quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

UBER ABANDONA COMPROMISSOS CLIMÁTICOS E ABRAÇA TRUMP

Artigo no newsletter Green Daily, da Bloomberg, traz hoje um artigo "Life in the Slow Lane", de Ben Elgin, mostrando a guinada corporativa que a Uber, empresa com sede em São Francisco, California, deu com relação à sua política de responsabilidade climática e energética. De um compromisso com metas de eletrificação da sua frota, a empresa recua e se desfez na semana passada de todos os programas de incentivos financeiros aos seus motoristas para fazerem a transição.

De uma política de protagonismo corporativo e de cobrança por políticas públicas de transição energética nos transportes, a Uber passou a apoiar a famigerada Lei "Big Beautiful Bill", de iniciativa de Donald Trump, considerada pela "League of Conservation Voters" (Liga dos Eleitores Conservacionistas) como a lei mais nefasta ao meio ambiente da história. A lei desmontou as bases mais fortes de toda a política ambiental e climática vigente até então nos EUA, retirando os incentivos às energias limpas. Segundo a BloombergNEF, as medidas de Trump reduzirão em 40% a adoção de carros elétricos, tirando 14 milhões de novos veículos elétricos das ruas até 2030

Como mostra a matéria abaixo, o CEO da Uber esteve na Casa Branca ao lado de Trump gravando um vídeo de enaltecimento da "Big Beautiful Bill" de Trump. 

Segundo o artigo, com 38 milhões de viagens diárias em todo o mundo, a Uber dobrou as suas emissões em três anos e hoje gera um impacto climático correspondente a toda a Dinamarca. A empresa havia prometido alcançar 100% de eletrificação da frota em Londres em 2025, 100% em toda a América do Norte e Europa até 2030, mas está muito longe da meta. A empresa reconheceu que atualmente 40% das milhas percorridas em Londres são em carros elétricos, enquanto na Europa são 15% e América do Norte são 9%.

A California, a Cidade de Nova York e Toronto aprovaram leis estabelecendo metas de eletrificação para os aplicativos de transporte, medida que a própria Uber pregava. Desde setembro, a empresa pressiona parlamentares para reduzir as exigências e aumentar os prazos estabelecidos.

Atualmente, toda a legislação ambiental e de transição energéticas de vigente nos níveis subnacionais estão sob ataque nos EUA. Estamos assistindo à mesma coisa aqui nos trópicos.

Axel Grael



-------------------------------------------------------



Photographer: Nick Little

Life in the slow lane

By Ben Elgin

Uber spent years trying to make it easier for ride-hailing drivers to ditch gasoline-powered cars.

When Levi Spires, a 51-year-old Uber driver in Syracuse, New York, hit a deer and damaged his Prius last year, a $2,000 promotion from the ride-hailing giant enticed him to buy a Tesla. Over 23 months, he earned around $3,500 from Uber Technologies Inc. in additional EV bonuses driving about 139,000 miles. It was all part of Uber’s goal to rapidly move its drivers into cleaner cars.

But things changed last week when Uber discontinued the monthly EV bonuses. Losing the incentive, along with steadily declining hourly earnings, has caused Spires to rethink his future: “My goal is for Uber to not be my main profession anymore.”

Uber needs all the clean miles it can get to reach its green goals and various local regulations. With 38 million daily trips globally, the company’s emissions have nearly doubled in the past three years, and its climate footprint now surpasses the entire country of Denmark. Yet despite the rise in emissions and soaring profits, Uber is scaling back some of its key climate efforts.

The company had pledged to reach 100% EVs in London by this year, and 100% in North America and Europe by 2030, but it’s far short of those goals. The San Francisco-based firm reported earlier this year that about 40% of its miles in London are in EVs, while Europe and North America are about 15% and 9%, respectively. Instead of enticing drivers into EVs with cash, Uber is ratcheting back extra payments and backpedaling in other ways.



Uber officials acknowledge they will likely miss their green targets, but they say the company is committed to cleaner vehicles, and their drivers in Europe and North America are moving into EVs much faster than the public. “We’re proud of our progress overall,” says Rebecca Tinucci, the former global head of electrification and sustainability at Uber, who recently took over as chief executive officer of Uber’s freight business.

After long advocating for stronger government policies to speed up EV adoption, Uber did a U-turn this spring and stumped for President Donald Trump’s “Big Beautiful Bill.” This included Chief Executive Officer Dara Khosrowshahi appearing in a White House promotional video for the legislation, which the League of Conservation Voters called “the most anti-environmental bill of all time.” The law slashed clean-energy incentives and is expected to slow EV adoption in the US by about 40% compared to previous projections.


Uber CEO Dara Khosrowshahi, left, at the White House with Donald Trump. Photographer: BRENDAN SMIALOWSKI/Getty Images

A handful of states and cities, including California, New York City and Toronto, have enacted rules requiring ride-hailing companies to rapidly electrify their fleets. Uber is now pushing back, urging California regulators in September to delay enforcement, in part because the scrapped federal incentives make the targets nearly impossible to meet.

“This is why we had to get a law passed,” says Nancy Skinner, a former state senator who authored California’s law, which requires Uber and Lyft Inc. to get 90% of their miles there in EVs by 2030. “They weren’t going to do this on their own.”

Fonte: Bloomberg Green Daily, 10/12/2025



terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Luciano Moreira, parceiro do Projeto Grael, é um dos 10 cientistas mais influentes no mundo em 2025

Dr. Luciano Moreira (quinto da direita para a esquerda) com técnicos da Fiocruz e dirigentes da Fundação Bill e Melinda Gates, em visita ao Projeto Grael, em 2016.

O pesquisador brasileiro Luciano Moreira, acaba de ser anunciado pela renomada revista científica "Nature" como um dos 10 cientistas mais influentes no mundo em 2025. 

O professor Luciano Moreira é engenheiro agrônomo e entomólogo, formado pela Universidade Federal de Viçosa-MG, sendo pesquisador ligado à Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ. O cientista desenvolve pesquisa sobre o uso da bactéria Wolbachia, de presença comum em muitos insetos, mas que os mosquitos Aedes aegypti não possuem naturalmente no seu organismo. Quando inoculado no mosquito, a bactéria bloqueia a transmissão da dengue, zika e chikungunya. Esta é a base do Método Wolbachia para o controle das doenças. Trata-se de uma tecnologia natural, eficaz e segura. Não há mudança genética nem no mosquito nem na bactéria. O método também evita a aplicação de produtos químicos, tão utilizados no passado. Protege cerca de 14 milhões de pessoas/ano dos efeitos da dengue, zika e chikungunya.

