Floresta Amazônica • 26/10/2022REUTERS/Bruno Kelly |
Paulo Hartung
É inegável o impacto do retorno de Donald Trump à Casa Branca. Conforme anunciado na campanha, as medidas tomadas já no dia da posse prenunciam tempos de mudanças em múltiplas áreas, com ampla repercussão, dada a importância dos EUA.
Toldado por essa nova realidade, o fato é que 2025 resulta de nossas próprias decisões – as recentes e também as do passado. Nesse sentido, como bem demonstra o final infeliz da COP29 no Azerbaijão, em novembro último, o fato é que continuamos sem saber como a sociedade irá reverter o cenário de degradação de nosso planeta.
Enquanto isso, a natureza, impacientemente, arde em labaredas na Califórnia, em mais um grave episódio de extrema desordem climática.
Sem esquecermos que o ano passado foi o mais quente da história, o Fórum Econômico Mundial se reuniu na semana que passou no frio de Davos para retomar relevantes discussões sobre os desafios de construir um futuro melhor.
No final deste ano, no calor tropical de Belém, teremos novo teste, para decidirmos que legado haverá de nos deixar a COP30. Bom sinal, embora não sem algum atraso, veio com a anúncio do embaixador André Corrêa do Lago como presidente da conferência, e de Ana Toni como CEO e diretora-executiva.
Em meio a sobressaltos, retrocessos, frustrações e muita retórica, ainda que por tortuosos caminhos, continuarão relevantes os esforços nacionais de redução de emissões, assim como o desenvolvimento de soluções tecnológicas e científicas que contribuam para a descarbonização da economia.
O Brasil pretende reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em até 67% até 2035, tomando como referência os níveis de 2005. Ademais, o país reforçou em sua NDC (compromissos assumidos no Acordo de Paris em 2015) a meta do Planaveg (Plano Nacional de Vegetação Nativa) de restaurar 12 milhões de hectares de terra.
Não há bala de prata para se atingir tais objetivos: a solução é possível apenas via um conjunto de estratégias envolvendo governos, empresas e sociedade civil. Elas passam pela regulação de medidas como o mercado de carbono, o combate a ilegalidades como desmatamento, a grilagem e o garimpo, investimentos para a transição energética e, igualmente, a restauração florestal.
Aqui, nos referimos à recuperação de áreas degradadas a partir do plantio de espécies nativas que possam restabelecer o equilíbrio climático. Por meio da fotossíntese, as árvores representam efetiva solução para o combate às mudanças do clima – removem carbono da atmosfera e o estocam ao longo de seu ciclo de vida, em processos que regularizam os fluxos hídricos e protegem o solo, possibilitando a preservação da biodiversidade, entre outros importantes serviços ecossistêmicos.
Mas a restauração florestal também vai além: é um processo que envolve ciência e tecnologia para recuperar ecossistemas, trazendo reconexão com a natureza e o engajamento das comunidades locais.
A boa notícia é que, nessa seara, testemunhamos movimentos importantes e consequentes no país, em particular na iniciativa privada. São empresas e investidores que, juntos, já movimentaram bilhões de reais com produção de sementes e mudas, preparo de solo, manejo e controle de pragas, bem como o desenvolvimento de mercados. Como premissa, requer-se o estabelecimento adequado de regulações e legislações, tais como, por exemplo, a do mercado de carbono nacional e do Artigo 6 do Acordo de Paris.
O país detém condições únicas para liderar globalmente a restauração florestal. Segundo o Atlas das Pastagens, desenvolvido pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás, possuímos mais de 100 milhões de hectares de terra com algum nível de degradação. Isso, combinado à biodiversidade incomparável, capacidade técnica e avanço tecnológico, nos coloca em uma posição privilegiada para captar investimentos internacionais.
O mercado global de restauração florestal e créditos de carbono pode movimentar uma grande soma de recursos nas próximas décadas, e o Brasil pode ser um dos maiores protagonistas nessa frente.
Em 2024, a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), que há mais de 10 anos atua em nome de empresas que plantam árvores para fins industriais, passou a representar também companhias voltadas para a restauração de nativas, compartilhando o propósito de construir um futuro mais verde e sustentável.
Elas somam forças a um setor que já possui notável trajetória de preservação, assim como de manejo florestal sustentável, modelo para o mundo quando se pensa em cultivo com responsabilidade ambiental.
