terça-feira, 7 de outubro de 2025

Ciclofaixa na orla da Boa Viagem, em Niterói, é inaugurada

 

Ciclofaixa inaugurada na Boa Viagem, em Niterói — Foto: Divulgação/Luciana Carneiro

Conexão de 750 metros liga infraestrutura cicloviária existente ao lado do Forte Gragoatá à que fica na Ilha da Boa Viagem

Por Sophia Lirio

Inaugurada semana passada, a ciclofaixa na orla de Boa Viagem já está a todo vapor. As obras, que duraram pouco mais de um mês, fazem uma conexão de 750 metros entre a infraestrutura cicloviária existente ao lado do Forte Gragoatá (contornando a Universidade Federal Fluminense) e a que fica na altura da Ilha da Boa Viagem, próxima à orla.

Segundo a gestão municipal, para viabilizar a faixa, o estacionamento foi transferido para o lado oposto da via. O número de vagas continuou o mesmo, e a vista ainda ficou livre para o mar e para o MAC. Rampas de acessibilidade e paraciclos, para estacionamento de bicicletas, também foram instalados. A inauguração faz parte de uma série de investimentos do município em prol do ciclismo e marca os 90 quilômetros de malha cicloviária da cidade, ainda segundo a prefeitura.

Débora Craveiro, moradora de Boa Viagem, relata que a vida ficou mais fácil com a ciclovia. Como vai à faculdade e à academia de bicicleta, conta que o novo trecho é um facilitador:

— A ciclofaixa facilitou muito a minha locomoção diária com praticidade e segurança, especialmente nesses trajetos. Além de delimitar com clareza o espaço destinado aos ciclistas, ela também acaba sendo um chamariz. Agora temos até a possibilidade de locação de bicicletas pela cidade, o que amplia ainda mais o acesso e o incentivo ao uso.

Para ela, esse meio de locomoção representa múltiplas vantagens: economia, praticidade, conexão com o entorno e uma sensação de liberdade.

—Gostaria de ver toda a cidade conectada — diz.

Fonte: O Globo Niterói


domingo, 5 de outubro de 2025

PRINICIPAIS INICIATIVAS DE RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS EM ANDAMENTO NO MUNDO

Floresta secundária – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Em 2019, seguindo uma proposta assinada por 70 países, a ONU lançou a Década Para a Restauração dos Ecossistemas 2021-2030 e exortou os países a se lançarem em um grande esforço de plantios e recuperação de florestas, para ajudar a enfrentar a emergência climática, para proteger solos e mananciais, para proteger a biodiversidade e para garantir a segurança alimentar.

Apesar dos investimentos em desenvolvimento de tecnologias para retirar artificialmente o carbono da atmosfera, até agora o método mais barato, eficaz e que mais gera benefícios diretos e indiretos é a restauração de ecossistemas. Além disso, cientistas afirmam que a restauração de apenas 15% dos ecossistemas em áreas prioritárias pode reduzir as extinções em 60%, por meio da melhoria dos habitats (PNUMA). 

Florestas fixam o dobro de carbono (CO2) do que emitem. Um estudo publicado na revista científica Nature Climate Change e disponível no Global Forest Watch concluiu que as florestas do mundo sequestraram cerca de duas vezes mais dióxido de carbono do que emitiram entre 2001 e 2019. Em outras palavras, as florestas fornecem um “sumidouro de carbono” com uma absorção líquida de 7,6 bilhões de toneladas de CO2 por ano, 1,5 vez mais carbono do que os Estados Unidos, segundo maior emissor do mundo, emitem anualmente (WRI). No entanto, a fixação de carbono acontece de forma diferenciada dependendo do bioma. É o que mostra o mapa abaixo:


Usando essa informação granular, descobrimos que as florestas do mundo emitem em média 8,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera todos os anos por conta de desmatamento e degradação, e absorvem 16 bilhões de toneladas de CO2 por ano (WRI).


Como pode ser visto na figura acima, as florestas em pé fixam carbono. As áreas desmatadas liberam carbono devido ao fogo ou à decomposição da matéria orgânica e as florestas em regeneração tem grande capacidade de fixação de carbono devido ao seu aumento de biomassa.

Para mais informações, acesso Florestas absorvem duas vezes mais CO2 do que emitem por ano.

Importante destacar que estudos consideram que mesmo recuperando a cobertura vegetal (dossel) através da regeneração natural, há uma significativa redução do número de espécies. "Um estudo internacional sobre florestas tropicais traz certo otimismo sobre a recuperação de áreas desmatadas. A partir de observações de ecólogos em todo o mundo, foi relatado que as espécies de árvores se regeneram em questão de décadas, formando as chamadas florestas secundárias. A perda de espécies, por outro lado, é inevitável" (Jornal da USP).

Devemos sempre alertar que as queimadas fazem com que todo o estoque de carbono retido na floresta vá para a atmosfera, agravando a crise climática. O Brasil precisa enfrentar e prevenir esse mal, pois o fogo em vegetação é a maior fonte de emissões de gases do efeito estufa (GEE) do país. 

BRASIL - Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa - PLANAVEG: 12 milhões de hectares

Capa do novo PLANAVEG 2025-2028. Para acessar o relatório, clique aqui.

O PLANAVEG foi lançado em 2019, mas só ganhou impulso a partir do lançamento da sua versão atualizada em 2024. O programa tem uma forte ambição de restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030. Saiba mais aqui: QUEIMADAS: QUANTO CUSTA RESTAURAR AS FLORESTAS PERDIDAS?

A iniciativa brasileira tem potencial para ser uma das mais relevantes no mundo e ser decisiva na agenda climática. Os trabalhos estão começando e temos uma grande perspectiva pela frente, considerando as condições favoráveis brasileiras e pelo fato de termos a maior extensão de terras disponíveis para este tipo de trabalho.