A iniciativa chegou ao Brasil em 2011, com o apoio do Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates e a National Institutes of Health, que investiram no método Wolbachia R$ 31 milhões.

Agente libera Wolbitos com parte do projeto em cidades brasileiras. | Crédito: Flávio Carvalho / WMP Brasil Fiocruz

Em 2013, quando o Rio de Janeiro e Niterói viviam um grave surto de dengue, o Dr. Luciano Moreira e uma equipe da FIOCRUZ procuraram o Projeto Grael para pedir ajuda. Dr. Moreira estava decidido a testar a sua tecnologia em dois lugares que considerava geograficamente ideais: Jurujuba (Niterói) e Tubiacanga (Ilha do Governador, no Rio de Janeiro). O fato de Jurujuba ser uma península na Baía de Guanabara e ter relativo afastamento de outros bairros, se adequava à metodologia da pesquisa. No caso de Tubiacanga havia uma justificativa semelhante, mas os trabalhos não avançaram tanto que em Jurujuba.

Eu havia sido eleito vice-prefeito de Niterói em 2013 e fiz a ponte entre a equipe da FIOCRUZ e a Secretaria Municipal de Saúde, que aprovou o experimento na cidade e passou a acompanhar e apoiar a iniciativa.

Mosquito x mosquito

De início, o trabalho das equipes causava desconfiança, principalmente quando saíram espalhando mosquitos pelo bairro. Como engenheiro florestal, entendi o objetivo do professor Moreira e convenci a equipe do Projeto Grael que a ideia de soltar mais mosquitos Aedes para combater a dengue, por mais que parecesse estranho, fazia sentido.

Armadilha para captura de mosquitos para fins de monitoramento. Equipamentos semelhantes a este foram instalados no Projeto Grael. Fonte: Portal Drauzio

O Projeto Grael cedeu espaço para apoio logístico das equipes que fizeram o trabalho pioneiro em Jurujuba e ajudou no esclarecimento da comunidade. Recebemos aulas e exposição educativa sobre o trabalho que seria feito e incentivamos os alunos do Projeto Grael a ajudar o trabalho das equipes da FIOCRUZ.

Inicialmente, os técnicos da equipe do prof. Moreira fizeram estudos na região e começaram a soltar os mosquitos com Wolbachia em 2015 e os resultados foram muito positivos. Na minha gestão como prefeito de Niterói (2021-2024), expandimos o método Wolbachia para toda a cidade e, desde então, os números de casos registrados de dengue, zika e chikungunya são muito baixos em Niterói e o modelo foi levado pelo Ministério da Saúde e FIOCRUZ para outras partes do país. 

Hoje, Luciano Moreira dirige a "Fábrica de Mosquitos" da FIOCRUZ, em Curitiba, considerada a maior do mundo. Produz 80 milhões de ovos de mosquitos por semana para alimentar o programa de enfrentamento às doenças no país. O que deu certo em Niterói vai beneficiar outras cidades.

Niterói é muito grata por ter sido escolhida a primeira cidade no país a ser cuidada pelo Método Wolbachia e o Projeto Grael tem orgulho de ter participado, mesmo que de forma modesta, desta grande conquista da Ciência e da Saúde.

Parabéns ao Dr. Luciano Moreira e sua equipe. 

Axel Grael
Prefeito de Niterói (2021-2024)
Vice-prefeito de Niterói (2013-2016)
Cofundador do Projeto Grael


Brasil pode ser o grande poço negativo de carbono do mundo, afirma pesquisador

Brancalion: Ninguém vai comprar crédito de carbono se houver dúvida em relação à quantidade que está sendo comercializada (foto: Karina Toledo/Agência FAPESP)

Em palestra apresentada no evento FAPESP Day Uruguay, o professor da USP Pedro Brancalion apresentou resultados de projeto que visa alavancar o mercado de crédito de carbono no país

Karina Toledo | Agência FAPESP 

O Brasil pode se tornar um grande player no mercado global de crédito de carbono – tão importante quanto foi a Arábia Saudita para o de petróleo no século 20. Para explorar essa riqueza, porém, será preciso investir em tecnologia. E desenvolver novas e melhores estratégias para quantificar o carbono que está sendo negociado.

A análise foi feita pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Pedro Brancalion durante o evento FAPESP Day Uruguay, realizado em novembro, na cidade de Montevidéu.

Em sua apresentação, o pesquisador apresentou resultados de projetos que buscam alavancar o mercado de crédito de carbono no país. Um deles resultou em uma nova equação para estimar a biomassa acima do solo que aumenta em 30% os créditos de carbono gerados em processos de restauração florestal na Mata Atlântica.

“Imagine uma empresa que cria gado para produzir carne. De repente apresentamos uma tecnologia revolucionária, que aumenta em 30% a produção de carne sem gastar um centavo a mais. É um milagre quase. É o que estamos proporcionando para o setor de restauração para carbono. Não porque a gente está roubando, mas porque estamos quantificando melhor”, afirmou.

Esse e outros temas foram abordados em entrevista concedida à Agência FAPESP durante o evento. Confira os principais trechos a seguir.

Agência FAPESP – Em sua apresentação, durante o evento FAPESP Day Uruguay, o senhor mencionou uma nova equação para estimar a biomassa acima do solo que aumenta em 30% os créditos de carbono gerados em processos de restauração florestal na Mata Atlântica. Poderia explicar como essa equação foi desenvolvida e como funciona?

