quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Brasil pode enfrentar uma elevação de 4 °C a 4,5 °C em relação à temperatura pré-industrial, diz Paulo Artaxo

 

Artaxo citou que projetos de restauração ecológica são importantes para revitalizar serviços ecossistêmicos essenciais, como a manutenção do regime de chuvas, mas que a escala das iniciativas não consegue compensar a continuidade do uso de combustíveis fósseis (foto: Aline Pontes Lopes/Pesquisa FAPESP)

Em evento na Zona Azul da COP30, o físico e climatologista disse que o mundo está próximo de superar o limite de 1,5 °C de aquecimento médio, seguindo para 2,8 °C

Luciana Constantino, de Belém | Agência FAPESP – O mundo está próximo de superar o limite de 1,5 °C de aquecimento global médio e segue rumo a perigosos 2,8 °C. No Brasil, por estar em uma região tropical e continental, os impactos tendem a ser os mais severos: o país pode enfrentar uma elevação de 4 °C a 4,5 °C em relação ao período pré-industrial.

Para frear essa trajetória, seria necessária a eliminação da exploração e uso de combustíveis fósseis a curto prazo em uma transição justa e factível. Por isso, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Belém, é vista como uma oportunidade crucial para que os países definam um roteiro claro de substituição do uso de petróleo, gás e carvão. O alerta foi feito pelo físico e climatologista Paulo Artaxo durante apresentação realizada no estande da Finlândia, na Zona Azul da COP30, na sexta-feira (14/11).

O limite de 1,5 °C foi estabelecido no Acordo de Paris, em 2015, e é tratado pela comunidade científica como um patamar razoavelmente seguro para impedir impactos ainda mais severos da crise climática.

“Para evitar esse cenário, é preciso adotar técnicas como a chamada carbon dioxide removal, ou seja, remover dióxido de carbono [CO2] que já foi emitido para a atmosfera nas últimas décadas. Há algumas potenciais maneiras de fazer isso, sendo uma delas a recuperação ecológica em larga escala, ou seja, recuperar áreas de florestas, replantando o que desmatamos”, afirmou Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP).

“O problema é que nenhuma técnica existente hoje efetivamente funciona na escala necessária e com um preço que possa ser pago. O alto custo chega a milhares de dólares por tonelada de CO2 removida. O que não quer dizer que a ciência daqui a 20, 30, 40 anos não desenvolva outras técnicas inovadoras. Por isso, a melhor solução é atacar o problema pela raiz, fazendo uma transição energética justa e rápida e acabando com a exploração de combustíveis fósseis.”

Artaxo é um dos nove cientistas internacionais que apresentaram uma declaração com um aviso semelhante, destacando a importância de dados e ciência para a tomada de decisões. Também assinam o documento os pesquisadores brasileiros Thelma Krug, integrante do Conselho Superior da FAPESP; Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia; e Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira.

A “declaração sobre o estado atual das negociações da COP” foi divulgada no Pavilhão de Ciências Planetárias, o primeiro desse tipo em conferências do clima das Nações Unidas.

“Cada aumento de 0,1 °C no aquecimento global resulta em impactos e riscos substancialmente maiores, incluindo ondas de calor mais longas e mortais, incêndios florestais mais frequentes e intensos, tempestades e precipitações extremas, com danos desproporcionais a comunidades vulneráveis, economias frágeis e povos indígenas. Isso significa que a adaptação deve ser um foco importante na COP30”, escrevem os cientistas (leia a íntegra aqui: planetarysciencepavilion.org/2025/11/14/statement-from-scientists-at-the-planetary-science-pavilion-about-the-current-state-of-cop-negotiations/).

Perseguir a meta de limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 °C mesmo que as perspectivas sejam de ultrapassá-la também já havia sido a conclusão de debate realizado entre integrantes de Conselho Científico da presidência da COP30 (leia mais em: agencia.fapesp.br/56438).

Caminhos

Artaxo citou que projetos de restauração ecológica são importantes para revitalizar serviços ecossistêmicos essenciais, como a manutenção do regime de chuvas, mas que a escala das iniciativas não consegue compensar a continuidade do uso de combustíveis fósseis. “Não vai ser possível plantar árvores suficientes na superfície da Terra para sequestrar CO₂ se continuarmos emitindo como hoje”, disse.

O pesquisador destacou a proposta de produzir um “mapa do caminho” para a descarbonização de todos os setores da economia. “O que fizermos hoje determina o que as próximas gerações terão de limpar daqui a 20, 30 ou 100 anos”, afirmou Artaxo. O termo “mapa do caminho” – roadmap – é usado em negociações internacionais para planos de ação que estabelecem etapas, prazos e metas concretos rumo a um objetivo comum, definindo quem faz o quê, em qual prazo e com quais recursos.

Nos bastidores, o Brasil tem se mobilizado para oficializar um roadmap de abandono dos combustíveis fósseis na agenda da COP30, que entra nesta semana na reta final de negociações, com previsão de terminar na sexta-feira (21/11). A proposta já teve a adesão de vários países europeus e em desenvolvimento.

Fonte: Agência FAPESP




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