quarta-feira, 26 de março de 2025

Ritmo de adaptação de florestas tropicais é mais lento que o necessário para fazer frente à crise climática

 

Mata Atlântica: o Núcleo Santa Virgínia, localizado no Parque Estadual da Serra do Mar, município de São Luiz do Paraitinga (SP), é uma das áreas pesquisadas no estudo (foto: Carlos Alfredo Joly)

Árvores de grande porte e madeira densa são as mais afetadas. Pesquisas publicadas recentemente nas revistas Science e Nature alertam para a possibilidade de empobrecimento radical dos biomas

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – A crise climática está afetando as florestas tropicais de maneira acelerada, enquanto os processos ecológicos que regem sua adaptação ocorrem em ritmo muito mais lento. Duas pesquisas recentes, publicadas nas revistas Science e Nature, investigaram como as florestas tropicais estão respondendo às mudanças climáticas e quais são as implicações disso para a biodiversidade e a ciclagem do carbono. Os estudos indicam que as florestas estão mudando, sim, mas não na velocidade necessária para acompanhar o ritmo do aquecimento global.

O que estamos vendo é que as florestas tropicais das Américas estão tentando se adaptar às mudanças climáticas, mas de forma bem mais lenta do que esperaríamos”, diz Jesús Aguirre-Gutiérrez, professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e primeiro autor dos dois artigos.

Gutiérrez informa que a crise climática está levando as florestas tropicais a mudarem sua composição, com um aumento de espécies decíduas, aquelas que perdem as folhas na estação seca. “Essas espécies têm uma vantagem em períodos de menor precipitação e temperaturas elevadas, pois podem reduzir a perda de água nesse contexto. No entanto, mesmo essa adaptação não está ocorrendo com rapidez suficiente para acompanhar a transformação do clima.”

Os dados revelam que espécies de grande porte, que desempenham papel fundamental na estrutura da floresta e na captura de carbono, estão sendo substituídas por espécies menores e de menor densidade. “Observamos que as espécies que se regeneram com maior facilidade não são as de grande porte e de madeira mais densa, mas sim aquelas com maior plasticidade adaptativa. Isso reduz a capacidade de estocagem de carbono da floresta e pode afetar os modelos climáticos, já que a capacidade fotossintética será menor no futuro”, afirma Carlos Alfredo Joly, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e coautor dos dois artigos.

Monitoramento contínuo

Os estudos foram possíveis graças a décadas de monitoramento ecológico, utilizando parcelas permanentes de um hectare cada em diferentes regiões tropicais. As informações foram complementadas por imagens de satélite. “Os dados que utilizamos no artigo da Science vêm de parcelas distribuídas do México ao sul do Brasil”, conta Aguirre-Gutiérrez. “São 415 parcelas e foram necessários muitos anos para coletar essas informações. Agora, com imagens de satélite e modelagem, podemos expandir essa análise para outras regiões tropicais, como a África e a Ásia, onde os dados de campo são mais escassos.”

Essa abordagem permitiu mapear atributos funcionais das florestas tropicais, como a morfologia e a química das folhas, a estrutura da vegetação e a presença de espécies decíduas. “No estudo da Nature, utilizamos modelagem com dados do satélite Sentinel-2 da Agência Espacial Europeia, que nos permitiu criar mapas da distribuição desses atributos nos trópicos”, destaca Aguirre-Gutiérrez. “Isso nos dá uma visão detalhada de como as florestas estão mudando e nos ajuda a projetar cenários futuros.”

As pesquisas apontaram que as mudanças nas florestas tropicais podem levar à perda de biodiversidade e a um empobrecimento estrutural desses biomas. “Espécies de grande porte, como jatobás, ipês, perobas e jequitibás, estão desaparecendo porque não conseguem acompanhar as mudanças climáticas”, alerta Joly. “Na Amazônia, árvores icônicas como a castanheira-do-pará e as copaíbas também estão em risco. Além de seu valor próprio, como fontes de alimentos e medicamentos, essas espécies são fundamentais para a captura de carbono e a manutenção da biodiversidade.”

A transição para florestas dominadas por espécies mais adaptáveis pode ter implicações profundas. “Constatamos que as florestas estão se tornando mais suscetíveis à mortalidade em larga escala", comenta Simone Aparecida Vieira, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp e integrante da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP. “Isso compromete funções ecossistêmicas essenciais, como a regulação do ciclo do carbono e da precipitação. O colapso florestal pode aumentar o carbono na atmosfera e reduzir a formação de chuvas, intensificando ainda mais a crise climática.”