Apesar da relevância e da ambição do PLANAVEG, o programa não fez parte das atividades selecionadas pela ONU, talvez por não ser ainda um projeto maduro e em execução na época da seleção do programa Década de Restauração, que foi divulgado em 2022. Que o PLANAVEG avance e conquiste o seu lugar dentre as maiores iniativas do mundo.

AS 10 INICIATIVAS DE RESTAURAÇÃO PREMIADAS PELA ONU

Os países já se comprometeram perante o Acordo de Paris a restaurar 1 bilhão de hectares - uma área maior do que a China - como parte das metas internacionais de clima, natureza e terra. No entanto, pouco se sabe sobre o progresso ou a qualidade dessa restauração (PNUMA)

Passados os primeiros 5 anos da Década da Restauração, apresentamos algumas das mais destacadas experiências em andamento no mundo, com base no anúncio realizado pela ONU, em 2022, das 10 principais iniciativas de restauração no mundo. O anúncio foi feito durante a COP15 da Conferência da Biodiversidade, realizada em Montreal. As iniciativas foram reconhecidas como Iniciativas de Referência da Restauração Mundial da ONU (UN World Restoration Flagship). O objetivo é dar visibilidade para as melhores iniciativas em larga escala e de longo prazo.

Juntas, as 10 iniciativas selecionadas já representam mais de 68 milhões de hectares - uma área maior do que Mianmar, França e Somália juntos - e criam 15 milhões de empregos (PNUMA). O PLANAVEG ainda não faz parte desta conta, mas caso sejam incluídos os 12 milhões de hectares da contribuição brasileira, a conta aumentaria em quase 18% e chegaria a 80 milhões de hectares.

Vejam, a seguir, as 10 melhores iniciativas selecionadas pelo PNUMA:


Imagem de: Lucca Messer/PNUMA

Brasil, Paraguai e Argentina - Pacto Trinacional pela Mata Atlântica - 15 milhões de hectares até 2050. (para mais informações: site)

A Mata Atlântica cobria originalmente uma faixa do Brasil, Paraguai e Argentina. Mas ela foi reduzida a fragmentos por séculos de exploração madeireira, expansão agrícola e construção de cidades.

Centenas de organizações estão ativas nos esforços de décadas para proteger e restaurar a floresta em todos os três países. Suas iniciativas estão criando corredores de vida selvagem para espécies ameaçadas, como a onça-pintada e o mico-leão dourado, garantindo o abastecimento de água para as pessoas e a natureza, combatendo e construindo resistência às mudanças climáticas e criando milhares de empregos.

Cerca de 700.000 hectares já foram restaurados, com a meta de restaurar mais 1 milhão de hectares até 2030 e 15 milhões até 2050.

A iniciativa é coordenada pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica e pela Rede Trinacional para a Restauração da Mata Atlântica. Recebe apoio de mais de 300 parceiros, inclusive: Sociedade Brasileira para a Restauração Ecológica, União Internacional para a Conservação da Natureza, The Nature Conservancy Brazil, World Resources Institute Brazil, World Wide Fund Brazil, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e muitas outras organizações internacionais e locais.

Saiba mais sobre a iniciativa acessando aqui: WWF


Image by: Abu Dhabi Environment Agency

Emirados Árabes Unidos - Restauração dos Ecossistemas Costeiros e Marinhos de Abu Dhabi - 12 mil hectares (Para mais informações: site)

Salvaguardar a segunda maior população mundial de dugongos é um objetivo do esforço dos Emirados Árabes Unidos para restaurar leitos de ervas marinhas — a comida preferida dos dugongos vegetarianos — recifes de coral e mangues ao longo da costa do Golfo.

O projeto no emirado de Abu Dhabi irá melhorar as condições de muitas outras plantas e animais, incluindo quatro espécies de tartarugas e três tipos de golfinhos. As comunidades locais se beneficiarão do renascimento de algumas das 500 espécies de peixes, bem como de maiores oportunidades para o ecoturismo.

Abu Dhabi quer garantir que seus ecossistemas costeiros sejam resistentes diante do aquecimento global e do rápido desenvolvimento costeiro no que já é um dos mares mais quentes do mundo.

Cerca de 7.500 hectares de áreas costeiras já foram restaurados, com outros 4.500 hectares em restauração para 2030. A iniciativa é coordenada pela The Environment Agency - Abu Dhabi.


Image by: Artisan Productions/UNEP

África - Grande Muralha Verde para a Restauração e a Paz - 100 milhões de hectares e 10 milhões de empregos (para mais informações: site)

A Grande Muralha Verde é uma iniciativa ambiciosa para restaurar savanas, pastagens e terras agrícolas em toda a África para ajudar as famílias e a biodiversidade a lidar com a mudança climática e evitar que a desertificação continue ameaçando comunidades já vulneráveis.

Lançado pela União Africana em 2007, esta iniciativa procura transformar a vida de milhões de pessoas na região do Sahel, criando um cinturão de paisagens verdes e produtivas em 11 países.

As metas para 2030 da Grande Muralha Verde são restaurar 100 milhões de hectares, sequestrar 250 milhões de toneladas de carbono e criar 10 milhões de empregos.

Enquanto a Grande Muralha Verde tem como meta restaurar terras degradadas que se estendem por todo o continente, o Iniciativa de Referência da Década da ONU tem um foco especial em Burkina Faso e no Níger.

Esta Iniciativa de Referência da Restauração Mundial é coordenada pela Agência Pan-Africana da Grande Muralha Verde, Iniciativa da Grande Muralha Verde do Saara e do Sahel Burkina Faso, Agência Nacional da Grande Muralha Verde da Nigéria, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, A Grande Aceleradora da Muralha Verde - A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, O Centro de Pesquisa Florestal Internacional, Fórum Mundial de Paisagens e o Programa Mundial de Alimentação.


Image by: Arun Beeman/UNEP

Índia - Rejuvenescimento do Rio Ganges - 135 mil hectares (para mais informações: site)

A restauração da saúde do Ganges, o rio sagrado da Índia, é o foco de um grande impulso para cortar a poluição, reconstruir a cobertura florestal e trazer uma ampla gama de benefícios para as 520 milhões de pessoas que vivem ao redor de sua vasta bacia.