Pedro Brancalion – Nós analisamos dados de um plantio de restauração que já tem 22 anos e é nosso grande laboratório. Todos os anos ele é mensurado. Quando esse experimento foi implantado, previmos que algumas parcelas da floresta seriam cortadas para fins de pesquisa. Cortamos 180 árvores quando o plantio tinha seis anos, depois o mesmo com 12 e com 20 anos. Desse modo, conseguimos gerar uma equação para entender quanto carbono tem armazenado nessa floresta. Hoje a equação mais usada [para avaliar processos de restauração e gerar crédito de carbono] é a desenvolvida pelo pesquisador francês Jérôme Chave, que fez uma síntese de amostragens destrutivas em região tropical. Mas a base de dados que ele usou considera principalmente árvores acima de 10 centímetros de diâmetro. Já o nosso método inclui aquelas acima de 5 centímetros de diâmetro, pois tem muito carbono em árvores menores em florestas jovens. Não tem nada de errado com o método de Chave, mas ele foi concebido para florestas maduras na Amazônia, no Congo, na Ásia – não para quantificar carbono em florestas jovens de restauração na Mata Atlântica. E por que as pessoas usavam a equação de Chave? Porque não tinha outra melhor. Então a gente supre com essa pesquisa uma lacuna de conhecimento que é fundamental para alavancar um novo mercado. Esse trabalho foi feito por uma orientanda de doutorado, Ana Paula Ferez, e está vinculado a um dos projetos do RCGI [Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa], apoiado por FAPESP e Shell.

Agência FAPESP – E a equação leva em conta somente o tronco das árvores?

Brancalion – Não. Contabilizamos raiz, tronco, galho grosso, galho fino e folha. Com a motosserra segmentamos a árvore nessas partes, tiramos todas as folhas e pesamos. Mandamos para o laboratório analisar a massa seca. Depois vem o trator, cava o solo, tira a raiz grossa do melhor jeito possível e dá uma limpada. Colocamos em uma balança gigante. Então, literalmente, nós pesamos a floresta. Isso foi feito para construir a equação e também para desenvolver estratégias de mensuração de carbono por LIDAR [Light Detection and Ranging, método que usa drones emissores de pulsos de laser para mensurar a estrutura da vegetação]. O LIDAR mensura a altura média do dossel e, a partir desse dado, estima a biomassa por meio de equações específicas. Mas é uma estimativa. O que tentamos fazer é conectar as informações obtidas com a amostragem destrutiva diretamente com a mensuração por LIDAR.

Agência FAPESP – De que forma essas tecnologias podem ajudar a alavancar o mercado de crédito de carbono no Brasil?

Brancalion – Ninguém vai comprar crédito de carbono se houver dúvida em relação à quantidade que está sendo comercializada (leia mais em: agencia.fapesp.br/56685). Qualquer mercado precisa de uma base robusta de quantificação do que está sendo vendido ou comprado para que ele se desenvolva. Na incerteza, no risco, ninguém joga. Então, imagine uma empresa que cria gado para produzir carne. De repente apresentamos uma tecnologia revolucionária, que aumenta em 30% a produção de carne sem gastar um centavo a mais. É um milagre quase. É o que estamos proporcionando para o setor de restauração para carbono. Não porque a gente está roubando, mas porque estamos quantificando melhor. Uma analogia que eu faço é que o Brasil está para esse mercado como a Arábia Saudita esteve para o de petróleo no século 20. O Brasil pode ser o grande poço negativo de carbono do mundo. Por ter vasta extensão de terra, florestas superprodutivas e tecnologia, coisas que muitos outros países não têm. Continuando a analogia com o petróleo, costumo dizer que esse carbono não está num poço superficial, fácil de ser explorado, como no caso da Arábia Saudita. É mais como o petróleo do pré-sal. A riqueza está lá, mas só vamos acessar com tecnologia. Esse é o desafio da restauração hoje. Existe um grande potencial, mas para que esse potencial se manifeste e a gente possa atender ao mercado internacional com mais esse produto vindo das nossas terras precisamos de tecnologia.

Agência FAPESP – O senhor mencionou outro experimento voltado a aprimorar a medição de carbono em florestas, a torre de fluxo. Poderia explicar de que se trata?

Brancalion – Esse é outro projeto, também apoiado pela FAPESP. Está sendo conduzido em Itatinga, em uma estação experimental da USP. Qual é a premissa? Os fluxos de carbono numa floresta ocorrem a cada segundo. É um passarinho que está se decompondo, um microrganismo que está comendo uma folha, um capim que está absorvendo luz e fazendo fotossíntese. É algo dinâmico, que varia ao longo dos anos, por exemplo, quando tem ou não El Niño. As tecnologias mais avançadas hoje são uma quantificação meio grosseira. Não é uma lupa em cima do que de fato está acontecendo. Por deficiência da tecnologia não conseguimos medir essas minúcias. A torre de fluxo tampouco vê quem está emitindo ou absorvendo carbono, mas ela vê o balanço. Então, é a prova dos 9. Com ela a gente consegue saber o efeito líquido daquela restauração como um sumidouro de carbono. E aí a gente não está olhando só para o galho ou para o tronco, mas para todo o ecossistema, incluindo o solo. E uma torre dessa nos permite entender mecanismos. Por exemplo, o quanto esse balanço é impactado em um ano mais seco ou por um evento de chuva. É uma ferramenta científica poderosíssima, embora cara e complicada de lidar.

Agência FAPESP – O Projeto Temático NEWFOR, que o senhor coordenou, terminou recentemente. Conte um pouco sobre os resultados e como eles se relacionam com essas outras iniciativas.

Brancalion – Elas são, de certa forma, desdobramentos. Nosso objetivo no NEWFOR foi construir a maior base de dados do mundo sobre o reflorestamento tropical. A pesquisa em restauração e reflorestamento carecia de fortes bases de dados. Os estudos anteriores tinham um esforço amostral muito baixo, eram focados em um ou outro método de reflorestamento e não cobriam grandes áreas, de forma a representar minimamente a enorme heterogeneidade das florestas tropicais. Com essa base de dados podemos explorar, de forma muito mais robusta, questões científicas que já vinham sendo exploradas e, ao mesmo, estabelecer uma base para pesquisas futuras. Podemos usar esses dados para alavancar outros projetos mais ambiciosos.

Agência FAPESP – E como essa base de dados foi construída?