Diante desse cenário, a conservação e a restauração das florestas tropicais tornam-se ainda mais urgentes. No entanto, simplesmente proteger áreas degradadas, apostando no processo de sucessão, pode não ser suficiente. “Se uma área degradada for protegida, as espécies nobres reaparecerão espontaneamente no processo natural de regeneração? A resposta curta é não”, afirma Joly. “Experimentos de restauração mostram que essas espécies apresentam uma taxa de mortalidade alta, mesmo quando plantadas. Elas crescem lentamente e são vulneráveis a eventos extremos.”

Além disso, a fragmentação das florestas dificulta a regeneração. “A perda de conectividade entre fragmentos florestais leva ao empobrecimento da biodiversidade”, explica o pesquisador. “Em áreas isoladas, a dispersão de sementes por animais como cutias, pacas e macacos fica comprometida, dificultando a regeneração de espécies vegetais importantes.”

Uma das soluções propostas é a regeneração natural assistida (assisted natural regeneration), que consiste no plantio de espécies adaptadas às novas condições climáticas. “Com os dados que temos, podemos identificar quais espécies nativas estão mais bem adaptadas ao clima atual e priorizar seu plantio", sugere Aguirre-Gutiérrez. “Isso pode aumentar as chances de sucesso dos programas de reflorestamento.”

Apesar dos avanços tecnológicos no monitoramento das florestas, os pesquisadores enfatizam que o trabalho de campo continua sendo indispensável. “A gente tem de continuar investindo em trabalho de campo, colocando recursos para que pesquisadores no México, no Brasil e em outros países possam coletar dados", destaca Aguirre-Gutiérrez. "Não podemos fazer tudo apenas com satélites. Precisamos de dados de campo para validar e aprimorar os modelos.”

As descobertas desses estudos reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas para a conservação das florestas tropicais, aliando ciência, tecnologia e principalmente ações concretas para mitigar os impactos das mudanças climáticas. “A ecologia tem mostrado cenários cada vez mais preocupantes”, conclui Vieira. “Se não agirmos agora, as florestas tropicais podem perder sua função ecológica antes que consigam se adaptar ao novo clima.”

Os estudos receberam apoio da FAPESP por meio de cinco projetos (03/12595-7, 12/51509-8, 12/51872-5, 19/24049-5 e 22/14605-0).

O artigo Tropical forests in the Americas are changing too slowly to track climate change pode ser acessado em: www.science.org/doi/10.1126/science.adl5414.

E o estudo Canopy functional trait variation across Earth’s tropical forests está disponível em: www.nature.com/articles/s41586-025-08663-2.



segunda-feira, 24 de março de 2025

ORDEM DE INÍCIO DAS OBRAS DE DESOBSTRUÇÃO DO TÚNEL DO TIBAU







Estive ontem no evento de assinatura da Ordem de Início da obra de Estabilização e Desobstrução do Túnel do Tibau, equipamento construído, em 2008, pela Superintendência Estadual de Rios e Lagoas - SERLA para garantir a renovação das águas da Lagoa de Piratininga, com a chegada de volumes de água do mar em condições de maré-cheia. O projeto foi desenvolvido e a obra foi licitada no ano passado, na minha gestão como prefeito e agora, recebeu a Ordem de Início pelo atual prefeito de Niterói, Rodrigo Neves. A intervenção permitirá a renovação e circulação eficientes das águas do Sistema Lagunar, contribuindo para reduzir a mortandade de peixes e para a melhoria da qualidade ambiental da região. O investimento municipal é de R$ 38,8 milhões, e as obras devem ser concluídas em até 24 meses.

O motivo da obra é que devido a problemas da obra original da SERLA, houve um colapso da estrutura interna do túnel, Com a queda de rochas do teto e paredes, o túnel ficou obstruído e sem condições de permitir que volumes de água suficiente chegassem à lagoa. Antes da atual fase de obra, fizemos uma intervenção de emergência, com a retirada das rochas maiores e contratamos uma empresa especializada para elaborar o projeto de engenharia para a devida estabilização do túnel. 

Com isso, o fluxo de água se normalizará e, além de melhorar as condições ambientais ecológicas da lagoa, diminuindo os casos de mortandade de peixes, permitirá uma maior produtividade para a atividade pesqueira dos pescadores da Associação de Pescadores Artesanais da Lagoa de Piratininga - APALAP.

O túnel tem 915,91 metros de extensão, 5 metros de largura e 4,5 metros de altura com a função de permitir a renovação e circulação eficientes das águas do Sistema Lagunar. O projeto de restauração da passagem visa restabelecer o fluxo normal de água entre o mar e a Lagoa de Piratininga.

