observatório das Baixadas, criado em 2024, para promover educação ambiental e engajamento comunitário, conectando moradores de periferias brasileiras.
“Trazemos a ideia de que a emergência climática também está aqui nas nossas comunidades, nas ruas inundadas, nas secas e cheias frequentes da Amazônia. Quando falamos sobre clima no Norte do país, a gente destaca o risco de o açaí acabar até 2050, por exemplo”, explica Waleska Queiroz, uma das fundadoras da organização, n’O Globo.
O projeto conta com o Atlas das Baixadas, que mapeia os problemas socioambientais das “baixadas” (periferias). Construído de forma colaborativa, ele já possui cerca de cem contribuições individuais e deve ganhar nova edição neste mês.
Levar as demandas da juventude preta para a COP30 também é missão do Geledés – Instituto da Mulher Negra. Na Folha, a assessora de clima e juventude do Geledés, Ester Sena, afirma que os jovens afrodescendentes enfrentam obstáculos estruturais para acessar o direito ao território e ao meio ambiente saudável, mas que ainda assim a juventude negra tem liderado iniciativas de reflorestamento, agroecologia, energia limpa e educação ambiental.
“O Movimento Negro não está dialogando agora sobre a crise climática, mas desde a Eco 92. O objetivo é avançar nas conquistas para as próximas gerações”, pontua.
Em Tempo: As organizações Instituto Igarapé e Amazon Investor Coalition publicaram o estudo Fora do Radar, que documenta riscos para a sociedade civil e empreendimentos verdes e as estratégias locais para enfrentá-los. No caso brasileiro, as organizações apontam que desmatamento ilegal, insegurança fundiária e captura institucional convivem com falhas de fiscalização e órgãos subfinanciados, com o adicional de exploração de organizações criminosas na região, conta a Revista Exame.
Fonte: ClimaInfo

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