A mudança climática, o crescimento populacional, a industrialização e a irrigação degradaram o Ganges ao longo de seu curso arqueado de 2.700 km desde o Himalaia até a Baía de Bengala.

Lançada em 2014, a iniciativa liderada pelo governo Namami Gange está reflorestando partes da bacia do Ganges e promovendo a agricultura sustentável. Ela também visa reavivar espécies-chave da vida selvagem, incluindo golfinhos de rio, tartarugas-de-casca, lontras e o peixe hilsa shad.

O investimento do governo indiano é de até 4,25 bilhões de dólares até o momento. A iniciativa tem o envolvimento de 230 organizações, com 370 km de rio restaurados. Além disso, até agora foram 30.000 hectares de reflorestamento, com uma meta de 135.000 hectares em 2030.

A iniciativa é coordenada pelo Governo da Índia e pelo Programa Namami Gange com o apoio do Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas, Banco Mundial, Instituto de Recursos Mundiais e a Agência Alemã de Desenvolvimento.


Crédito Darya Kuznetsova/UNEP

Sérvia, Quirguistão, Uganda e Ruanda - Iniciativa de Montanha Multi-países - (para mais informação: acesse o site)

As regiões montanhosas enfrentam desafios únicos. A mudança climática está derretendo as geleiras, desgastando os solos e fazendo com que as espécies migrem para altitudes maiores — muitas vezes em direção à extinção. A água que as montanhas fornecem às fazendas e cidades nas planícies abaixo está se tornando pouco confiável.

A iniciativa — baseada na Sérvia, Quirguistão, Uganda e Ruanda — mostra como projetos em três regiões diversas estão utilizando a restauração para tornar os ecossistemas de montanha mais resistentes para que possam sustentar sua vida selvagem única e proporcionar benefícios vitais para as pessoas.

Uganda e Ruanda são o lar de uma das duas únicas populações remanescentes do gorila de montanha ameaçado de extinção. Graças à proteção de seu habitat, o número de gorilas duplicou nos últimos 30 anos. No Quirguistão, os pastores estão administrando as pastagens de forma mais sustentável, de modo que fornecem melhores alimentos tanto para o gado quanto para o ibex asiático. Os leopardos da neve estão recuperando lentamente. Na Sérvia, as autoridades estão expandindo a cobertura arbórea e revitalizando os pastos em duas áreas protegidas. Os ursos marrons voltaram às florestas, onde a restauração também está ajudando os ecossistemas a se recuperarem dos incêndios florestais.

Esta Iniciativa de Referência da Restauração Mundial é coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pela Convenção dos Cárpatos e pela The Mountain Partnership.


Image by: Frank Papushka/UNEP

Vanuatu, Santa Lucia e Comores - Pequenas ilhas em desenvolvimento (para mais informações: site)

Focado em três pequenos estados insulares em desenvolvimento — Vanuatu, Santa Lúcia e Comores — esta iniciativa de referência está ampliando a restauração de ecossistemas únicos e aproveitando o crescimento econômico azul para ajudar as comunidades insulares a se recuperarem da pandemia da covid-19.

As metas incluem uma redução das pressões sobre os recifes de coral, vulneráveis aos danos causados pelas tempestades, para que os estoques de peixes possam se recuperar. Os ecossistemas em restauração também incluem leitos de ervas marinhas, manguezais e florestas.

Além de criar uma "caixa de ferramentas" de soluções para o desenvolvimento sustentável das ilhas, esta iniciativa tem como objetivo ampliar a voz das nações insulares que enfrentam a elevação do nível do mar e a intensificação das tempestades como resultado da mudança climática.

Esta Iniciativa de Referência da Restauração Mundial é coordenada pelo Governo de Comores, Governo de Santa Lúcia, Governo de Vanuatu, The Small Island Developing States Coalition for Nature, The United Nations Department of Economic and Social Affairs, Food and Agriculture Organization of the United Nations, e The United Nations Environment Programme.


Image by: Darya Kuznetsova/UNEP

Cazaquistão e outros países - Iniciativa de Conservação Altyn Dala - 1 bilhão de hectares (para mais informações: site)

Como muitas pastagens no mundo, as vastas estepes da Ásia Central estão em declínio devido a fatores como o pastoreio excessivo, a conversão para terras aráveis e a mudança do clima.

No Cazaquistão, a Iniciativa de Conservação Altyn Dala está trabalhando desde 2005 para restaurar os ecossistemas de pastagens, semidesertos e desertos dentro da faixa histórica do Saiga, um antílope outrora abundante, criticamente ameaçado pela caça e pela perda de habitat.

De fato, a população Saiga havia declinado para 50.000 em 2006, mas recuperou para 1,3 milhões em 2022. Além de revitalizar e proteger a estepe, a iniciativa ajudou a conservar as áreas úmidas que são uma parada vital para uma estimativa de 10 milhões de aves migratórias. Entre as principais espécies de pássaros estão o abibe sociável, o ganso de peito vermelho, o pato de cabeça branca e o grou siberiano.

Esta Iniciativa de Referência da Restauração Mundial é coordenada pela Associação Cazaque para a Conservação da Biodiversidade, Ministério da Ecologia, Geologia e Recursos Naturais da República do Cazaquistão, Fauna & Flora International, Sociedade Zoológica de Frankfurt, Sociedade Real para a Proteção das Aves e a Iniciativa de Conservação de Cambridge.


Image by: Tapi Story Productions/UNEP

Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá - Corredor Seco Agroflorestal da América Central - 100 mil hectares, 5.000 empregos (para mais informações: site)

Expostos a ondas de calor e chuvas imprevisíveis, os ecossistemas e os povos do Corredor Seco da América Central são especialmente vulneráveis às mudanças climáticas. Recentemente, em 2019, um quinto ano de seca deixou 1,2 milhões de pessoas na região precisando de ajuda alimentar.