A obra foi muito controversa na época da sua construção, pois aumentou muito a salinidade da lagoa, o que causou um grande impacto na biota local. Com o tempo, a lagoa alcançou um novo equilíbrio. Mas, hoje, o túnel em pleno funcionamento é indispensável para a vida na lagoa e a obra garantirá isso.

Axel Grael
Prefeito de Niterói (2021-2023)


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UM FINAL DE SEMANA DEDICADO À LAGOA DE PIRATININGA: vistoria na lagoa com pescadores



UM FINAL DE SEMANA DEDICADO À LAGOA DE PIRATININGA: vistoria na lagoa com pescadores

No sábado, Dia Internacional da Água, percorremos a belíssima Lagoa de Piratininga em visita de barco a convite dos pescadores da Associação dos Pescadores Artesanais da Lagoa de Piratininga - APALAP. Estive acompanhado da minha esposa Christa e de lideranças ambientalistas de Niterói. Na visita, os pescadores tradicionais da lagoa, profundo conhecedores daquele ecossistema, compartilharam as suas expectativas com relação às ações de despoluição em curso por iniciativa da Prefeitura. 

A visita teve por objetivo verificar as condições ambientais da lagoa e conhecer a atividade ainda experimental, mas muito promissora, de um roteiro de Turismo de Base Comunitária a ser oferecido pelos pescadores da APALAP.

Veja as fotos:

Uma das embarcações com nosso grupo de visitantes.

Costão rochoso na localidade conhecido como Ninhal, onde se concentram um grande número de aves. Neste ponto de grande qualidade paisagística e ecológica, a encosta do Morro da Viração (PARNIT) encontra o espelho d'água da Lagoa de Piratininga. Os danos causados pela prolongada seca estão evidentes na vegetação que encontra-se muito ressecada, principalmente um lugares de solos mais rasos.

A paisagem da lagoa é de excepcional beleza. Neste ângulo, vemos no vale formado no Imbuí, o alinhamento da Pedra da Gávea (mais à esquerda), do Corcovado, do Pão de Açúcar, e do Pico da Tijuca.

Centro Ecocultural Sueli Pontes, o principal equipamento para atividades culturais e de educação ambiental do POP Sirkis.

Passamos por uma capivara.

Com Christa e Luiz Mendonça, presidente da APALAP, que nos conduziu.

Com Alba Simon e Wilson Madeira em primeiro plano, Christa e eu atrás.

Grupo reunido na Ilha do Tibau, antes da saída do passeio

RECUPERAÇÃO DAS LAGOAS DE PIRATININGA E ITAIPU

Nossa relação com o sistema lagunar de Piratininga e Itaipu remonta ao início da década de 1980, quando começamos a nossa militância ambientalista, reivindicando a despoluição das lagoas e o consequente investimento no saneamento e cuidados com a bacia hidrográfica da Região Oceânica.

Somente ao chegar à Prefeitura de Niterói, eleito vice-prefeito em 2012, conseguimos estabelecer uma agenda efetiva de recuperação das lagoas, que segue avançando. As lagoas são de responsabilidade do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que nunca priorizou os investimentos necessários para a sua recuperação e gestão adequada. Em 2013, fizemos um acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e o Instituto Estadual do Ambiente - INEA para a cogestão das lagoas e a Prefeitura passou a liderar o processo e começamos a desenvolver os projetos e a fazer os investimentos. 

Para estruturar as ações e investimentos, a Prefeitura criou o Programa Região Oceânica Sustentável - PRO Sustentável, que foi desenvolvido com recursos provenientes de um contrato de empréstimo com o Banco de Desenvolvimento da América Latina - CAF, no valos de US$ 100 milhões. Os recursos também foram aplicados em obras de infraestrutura na Região Oceânica como, por exemplo, investimentos no Túnel Charitas-Cafubá, drenagem e pavimentação de bairros, a recuperação do calçadão da Praia de Piratininga etc.

Veja algumas das principais medidas adotadas pela Prefeitura para recuperar as lagoas:

  • TÚNEL DO TIBAU: Construído em 2008, pela antiga Superintendência de Rios e Lagoas - SERLA, o túnel tem 915,91 metros de extensão, 5 metros de largura e 4,5 metros de altura com a função de permitir a renovação e circulação eficientes das águas do Sistema Lagunar. Há poucos anos, as paredes e o teto do túnel colapsaram, com grande quantidade de rochas caindo sobre o leito e impedindo a passagem da água. A responsabilidade pelo túnel é do governo estadual, mas a Prefeitura decidiu tomar a frente para que a solução aconteça. Na minha gestão como prefeito fizemos uma obra emergencial para a retirada de rochas e o restabelecimento do fluxo de águas e, depois, contratamos uma empresa especializada para fazer o projeto para a solução definitiva. Em 2024, fizemos a licitação para a execução da obra. O projeto de restauração da passagem visa restabelecer o fluxo normal de água entre o mar e a Lagoa de Piratininga. Ontem, domingo (23/03), o prefeito Rodrigo Neves assinou a Ordem de Início para as obras. O investimento municipal é de R$ 38,8 milhões, e as obras devem ser concluídas em até 24 meses.
  • CANAL DE ITAIPU: Contratamos na gestão passada os estudos de dinâmica costeira que subsidiaram o projeto de restauração das guias-corrente e as demais medidas necessárias para a recuperação das estrutura dos enrocamentos do canal e estabilização do canal. Demos a Ordem de Início para as obras em 9 de maio de 2024. A obra é um investimento de R$ 44 milhões e será fundamental para garantir a troca de águas da Lagoa de Itaipu com o mar, com resultados positivos também para a Lagoa de Piratininga.
  • ESTUDOS AMBIENTAIS: Além dos estudos de dinâmica costeira, contratamos empresa especializada para a execução de um detalhado diagnóstico ambiental do Sistema Lagunar. Dentre os produtos apresentados, estão um Plano de Monitoramento e um Plano de Gestão para o Sistema Lagunar. Também fizemos um procedimento técnico chamado Encomenda Tecnológica - ETEC, para buscar soluções para o lodo depositado no fundo da lagoa de Piratininga.
  • SANEAMENTO: Avanço no saneamento da cidade e da Região Oceânica: Niterói conta hoje com cerca de 97% de esgoto coletado e tratado e é considerado uma das melhores cidades do país.
  • PARQUES: Proteção das encostas com a criação do Parque Natural Municipal de Niterói - PARNIT, que juntamente com o Parque Estadual da Serra da Tiririca - PESET, garantem a proteção de praticamente todas as encostas. Encostas com florestas têm menos erosão e, assim, evita-se o assoreamento dos rios e lagoas.
  • POP SIRKIS: Implantação do Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis - POP SIRKIS, com os seus sistemas de drenagem sustentável através de técnicas conhecidas como Soluções Baseadas na Natureza - SBN. Dentre estas técnicas estão os jardins filtrantes que evitam que poluentes trazidos pelas águas pluviais cheguem à Lagoa de Piratininga. O POP Sirkis já conquistou prêmios nacionais e internacionais pelas suas soluções inovadoras.
  • CENTRO ECOCULTURAL: Inauguramos em 2024 o Centro Ecocultural Sueli Pontes, com o objetivo de atender a necessidade de desenvolvimento de atividades culturais, de educação ambiental voltado para o ecossistema das lagoas e da Região Oceânica e para receber turistas.
  • RENATURALIZAÇÃO DO RIO JACARÉ: com a recuperação do Rio Jacaré e a sua despoluição, o principal tributário da Lagoa de Piratininga passa a contribuir para a recuperação da Lagoa. O projeto já implantado representa a primeira experiência de renaturalização de um rio urbano no país.
  • DRENAGEM E PAVIMENTAÇÃO: nos últimos anos, a Prefeitura empreendeu o maior investimento em infraestrutura urbana da história da cidade e bairros inteiros receberam ou estão recebendo obras de drenagem e pavimentação. Ambas as ações são fundamentais, além da melhoria da qualidade de vida da população, mas também por motivos ambientais, pois ao implantar a rede de drenagem verifica-se as conexões dos lotes para certificar que não há a chegada de esgoto nas redes de águas pluviais. A pavimentação, por sua vez, também é essencial pois evita que processos erosivos nas ruas carreiam sedimentos para os cursos hídricos e as lagoas, causando o assoreamento.
  • COMUNIDADES NO ENTORNO DA LAGOA: Foram desenvolvidas obras de infraestrutura nas comunidades e bairros no entorno da Lagoa de Piratininga. Nas comunidades da Barreira, Ciclovia e Iate Clube, a Prefeitura implantou vias de acesso e arruamentos internos, drenagem, saneamento e regularização fundiária, além de equipamentos esportivos e comunitários. 
Os trabalhos de recuperação das lagoas continua e o sonho de décadas atrás vai se realizar. 

Axel Grael
Engenheiro florestal e ambientalista
Prefeito de Niterói (2021-2024)
Vice-prefeito (2013-2016)


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ORDEM DE INÍCIO DAS OBRAS DE DESOBSTRUÇÃO DO TÚNEL DO TIBAU



domingo, 23 de março de 2025

Mais um recorde na ciclovia mais movimentada do País!