Brancalion – Nós definimos oito coberturas do solo de interesse, em um gradiente que vai desde o uso agrícola do solo [pasto e agricultura] e passa por dois sistemas de referência: remanescentes florestais degradados e conservados. Também foram incluídos cinco sistemas de reflorestamento: agrofloresta; monocultivos ativos [como os de eucalipto para produção de celulose]; monocultivos extensivos [como os usados para produção de madeira serrada, em que há muita regeneração natural no sub-bosque]; plantios de restauração [em que se misturam várias espécies nativas]; e florestas estabelecidas por regeneração natural [de forma espontânea, a partir do isolamento da área após uso agrícola]. E, então, aplicamos um protocolo para avaliar a multifuncionalidade da floresta em parcelas de 30 por 30 metros. Foram estabelecidas mais de 800 parcelas ao longo da Mata Atlântica, nas quais analisamos a biodiversidade, o carbono armazenado em todos os compartimentos da floresta, como no solo, raiz fina e grossa, biomassa viva lenhosa acima do solo, madeira morta em pé e sobre o solo, cipós e serapilheira, além de infiltração da água no solo e muitas outras coisas. E cada árvore foi medida nessas parcelas, somando cerca de 70 mil árvores, de aproximadamente 1.300 espécies diferentes. Para isso estabelecemos parcerias com ONGs, empresas, governos, proprietários rurais e várias unidades de conservação por meio de um processo de coprodução do conhecimento. Essas pessoas foram sendo engajadas a responder à grande pergunta de pesquisa do projeto, que já rendeu 40 artigos científicos, todos em periódicos internacionais, em revistas de altíssimo nível. Mas o principal legado que eu vejo desse projeto é que ele vai servir de base para vários outros. Alguém interessado em estudar aves e restauração, por exemplo, pode se valer dessas parcelas permanentes que estabelecemos, com todas as árvores identificadas. Ou pode usar o LIDAR para avaliar a estrutura. Então eu brinco que a gente criou um parque de diversões científicas.

Agência FAPESP – O senhor mencionou a grande pergunta científica do projeto. Qual seria ela?

Brancalion – É esta: como diferentes tipos de benefícios ambientais são gerados por diferentes métodos de reflorestamento em diferentes condições ambientais? Essa pergunta é crítica para quem investe no reflorestamento para um determinado objetivo, seja como um negócio, seja para gerar benefícios coletivos a partir de financiamento público ou filantrópico. Saber o quanto de carbono eu consigo sequestrar, por exemplo, em uma determinada região, dependendo do método de reflorestamento, é a base de qualquer modelo de investimento. Aliado a isso, é importante saber como outros benefícios estão associados, como carbono e biodiversidade, para que projetos possam ser elaborados e estabelecidos. Nossos resultados permitem assim maximizar o custo-benefício do reflorestamento, ampliando os múltiplos benefícios por unidade de investimento, apoiando novos negócios, políticas públicas e ações conservacionistas.

Fonte: Agência FAPESP




domingo, 7 de dezembro de 2025

Marina Silva: "Os dinossauros não sabiam o que estava por vir, mas nós sabemos". O que é preciso fazer agora?

O que precisa acontecer após a COP30, na visão de Marina Silva

“A realidade mostra que não há mais tempo, e mantemos apenas o básico como se ainda tivéssemos muito tempo”, lamenta Marina sobre ação climática.

Poucas pessoas lutaram tanto pela COP30 em Belém como a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). Nascida e criada na Amazônia, Marina esperava que a realização da Conferência do Clima na capital paraense inspirasse os negociadores a irem além do básico no esforço coletivo contra a crise climática. No entanto, como ela deixou evidente em seu discurso emocionado na plenária final da COP, os governos não conseguiram entregar aquilo que se sonhava há três décadas, quando o clima virou um tema de discussão global.

Olhando para o que elas [participantes da Rio-92, quando a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima foi assinada] sonharam, só temos uma conclusão: a de que sonhamos, no passado, com mais e chegamos 30 anos depois fazendo menos do que sonhamos”, afirmou Marina em entrevista a Jonathan Watts na Sumaúma e no Guardian. “Mas o que nos dá esperança é que, ao longo desses 30 anos, conseguimos manter a conectividade entre o sonho e a ação”.

O balanço da COP30 segue esse raciocínio. Para Marina, a Conferência de Belém poderia ter entregue mais: por exemplo, os “mapas do caminho” contra os combustíveis fósseis e o desmatamento, propostos pelo presidente Lula e motivo de tensão entre os países até o final das negociações, não entraram nas decisões do “Pacote de Belém”. As demandas dos países em desenvolvimento por mais financiamento climático também seguem desassistidas. Mas a COP30 conseguiu colocar a energia fóssil no centro do debate político sobre o clima.

Acho que a COP30 na Amazônia foi, ao mesmo tempo, o lugar da denúncia e da inflexão de uma resposta. Pela primeira vez, pautamos, de forma clara e transparente – no esforço do governo brasileiro, na pessoa do presidente Lula – (…) a ideia de uma transição justa e planejada para sair da dependência do uso de combustíveis fósseis. Reconhecemos que o resultado ainda não foi suficiente, mas também devemos reconhecer que o que foi colocado na mesa é a resposta pela qual deveríamos estar trabalhando nos últimos 30 anos”, disse Marina.

Os impasses diplomáticos seguem sendo um obstáculo importante para o avanço da ação climática global. Essas dificuldades não estão isoladas do contexto político atual, marcado pela desconfiança entre os países e por uma descrença no multilateralismo. Mas, para a ministra, o problema a ser enfrentado é mais profundo, no nível dos valores: o mundo que gasta bilhões em armamentos e guerras para matar pessoas é o mesmo mundo que diz que não há dinheiro suficiente para reverter a crise climática e salvar vidas.

Algo está errado. E não está errado apenas com a dinâmica do multilateralismo. Está errado com os valores éticos que orientam nossas decisões. Recentemente, nos mobilizamos para enfrentar o problema da COVID-19. Por que somos capazes de fazer isso quando apenas o mal já está instalado? Por que não temos a mesma capacidade de fazer isso quando o problema foi detectado e comprovado?”, pontuou.

Fonte: ClimaInfo


----------------------------------------------------------

A entrevista de Marina no The Guardian:


‘The dinosaurs didn’t know what was coming, but we do’: Marina Silva on what needs to follow Cop30

Jonathan Watts

Exclusive: Brazil’s environment minister talks about climate inaction and the course we have to plot to save ourselves and the planet

Soon after I returned home to Altamira from Cop30, I found myself talking about dinosaurs, meteors and “ambassadors of harm” with Brazil’s environment minister, Marina Silva.

