Reserva Biológica de Guapiaçu. A reserva é uma área particular que investe em reflorestamento e parcerias públicas e privadas. Na foto, Nicholas Locke, proprietário da terra transformada em reserva, junto ao limpo rio Guapiaçu Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Ana Lucia Azevedo
É sabido que o desmatamento desequilibra o clima e reduz a oferta de água, mas a epidemia de Covid-19 evidencia outro efeito perverso. Fogo, correntões e motosserras libertam vírus mantidos longe do ser humano por florestas e afetam a saúde humana até nas cidades. Coronavírus de morcegos, por exemplo, foram descobertos na Mata Atlântica, onde o desmatamento voltou a crescer e aumentou 27,2%, segundo dados divulgados semana passada. A preservação da floresta é capaz de proteger o homem e reduzir infecções.
É o princípio de Saúde Única (One Health), adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e que ganhou relevância com a atual pandemia, nascida do contato de homens com um coronavírus de morcegos na China.
As florestas controlam doenças ao diluir o risco de transmissão multiplicando os hospedeiros para os vírus em suas milhares de espécies de animais. Toda doença infecciosa nova está ligada a desequilíbrios ambientais, diz Edison Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
O grupo dele descobriu na Mata Atlântica de São Paulo quatro tipos de coronavírus com potencial de sofrer mutações e passar a infectar seres humanos: dois de morcegos e os outros dois, de aves. Encontraram ainda um vírus da influenza em morcegos, o HL18NL11, achado relatado em 2019 na revista “Emerging Infectious Diseases”.
A Amazônia, com sua colossal biodiversidade, é um dos lugares mais prováveis para o surgimento de vírus com potencial de causar pandemias. Porém, muito mais devastada, a Mata Atlântica, em cujos domínios vivem dois terços da população do país, é onde coronavírus e outros têm sido descobertos.
Noventa por cento das doenças emergentes no planeta, como a Covid-19, o Ebola, a Sars, a Mers e a Aids, vêm de animais silvestres que saíram de áreas degradadas.
— A China tem mais gente, mas temos mais desmatamento, que aumenta sem controle — lamenta Durigon.
É sabido que o desmatamento desequilibra o clima e reduz a oferta de água, mas a epidemia de Covid-19 evidencia outro efeito perverso. Fogo, correntões e motosserras libertam vírus mantidos longe do ser humano por florestas e afetam a saúde humana até nas cidades. Coronavírus de morcegos, por exemplo, foram descobertos na Mata Atlântica, onde o desmatamento voltou a crescer e aumentou 27,2%, segundo dados divulgados semana passada. A preservação da floresta é capaz de proteger o homem e reduzir infecções.
É o princípio de Saúde Única (One Health), adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e que ganhou relevância com a atual pandemia, nascida do contato de homens com um coronavírus de morcegos na China.
As florestas controlam doenças ao diluir o risco de transmissão multiplicando os hospedeiros para os vírus em suas milhares de espécies de animais. Toda doença infecciosa nova está ligada a desequilíbrios ambientais, diz Edison Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
O grupo dele descobriu na Mata Atlântica de São Paulo quatro tipos de coronavírus com potencial de sofrer mutações e passar a infectar seres humanos: dois de morcegos e os outros dois, de aves. Encontraram ainda um vírus da influenza em morcegos, o HL18NL11, achado relatado em 2019 na revista “Emerging Infectious Diseases”.
A Amazônia, com sua colossal biodiversidade, é um dos lugares mais prováveis para o surgimento de vírus com potencial de causar pandemias. Porém, muito mais devastada, a Mata Atlântica, em cujos domínios vivem dois terços da população do país, é onde coronavírus e outros têm sido descobertos.
Noventa por cento das doenças emergentes no planeta, como a Covid-19, o Ebola, a Sars, a Mers e a Aids, vêm de animais silvestres que saíram de áreas degradadas.
— A China tem mais gente, mas temos mais desmatamento, que aumenta sem controle — lamenta Durigon.
Vigilância e pesquisa
Durigon explica que a diversidade de vírus na Mata Atlântica é imensa, principalmente em morcegos, cujo sistema imune peculiar permite que carreguem patógenos sem adoecer. O Brasil abriga 15% das espécies de morcegos do mundo. São 178, das quais 113 da Mata Atlântica.
— Na floresta, eles são mantidos em segurança. Mas se um vírus tiver alguma mutação que permita pular de espécies, como o Sars-CoV-2 na China, pode passar para seres humanos — diz o cientista.
Os coronavírus que o grupo da USP encontrou na Mata Atlântica são parecidos com o Sars-CoV-2, mas não têm receptores para se ligar a células humanas. Não podem nos infectar. O vírus que causa a Covid-19 originalmente também não podia, e passou a fazer isso após sofrer uma mutação que lhe permitiu invadir células humanas.