A utilização de métodos agrícolas tradicionais para construir a produtividade das paisagens, incluindo sua biodiversidade, está no centro desta iniciativa de referência da restauração que abrange seis países: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.

Por exemplo, os sistemas agroflorestais que integram a cobertura de árvores com culturas como café, cacau e cardamomo podem aumentar a fertilidade do solo e a disponibilidade de água, enquanto sustentam grande parte da biodiversidade da floresta tropical original.

Até 2030, o objetivo é ter 100.000 hectares em restauração e criar 5.000 empregos permanentes.

Esta iniciativa é coordenada pela Comissão Centro-Americana de Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Conselho Agrícola Centro-Americano, o Sistema de Integração Centro-Americana, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o Fundo para o Clima Verde, o Governo de El Salvador, o Centro de Pesquisa Florestal Internacional e a União Internacional para a Conservação da Natureza.


Image by: Nathanial Brown/UNEP

Indonésia - Construindo com a natureza na Indonésia - (para mais informação: site)

Demak, uma comunidade costeira de baixa altitude na ilha principal de Java, na Indonésia, foi flagelada pela erosão, inundações e perda de terras causadas pela remoção de mangues para tanques de aquicultura, subsidência de terras e infraestrutura.

Em vez de replantar árvores de manguezais, esta inovadora iniciativa da Restauração Mundial construiu estruturas semelhantes a cercas com materiais naturais ao longo da costa para acalmar as ondas e reter sedimentos, criando condições para que os manguezais se recuperem naturalmente. O comprimento total das estruturas permeáveis construídas é de 3,4 km e 199 hectares de manguezais foram restaurados.

Em troca da regeneração dos manguezais, os agricultores foram educados em técnicas sustentáveis que aumentaram sua produção de camarão. Com os manguezais fornecendo habitat para uma infinidade de organismos marinhos, os pescadores também viram suas capturas perto da costa melhorar.

Esta Iniciativa de Referência da Restauração Mundial é coordenada pelo Ministério Indonésio de Assuntos Marinhos e Pesca, o Ministério Indonésio de Obras Públicas e Habitação, Wetlands International e Ecoshape com o apoio da Witteveen + Bos, DeltaresTU Delft, Wageningen University & Research, UNESCO-IHE, Blue Forests, Kota Kita, Von Lieberman, a Universidade Diponegoro e as comunidades locais.


Braunosarus Studios/UNEP

China - Iniciativa Shan-Shui - 10 milhões de hectares (para mais informações)

Esta ambiciosa iniciativa combina 75 projetos de grande escala para restaurar ecossistemas, de montanhas a estuários costeiros, em toda a nação mais populosa do mundo.

Lançada em 2016, a iniciativa resulta de uma abordagem sistemática para a restauração. Os projetos se encaixam nos planos espaciais nacionais, trabalham na escala da paisagem ou bacia hidrográfica, incluem áreas agrícolas e urbanas, assim como ecossistemas naturais, e procuram impulsionar múltiplas indústrias locais. Todos incluem metas para a biodiversidade.

Exemplos incluem o Projeto Oujiang River Headwaters na província de Zhejiang, que integra o conhecimento científico com métodos agrícolas tradicionais, como terraplenagem em declive e combinação de culturas com criação de peixes e patos, para tornar o uso do solo mais sustentável.

Até agora, cerca de 2 milhões de hectares foram restaurados. A meta para 2030 é de 10 milhões de hectares.

Fonte: baseado em várias fontes citadas ao longo do texto, mas seguindo prioritariamente as informações do PNUMA.


--------------------------------------------------------------

LEIA TAMBÉM

QUEIMADAS: QUANTO CUSTA RESTAURAR AS FLORESTAS PERDIDAS?



sábado, 4 de outubro de 2025

Inside the Plastics Industry Playbook: Delay, Deny, and Distract


Plastic bottles at the Carola mineral water factory in Ribeauvillé, France. Sebastien Bozon / AFP via Getty Images

In an interview with e360, Saabira Chaudhuri, author of a new book on the history of the plastics industry, discusses how petrochemical companies worldwide have molded consumers to embrace convenience and disposability — no matter the environmental and public health costs.

Over the decades, scientific studies have highlighted the environmental and human toll of making, using, and discarding disposable plastics, and yet activist campaigns, international treaty negotiations, and government regulations have done very little to curb its use. The Organization for Economic Cooperation and Development expects plastic production and waste to triple by 2060.

In Saabira Chaudhuri’s recently published Consumed: How Big Brands Got Us Hooked on Plastic, the London-based journalist explains how consumer goods companies have for decades dodged regulation in their efforts to maintain the status quo. In an interview with Yale Environment 360, Chaudhuri talks about the plastics industry playbook, which she says stokes fears that a curb on disposables will raise consumer prices and presents false solutions that shift responsibility for plastic litter from producers onto municipalities. She explores the history of manufacturing demand for disposables and offers hope that a critical mass of concerned individuals can turn the plastics tide.

“I do think people are starting to worry about the health impacts from plastics, which could motivate a shift back towards more durable materials,” she says. “Nobody likes the idea of microplastics in our brains and in our lungs. People want to get [this] under control.”

Saabira Chaudhuri. Gokull Rao Kadam

Yale Environment 360: Last month, negotiations on an international agreement to reduce plastic pollution failed, once again, after oil-producing nations refused to cut their plastics production. Will the oil states ever come around?

Saabira Chaudhuri: In 2024, the IEA said 70 percent of the growth from oil had actually come from plastics. And if you look at the future, [those nations] seem to be betting everything on the fact that plastics will continue to grow. So I think any agreement that tried to get the whole world on board was always doomed to fail. But the consensus seems to be that a smaller group of countries can still come together and commit to making big changes, phasing out dangerous chemicals, mandating minimum recycled content, designing for recycling and reuse, things that will naturally cut back on demand for virgin plastic.

e360: Do individuals have a role to play?

