| Floresta Amazônica vista de cima. Foto Brasil Escola UOL. |
TFFF é avanço histórico por recompensar serviços ambientaispor Cintia Salomão
Especialistas ouvidos pelo Integridade ESG celebram criação do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, que obteve apoio de vários países ao ser anunciado pelo governo brasileiro durante a Cúpula de Líderes. “Pela primeira vez, haverá valorização e recompensa pelos serviços ecossistêmicos”, ressalta o climatologista Carlos Nobre
O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado pelo presidente Lula durante a Cúpula de Líderes em Belém, representa uma novidade importante para estimular a conservação dos biomas, de acordo com especialistas ouvidos pelo Integridade ESG.
Para o cientista Carlos Nobre, o novo mecanismo representa o surgimento de uma forma recompensa por serviços ecossistêmicos.
“A implementação do TFFF é muito importante. Pela primeira vez, haverá valorização e recompensa pelos serviços ecossistêmicos, mantendo as florestas e a água, essencial para manter a biodiversidade aquática e terrestre. Vamos torcer muito para que esse Fundo seja efetivamente implementado”, define o Prêmio Nobel da Paz (2007) como integrante da equipe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O TFFF aplica a lógica de mercado ao financiamento climático e captar cerca de US$ 125 bilhões em investimentos privados. O capital será reinvestido em projetos com maior taxa de retorno. A diferença entre o que é pago aos investidores e o que é obtido nessas aplicações (spread) será destinada a remunerar financeiramente países que preservam suas florestas tropicais, de forma proporcional à área conservada. Já anunciaram contribuição financeira Noruega, França, Indonésia e Alemanha, além do próprio Brasil.
Desde que a ideia foi lançada pelo Brasil na COP28, em Dubai, pelo presidente brasileiro e pelo ministros Marina Silva e Fernando Haddad, o seu método veio sendo desenvolvido, assim como os seus valores, lembra o climatologista.
“O governo brasileiro quer, rapidamente, nos próximos dias, durante a COP, ultrapassar os 10 bilhões de dólares. O montante seria investido só em ações renováveis. Ou seja, nenhum empréstimo desse fundo iria para qualquer iniciativa de risco ou destruição das florestas, agropecuária, mineração, combustíveis fósseis, ou seja, nada disso. Iria só para ações de proteção da floresta e para a grande escala de restauração florestal. Pela primeira vez na história, se colocariam 4 dólares por hectare da floresta mantida, protegida, por ano. Estamos falando de mais de 10 milhões de quilômetros quadrados, mais de 1 bilhão de hectares. Isso corresponde a 4 bilhões de dólares por ano, que serão destinados a todos os países que mantêm as florestas”, calcula.
O TFFF prevê a destinação de pelo menos 20% dos pagamentos recebidos por cada país para povos indígenas e comunidades locais, o que é positivo para Carlos Nobre.
“Essas comunidades já protegem muito bem as florestas. Vamos torcer muito para que isso seja efetivamente implementado. Certamente levará alguns anos para a efetivação desse fundo, mas é muito boa a ideia, além de necessária, pois trata-se da primeira vez que todos os serviços ecossistêmicos serão valorizados, mantendo as florestas e a água, essencial para manter a biodiversidade aquática e terrestre, e o uso humano de todos os produtos da biodiversidade. A floresta amazônica recicla muito bem a água e exporta grande quantidade de vapor de água para o sul, abastecendo de 40% a 50% da chuva do Cerrado e boa parte da chuva da Mata Atlântica. Temos que torcer muito que o setor financeiro dos governos e o setor financeiro privado apoie esse projeto, para que, em poucos anos, já tenhamos esse valor calculado, de 125 milhões de dólares”, conclui.
O cálculo para o pagamento do fundo será baseado em dados de monitoramento por satélite e em padrões técnicos internacionais a fim de permitir o nível de conservação de cada território.