Passando em frente ao Contabike, na ciclovia da Marquês do Paraná, a mais movimentada do Brasil!

RECORDE DE BICICLETAS

A ciclovia da avenida Marquês do Paraná, que conecta a Zona Sul ao Centro de Niterói, registrou a passagem de 6.810 ciclistas ao longo do dia, na última segunda-feira (18/03) e se consolida como a mais movimentada do Brasil! 

Em 2015 eram 800 ciclistas passando pela mesma avenida: um aumento de mais de 850%. Um número extraordinário que reflete muito do trabalho feito em Niterói para estimular a cultura da bike na nossa cidade, que tem tanta vocação para as magrelas.

A Marquês do Paraná faz parte do eixo cicloviário das avenidas Roberto Silveira-Marquês do Paraná-Amaral Peixoto-Bicicletário Arariboia e é monitorada pelo sistema ContaBike, que faz a contagem diária de ciclistas e divulga os dados para a população. O equipamento foi implantado na Marquês do Paraná em 24 de abril de 2024, portanto completará 1 ano amanhã. 

CONTABIKE

O sistema ContaBike foi contratado pela Prefeitura de Niterói para monitorar 11 ciclovias de Niterói, de forma a verificar a adesão do niteroiense ao uso da bicicleta, gerar dados estatísticos para permitir entender os reflexos sobre o uso das ciclovias em diferentes condições meteorológicas e ajudar a desenvolver o planejamento do sistema cicloviário da cidade. 

Os pontos de monitoramento são:

Avenida Marquês do Paraná
Avenida Roberto Silveira
Rua São Lourenço
Túnel Charitas-Cafubá (sentido Cafubá)
Túnel Charitas-Cafubá (sentido Charitas)
Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis

Segundo dados do ContaBike, neste quase um ano, já foram contabilizadas mais de 1,5 milhões de passagens de ciclistas na Avenida Marquês do Paraná.

Dados estatísticos do ContaBike:

Total já registrado: 1.518.867 passagens
Média diária do fluxo dia de semana: 4.911 passagens
Média semanal: 29.113 Passagens
Média mensal: 126.590 Passagens

Recordes registrados:

Dia 18 de março de 2025: 6.810 Passagens
Semana de 10 de fevereiro de 2025: 35.913 Passagens
Mês outubro de 2024: 139.508 Passagens
Importante lembrar que Niterói tem a maior proporção de mulheres e idosos pedalando no Brasil, o que é um ótimo sinal!

A opção da bicicleta é fundamental para Niterói, uma vez que temos a maior taxa motorização do país e uma das maiores do país, com cerca de seis carros para cada 10 habitantes de Niterói, segundo o Departamento de Estatística do DETRAN-RJ. Oferecer novos modais de modalidade é estratégico para garantir uma maior fluidez no trânsito da cidade. 

NITERÓI DE BICICLETA 

Iniciei o programa Niterói de Bicicleta em 2013, trazendo para a administração municipal a bandeira que defendi como ambientalista em Niterói desde a década de 1980: ciclovias em Niterói! Superamos muitas dificuldades no início da implantação do programa, mas nada diferente do que já esperávamos, mas fizemos um processo participativo de estruturação do projeto cicloviário de Niterói e ouvimos a população em cada uma das etapas do projeto.

Entrega da Ciclovia da Rua Timbiras, em São Francisco, em 2014.

Veja, a seguir, alguns dos marcos importantes do programa Niterói de Bicicleta:

CRONOLOGIA DO NITERÓI DE BICICLETA

Conheça os avanços nos primeiros oitos anos do Niterói de Bicicleta:
Foram 8 anos de muitos avanços e de consolidação da vocação de Niterói para a bicicleta. Nestes primeiros anos, chegamos a 45 km de ciclovias implantadas e as contagens de ciclistas realizadas em 2020 mostraram que chegamos a 3.129 bicicletas/dia na Marquês do Paraná.

GESTÃO AXEL GRAEL (2021-2024)

No período, os avanços foram ainda mais significativos. Quase dobramos a malha cicloviária da cidade (mais de 91% de aumento), com ampliação de 41 km de ciclovias para 86 km. Cabe destaque para a implantação da nova malha cicloviária da Região Oceânica. com os investimentos do Programa Região Oceânica Sustentável - PRO SUSTENTÁVEL. O próximo grande investimento na região será a Ciclovia-Parque de Itaipu, cujo projeto desenvolvemos e deixamos pronto para implantar. 

Também merece destaque o grande aumento do número de ciclistas. Na Marquês do Paraná, os registros passaram de 3.129 bicicletas (2020) para 6.810 ciclistas (18 de março), ou seja, um aumento de 119,6%

Entrega da Ciclovia da Avenida João Brazil, no Fonseca.