No one in government knows the rainforest better than Marina, as she is best known in Brazil, who was born and raised in the Amazon. No one is more aware of the sacrifices that environmental and land defenders have made than this associate of the murdered activist Chico Mendes. And no one worked harder to raise ambition at Cop30, the first climate summit in the Amazon, than her. So what, I asked, had it achieved?

This Cop revealed the truth that efforts until now have been insufficient,” she told me in a video call from Brasilia. “Our climate efforts continue, as ever, to buy time when we have no more time.

In a tearful and defiant address to the closing plenary of the conference in Belém, Marina had told applauding delegates that she – like many others – had dreamed of achieving more when they attended the 1992 Rio de Janeiro Earth Summit, which set up UN conventions for the climate, biodiversity and desertification. What had she meant by that?

Reality itself says we did less than was necessary,” she replied. “But what gives us hope is we managed to maintain the connection between dream and action during these 30 or so years. If we didn’t have the Paris agreement and the efforts that preceded it, the planet would be on course for 4°C of warming" [above preindustrial levels].

Thanks to these efforts, global heating hasn’t reached that level and if that were to be counted in lives, in food systems, in energy systems, in technological advances, we would see that we have had many gains, that we have avoided many catastrophes, that we have saved many lives, many portions of food, and we have managed to preserve more areas of land from being totally devastated by desertification or by the rise in sea levels.

But our efforts are still insufficient. And now there is no more room for insufficiency, only a tiny crack for action remains. And when possibilities narrow, efforts to broaden them must be carried out with all speed, intensity and quality.”

No one in the Amazon could doubt the need for urgency. The rainforest has dried up like never before in the past three years. On the way home, I was horrified to see a new stretch of forest had been burned along the side of the road during the three weeks I had been away.

Marina said she had hoped that visitors to the Belém conference would see that a climate collapse was already under way in the rainforest. “Having a tropical forest that is losing humidity is science materialised in three dimensions: mighty rivers that dry up for long periods, to the point of killing the fish, harming biodiversity and isolating populations that have always remained integrated with each other through natural water channels,” she said. “I think Cop30 in the Amazon was a place to demonstrate and denounce what is happening and a place to initiate a response.”

The response came in the form of a bold move, supported by more than 80 countries and civil society, which dominated debate in Belém – a push to set a course for a just and planned transition away from fossil fuels and deforestation. It was backed by climatologists, championed by Brazil’s president, Luiz Inácio Lula da Silva, and largely orchestrated by Marina.

The plan was cut from the final mutirão or joint decision – along with all mention of fossil fuels – after opposition from Saudi Arabia and other oil-producing states.

But the idea of creating roadmaps to reduce dependency on oil, coal and gas will be taken forward by the Brazilian Cop presidency over the coming year. Marina insisted this was a great start. “The scientific community is celebrating that finally something has been put on the table to debate what really matters,” she said. “We recognise the outcome was not yet enough, but we must also recognise that what was put on the table is the response that we should have been working on for the past 30-odd years.”

Each country should choose its own speed, she said. Oil and coal producers might need to move more slowly, but everyone needs to move in the same direction: “Being fair does not detract from the need to act. Being fair is just the basis on which we will take action.

The power of extractivist economic interests to delay and reverse climate action has also been apparent in Brazil. Congress, which is dominated by agribusiness interests, overturned several of Lula’s vetoes of a controversial bill to dilute environmental licensing just days after Cop30.

Given these forces, how could governments ever push forward progressive policies on the climate and nature? For Marina, it is necessary to go to a deeper level of values. Ultimately, she said, it is a matter of survival – not just of an individual or a species, but the very conditions in which life is possible.

Compared with the huge efforts to preserve the economic system after the 2008 financial crisis and the Covid-19 pandemic, and the immense military spending under way in Europe, it was incredible how little was going into the campaign to stabilise the climate and nature, she said. “Something is wrong. And it’s not just wrong with the dynamics of multilateralism. It’s wrong with the ethical values ​​that are guiding our decisions."

Recently we moved to confront the problem of Covid-19. Why are we only able to do this when the harm has already been done? Why don’t we show that ability when the problem has been detected and proven and already sending us its most malevolent ambassadors in the form of fires, heatwaves, ever-more-intense typhoons and hurricanes, loss of areas that were previously used to produce food and reduction in hydroelectric power generation capacity?"

The visits of these sinister ambassadors should be enough for us to make preparations in a way the dinosaurs were unable to do. They didn’t know a large meteor was coming towards them. We know what is coming towards us, we know what needs to be done and we have the means to do it, yet we don’t take the necessary measures.

Marina is planning to do all she can to change that. The Brazilian government will push forward with a debate on roadmaps to halt deforestation and fossil fuels. It will participate in the first international conference on a just transition away from oil, coal and gas in Colombia next year.

And it will try to lead by example, she says. “I am inspired by the fact we have reduced deforestation by 50% in the Amazon and agribusiness has grown by 17% in the last three years. This demonstrates it is possible to do this,” she said. “If we are not determined to achieve, we will apparently remain in the same place. And I say apparently because we are already heading towards an unthinkable place, where the very conditions of life are diminished.

Fonte: The Guardian





Aprovada regulamentação da profissão de marinheiro de esporte e lazer

 

Projeto relatado por Leila Barros reconhece a profissão de marinheiros de embarcações com fins privados. Carlos Moura/Agência Senado

O Plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (25) o projeto que regulamenta a profissão de marinheiro de esporte e recreio para fins particulares e não comerciais (PLC 25/2018). Do ex-deputado Fernando Jordão (RJ) e relatado pela senadora Leila Barros (PDT-DF), o projeto segue agora para a sanção da Presidência da República.

Entidades de classe desses profissionais reivindicam normas mais claras sobre o uso de embarcações privadas e não comerciais como instrumentos de trabalho. Hoje, os marinheiros de esporte e lazer que trabalham em lanchas particulares, por exemplo, são registrados como empregados domésticos. Para exercer a profissão, o marinheiro deverá trabalhar em embarcações nas águas abrangidas pela habilitação para a qual foi certificado.