Chaudhuri: We have an immense amount of power to influence what consumer goods companies do by either buying or not buying their products, by speaking to them, whether it’s their customer service people or calling them out on social media. If you start to change the culture of what’s acceptable, and it starts to show up in the profit lines of these companies, they will be motivated to make changes that [will] trickle back to this whole very murky world of chemical companies, oil companies, and resin producers.

e360: What is the industry’s playbook? How do companies manage to keep selling plastic, despite all that we know about its threats to our health?

Chaudhuri: The first tactic is to say [that abandoning plastic] will drive up prices for consumers. It’s going to make everything more expensive. You also see them funding lifecycle analyses and studies that generally seem to be drawing conclusions, cherry-picking assumptions, that confirm that disposability is the best option, that plastic is the best option. And if you did anything differently, it would be really terrible for both consumers and the environment.

“Companies spent a lot of money pushing the message that plastic was necessary for hygiene, that unwrapped products were prone to germs.”

And then the third thing is the long-running “plastics make it possible” campaign. And the whole idea is to showcase the many positives of plastics: how helmets protect children, and plastics make cars and planes lighter, and plastics are necessary for medical devices. Again, all things that are very true. But none of them are the areas that people are concerned about. People are most concerned about unnecessary single-use plastics — the straws, the bottles, the lids, the bags, all the food containers — that are rampantly overused.

And the fourth one is obviously putting forward solutions that sound very promising. Like, “We’re going to make our bottles from recycled plastic. We’re going to invest in collection infrastructure to raise recycling rates. We’re going to make containers from compostable plastic.” For a variety of reasons, all of these things have failed for decades and decades, but that hasn’t stopped companies from offering up exactly the same solutions with a slightly different wrapper on them a few years later.

e360: How did the idea of disposability take hold?

Chaudhuri: The plastics industry made this very concerted shift in the 1950s when Lloyd Stouffer, the editor of Modern Plastics, said it is much better to sell a product 1,000 times over than to sell it once. The idea is that with disposability you have a consistent large market.

A 1990s print ad from the American Plastics Council.

Disposability also allows you to expand your supply chains in a way that you couldn’t otherwise do if you had to return a container to be washed and reused. With disposables, companies don’t have to worry about the reverse logistics of how do I get something back. They cut out a hell of a lot of cost and complexity for themselves.

The flip side, of course, is they just offload this [cost] onto taxpayers, because it’s usually municipal governments, paid for by us, that have to deal with the waste. [For industry,] it’s immensely profitable.

e360: Disposable plastic is ubiquitous today, but the industry had to build demand for it and teach people how to throw things away.

Chaudhuri: When plastics first came about, they were actually extremely expensive. People stored cellophane in a safe because it was used just for upscale chocolate and perfume, and then later cigarettes. As prices came down, that is when you started seeing plastics appearing absolutely everywhere. And companies spent a lot of money pushing the message that plastic was necessary for hygiene, that unwrapped products were dirty and prone to germs. And I think that is not something that came naturally to people.

Companies pushed the idea that the way you are doing it is wrong, and here is a much better way of doing things. A lot of money was spent on ideas about convenience. A lot of money was spent on the idea that repairing things was unfashionable. Why repair something when you could just buy something new for cheap? Reuse was fusty, something your grandparents did, or your parents did. It wasn’t something that the modern post-war generation should have to do.

“Disposability existed before plastics, but plastics brought a level of affordability and functionality that other materials couldn’t.”

e360: And why did plastics eventually supplant other packaging materials, like glass or paper?


Chaudhuri: Its raw material, for the most part, was plentiful and pretty cheap. [Plastic feedstock] was a byproduct of [oil refining] that would otherwise just be thrown away. Disposability existed before plastics, but plastics brought about a level of portability, a level of affordability, a level of functionality that I think these other materials just couldn’t.

One of my favorite examples is the paper coffee cup. Paper coffee cups had existed since the turn of the century, and they had been developed to curb diseases at shared water fountains. But they were never really used for hot drinks because their wax liner would make the coffee taste of wax.

Then in the 1940s, a company called Lily-Tulip added a plastic liner to the paper coffee cup. And all of a sudden, you could put hot coffee in a disposable container. And that was a game-changer. Hot coffee became the largest-selling beverage in the U.S. in the 1950s, bigger than every other beverage combined. And that was all down to the addition of the plastic liner.

DuPont chemist Hale Charch shows off a new kind of cellophane that is impermeable to water vapor, circa 1927. Keystone / Getty Images

e360: Companies like to promise that plastic goods are recyclable, but a lot of them aren’t. Why is it so hard to recycle plastic?

Chaudhuri: Even though we use the word “plastic,” there is no such thing as just plastic. There are many different types and subtypes. There is also the inclusion of color, which can’t then be taken out.

It’s too expensive to separate your orange plastics from your pinks, from your greens, from your blues. So anything that is a colored plastic, by and large, just gets downcycled into this gray mass of resin that can then be turned into pipes or construction material.

One of the big reasons why plastics recycling rates are so low is this panoply of materials on the market, and the expense of sorting them all, cleaning them, reprocessing them. Why would you pay for this entire process and turn it into something new if you could get a higher quality version made from virgin plastic, which is cheap because of subsidies on oil? So without the demand, you don’t have the markets.

“I think as consumers, we need to have a complete rethink of why we are consuming.”

e360: Would the world be better off if plastic had never been invented?

Chaudhuri: If we took plastic away, what would our world look like today? It’s unimaginable. We probably wouldn’t have computers. We wouldn’t have phones. You and I wouldn’t be having this conversation. We wouldn’t have blood bags and IV tubes and all of these things.

If we all somehow switched from plastic to paper, there would be mass deforestation. Paper still uses chemicals. It’s still very water intensive. As for compostable plastics, the whole point is that somehow, they will break down at the end of their life and turn into compost that we can then use to make our soil better. But for the most part, there is no infrastructure for these compostable plastics to actually compost.