Veja os outros avanços nos últimos 4 anos:
Inauguração da Ciclovia da Praia de Piratininga, com mais de 1.200 ciclistas comemorando a conquista de Niterói.

Após 12 anos de trabalho, ver a grande adesão do niteroiense ao transporte por bicicleta nos enche de orgulho e de esperança de ver Niterói se firmar, cada vez mais, como um exemplo de sustentabilidade urbana. Impossível não lembrar de quando comecei a organizar manifestações pelo uso da bicicleta, nos anos 80, e muitos diziam que a cidade não era boa para pedalar. Niterói segue mostrando caminhos por uma mobilidade sustentável. Tenho um orgulho especial de ter tirado do papel, como prefeito, as roxinhas NitBikes. Os niteroienses responderam à altura dos investimentos, abraçando as bicicletas como forma de locomoção.

Pedalando no POP Sirkis e ouvindo os moradores.

Vamos em frente, pedalando para uma Niterói cada vez mais sustentável e boa para se viver e ser feliz. Viva Niterói!

Axel Grael
Prefeito de Niterói (2021-2024)


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BICICLETAS: Niterói é a terceira cidade do País com mais pessoas acima de 60 anos pedalando




terça-feira, 18 de março de 2025

Artigo Correio Braziliense: "Make America freerider again"

"A era Trump pode oferecer oportunidades para os países e empresas que estiverem bem posicionados para atender às demandas de descarbonização da economia, inclusive nos Estados Unidos" - (crédito: ROBERTO SCHMIDT / AFP)

O Brasil segue criando as bases para ocupar grande espaço nesse movimento global que é a transição energética, enquanto o governo dos Estados Unidos caminha no sentido oposto

Guilherme Vinhas

A expressão freerider é utilizada pelos economistas para caracterizar quem se beneficia de um bem ou serviço sem prestar qualquer contribuição. Em outras palavras: pegar carona, tirar proveito do trabalho alheio. Quanto às mudanças climáticas, freerider é o país que não aderiu ao Acordo de Paris ou não cumpre com as suas obrigações nesse tratado. O resultado é que os demais países precisam aumentar os seus esforços para compensar as emissões que deixam de ser evitadas pelo freerider, pois a atmosfera é um bem comum e de uso ilimitado por todos.

O problema se torna agudo quando o freerider é o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Numa reprise do que fez na sua primeira eleição, o presidente Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. O impacto para as próximas COPs não é pequeno. O país deixa de se comprometer com o financiamento das medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, com os mercados globais de carbono e outras iniciativas discutidas no âmbito desse acordo.

A agenda da COP-30 precisará equacionar esses temas diante da ausência dos Estados Unidos. Um desafio que não é trivial, na medida em que havia a expectativa de que o país contribuísse, de forma justa, frente aos danos climáticos que causa.

Ao mesmo tempo, Donald Trump anunciou a intenção de acelerar a produção de combustíveis fósseis e de desidratar a geração de energia renovável. Abdicar da geração de energia renovável ou demonizar os combustíveis fósseis são posições extremas que apenas servem a setores específicos. É preciso ter equilíbrio. A contenção do aquecimento global demanda a redução da intensidade de carbono dos combustíveis fósseis, que causam cerca de dois terços das emissões de gases de efeito estufa, assim como o investimento no conjunto de fontes de energia renovável.

Entretanto, tais iniciativas do presidente Trump não devem afastar outros governos e empresas da transição energética. Ao contrário, a era Trump pode oferecer oportunidades para os países e empresas que estiverem bem posicionados para atender às demandas de descarbonização da economia, inclusive nos Estados Unidos.

Isso porque o governo Trump não tem o monopólio das iniciativas de combate às mudanças climáticas no país. Parte dos estados, da iniciativa privada e dos consumidores americanos é sensível aos alertas da ciência. E, portanto, vê valor nas medidas de mitigação das mudanças climáticas.

Tendo em vista que o Brasil é uma potência global em biocombustíveis e possui uma matriz energética limpa em relação a outros países, se oferecermos segurança jurídica, previsibilidade e estabilidade de regras, podemos aproveitar o momento para atrair investimentos na produção de energia renovável.

Esse processo já está em andamento. Nos últimos meses, o Congresso Nacional, com o Ministério de Minas e Energia, avançou na criação de importantes marcos legais: são seis leis fundamentais para a transição energética.

Em junho de 2024, foi sancionada a lei que criou o Programa Mover, cujo objetivo é estimular a cadeia de produção de veículos e o investimento em inovação e tecnologia para tornar a frota nacional mais sustentável e eficiente em relação às emissões de gases de efeito estufa.