A identificação correta dos profissionais deve dar segurança para a expansão do mercado náutico (marinas, iates clubes, garagens náuticas). A proposta também garante seguro obrigatório aos profissionais — a ser custeado pelo empregador — para a cobertura de riscos inerentes à atividade.

Para o senador Esperidião Amin (PP-SC), o projeto é importante para a economia do mar e faz justiça com os marinheiros profissionais.

— Esse projeto vai permitir regularizar dezenas de milhares de marinheiros profissionais — registrou o senador.

Segurança

Além de estar amparada pela Constituição, a regulamentação da profissão de marinheiro de esporte e recreio é medida importante para a preservação da integridade física do trabalhador, do dono da embarcação e das pessoas que se encontram nas proximidades desse meio de transporte, observou a relatora.

“A condução de embarcações de esporte e recreio por trabalhadores sem a devida qualificação profissional coloca em risco não só o proprietário da embarcação, mas também todos aqueles, especialmente os banhistas, que se encontram nas cercanias do referido meio de locomoção”, reforça Leila no parecer.

Ainda segundo a relatora, a exigência, por parte da Norma da Autoridade Marítima (Norman, editada pela Marinha do Brasil), de curso de treinamento de arrais-amador e motonauta para esses profissionais respaldaria a necessidade de regulamentação da atividade.

Fonte: Agência Senado





FORÇAS DO ATRASO AGORA DEFENDEM ESPÉCIES INVASORAS: mais um ataque à política ambiental

Já dizia o Barão de Itararé: "De onde menos se espera, daí que não sai nada". É o que estamos vendo mais uma vez.

Mais um ataque das forças do atraso contra o meio ambiente e o bom senso. Após o desmonte do Licenciamento Ambiental, o ataque ao sistema de rastreabilidade do uso de agrotóxicos, agora os negacionistas ambientais atacam uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente de controlar os danos causados pelas espécies invasoras na nossa biodiversidade. 

A Comissão de Agricultura, por solicitação do senador bolsonarista Jorge Leif (PL-SC), que compõe a Bancada Ruralista no Congresso Nacional, convocou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, para explicar a resolução da Comissão Nacional da Biodiversidade para a instituição de listas nacionais de Espécies Exóticas Invasoras (EEIs). O senador argumenta que a iniciativa pode trazer prejuízos ao setor do agronegócio.

A reação vem exatamente quando o Brasil aprova a nova Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade. Ora, o que se pretende é evitar a extinção de espécies, o que pode acontecer com a competição de espécies que disputam os nichos ecológicos com as espécies nativas, sem ter predadores e inimigos naturais. Portanto, pretende-se evitar a introdução de espécies exóticas que possam representar riscos de se tornar pragas. Quem é de fato da agricultura sabe o que isso representa no país.

Será que o parlamentar e seus pares pensaram sobre os prejuízos à biodiversidade nacional (a maior e mais importante do mundo), à saúde humana, ao próprio setor agropecuário e à economia da entrada dessas espécies?

Veja aqui alguns exemplos:

LEUCENA: A invasão da espécie Leucena leucocephala que causa graves danos aos ecossistemas e à arborização urbana. Saiba mais em: LEUCENA: UMA ALIADA QUE SE TORNOU VILÃ

CAPIM-COLONIÃO: uma das maiores dores de cabeça para os projetos de reflorestamento na região do Rio de Janeiro e outras partes do país. A espécies faz jus ao próprio nome científico: Panicum maximum. Saiba mais em ICMBio combate o capim-colonião no Monumento Natural das Ilhas Cagarras e também QUEIMADAS: MITOS E VERDADES

CORAIS: Os corais brasileiros têm sido ameaçados por espécies invasoras. Veja em ICMBio preocupa-se com a invasão do coral-sol, espécie que ameaça o litoral brasileiro, também Corais brasileiros são ameaçados por espécie invasora originária do Oceano Pacífico e Cientistas encontram nova espécie invasora de coral na Baía da Ilha Grande

FAUNA: Também merece destaque a situação de espécies exóticas da fauna que causam grandes preocupações. É o caso do javali, no sul do país, de várias situações de peixes introduzidos em bacias hidrográficas e do caramujo-africano que ameaça a saúde das pessoas em várias partes do Brasil. Também cabe destaque o problema do mexilhão-zebra, originário da Ásia, que tornou-se uma praga em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. A espécie prolifera-se trazida principalmente no casco de navios e na "água-de-lastro". Há um esforço mundial para o seu controle. Para saber mais, acesse a publicação "Espécies Exóticas Invasoras de Águas Continentais no Brasil", do Ministério do Meio Ambiente.

CASOS EM OUTROS PAÍSES:  A história de uma bela árvore exótica que se tornou um pesadelo nos EUA

A preocupação do CONABIO está correta. Que a razão vença a ganância e a ignorância no Congresso Nacional.

Axel Grael
Engenheiro Florestal

-----------------------------------------------------


Marina Silva presta esclarecimentos sobre espécies invasoras no Senado

Comissão de Agricultura convocou a ministra do Meio Ambiente a pedido do senador Jorge Seif (PL-SC).

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participará de audiência pública na Comissão de Agricultura (CRA) do Senado nesta quarta-feira (10). O objetivo é que a ministra explique a resolução da Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio) que propõe listas nacionais de Espécies Exóticas Invasoras (EEIs).

A convocação foi solicitada pelo senador Jorge Seif (PL-SC). Para o parlamentar, a classificação indiscriminada de espécies como invasoras traz consequências à agropecuária, o que pode afetar empregos e comprometer a segurança jurídica do setor produtivo.

"A minuta submetida à Conabio tem gerado ampla controvérsia técnica, institucional e econômica. A Nota Técnica 46/2025 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apontou fragilidades metodológicas, ausência de base científica robusta e falta de articulação entre os órgãos governamentais envolvidos."

Oitiva está marcada para início às 14h.Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Segundo Seif, os critérios de inclusão na lista devem ser esclarecidos por Marina Silva. Em requerimento anterior, a ministra havia sido convidada e faltou à oitiva, por isso foi convocada.