Trata-se de uma indústria que planta, colhe e replanta em 10 milhões de hectares, preservando outros 6,9 milhões de hectares de florestas, uma extensão superior à do estado do Rio de Janeiro.
Historicamente, o setor tem-se expandido sobre áreas antropizadas, convertidas para a produção de fibras a partir de um manejo sustentável em mosaicos florestais, intercalando plantações para fins industriais com áreas de conservação. Assim, preserva os serviços ecossistêmicos, a fauna e a flora.
O setor planta 1,8 milhão de árvores por dia e acumulou, ao longo das últimas décadas, pesquisas e muita experiência que podem servir como fonte de inspiração para escalar também o esforço de restauração de nativas.
Entre as novas associadas da Ibá, estão empresas como a Biomas, a Symbiosis e a re.green, cujos objetivos se voltam ao restauro de milhões de hectares em diferentes biomas brasileiros, trabalho viabilizado a partir de modelos de negócio que incluem a comercialização de créditos de carbono e de produtos florestais. Essas empresas já chamam a atenção de grandes investidores e fundos globais, que apostam no potencial para o planeta e também para seus negócios.
Essa é uma articulação entre diferentes atores em uma agenda pré-competitiva, essencial para o amadurecimento da atividade, a partir do compartilhamento de experiências e fortalecimento da pauta institucional fundada em políticas públicas, pesquisa e desenvolvimento.
A restauração florestal, portanto, não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma oportunidade econômica, social e estratégica. O Brasil, com sua riqueza natural e capacidade de inovação, pode liderar uma nova era de desenvolvimento sustentável, transformando soluções climáticas em motores da nossa economia. Para isso, é essencial que todos os setores da sociedade, do público ao privado, estejam atentos aos avisos escancarados da natureza e trabalhem em conjunto para transformar esse potencial em realidade.
Conjunturas políticas são transitórias, os ciclos administrativos se sucedem, mas o que há de permanente requer paciência estratégica e visão de longo prazo. Ao Brasil, como potência agroambiental, importa valorizar seus diferenciais e sua capacidade de transformar desafios em oportunidades.
Com a restauração florestal, tema discutido em Davos, estaremos servindo de inspiração para muitas iniciativas que farão a diferença, não no curtíssimo prazo, sempre fugidio, mas a largo prazo, que é como realmente se constrói o futuro.
Fonte: CNN Brasil
É inegável o impacto do retorno de Donald Trump à Casa Branca. Conforme anunciado na campanha, as medidas tomadas já no dia da posse prenunciam tempos de mudanças em múltiplas áreas, com ampla repercussão, dada a importância dos EUA.
Toldado por essa nova realidade, o fato é que 2025 resulta de nossas próprias decisões – as recentes e também as do passado. Nesse sentido, como bem demonstra o final infeliz da COP29 no Azerbaijão, em novembro último, o fato é que continuamos sem saber como a sociedade irá reverter o cenário de degradação de nosso planeta.
Enquanto isso, a natureza, impacientemente, arde em labaredas na Califórnia, em mais um grave episódio de extrema desordem climática.
Sem esquecermos que o ano passado foi o mais quente da história, o Fórum Econômico Mundial se reuniu na semana que passou no frio de Davos para retomar relevantes discussões sobre os desafios de construir um futuro melhor.
No final deste ano, no calor tropical de Belém, teremos novo teste, para decidirmos que legado haverá de nos deixar a COP30. Bom sinal, embora não sem algum atraso, veio com a anúncio do embaixador André Corrêa do Lago como presidente da conferência, e de Ana Toni como CEO e diretora-executiva.
Em meio a sobressaltos, retrocessos, frustrações e muita retórica, ainda que por tortuosos caminhos, continuarão relevantes os esforços nacionais de redução de emissões, assim como o desenvolvimento de soluções tecnológicas e científicas que contribuam para a descarbonização da economia.
O Brasil pretende reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em até 67% até 2035, tomando como referência os níveis de 2005. Ademais, o país reforçou em sua NDC (compromissos assumidos no Acordo de Paris em 2015) a meta do Planaveg (Plano Nacional de Vegetação Nativa) de restaurar 12 milhões de hectares de terra.
Não há bala de prata para se atingir tais objetivos: a solução é possível apenas via um conjunto de estratégias envolvendo governos, empresas e sociedade civil. Elas passam pela regulação de medidas como o mercado de carbono, o combate a ilegalidades como desmatamento, a grilagem e o garimpo, investimentos para a transição energética e, igualmente, a restauração florestal.