Em agosto de 2024, foi publicado o marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono, que visa estimular a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologia para a sua produção a partir dos diversos ativos energéticos brasileiros.

Posteriormente, em outubro de 2024, foi publicada a lei que deu vida ao Programa Combustível do Futuro, uma ambiciosa iniciativa para descarbonizar o transporte no Brasil. Já em dezembro de 2024 foi sancionada a Lei que cria o mercado regulado de carbono, denominado Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa.

No início de janeiro, foi sancionada a Lei que dispõe sobre a geração de energia eólica offshore. Mais recentemente, foi publicada a lei que cria o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), que permitirá o financiamento de projetos conectados à transição energética mediante a utilização de créditos tributários e precatórios da União.

Esse conjunto de leis precisará ser regulamentado e, idealmente, as agências reguladoras responsáveis pela sua implementação deverão receber um reforço de pessoal e de recursos financeiros proporcional ao aumento de suas atribuições decorrente desses marcos legais.

O Brasil segue, portanto, criando as bases para ocupar grande espaço nesse movimento global que é a transição energética, enquanto o governo dos Estados Unidos caminha no sentido oposto. Se formos eficientes na regulamentação dessas atividades, criando um ambiente regulatório e econômico saudáveis, poderemos aproveitar o momento para capturar investimentos que, em outras circunstâncias, iriam para o Hemisfério Norte.


Guilherme Vinhas — Mestre em economia do direito pela Universidad Rey Juan Carlos (Madri), especialista em direito econômico pela FGV/RJ, advogado especialista em direito regulatório.



quarta-feira, 5 de março de 2025

CRISE TRUMP-EUROPA: VERBAS DO CLIMA PODERÃO SER REVERTIDAS PARA COMPRA DE ARMAS

 

Card publicado pelas Nações Unidas com importante alerta para o momento que estamos vivendo.

Enquanto o Brasil celebra o Carnaval, no mundo quem desfila é o "Bloco da Insensatez".

AVANÇOS: De outubro de 2024 para cá, o mundo alcançou avanços históricos para a transição para a sustentabilidade: na COP 29, da Conferência do Clima (UNFCCC), em Baku (Azerbaijão), os países se comprometeram a investir US$ 300 bilhões/ano na mitigação e adaptação climática; enquanto na COP16, da Conferência da Diversidade Biológica (CBD), em Cali, Colômbia/ Roma, Itália, os países concordaram em aportar US$ 200 bilhões para reverter a destruição de ecossistemas e extinção de espécies. 

RETROCESSOS: Há poucas semanas alojado na Casa Branca para seu segundo mandato de presidente dos EUA, Donald Trump abriu guerra em todas as frentes. Veja alguns dos episódios dos últimos dias: 

  • Donald Trump distorce os fatos, diz que Ucrânia começou a guerra, toma partido da Rússia e anuncia a redução drástica do financiamento à OTAN.
  • Trump, seu vice-presidente JD Vance e o secretário de Estado, Marco Rubio, voltaram-se com desrespeito contra a Europa, de forma nunca vista.
  • Dias após humilhar publicamente o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, durante entrevista coletiva na Sala Oval da Casa Branca, Trump anuncia a suspensão da verba e do apoio militar à Ucrânia. Trump decide de forma unilateral que a Ucrânia deve ceder aos EUA seus direitos sobre recursos minerais do país como forma de ressarcimento à ajuda militar durante a guerra.
  • Diante do ambiente de instabilidade, Ursula von der Leyen, presidente da União Europeia, anuncia que a Europa "começará uma nova corrida armamentista" para se proteger. A líder europeia disse que já "tinham um plano para financiar a compra de armas".
  • Ontem, países europeus começaram a anunciar que a verba que destinariam para a Convenção do Clima e para a Convenção para a Diversidade Biológica poderão ser utilizados para comprar armas!

Leia matérias sobre o assunto:

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Europe diverts climate funds for war chest

By Gautam Naik

Europe’s race to build a war economy has led the bloc to pull spending desperately needed for another crisis: the climate.

The redirection of billions of euros away from development finance meant to fight the fallout of floods, droughts and cyclones in poorer countries has the potential to fuel European inflation, drive up immigration and weaken the bloc’s standing abroad.

“We are mutually dependent on these countries,” said Gareth Redmond-King, head of international program at Energy and Climate Intelligence Unit, a nonprofit.

In the UK, Prime Minister Keir Starmer has announced plans to cut aid spending by £6 billion ($7.6 billion) to make room for increased military spending. Germany intends to scale back development finance by almost $1 billion, while the Netherlands has unveiled €2.4 billion ($2.5 billion) of cuts. Across Europe, governments including Finland, Sweden and Switzerland are releasing similar plans.