Espécies invasoras

A lista, divulgada em fevereiro, reúne 60 espécies de peixes, 36 de invertebrados, 19 de mamíferos e cinco de aves. O documento reúne animais que foram trazidas ao Brasil e se espalharam em degradação à biodiversidade local.

A principal preocupação dos parlamentares, como afirmou Seif, é a inclusão das espécies de tilápia, Oreochromis niloticus e Coptodon rendalli, utilizadas em aquicultura.

Também se destacam entre as espécies: 

Invertebrados: abelha africanizada, Apis mellifera;
Mamíferos: roedores camundongo, Mus musculus, e a ratazana preta, Rattus rattus;
Aves: pardal, Passer domesticus.





quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Aquecimento global ameaça principal sistema de correntes marinhas do Atlântico

Representação da Amoc, corrente mais grossa em branco, perto da costa da Flórida. Nasa.

Derretimento do gelo na Groenlândia põe em risco funcionamento da circulação oceânica Amoc

No filme O dia depois de amanhã, de 2004, o derretimento da calota polar do Ártico faz a circulação do Atlântico Norte entrar em colapso. A mudança nesse sistema de correntes oceânicas é o ponto inicial de uma catástrofe que joga o planeta em uma nova era do gelo. Segundo um artigo publicado em fevereiro na revista Science Advances, o braço atlântico da grande circulação oceânica que circunda os continentes está a caminho de se tornar tão fraco que pode alcançar um ponto de não retorno em decorrência das mudanças climáticas.

O trabalho não estima quando tal alteração poderia ocorrer, se daqui a poucos ou muitos anos. “Estamos mais perto [do colapso], mas não sabemos quão mais perto”, disse, à agência Reuters, o oceanógrafo René van Westen, primeiro autor do estudo, que faz pós-doutorado na Universidade de Utrecht, nos Países Baixos. O artigo aponta que o enfraquecimento da Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico (Amoc), nome técnico do sistema, poderá provocar fortes anomalias no atual regime de chuvas e no padrão das temperaturas até o final do século.

Saiba mais acessando o texto: "Ocean current ‘collapse’ could trigger ‘profound cooling’ in northern Europe – even with global warming". Um relatório do Carbon Brief.

Em linhas gerais, a debilidade da circulação tornaria o hemisfério Norte mais frio nas próximas décadas, em especial na América do Norte e no norte da Europa, e o hemisfério Sul mais quente. Não haveria uma nova glaciação global, como mostra, de forma exagerada, o longa de Hollywood, mas as implicações do fenômeno poderiam ser significativas. O trabalho é baseado em modelagem climática. Seus resultados reforçam as evidências observacionais e paleoclimáticas de que a Amoc perdeu 15% de sua intensidade nas últimas duas décadas e se encontra, hoje, em seu momento mais fraco do milênio.

Segundo o relatório de síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2023, “há um grau médio de certeza de que a Amoc não vai colapsar de forma abrupta antes de 2100, mas, se isso ocorresse, muito provavelmente haveria mudanças abruptas nos padrões regionais de clima e grandes impactos nos ecossistemas e nas atividades humanas”. A versão anterior do relatório, de 2021, estima que a chance de ocorrer a paralisação completa da circulação atlântica até o final do século varia entre 4% e 46% em um quadro de emissões controladas de gases de efeito estufa (com aquecimento global não muito maior do que o atual) e entre 17% e 55% em um cenário com forte alta das emissões.

Em um artigo do fim do ano passado, pesquisadores de instituições brasileiras e alemãs observaram, também via modelos climáticos, os possíveis efeitos de um colapso da Amoc sobre a floresta amazônica. O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, indica que, somando-se ao pior cenário de mudanças climáticas, a paralisação da circulação poderia, em um primeiro momento, amenizar o avanço da seca na região. “Mas isso seria apenas um atraso temporário no processo de savanização da Amazônia”, conta a oceanógrafa Regina Rodrigues, do Laboratório de Extremos Climáticos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), coautora do estudo.

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

A pesquisadora estima que esse retardo seria de aproximadamente uma década: o processo de savanização (a substituição da densa e fechada floresta tropical por uma vegetação mais esparsa, com poucas árvores, similar à do Cerrado) se intensificaria por volta da década de 2050 em vez de 2040. “Esse atraso não produziria benefício algum à Amazônia e o enfraquecimento da Amoc teria grandes impactos no clima mundial”, comenta Rodrigues.

A debilidade da Amoc é causada, de forma indireta, pelo aquecimento global. As atuais temperaturas mais quentes fazem mais gelo derreter na região do Ártico. Isso eleva a quantidade de água doce e diminui a salinidade do oceano perto da parte sul da Groenlândia, local por onde a Amoc passa. A alteração torna menos intensa a circulação oceânica nessa região a ponto de colocar em risco a sua manutenção.

A água menos salina na superfície do mar congela muito mais rapidamente”, explica a oceanógrafa Letícia Cotrim da Cunha, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Ao solidificar, a água menos salina forma uma camada bem pouco profunda de gelo acima da superfície do mar. “É como se puséssemos um tampão sobre aquela água que deveria afundar”, compara a pesquisadora.

O funcionamento da Amoc é importante para a manutenção do equilíbrio térmico do planeta em condições similares às atuais. Em seu ramo superior, a Amoc transporta água quente, que circula na superfície por ser mais leve, desde as altas latitudes do Atlântico Sul até o sul da Groenlândia. Nesse ponto, as águas superficiais perdem calor para a atmosfera, ficam mais frias e densas e afundam. “Chamamos esse processo de convecção profunda”, diz o oceanógrafo físico César Barbedo Rocha, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP). As águas que submergiram são transportadas pelo ramo inferior da Amoc e passam a circular a 3 ou 4 mil metros de profundidade, iniciando seu caminho de volta às altas latitudes do Atlântico Sul.

Ao passar pelos trópicos e chegar à porção sul do planeta, parte dessa água fria retorna à superfície devido à mistura com águas mais quentes sobrejacentes e de fortes ventos de oeste ao redor da Antártida. Esse é o processo denominado ressurgência. A Amoc, portanto, é um padrão de circulação entre os hemisférios que transporta, em altas profundidades, águas frias do Ártico para a Antártida e, em superfície, águas quentes para o norte.

