DIA DA ÁRVORE E 1 ANO DO PARQUE ORLA DE PIRATININGA ALFREDO SIRKIS: pensando na importância de proteger e restaurar

O lindo exemplar de ipê-branco na Rua Marechal Rondon, São Francisco. Uma árvore ainda adolescente, mas se enche de graça para chamar a atenção da importância da arborização da cidade. Foto Axel Grael.

Hoje, 21 de setembro, é o Dia da Árvore. A data marca o fim do inverno e o início da primavera. Para mim, que sou engenheiro florestal, formado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1977-1983), é sempre um momento especial de celebração. É um dia consagrado à matéria-prima do trabalho da minha profissão e é também um dos objetos centrais (proteger as florestas) da minha militância desde muito cedo, quando comecei como ambientalista ainda no final da década de 1970. As minhas primeiras lutas foram pela Baía de Guanabara, pela criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca e pela proteção do Sistema Lagunar de Piratininga e Itaipu. Portanto, vamos celebrar pensando no Dia da Árvore nos avanços que Niterói tem alcançado.

DIA DA ÁRVORE

Inicialmente, uma rápida digressão sobre o Dia da Árvore. A primeira iniciativa de celebrar as árvores ocorreu em 1872, com a criação do Arbor Day. No Brasil, a primeira celebração foi no dia 07 de junho de 1902, no município paulista de Araras, promovido pelo naturalista sueco Alberto Löfgren, grande nome do ambientalismo no Brasil, que fundou o que viria a ser o "Serviço Florestal do Estado de São Paulo", fundado em 1911 (Conheça a história do Dia da Árvore no Brasil). 

Foto: Festa original, de 1902, retirada do livro Araras – 1902: história da primeira Festa das Árvores do Brasil, de Wenilton Luís Daltro. Araras: Topázio, 2002. A imagem é reproduzida na pág. 40, a foto original foi tirada por Guilherme Gaensly, no largo da Igreja Matriz.

Muitos anos depois, em 1965, a data foi fixada no dia 21 de setembro através de decreto presidencial. A data motiva muitas celebrações cidadãs e estudantis, voltadas para a reflexão sobre a importância das árvores.

Como vemos, o estado de São Paulo foi pioneiro na implementação de uma política florestal no país, servindo de exemplo para o governo nacional e para outros estados.

NITERÓI PROTEGE OS SEUS ECOSSISTEMAS

Niterói tem tradição e um longo histórico de lutas ambientalistas na proteção do seu patrimônio natural e na busca de um caminho para a sustentabilidade urbana. Isso permitiu que a cidade controlasse o seu espraiamento urbano, garantindo a permanência de extensas áreas protegidas por unidades de conservação, que cobrem cerca de 57% do seu território. Em 2014, a Prefeitura implantou uma estratégia de gestão destas áreas com a implantação do Parque Natural Municipal de Niterói - PARNIT, que englobou a quase totalidade destas áreas. Assim fazem parte do PARNIT, dentre outras, algumas áreas protegidas emblemáticas da cidade como o Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis (POP), o Morro da Viração (onde se encontra o Parque da Cidade), a Ilha da Boa Viagem (que foi totalmente restaurada e encontra-se aberta à visitação) e os parques naturais Águas Escondidas (inclui o Morro da Boa Vista, principal área de reflorestamento da cidade) e Floresta do Baldeador. Posteriormente, foram criados os parques naturais municipais Morro do Morcego Dora Negreiros e o de Pendotiba.

A política de conservação tem conferido à Niterói o reconhecimento nacional e internacional como uma referência de cidade verde. O trabalho de Niterói para proteger e recuperar as suas áreas verdes rendeu à cidade o reconhecimento internacional através da publicação "Forests and Sustainable Cities: Inspiring stories from around the world", na qual Niterói e Lima são as únicas cidades citadas na América Latina. 

PARQUE ORLA DE PIRATININGA ALFREDO SIRKIS - POP

O Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis (POP) é o aniversariante do dia. Foi inaugurado em 21 de setembro de 2024, ou seja, completou o seu primeiro ano de atividade na data de hoje. O POP foi implantado com recursos do Programa Região Oceânica Sustentável – PRO Sustentável, financiado pela CAF e tem 150 mil m2 de área. Foram mais de R$ 100 milhões de investimentos em infraestrutura, que incluiu a construção do Centro Ecocultural Sueli Pontes; os conjuntos de Jardins Filtrantes (maior investimento no país em Soluções Baseadas na Natureza), dedicados a despoluir as águas de drenagem urbana que chegam à Lagoa de Piratininga; a implantação da infraestrutura esportiva e cultural na Ilha do Tibau; as melhorias urbanas nos bairros do entorno da lagoa, bem como a urbanização e regularização fundiária das comunidades limítrofes ao POP. Junto com os demais investimentos do PRO Sustentável (renaturalização do Rio Jacaré, calha Cicloviária da Região Oceânica, pavimentação e drenagem da Região Oceânica) e no saneamento de Niterói (Niterói hoje é a terceira cidade no ranking do saneamento), são estes os maiores investimentos já feitos para avançar a cidade no caminho da sustentabilidade.

Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis - POP inaugurado em 21 de setembro de 2024.

Plantio de árvores, incluindo um grande pomar urbano, com espécies frutíferas nativas, muitas vezes desconhecidas pelos visitantes.

Vista aérea do Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis com destaque para os jardins filtrantes.

Centro Ecocultural Sueli Pontes. Estrutura dedicada à educação ambiental e à interpretação dos ecossistemas do Sistema Lagunar de Piratininga e Itaipu.

Testando a ciclovia do POP antes da inauguração. Foto Luciana Carneiro.

Inauguração da infraestrutura do POP na Ilha do Tibau, em abril de 2024..

Quadra esportiva na Ilha do Tibau: este é um dos equipamentos que recebem as atividades do Núcleo Avançado de Sustentabilidade, Cultura e Esporte (NASCE),   

O parque conta também com uma ciclovia de 10 km, contornando a maior parte da lagoa de Piratininga. De acordo com um contador de bikes (ContaBike) da Coordenadoria do Programa Niterói de Bicicleta, a ciclovia do PO recebe uma média de 457 bicicletas/dia, sendo que, ontem, sábado, recebeu 775 ciclistas. O recorde da contagem foi no dia 03/11/2024, quando 1.558 bikes passaram pela ciclovia do POP.

SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA - SBN: Jardim filtrante no Parque Orla de Piratininga Alfredo Sirkis (POP Sirkis).

• Soluções Baseadas na Natureza – SBN: Um dos maiores destaques do POP são os sistemas de Jardins Filtrantes, Jardins de Chuva e outras técnicas de drenagem sustentável do POP Sirkis. Estas estruturas tem por finalidade tratar de forma natural as águas da drenagem urbana, antes que chegue à Lagoa de Piratininga, contribuindo assim para a recuperação daquele ecossistema. Os jardins filtrantes do POP são considerados os maiores investimentos em SBN no Brasil e hoje desperta a atenção de técnicos e especialistas de outras cidades que visitam a experiência de Niterói.

Conheça aqui todas as premiações já conquistadas pelo POP e outras iniciativas do PRO Sustentável.

RENATURALIZAÇÃO DO RIO JACARÉ

Outra iniciativa inovadora de Niterói é a Renaturalização do Rio Jacaré, a primeira do tipo em um rio urbano no país. Assim como o POP, a Renaturalização do Rio Jacaré já foram reconhecidos como dentre as melhores iniciativas de sustentabilidade urbana no Brasil e na América Latina e Caribe. O Rio Jacaré é o mais importante da Bacia da Lagoa de Piratininga e a sua gestão sustentável é fundamental para a recuperação do Rio Jacaré. 

Vistoria nas obras de renaturalização do Rio Jacaré.

A Bacia Hidrográfica do Rio Jacaré recebeu uma série de intervenções com técnicas de SBN, além de obras de melhorias urbanas, de saneamento, de adequação da infraestrutura viária e as obras pioneiras de renaturalização do rio.

ÁRVORES PARA CONTER ILHAS DE CALOR

Cidades como Niterói, principalmente por se localizar em uma extensa Região Metropolitana, apresentam as chamadas Ilhas de Calor Urbanas, que tem sérias consequências para a saúde, para o conforto da população, refletem em um maior consumo de energia e geram mais poluição. As Ilhas de Calor Urbanas são reconhecidas pelos registros de temperatura e condições de relevo e localização geográfica, que interferem na incidência de ventos, insolação, densidade urbana e outros fatores.

O Plano Municipal da Mata Atlântica indicou oito regiões da cidade reconhecidas como Ilhas de Calor: 1) Centro, 2) Fonseca, 3) Barreto, 4) Icaraí (Avenida Roberto Silveira), 5) São Francisco (Avenida Presidente Roosevelt, 6) Largo da Batalha, 7) Trevo de Piratininga e 8) Engenho do Mato. 

O Plano Diretor de Niterói (2019), em seus artigos 33, 125, 127, 130, 132 e no anexo Quadro 1: Conceitos e Definições, também se refere às Ilhas de Calor, incluindo, portanto, o tema no planejamento urbano da cidade.

