Axel destacou o papel das cidades na luta contra a crise climática. Foto A Tribuna. |
Ex-prefeito de Niterói estará com a delegação da cidade em Belém
João Eduardo Dutra
Faltam 20 dias para a
30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, que
será realizada em Belém, no Pará, região Norte do Brasil. Às vésperas do
encontro, o ambientalista e ex-prefeito de Niterói, Axel Grael, avalia que o
mundo chega a um ponto crítico na luta contra as mudanças climáticas.
Axel está há mais de
três décadas, desde a Rio-92, acompanhando as negociações internacionais sobre
o clima. Porém, o ex-prefeito destaca que os avanços estão muito aquém da
urgência climática.
“O que preocupa muito é
que, ao longo desses 30 anos, a gente avançou muito menos do que a emergência
climática exige. Ainda estamos discutindo como financiar as ações e que medidas
serão tomadas. Em termos efetivos de controle da crise climática, o avanço foi
muito pequeno”, disse o ex-prefeito.
Segundo ele, a COP30,
que marca dez anos do Acordo de Paris, carrega o simbolismo de ser a “COP da
verdade”, quando os países precisarão renovar suas NDCs (Contribuições
Nacionalmente Determinadas) e demonstrar se realmente cumpriram o que
prometeram em 2015.
“O problema é que nenhum
país do mundo cumpriu o que prometeu em Paris. Portanto, a COP30 era vista como
uma conferência em que todos falariam a verdade e se comprometeriam com metas
mais ambiciosas”, disse o ambientalista.
Além disso, Axel
relembrou a frustração da COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, quando havia
a expectativa de aprovar 1,3 trilhão de dólares para cumprir a agenda
climática, mas o compromisso foi de apenas 500 bilhões, menos da metade do
pleiteado, e ainda sim ninguém se mexeu para cumprir o que foi combinado.
“Se você somar com
desertificação e biodiversidade, nós estamos falando de mais ou menos 2,5
trilhões (US$) que a gente precisa para salvar o mundo, até 2035. Parece uma
cifra absurda, mas o que o mundo gasta em armas é cerca de 3 trilhões por ano.
Ou seja, não é por falta de dinheiro, é por falta de prioridade”, comenta Axel.
Para Grael, a lentidão
nas negociações internacionais tem sido agravada por um contexto geopolítico
desfavorável, marcado por guerras, pressões econômicas e pela atuação de
lobbies de grandes setores poluidores, que, segundo ele, “estagnaram a agenda
do clima”.
Apesar do ceticismo
quanto à ambição global para combater a crise climática, Grael vê com bons
olhos a liderança brasileira na condução da conferência, sob a presidência do
embaixador André Corrêa do Lago e da CEO Ana Toni.
“Dentro da realidade, o
Brasil está conduzindo muito bem. O lema é claro: chega de reunião, chega de
blá-blá-blá. O foco agora é implementação, implementação, implementação”, falou
Grael.
O ambientalista critica,
no entanto, as contradições que persistem, inclusive no Brasil, entre o
discurso ambiental e a continuidade da exploração de combustíveis fósseis. “O
Brasil está sinalizando para o mundo que é hora de arregaçar as mangas, mas, ao
mesmo tempo, abre novas frentes de exploração de petróleo. Essa é uma contradição
que o mundo todo vive, e o Brasil reproduz.”
Ainda assim, ele mantém
expectativa positiva quanto à COP30, principalmente pelo papel que as cidades
vêm desempenhando.
“Os estados nacionais
não estão conseguindo cumprir o papel deles, e a agenda não anda. Por outro
lado, as cidades estão avançando. Se há exemplos concretos, eles vêm das
cidades”, afirmou Axel.
Ele cita casos como
Paris, que está retirando o tráfego de 800 ruas para reduzir ilhas de calor, e
Copenhague, que planeja ser neutra em carbono até 2035. Em Niterói, Grael
destaca que a cidade foi pioneira ao criar uma Secretaria do Clima e ao aprovar
um Plano de Ação Climática com metas de redução de emissões: “34% até 2030, 40%
até 2040 e neutralidade até 2050,” contou o ex-chefe do executivo.
A cidade de Niterói
levará uma delegação à COP30, liderada pelo atual prefeito, Rodrigo Neves, pela
vice-prefeita, Isabel Swan, e pelo próprio Axel Grael, que também representa o
ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade), uma rede global que reúne mais de
2,5 mil cidades.
“É hora de parar de
conversar e começar a agir. O planeta precisa de menos discurso e mais
implementação”, concluiu Axel Grael.
Fonte: A Tribuna
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