Medições no hemisfério Sul

Para ter certeza de um possível colapso da Amoc, no entanto, é preciso mais estudos. As medições diretas sobre a dinâmica da circulação começaram apenas em 2004. “Temos cerca de 20 anos de dados, ainda muito pouco para a escala de tempo de um processo tão complexo como a Amoc. Mês a mês, ano a ano, a corrente pode variar muito e essas flutuações têm potencial para mascarar tendências”, conta Rocha. As duas décadas de observações diretas não mostram tão claramente a tendência de enfraquecimento da Amoc que aparece em estudos com modelagem climática, como o da Science Advances.

As medições diretas não são igualmente distribuídas pela bacia do Atlântico: a maioria se concentra na porção norte do oceano, na borda entre a Europa e os Estados Unidos. Muitos pesquisadores do hemisfério Norte dizem que a corrente do Golfo, que começa no Golfo do México e segue pela costa leste dos Estados Unidos até a Europa, é a que melhor indica as variações da Amoc. No entanto, alguns oceanógrafos brasileiros argumentam que o enfraquecimento da circulação é mais observável no hemisfério Sul e perto dos trópicos.

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP





Praia de São Francisco ganha estação de NitBike

 

O NitBike, sistema de bicicletas compartilhadas e gratuito da Prefeitura de Niterói, acaba de ganhar mais uma estação, desta vez no bairro de São Francisco. O novo ponto fica na Avenida Quintino Bocaiúva, esquina com a Presidente Roosevelt, em frente ao McDonald’s, e contará com 21 vagas para bicicletas. A iniciativa marca o início da nova fase de expansão do programa, que busca ampliar o acesso a modais sustentáveis e facilitar a mobilidade urbana na cidade.

Com o novo ponto, Niterói chega a 51 estações de NitBike em operação. Com a ampliação em andamento, o município prevê a instalação de mais 11 estações, totalizando 62 nos próximos meses. A previsão é de que o sistema chegue a novos bairros e consolide ainda mais a cobertura nas áreas já atendidas.

Essa expansão vai contemplar os bairros de Charitas, Pé Pequeno, Engenhoca, Barreto, Ilha da Conceição, Icaraí e São Domingos, fortalecendo a integração entre as regiões e incentivando ainda mais o uso da bicicleta como meio de transporte.

A iniciativa é realizada pela Coordenadoria Niterói de Bicicleta, que atua na expansão da infraestrutura cicloviária, na promoção da educação para o trânsito e no estímulo a alternativas mais acessíveis e sustentáveis de deslocamento.

O coordenador do Niterói de Bicicleta, Filipe Simões, destaca como a ampliação do serviço vai beneficiar quem se desloca pela cidade.

“Com essa nova estação, damos mais um passo para aproximar a bicicleta do dia a dia de quem vive e trabalha em Niterói. A expansão do NitBike segue uma lógica de inclusão e valorização da mobilidade sustentável. Pretendemos criar conexões úteis entre os bairros e facilitar deslocamentos curtos com segurança, conforto e a custo zero”, explicou Filipe Simões.

Fonte: Prefeitura de Niterói


MAIS UMA DOS Srs DEPUTADOS: Câmara avança para derrubar rastreabilidade de agrotóxicos

O deputado Pedro Lupion autor do PDL que pretende barrar a rastreabilidade de agrotóxicos. Foto: Renato Araújo / Câmara dos Deputados

Projeto susta portaria que criaria sistema nacional para acompanhar o uso de pesticidas em todo o país

Karina Pinheiro

A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou na última semana, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 312/25, que suspende a Portaria nº 805/2025, do Ministério da Agricultura e Pecuária. O texto, de autoria do deputado Pedro Lupion (Republicanos-PR), pretende barrar a política que exigiria o monitoramento completo do percurso dos pesticidas no Brasil, da produção e importação até o uso final. Segundo o relatório oficial, o objetivo é sustar “os efeitos da Portaria MAPA nº 805, de 9 de junho de 2025”, ato considerado irregular pelo colegiado.

Ao justificar sua posição, o relator Rodolfo Nogueira (PL-MS) incorporou ao parecer trechos contundentes do voto apresentado à Comissão. Para ele, a portaria “extrapolou os limites do poder regulamentar, contrariando frontalmente os princípios da legalidade, razoabilidade, economicidade e participação social”.

Segundo o documento, a norma impõe “obrigações desmedidas, como o rastreamento em tempo real de caminhões e a identificação individualizada de embalagens de defensivos agrícolas”, além de determinar o uso compulsório do Sistema Brasil-ID, tecnologia baseada em radiofrequência (RFID) e considerada obsoleta desde 2018. “A imposição de tal sistema, sem base técnica ou normativa válida, torna-se manifestamente arbitrária e impraticável”, escreveu o relator.

A discussão evidencia um embate recorrente entre o avanço de políticas de controle e a resistência da bancada ruralista, que historicamente se opõe a regulamentações consideradas onerosas ao agronegócio.

Especialistas em saúde ambiental apontam que a ausência de rastreabilidade dificulta a investigação de surtos de intoxicação, o monitoramento de resíduos em alimentos e a fiscalização de produtos ilegais, que circulam com facilidade em regiões de fronteira.

O PDL segue agora para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso aprovado, será levado ao Plenário, onde poderá ser votado por todos os deputados.

Fonte: ((O))Eco


Qualidade do ar em regiões metropolitanas de SP, RJ e BH: Seminário sobre Desestímulo ao Automóvel

 


Assista à palestra de André Luis Ferreira, diretor-presidente do IEMA

O Instituto de Energia e Meio Ambiente promoveu o Seminário Internacional sobre Desestímulo ao Uso do Automóvel, no dia 3 de setembro de 2014. O evento reuniu especialistas do Brasil, México, Estados Unidos e Inglaterra para o debate sobre o papel do carro nas cidades e políticas públicas para reequilibrar a utilização do espaço urbano pelos diferentes modos de transporte. No vídeo, palestra de André Luis Ferreira, diretor-presidente do IEMA, sobre a qualidade do ar em regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Fonte: IEMA


-----------------------------------------------------------


LEIA TAMBÉM:

Brasil atualiza inventário nacional de emissões do transporte rodoviário após 10 anos
Emissões do transporte rodoviário brasileiro mudam de perfil