Volodymyr Zelenskiy, Ukraine's president, left, and Keir Starmer, UK prime minister, ahead of a summit in London on March 2. Photographer: Chris J. Ratcliffe/Bloomberg

Redmond-King said the pullback has implications for a whole range of soft commodities in countries that export to Europe. Fewer protections against climate disasters will likely result in higher prices on everything from coffee to cocoa and bananas, he said. He also warns that spending cuts here and now mean future climate costs may rise.

The UK imports two-fifths of its food from abroad, half of which comes from areas where crops face an increase in heat waves, floods and other impacts of climate change, according to the ECIU.

David Miliband, a former Labour foreign secretary who’s now chief executive of the International Rescue Committee, said the UK’s decision to withdraw development finance marks “a blow to Britain’s proud reputation as a global humanitarian and development leader.” Meanwhile, Anneliese Dodds, the UK’s minister for international development, has resigned in protest.

Ironically, the retreat by western governments from development finance risks ceding soft power in strategically important geographies to nations that Europe considers hostile, according to Redmond-King.

“The world has changed a lot in the last month and there’s no question we have to raise defense spending,” he said. But by cutting climate aid to developing nations “we risk withdrawing something that stabilizes those countries and opens up an opportunity for others – like Russia – to step in.”

Europe’s retreat from development finance adds to the blow delivered by the policies of US President Donald Trump, which froze foreign aid and began dismantling the US Agency for International Development. The agency managed $43 billion of foreign aid in 2023.

The hollowing out of development budgets comes just three months after the COP29 summit in Baku, Azerbaijan, where rich countries finalized a hard-won agreement to provide $300 billion of annual climate aid to poorer nations.

That pledge is now in jeopardy.

“It will be much more difficult to live up to the commitments signed up to at Baku,” said Redmond-King.

Meanwhile, investors are turning their backs on stocks whose value is tied to climate spending. The S&P Global Clean Energy Index has lost about 40% of its value since Russia invaded Ukraine in February 2022. The S&P Global 1200 Aerospace & Defense Index climbed 64% in the same period.

Fonte: Bloomberg.com.

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Outro artigo:

segunda-feira, 3 de março de 2025

NASA explica as ondas de calor na América do Sul


Summer Heat Wave in South America

In February 2025, an area of high pressure parked over the southern Atlantic Ocean, causing temperatures to soar in parts of South America. In Brazil, the heat led officials in Rio Grande do Sul to delay the start of school and people in Rio de Janeiro to flock to the beach.

The summer heat wave is depicted on this map, which shows air temperatures modeled at 2 meters (6.5 feet) above the ground on February 17. It was produced by combining satellite observations with temperatures predicted by a version of the GEOS (Goddard Earth Observing System) model, which uses mathematical equations to represent physical processes in the atmosphere. The darkest reds indicate areas where temperatures reached or exceeded 38 degrees Celsius (100 degrees Fahrenheit).

The city of Rio de Janeiro saw especially warm conditions on February 17. According to news reports, a weather station in the Guaratiba neighborhood recorded temperatures of up to 44°C that day(111°F)—the hottest temperature measured since the development of the city’s climate alert system 10 years ago.

Brazil’s National Institute of Meteorology (INMET) noted several other municipalities across the state of Rio de Janeiro where temperatures exceeded 40°C (104°F) on February 17, such as Silva Jardim, which hit 42°C (108°F). The region’s heat wave continued through the week before returning closer to normal as the focus of the heat shifted south into Argentina.

Heat was already evident in northern Argentina on February 17, when the country’s National Weather Service (SMN-Arg) reported highs reaching up to 40°C. As of February 27, SMN-Arg noted that six provinces were under a red-level (very dangerous) alert for extreme heat.

NASA Earth Observatory image by Michala Garrison, using GEOS-5 data from the Global Modeling and Assimilation Office. Story by Kathryn Hansen.

References & Resources

The Associated Press (2025, February 17) Rio de Janeiro’s hottest day in at least a decade sends residents to the beach. Accessed February 28, 2025.
The Guardian (2025, February 24) Weather tracker: temperatures hit record highs across South America. Accessed February 28, 2025.
The Guardian (2025, February 12) Intense heatwave in southern Brazil forces schools to suspend return. Accessed February 28, 2025.
INMET, via X (2025, February 17) Check out the biggest temperatures recorded, until 3 pm today (17), by INMET. Accessed February 28, 2025.
SMN Argentina, via X (2025, February 17) Tmax. (°C). Accessed February 28, 2025.