ÁRBORIZAÇÃO PÚBLICA

Niterói é uma cidade bem arborizada, embora tenha um plantel arbóreo antigo em muitos bairros e muitas vezes com espécies de árvores pouco recomendadas para a arborização urbana. Por isso é feito um grande esforço de gestão da arborização com podas, tratamentos fitossanitários e substituição de árvores em senescência ou mortas. Com isso, vamos aos poucos reformando o arboreto público de Niterói.

Em 2024, Niterói conquistou novamente o título de "Tree City of the World": na foro a secretária da SECONSER, Dayse Monassa, e o subsecretário de Arborização, Alexandre Moraes.

Em 2022, a cidade passou a ser uma das oito cidades do país a contar com o selo "Tree Cities of the World". Este prêmio é concedido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Arbor Day Foundation. As principais áreas em fase de restauração das florestas são o Morro da Boa Vista (Centro), Morro do Peixe Galo (Jurujuba) e outras áreas específicas da cidade. Saiba mais em Niterói lança Plano da Mata Atlântica com prioridades para os próximos 10 anos.

Veja aqui algumas das suas iniciativas:

Georreferenciamento de todas as árvores da arborização urbana de Niterói através do programa Arboribus, da SECONSER.

• Arboribus: A Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos - SECONSER, através da Subsecretaria de Arborização Urbana, mantém um forte programa de manutenção e ampliação da arborização da cidade, já tendo plantado mais de 15 mil novas árvores desde 2013. 
• Números da arborização: O georreferenciamento do Arboribus tinha 10.000 árvores no sistema em 2019, em 2021 eram cerca de 23 mil árvores. Em outubro de 2024 já havia 69.244 árvores catalogadas na área urbana de Niterói, o que corresponde a uma árvore para cada 7 habitantes. Segundo os dados do Arboribus, foram identificadas e mapeadas 465 diferentes espécies, espalhadas em 50 bairros da cidade. 
• Gestão: Além de mapear as árvores, o Arboribus registra dados sobre as condições fitossanitárias, porte e outros dados que ajudam a proteger o arboreto urbano da cidade. Os dados são disponibilizados no Sistema de Gestão da Geoinformação - SIGEO Niterói.

REFLORESTAMENTO DE ENCOSTAS E RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS

Reflorestamento no Morro da Boa Vista, Centro de Niterói.

O esforço de proteção e recuperação das florestas e demais ecossistemas da cidade é um fator primordial de garantia da resiliência e da qualidade de vida em Niterói. Mais de 84 mil mudas foram plantadas nas encostas e outras áreas degradadas de Niterói desde 2013 até o final de 2024. É uma média de cerca de 7.600 mudas/ano. A cidade conta também com várias frentes de reflorestamento de encostas, sendo a maior no Morro da Boa Vista, no Centro da cidade. Também merece destaque o "Projeto de Restauração Ecológica do Município de Niterói", com financiamento do BNDES, que investe no reflorestamento de 203 hectares na cidade de Niterói. O projeto inclui a restauração da vegetação na Ilha da Menina, em Itaipu.

DESAFIOS

Nem tudo são flores! Na gestão da arborização enfrentamos muitas dificuldades no dia-a-dia. Desde conflitos entre aquelas pessoas apaixonadas pelas árvores e se veem indignadas com qualquer intervenção na arborização, como aquelas pessoas que demonstram uma verdadeira "arvorefobia" e tentam de tudo para ter as árvores longe de si.

Inimigos da arborização: no bairro de São Francisco, a base da árvore foi concretada: não há como a árvores sobreviver. A SECONSER foi alertada e está providenciando a retirada do concreto.

A compatibilização da arborização com a fiação aérea é outra enorme dor de cabeça. Uma realidade que a legislação brasileira precisa resolver. è inaceitável a poluição visual que a fiação causa, além dos danos que causam nas árvores urbanas. Outro grande fator de preocupação são os incêndios em vegetação, a maior ameaça às nossas áreas verdes.

Outro problema é que nem toda árvore é bem-vinda. É o caso da famigerada Leucena, uma árvore exótica, invasora de áreas verdes e que, com a sua extraordinária capacidade de dispersão e rápido crescimento, competem com as espécies nativas. Para isso, a SECONSER mantém um programa de controle desta espécie indesejada.

Axel Grael
Engenheiro florestal
Prefeito de Niterói (2021-2024)
Vice-prefeito de Niterói (2013-2016)
Doutorando em Arquitetura e Urbanismo PPGAU/UFF