Plastics have brought us these immensely good things, undeniably good things. They’ve also brought us these undeniably bad things. I think it’s probably more useful to say, “Where do we go from here now that we are in this mess?”

People collect plastic waste from the Citarum River in Indonesia. Timur Matahari / AFP via Getty Images

e360: So where do we go from here?

Chaudhuri: Going back to that 1950s pivot that the industry made where it went from reusables to disposables, that triggered a complete rewiring of supply chains. Everything was built around disposability. I think the shift that we could conceivably make is to start to unwind some of that so that we are going back to that moment in time.

I think that recycling has a role. I think reuse has a role. I think alternative materials have a role. And I think as consumers, we need to have a complete rethink of why we are consuming. There’s a psychological dimension to this, which is this need to consume endlessly.

We’ll probably always need some sort of plastic. It’s just that the plastic we do use should ideally be highly recyclable and recycled many times over. It should be very standardized so that we’re not using 100 colors. We might be using only two or three types of plastic.

I do think people are starting to worry about the health impacts from plastics, which could motivate a shift back towards more durable materials. Nobody likes the idea of microplastics in our brains and in our lungs. So I feel like in some ways everybody’s on the same side. People worry about this, and they want to get it under control.


This interview was edited for length and clarity.

Fonte: Yale 360





Brasil institui estratégia de enfrentamento à poluição plástica no oceano

Embarcação "Águas Limpas", do Projeto Grael, fazendo a retirada do lixo flutuante na Baía de Guanabara.

Enop vai orientar e coordenar políticas públicas para prevenção, redução e eliminação da poluição por plástico no oceano até 2030

O governo federal publicou nesta quinta-feira (2/10) o decreto que cria a Estratégia Nacional do Oceano Sem Plástico (Enop) para o período de 2025 a 2030. O plano tem a finalidade de orientar e coordenar políticas públicas para prevenção, redução e eliminação da poluição por plástico no oceano, por meio de ações estratégicas e sinérgicas.

A iniciativa apresenta um conjunto de linhas de ação a ser debatido com a sociedade, nas diversas esferas de governo e com diferentes setores para enfrentamento da poluição marinha por plástico considerando todo o ciclo de duração do produto, desde a matéria-prima até o descarte.

“O plástico gera um montante considerável de lixo no mar, com impactos diretos e indiretos sobre a biodiversidade, a saúde humana, a pesca, o turismo e o clima. E o Brasil, que é um dos países costeiros mais biodiversos do mundo, precisa enfrentar o problema com medidas estruturantes”, afirmou a diretora do Departamento de Oceano e Gestão Costeira da Secretaria Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Paula Prates.

A ação será desenvolvida pelo MMA, em conjunto com os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); da Pesca e Aquicultura (MPA); da Saúde; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Marinha. A implementação será feita em regime de cooperação com estados, Distrito Federal, municípios, organizações da sociedade civil, comunidade científica e entidades privadas.

A estratégia está dividida em oito eixos: normatização e regulamentação; prevenção e circularidade; remoção e remediação; educação ambiental e sensibilização pública; ciência, tecnologia e inovação; capacitação e assistência técnica; diagnóstico, monitoramento e avaliação; e fomento e financiamento.

Entre outras medidas, o decreto incentiva a inserção socioprodutiva de catadores e catadoras, “reconhecendo e valorizando sua função socioambiental”.

No âmbito da educação, a Enop determina a integração do tema da poluição por plásticos e da sustentabilidade nos currículos escolares, cursos superiores e nas capacitações técnicas e profissionalizantes. Além disso, incorpora mutirões de limpeza de praias, rios, mangues, ilhas, lagos e mar como parte de atividades práticas de educação ambiental.

A Enop prevê também a elaboração e divulgação de uma lista nacional de resíduos plásticos mais recorrentemente encontrados no meio ambiente, em especial nas zonas marinha e costeira.

O acompanhamento da implementação ocorrerá no âmbito do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que definirá metas e indicadores de forma a sistematizar e coordenar ações de prevenção e combate à poluição por plástico, alinhado aos compromissos internacionais voltados à sustentabilidade e à conservação dos ecossistemas marinhos.

Impacto do plástico

O relatório Fragmentos da Destruição: impacto do plástico à biodiversidade marinha brasileira, publicado pela Oceana, apontou que 1,3 milhão de toneladas de resíduos acabam no oceano anualmente. Além de comprometer a vida marinha, a poluição plástica afeta diretamente a função reguladora do oceano sobre o clima global e a saúde humana.

O acúmulo de resíduos, especialmente microplásticos, prejudica a capacidade dos mares de absorver carbono e equilibrar a temperatura do planeta, agravando ainda mais os efeitos da crise climática.

A degradação do plástico no ambiente marinho ainda libera metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes, agravando a crise climática. Por outro lado, a própria mudança do clima acelera a fragmentação do plástico, criando um ciclo vicioso que amplia os danos. O oceano, responsável por absorver parte do CO₂ emitido pelas atividades humanas, tem sua capacidade de regulação comprometida com a morte de organismos fotossintéticos, como o fitoplâncton, atingidos pelo acúmulo de resíduos.

Fonte: MMA


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

QUEIMADAS: QUANTO CUSTA RESTAURAR AS FLORESTAS PERDIDAS?

ÁREA DE PASTO COM ELEVADO NÍVEL DE DEGRADAÇÃO E BAIXA PRODUTIVIDADE: queimadas e o manejo inadequado do solo tem levado extensas áreas do país à erosão, degradação severa e até à desertificação. Através do PLANAVEG e outras iniciativas, o Governo Federal pretende restaurar estas áreas.

Estamos mais uma vez no período de seca no Brasil e as cenas de queimadas, do trabalho duro dos brigadistas, florestas protegidas se perdendo e de sofrimento dos animais, voltam ao noticiário. Ardem o Pantanal, o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica.