Para Daniel Caiche, professor de pós-graduação em ESG e Sustentabilidade Corporativa da Fundação Getulio Vargas (FGV), o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre marca um avanço histórico na forma como o Brasil e o mundo passam a enxergar as florestas. No entanto, para alcançar credibilidade, o TFFF precisa unir transparência, governança e tecnologia de alta precisão.
“Os mecanismos de verificação devem basear-se em sistemas que utilizem imagens de satélite com adequada resolução e frequência temporal, capazes de detectar variações sutis na cobertura florestal. Esses dados devem ser integrados em modelos geoespaciais para garantir acurácia científica e rastreabilidade total. Além disso, a validação por instituições independentes e centros de pesquisa é uma medida recomendável, para assegurar que as informações sejam consistentes e verificáveis, analogamente aos mercados voluntários e regulados de carbono”, pondera.
Esforço em conjunto do setor financeiro e do setor ambiental, frisa Rita Scarponi
Rita Maria Scarponi, advogada e defensora dos biocréditos, interpreta a novidade como uma etapa importante rumo ao financiamento climático.
“Estou bastante otimista em relação aos benefícios e ao potencial inovador do TFFF. Enxergo como um passo essencial na direção certa rumo ao financiamento climático, com potencial de redefinir como a conservação é abordada globalmente. O setor financeiro é essencial para proporcionar soluções ambientais. Afinal, somente o sistema organizado é capaz de transmitir a confiança regulatória e fiscalizatória de governança, elementos essenciais para que um Fundo dessa natureza atinja esses objetivos. Sempre defendi que, na verdade, nós estamos tratando, quando falamos da ligação do ambiente com o sistema financeiro, de bioeconomia, que representa nada mais do que essa união de esforços do setor financeiro com o meio ambiente como um todo, criando produtos capazes de gerar essa segurança”, frisa a especialista em regulação, mercados financeiro e de capitais e meio ambiente e pesquisadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Para o jurista Guilherme Vinhas, autor do livro “Fundamentos da Transição Energética”, a iniciativa do governo brasileiro é bastante importante, pois o fundo cria um estímulo econômico para os países que mantiverem as florestas em pé.
“E a combinação de recursos públicos com recursos privados cria uma lógica sustentável em termos financeiros. Se o TFFF tiver recursos relevantes, vão gerar uma receita e uma parte do resultado dessa receita, o spread, vai ser convertido em investimento em florestas”, esclarece, citando a Noruega como exemplo de grande produtor de petróleo e gás que detém dos maiores fundos soberanos do mundo e maior investidor do Fundo Amazônia, alimentado com o recurso da produção de fósseis.
Para ele, seria um sinal de que, “por enquanto, não dá para parar de produzir petróleo”.
“A transição energética, como diz o próprio nome, é uma transição, um processo gradual. Temos que descarbonizar a própria produção de petróleo e também gerar mais eficiência energética, aumentar a produção de renováveis, e tudo isso demora e leva tempo e dinheiro. Em resumo, acho que foi uma iniciativa bastante importante. Afinal, as florestas sequestram um volume de carbono muito grande. Portanto, é fundamental pararmos parar com a invasão de florestas e o desmatamento, mas também regenerar o que já foi desmatado”.
O engenheiro florestal e ambientalista Axel Grael também celebrou a “iniciativa criativa do governo brasileiro que começa a ganhar musculatura na COP30”.
“Como engenheiro florestal e militante ambientalista, que acompanha a agenda do clima, vejo a importância de se ter um mecanismo que viabilize os investimentos para proteger as florestas tropicais é fundamental. Há na Amazônia um risco muito grande de se chegar a um ponto de não retorno, a partir do qual tende a passar por um processo de savanização. Se perdemos essa capacidade das florestas tropicais em função de desmatamento, queimadas e falta de gestão, a situação climática poderá ficar muito pior”, alerta, lembrando que estamos na década da restauração florestal, instituída pela ONU, estimulando a convergência de uma série de iniciativas que fortalecem a recuperação florestal para enfrentar as mudanças climáticas”, destaca o ex-prefeito de Niterói (RJ), ao se referir à Década da Restauração de Ecossistemas da ONU (2021-2030).
