quarta-feira, 22 de outubro de 2025

ENTREVISTA: COP30 - Axel Grael defende “menos blá-blá-blá e mais implementação” na luta contra as mudanças climáticas

Axel destacou o papel das cidades na luta contra a crise climática. Foto A Tribuna.

Ex-prefeito de Niterói estará com a delegação da cidade em Belém

João Eduardo Dutra

Faltam 20 dias para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, região Norte do Brasil. Às vésperas do encontro, o ambientalista e ex-prefeito de Niterói, Axel Grael, avalia que o mundo chega a um ponto crítico na luta contra as mudanças climáticas.

Axel está há mais de três décadas, desde a Rio-92, acompanhando as negociações internacionais sobre o clima. Porém, o ex-prefeito destaca que os avanços estão muito aquém da urgência climática.

“O que preocupa muito é que, ao longo desses 30 anos, a gente avançou muito menos do que a emergência climática exige. Ainda estamos discutindo como financiar as ações e que medidas serão tomadas. Em termos efetivos de controle da crise climática, o avanço foi muito pequeno”, disse o ex-prefeito.

Segundo ele, a COP30, que marca dez anos do Acordo de Paris, carrega o simbolismo de ser a “COP da verdade”, quando os países precisarão renovar suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) e demonstrar se realmente cumpriram o que prometeram em 2015.

“O problema é que nenhum país do mundo cumpriu o que prometeu em Paris. Portanto, a COP30 era vista como uma conferência em que todos falariam a verdade e se comprometeriam com metas mais ambiciosas”, disse o ambientalista.

Além disso, Axel relembrou a frustração da COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, quando havia a expectativa de aprovar 1,3 trilhão de dólares para cumprir a agenda climática, mas o compromisso foi de apenas 500 bilhões, menos da metade do pleiteado, e ainda sim ninguém se mexeu para cumprir o que foi combinado.

“Se você somar com desertificação e biodiversidade, nós estamos falando de mais ou menos 2,5 trilhões (US$) que a gente precisa para salvar o mundo, até 2035. Parece uma cifra absurda, mas o que o mundo gasta em armas é cerca de 3 trilhões por ano. Ou seja, não é por falta de dinheiro, é por falta de prioridade”, comenta Axel.

Para Grael, a lentidão nas negociações internacionais tem sido agravada por um contexto geopolítico desfavorável, marcado por guerras, pressões econômicas e pela atuação de lobbies de grandes setores poluidores, que, segundo ele, “estagnaram a agenda do clima”.

Apesar do ceticismo quanto à ambição global para combater a crise climática, Grael vê com bons olhos a liderança brasileira na condução da conferência, sob a presidência do embaixador André Corrêa do Lago e da CEO Ana Toni.

“Dentro da realidade, o Brasil está conduzindo muito bem. O lema é claro: chega de reunião, chega de blá-blá-blá. O foco agora é implementação, implementação, implementação”, falou Grael.

O ambientalista critica, no entanto, as contradições que persistem, inclusive no Brasil, entre o discurso ambiental e a continuidade da exploração de combustíveis fósseis. “O Brasil está sinalizando para o mundo que é hora de arregaçar as mangas, mas, ao mesmo tempo, abre novas frentes de exploração de petróleo. Essa é uma contradição que o mundo todo vive, e o Brasil reproduz.”

Ainda assim, ele mantém expectativa positiva quanto à COP30, principalmente pelo papel que as cidades vêm desempenhando.

“Os estados nacionais não estão conseguindo cumprir o papel deles, e a agenda não anda. Por outro lado, as cidades estão avançando. Se há exemplos concretos, eles vêm das cidades”, afirmou Axel.

Ele cita casos como Paris, que está retirando o tráfego de 800 ruas para reduzir ilhas de calor, e Copenhague, que planeja ser neutra em carbono até 2035. Em Niterói, Grael destaca que a cidade foi pioneira ao criar uma Secretaria do Clima e ao aprovar um Plano de Ação Climática com metas de redução de emissões: “34% até 2030, 40% até 2040 e neutralidade até 2050,” contou o ex-chefe do executivo.

A cidade de Niterói levará uma delegação à COP30, liderada pelo atual prefeito, Rodrigo Neves, pela vice-prefeita, Isabel Swan, e pelo próprio Axel Grael, que também representa o ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade), uma rede global que reúne mais de 2,5 mil cidades.

“É hora de parar de conversar e começar a agir. O planeta precisa de menos discurso e mais implementação”, concluiu Axel Grael.

Fonte: A Tribuna



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