Desta vez, temos a notícia divulgada pelo Governo Federal, no dia 01 de outubro, que a área de florestas perdida para o fogo no mês de agosto é bem menor do que nos anos anteriores. Veja, a seguir:

O Brasil alcançou uma redução histórica no número de queimadas registradas no mês de agosto. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram contabilizados 18.451 focos de calor, o menor índice desde o início do monitoramento, em 1998. O resultado representa uma queda de 61% em relação à média histórica para o mês (47.348 focos) e de 13,8% em relação ao recorde anterior, registrado em 2013 (21.410). Esta é a primeira vez que o número fica abaixo de 20 mil focos em agosto (gov.br).

O resultado é muito importante e foi ajudado pelas condições atmosféricas atuais e, importante lembrar, também graças a muito trabalho das autoridades para estruturar uma estratégia de prevenção e respostas ao fogo. Este serviço havia sido desmantelado na gestão federal anterior. Enfim, a queda do número de focos é uma boa notícia e alimenta as nossas esperanças. Mas ainda são 18.451 focos de queimadas no país! 

Queimadas: o que vai pelos ares é muito mais do que fumaça. 

Para quase todas as pessoas (exceto para aqueles que causam as queimadas), ver um incêndio em vegetação é uma imagem de tristeza e sofrimento. 

Para mim, como engenheiro florestal e ambientalista, além da indignação, os incêndios representam a extinção de espécies, a perda da biodiversidade e é a certeza de muito esforço e custos pela frente para a recuperação dos ecossistemas perdidos.

Você sabe como os incêndios começam? Existe combustão espontânea? Um caco de vidro pode causar uma queimada? Saiba as respostas aqui: Queimadas: mitos e verdades

Também para mim, que me dedico a estudar as mudanças do clima, as queimadas são a representação da maior causa de emissões de gases de efeito estufa do nosso país. 

Além de tudo isso, o fogo em larga escala ainda: 

  • diminui a quantidade de chuvas, desregula as bacias hidrográficas, diminui a oferta de água, causa erosão, empobrece o solo e, portanto, prejudica a produtividade agropecuária e a produção de alimentos; 
  • causa sérios problemas para a saúde humana. De acordo com pesquisas, viver em uma cidade próxima aos focos de incêndio aumenta em 36% o risco de se internar por problemas respiratórios;
  • aumenta riscos de acidentes rodoviários;
  • etc.
Restauração de ecossistemas

Em 2017, o Brasil apresentou o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa - PLANAVEG, lançado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima - MMA, com a previsão de restauração de 12 milhões de hectares até 2030. Sua implantação corresponderá a uma das maiores iniciativas de restauração, comparável apenas ao que a China está fazendo. Esta área a ser restaurada corresponde a mais do que a área somada dos estados do RJ, ES e SE juntos. Em 2022, na COP27, realizada em Sharm el Sheikh (Egito), assisti Lula anunciar com entusiasmo o seu compromisso com essa missão, prometer cumpri-la e ser aclamado. O Brasil voltava a ser protagonista climático naquela ocasião.

Em 2024, uma nova versão mais bem preparada foi apresentada e passou a ser conhecida como PLANAVEG 2025-2028 ou PLANAVEG 2.0, e reafirmou a meta dos 12 milhões de hectares, que passou a ser um compromisso formal do governo brasileiro perante o mundo ao ser incluído na NDC - Contribuição Nacionalmente Determinada, para a COP30.

O MMA também avança no estabelecimento de diretrizes para a Regeneração Natural Assistida - RNA, que são técnicas de aceleração do processo de regeneração natural de florestas. Estudos mostram que, por esse processo de regeneração natural, as florestas podem atingir, após 20 anos, quase 80% da fertilidade do solo, do estoque de carbono do solo e da diversidade de árvores das florestas maduras. O estudo conclui que a regeneração natural é uma solução de baixo custo para a mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e restauração do ecossistema. A regeneração natural é uma solução de baixo custo para a mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e restauração do ecossistema. Na América Latina tropical, essas florestas em regeneração cobrem até 28% da área terrestre.

Restauração, economia e empregos

Além dos ganhos ambientais e climáticos, cumprir o PLANAVEG será também uma grande revolução econômica e de geração de empregos, principalmente nas pequenas cidades do interior. Imaginem o esforço de planejamento e formulação de projetos, de logística, de estruturação de uma cadeia produtiva para suprir a demanda de mudas, insumos, equipamentos etc., além da mobilização e formação de mão-de-obra. 

Não existem 12 milhões de hectares de terras públicas para implantar o PLANAVEG, portanto o plano só se viabilizará se contar com a adesão dos proprietários rurais. Portanto, isso pressupõe também a formulação de uma política pública complexa e atraente para muitos segmentos da sociedade.

Financiamento e implementação 

E quanto custa isso? Segundo o texto abaixo, da The Nature Conservancy - TNC, o investimento que o Brasil deverá fazer será entre US$ 700 milhões e US$ 1,2 bilhão ao ano, dependendo da técnica utilizada. Com a utilização de técnicas mais convencionais de restauração, a estimativa da TNC é que o custo médio, por hectare, pode ser próximo a US$ 2 mil no caso da Amazônia, US$ 2,1 mil para a Mata Atlântica e US$ 3 mil no Cerrado.

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima - MMA e o Ministério da Fazenda já têm tomado medidas importantes para a implementação do PLANAVEG. No caso do MMA, já foram lançados os primeiros editais em parceria com o BNDES para a implantação de ações de restauração de áreas, como por exemplo aqueles voltados a Amazônia, priorizando o chamado "Arco do Desmatamento", que o programa passa a chamar de "Arco da Restauração". O Ministério da Fazenda lançou os Leilões EcoInvest, dedicados a captar recursos de investidores internacionais interessados em participar dos esforços brasileiros. O Eco Invest foi criado para impulsionar investimentos privados sustentáveis e atrair capital externo para projetos de longo prazo. Para se ter uma ideia do potencial do Eco Invest, o segundo leilão atraiu a participação de 11 instituições financeiras e representou uma demanda de R$ 17,3 bilhões em recursos catalíticos, com potencial de destravar R$ 31,4 bilhões em investimentos totais – combinando recursos públicos e privados – para a recuperação de áreas degradadas em todo o território nacional. Os recursos já captados permitirão a restauração produtiva de cerca de 1,4 milhão de hectares.