Aqui, nos referimos à recuperação de áreas degradadas a partir do plantio de espécies nativas que possam restabelecer o equilíbrio climático. Por meio da fotossíntese, as árvores representam efetiva solução para o combate às mudanças do clima – removem carbono da atmosfera e o estocam ao longo de seu ciclo de vida, em processos que regularizam os fluxos hídricos e protegem o solo, possibilitando a preservação da biodiversidade, entre outros importantes serviços ecossistêmicos.
Mas a restauração florestal também vai além: é um processo que envolve ciência e tecnologia para recuperar ecossistemas, trazendo reconexão com a natureza e o engajamento das comunidades locais.
A boa notícia é que, nessa seara, testemunhamos movimentos importantes e consequentes no país, em particular na iniciativa privada. São empresas e investidores que, juntos, já movimentaram bilhões de reais com produção de sementes e mudas, preparo de solo, manejo e controle de pragas, bem como o desenvolvimento de mercados. Como premissa, requer-se o estabelecimento adequado de regulações e legislações, tais como, por exemplo, a do mercado de carbono nacional e do Artigo 6 do Acordo de Paris.
O país detém condições únicas para liderar globalmente a restauração florestal. Segundo o Atlas das Pastagens, desenvolvido pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás, possuímos mais de 100 milhões de hectares de terra com algum nível de degradação. Isso, combinado à biodiversidade incomparável, capacidade técnica e avanço tecnológico, nos coloca em uma posição privilegiada para captar investimentos internacionais.
O mercado global de restauração florestal e créditos de carbono pode movimentar uma grande soma de recursos nas próximas décadas, e o Brasil pode ser um dos maiores protagonistas nessa frente.
Em 2024, a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), que há mais de 10 anos atua em nome de empresas que plantam árvores para fins industriais, passou a representar também companhias voltadas para a restauração de nativas, compartilhando o propósito de construir um futuro mais verde e sustentável.
Elas somam forças a um setor que já possui notável trajetória de preservação, assim como de manejo florestal sustentável, modelo para o mundo quando se pensa em cultivo com responsabilidade ambiental.
Trata-se de uma indústria que planta, colhe e replanta em 10 milhões de hectares, preservando outros 6,9 milhões de hectares de florestas, uma extensão superior à do estado do Rio de Janeiro.
Historicamente, o setor tem-se expandido sobre áreas antropizadas, convertidas para a produção de fibras a partir de um manejo sustentável em mosaicos florestais, intercalando plantações para fins industriais com áreas de conservação. Assim, preserva os serviços ecossistêmicos, a fauna e a flora.
O setor planta 1,8 milhão de árvores por dia e acumulou, ao longo das últimas décadas, pesquisas e muita experiência que podem servir como fonte de inspiração para escalar também o esforço de restauração de nativas.
Entre as novas associadas da Ibá, estão empresas como a Biomas, a Symbiosis e a re.green, cujos objetivos se voltam ao restauro de milhões de hectares em diferentes biomas brasileiros, trabalho viabilizado a partir de modelos de negócio que incluem a comercialização de créditos de carbono e de produtos florestais. Essas empresas já chamam a atenção de grandes investidores e fundos globais, que apostam no potencial para o planeta e também para seus negócios.
Essa é uma articulação entre diferentes atores em uma agenda pré-competitiva, essencial para o amadurecimento da atividade, a partir do compartilhamento de experiências e fortalecimento da pauta institucional fundada em políticas públicas, pesquisa e desenvolvimento.
A restauração florestal, portanto, não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma oportunidade econômica, social e estratégica. O Brasil, com sua riqueza natural e capacidade de inovação, pode liderar uma nova era de desenvolvimento sustentável, transformando soluções climáticas em motores da nossa economia. Para isso, é essencial que todos os setores da sociedade, do público ao privado, estejam atentos aos avisos escancarados da natureza e trabalhem em conjunto para transformar esse potencial em realidade.
Conjunturas políticas são transitórias, os ciclos administrativos se sucedem, mas o que há de permanente requer paciência estratégica e visão de longo prazo. Ao Brasil, como potência agroambiental, importa valorizar seus diferenciais e sua capacidade de transformar desafios em oportunidades.
Com a restauração florestal, tema discutido em Davos, estaremos servindo de inspiração para muitas iniciativas que farão a diferença, não no curtíssimo prazo, sempre fugidio, mas a largo prazo, que é como realmente se constrói o futuro.
Fonte: CNN Brasil
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