— O encontro de um vírus silvestre com capacidade de infectar um ser humano não é um evento fácil. Mas a Covid-19 nos mostra que acontece. Temos que nos preparar para futuras pandemias. Vigilância e pesquisa são essenciais. Desmatamento e caça trazem doenças — salienta.
Segundo Durigon, a Mata Atlântica em volta da cidade de São Paulo é como um escudo contra doenças. Resta muito pouco dela e os vírus estão sempre em busca de novos hospedeiros. Coronavírus estão longe de ser raros. O grupo do professor André Santos, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou uma nova espécie em catetos (porcos selvagens). Ele explica que não existe um número estimado de vírus no Brasil e seu grupo tem um projeto para estudar coronavírus de morcegos em todo o país.
O zoólogo Hugo Fernandes, da Universidade Estadual do Ceará, cujo trabalho é apoiado pelo Instituto Serrapilheira, também se preocupa com o impacto da caça na transmissão de doenças.
— Criticamos o chinês por comer ratos. Mas os brasileiros caçam e comem roedores como paca, cutia, mocó, preá e capivaras. Sem falar em macacos e outros bichos comidos ou traficados. Desmatamento, fragmentação de florestas e caça criam a receita para um desastre — diz.
Marcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz, enfatiza que caça e o tráfico de animais silvestres espalham patógenos. Ela lembra que surtos atuais de doenças como febre amarela, malária e leishmaniose estão associados ao desmatamento.
O maior descobridor de vírus do Brasil, Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, diz que na Amazônia os efeitos da destruição da floresta já são vistos no processo de urbanização de vírus como o mayaro e o oropouche, que causam infecções com sintomas semelhantes aos da dengue.
— Os vírus jamais desaparecerão da Terra. À medida que nos tornamos mais numerosos, precisamos aprender a mantê-los distantes. Proteger a floresta é uma questão de saúde.
Durigon explica que a diversidade de vírus na Mata Atlântica é imensa, principalmente em morcegos, cujo sistema imune peculiar permite que carreguem patógenos sem adoecer. O Brasil abriga 15% das espécies de morcegos do mundo. São 178, das quais 113 da Mata Atlântica.
— Na floresta, eles são mantidos em segurança. Mas se um vírus tiver alguma mutação que permita pular de espécies, como o Sars-CoV-2 na China, pode passar para seres humanos — diz o cientista.
Epicentro: Região amazônica concentra casos da Covid-19 em diversos países da América do Sul
Os coronavírus que o grupo da USP encontrou na Mata Atlântica são parecidos com o Sars-CoV-2, mas não têm receptores para se ligar a células humanas. Não podem nos infectar. O vírus que causa a Covid-19 originalmente também não podia, e passou a fazer isso após sofrer uma mutação que lhe permitiu invadir células humanas.
— O encontro de um vírus silvestre com capacidade de infectar um ser humano não é um evento fácil. Mas a Covid-19 nos mostra que acontece. Temos que nos preparar para futuras pandemias. Vigilância e pesquisa são essenciais. Desmatamento e caça trazem doenças — salienta.
Segundo Durigon, a Mata Atlântica em volta da cidade de São Paulo é como um escudo contra doenças. Resta muito pouco dela e os vírus estão sempre em busca de novos hospedeiros. Coronavírus estão longe de ser raros. O grupo do professor André Santos, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou uma nova espécie em catetos (porcos selvagens). Ele explica que não existe um número estimado de vírus no Brasil e seu grupo tem um projeto para estudar coronavírus de morcegos em todo o país.
O zoólogo Hugo Fernandes, da Universidade Estadual do Ceará, cujo trabalho é apoiado pelo Instituto Serrapilheira, também se preocupa com o impacto da caça na transmissão de doenças.
— Criticamos o chinês por comer ratos. Mas os brasileiros caçam e comem roedores como paca, cutia, mocó, preá e capivaras. Sem falar em macacos e outros bichos comidos ou traficados. Desmatamento, fragmentação de florestas e caça criam a receita para um desastre — diz.
Marcia Chame, coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz, enfatiza que caça e o tráfico de animais silvestres espalham patógenos. Ela lembra que surtos atuais de doenças como febre amarela, malária e leishmaniose estão associados ao desmatamento.
O maior descobridor de vírus do Brasil, Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, diz que na Amazônia os efeitos da destruição da floresta já são vistos no processo de urbanização de vírus como o mayaro e o oropouche, que causam infecções com sintomas semelhantes aos da dengue.
— Os vírus jamais desaparecerão da Terra. À medida que nos tornamos mais numerosos, precisamos aprender a mantê-los distantes. Proteger a floresta é uma questão de saúde.
Fonte: O Globo
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