O Governo Federal, tem um amplo programa de investimentos através do "Plano de Transformação Ecológica", envolvendo várias iniciativas estruturantes como, por exemplo: 
  • Fundo Clima (tem como alguns dos seus eixos a Restauração de Florestas e o Desenvolvimento Urbano Resiliente e Sustentável - que inclui a infraestrutura verde das cidades), 
  • Mercado de Carbono o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões foi aprovado em 11 de dezembro de 2024. Conforme consta no site do programa: "o Mercado de Carbono estabelece um teto para emissões de gases do efeito estufa - reduzido anualmente - em atividades econômicas de grande porte. Empresas de grande porte terão que obter quotas para atividades poluentes e as que reduzirem suas emissões poderão negociar as licenças excedentes com outras empresas que necessitam de quota adicional. Além disso, algumas atividades poderão resultar em compensações e gerar créditos, como a captura e a estocagem de carbono e o reflorestamento"
  • BIP: Através dos ministérios da Fazenda; do Meio Ambiente e Mudança do Clima; do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e de Minas e Energia (MME), com a participação do BNDES, o Governo Federal lançou também a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica – BIP, com o objetivo de ampliar os investimentos na transformação ecológica rumo à descarbonização da economia, o uso sustentável dos recursos e a melhora da qualidade de vida da população.
  • Eco Invest: programa já citado acima.
  • Outras iniciativas de estímulo a ações sustentáveis.
Cabe destacar também a iniciativa do governo brasileiro para o cenário internacional de proposição do TFFF - Tropical Forests Forever Fund, para mobilizar recursos para países com florestas tropicais. A ideia é que os recursos sejam investidos em projetos rentáveis e que se dediquem também à conservação e restauração dos ecossistemas. De acordo com o site, "o Fundo Tropical das Florestas (TFFF) cria um novo modelo de financiamento climático: países que preservam suas florestas tropicais serão recompensados financeiramente via fundo de investimento global. Em vez da destruição, a conservação se torna economicamente vantajosa, gerando desenvolvimento social e econômico".


Estamos no caminho certo. Há muito ainda o que fazer e pouco tempo pela frente - como alerta a ciência - antes que ultrapassemos o "ponto de não retorno". Que o Brasil nunca mais volte aos tristes tempos de retrocessos e siga firme fazendo a sua parte na restauração de áreas degradadas e na sua agenda climática. 

Só temos a ganhar com isso.

Axel Grael
Engenheiro florestal e ambientalista
Doutorando em Arquitetura e Urbanismo (UFF)

--------------------------------------------------------------


Recuperar florestas pode custar US$ 1,2 bilhões por ano

Céu do Cerrado: Vista do cerrado em Alto Paraíso-GO. © Roberto Fantini/Concurso de Fotos TNC 2019

Estudo mostra que o Cerrado tem situação mais delicada que a Amazônia e a Mata Atlântica.

Para cumprir a meta de recuperar 12 milhões de hectares em áreas degradadas na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica até 2030, o investimento que o Brasil deverá fazer será entre US$ 700 milhões e US$ 1,2 bilhão ao ano, dependendo da técnica utilizada.

O cálculo para implementar o compromisso brasileiro no Acordo de Paris foi feito por pesquisadores da The Nature Conservancy (TNC) junto com técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e das universidades de São Paulo e da Califórnia.

Segundo o estudo “What makes ecosystem restoration expensive? A systematic cost assessment of projects in Brazil”, publicado na revista “Biological Conservation”, é mais caro regenerar a vegetação do Cerrado que a da Amazônia e da Mata Atlântica, considerando o plantio total da área.

O custo médio, por hectare, pode ser próximo a US$ 2 mil no caso da Amazônia, US$ 2,1 mil para a Mata Atlântica e US$ 3 mil no Cerrado. Na técnica de plantio total é preciso preparar o solo, retirar gramíneas e aplicar nutrientes.

ESCASSEZ DE MUDAS NO CERRADO Apesar da consolidação da cadeia da restauração em alguns biomas, no Cerrado ainda existem poucos projetos de restauração e uma cadeia pequena. © Felipe Fittipaldi

“No caso do Cerrado, a cadeia de restauração é pequena, ainda estamos em processo de conhecimento de como regenerar o bioma”, diz Julio Tymus, Especialista em Restauração da TNC e um dos autores do estudo. “Não existe disponibilidade de mudas para o Cerrado”, completa.

Além do desafio em implementar cadeias de restauração dos biomas que consigam dar conta do objetivo brasileiro, há um atraso em iniciar a implementação. É preciso ter um plano e incentivos para cumprir a meta, além de estratégias e cadeias de produção de mudas e sementes.

O estudo dos pesquisadores, contudo, indica potencial de investimento e inovação no setor. Os métodos mais econômicos para expandir a vegetação nativa no mundo são a regeneração natural, quando a vegetação se recupera sozinha desde que a área seja delimitada, e a regeneração assistida, que exige ações específicas para acelerar o processo de recuperação do bioma.

Estes métodos, entretanto, estão presentes em apenas 15% dos projetos em curso no Brasil. Os mais usados são os mais caros, com plantio de mudas e semeadura direta. Estes casos, em que mudas e sementes são usadas na área total a ser recuperada, correspondem a algo entre 60% e 90% de todos os projetos de restauração em andamento no país.

Fonte: The Nature Conservancy


------------------------------------------------------------

LEIA TAMBÉM:

PRINICIPAIS INICIATIVAS DE RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS EM ANDAMENTO NO MUNDO
Engenharia Florestal: minha profissão e um pouco da minha trajetória 

Políticas públicas para a restauração:

Anunciada a DÉCADA DA ONU PARA A RESTAURAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS 2021-2030