Fonte: Integridade ESG
O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), lançado pelo presidente Lula durante a Cúpula de Líderes em Belém, representa uma novidade importante para estimular a conservação dos biomas, de acordo com especialistas ouvidos pelo Integridade ESG.
Para o cientista Carlos Nobre, o novo mecanismo representa o surgimento de uma forma recompensa por serviços ecossistêmicos.
“A implementação do TFFF é muito importante. Pela primeira vez, haverá valorização e recompensa pelos serviços ecossistêmicos, mantendo as florestas e a água, essencial para manter a biodiversidade aquática e terrestre. Vamos torcer muito para que esse Fundo seja efetivamente implementado”, define o Prêmio Nobel da Paz (2007) como integrante da equipe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O TFFF aplica a lógica de mercado ao financiamento climático e captar cerca de US$ 125 bilhões em investimentos privados. O capital será reinvestido em projetos com maior taxa de retorno. A diferença entre o que é pago aos investidores e o que é obtido nessas aplicações (spread) será destinada a remunerar financeiramente países que preservam suas florestas tropicais, de forma proporcional à área conservada. Já anunciaram contribuição financeira Noruega, França, Indonésia e Alemanha, além do próprio Brasil.
Desde que a ideia foi lançada pelo Brasil na COP28, em Dubai, pelo presidente brasileiro e pelo ministros Marina Silva e Fernando Haddad, o seu método veio sendo desenvolvido, assim como os seus valores, lembra o climatologista.
“O governo brasileiro quer, rapidamente, nos próximos dias, durante a COP, ultrapassar os 10 bilhões de dólares. O montante seria investido só em ações renováveis. Ou seja, nenhum empréstimo desse fundo iria para qualquer iniciativa de risco ou destruição das florestas, agropecuária, mineração, combustíveis fósseis, ou seja, nada disso. Iria só para ações de proteção da floresta e para a grande escala de restauração florestal. Pela primeira vez na história, se colocariam 4 dólares por hectare da floresta mantida, protegida, por ano. Estamos falando de mais de 10 milhões de quilômetros quadrados, mais de 1 bilhão de hectares. Isso corresponde a 4 bilhões de dólares por ano, que serão destinados a todos os países que mantêm as florestas”, calcula.
O TFFF prevê a destinação de pelo menos 20% dos pagamentos recebidos por cada país para povos indígenas e comunidades locais, o que é positivo para Carlos Nobre.
“Essas comunidades já protegem muito bem as florestas. Vamos torcer muito para que isso seja efetivamente implementado. Certamente levará alguns anos para a efetivação desse fundo, mas é muito boa a ideia, além de necessária, pois trata-se da primeira vez que todos os serviços ecossistêmicos serão valorizados, mantendo as florestas e a água, essencial para manter a biodiversidade aquática e terrestre, e o uso humano de todos os produtos da biodiversidade. A floresta amazônica recicla muito bem a água e exporta grande quantidade de vapor de água para o sul, abastecendo de 40% a 50% da chuva do Cerrado e boa parte da chuva da Mata Atlântica. Temos que torcer muito que o setor financeiro dos governos e o setor financeiro privado apoie esse projeto, para que, em poucos anos, já tenhamos esse valor calculado, de 125 milhões de dólares”, conclui.
O cálculo para o pagamento do fundo será baseado em dados de monitoramento por satélite e em padrões técnicos internacionais a fim de permitir o nível de conservação de cada território.
Para Daniel Caiche, professor de pós-graduação em ESG e Sustentabilidade Corporativa da Fundação Getulio Vargas (FGV), o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre marca um avanço histórico na forma como o Brasil e o mundo passam a enxergar as florestas. No entanto, para alcançar credibilidade, o TFFF precisa unir transparência, governança e tecnologia de alta precisão.
“Os mecanismos de verificação devem basear-se em sistemas que utilizem imagens de satélite com adequada resolução e frequência temporal, capazes de detectar variações sutis na cobertura florestal. Esses dados devem ser integrados em modelos geoespaciais para garantir acurácia científica e rastreabilidade total. Além disso, a validação por instituições independentes e centros de pesquisa é uma medida recomendável, para assegurar que as informações sejam consistentes e verificáveis, analogamente aos mercados voluntários e regulados de carbono”, pondera.
Esforço em conjunto do setor financeiro e do setor ambiental, frisa Rita Scarponi
Rita Maria Scarponi, advogada e defensora dos biocréditos, interpreta a novidade como uma etapa importante rumo ao financiamento climático.
“Estou bastante otimista em relação aos benefícios e ao potencial inovador do TFFF. Enxergo como um passo essencial na direção certa rumo ao financiamento climático, com potencial de redefinir como a conservação é abordada globalmente. O setor financeiro é essencial para proporcionar soluções ambientais. Afinal, somente o sistema organizado é capaz de transmitir a confiança regulatória e fiscalizatória de governança, elementos essenciais para que um Fundo dessa natureza atinja esses objetivos. Sempre defendi que, na verdade, nós estamos tratando, quando falamos da ligação do ambiente com o sistema financeiro, de bioeconomia, que representa nada mais do que essa união de esforços do setor financeiro com o meio ambiente como um todo, criando produtos capazes de gerar essa segurança”, frisa a especialista em regulação, mercados financeiro e de capitais e meio ambiente e pesquisadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Para o jurista Guilherme Vinhas, autor do livro “Fundamentos da Transição Energética”, a iniciativa do governo brasileiro é bastante importante, pois o fundo cria um estímulo econômico para os países que mantiverem as florestas em pé.
“E a combinação de recursos públicos com recursos privados cria uma lógica sustentável em termos financeiros. Se o TFFF tiver recursos relevantes, vão gerar uma receita e uma parte do resultado dessa receita, o spread, vai ser convertido em investimento em florestas”, esclarece, citando a Noruega como exemplo de grande produtor de petróleo e gás que detém dos maiores fundos soberanos do mundo e maior investidor do Fundo Amazônia, alimentado com o recurso da produção de fósseis.
Para ele, seria um sinal de que, “por enquanto, não dá para parar de produzir petróleo”.
“A transição energética, como diz o próprio nome, é uma transição, um processo gradual. Temos que descarbonizar a própria produção de petróleo e também gerar mais eficiência energética, aumentar a produção de renováveis, e tudo isso demora e leva tempo e dinheiro. Em resumo, acho que foi uma iniciativa bastante importante. Afinal, as florestas sequestram um volume de carbono muito grande. Portanto, é fundamental pararmos parar com a invasão de florestas e o desmatamento, mas também regenerar o que já foi desmatado”.
O engenheiro florestal e ambientalista Axel Grael também celebrou a “iniciativa criativa do governo brasileiro que começa a ganhar musculatura na COP30”.
“Como engenheiro florestal e militante ambientalista, que acompanha a agenda do clima, vejo a importância de se ter um mecanismo que viabilize os investimentos para proteger as florestas tropicais é fundamental. Há na Amazônia um risco muito grande de se chegar a um ponto de não retorno, a partir do qual tende a passar por um processo de savanização. Se perdemos essa capacidade das florestas tropicais em função de desmatamento, queimadas e falta de gestão, a situação climática poderá ficar muito pior”, alerta, lembrando que estamos na década da restauração florestal, instituída pela ONU, estimulando a convergência de uma série de iniciativas que fortalecem a recuperação florestal para enfrentar as mudanças climáticas”, destaca o ex-prefeito de Niterói (RJ), ao se referir à Década da Restauração de Ecossistemas da ONU (2021-2030).
Fonte: Integridade ESG

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